Cidades feitas para as pessoas, não para os carros

A I-CE trabalha pela disseminação de informação sobre o uso da bicicleta como meio de transporte, divulgando ao mundo a experiência prática desse uso na sociedade holandesa.

Cycling Friendly Cities é um documentário de 15 minutos produzido pela I-CE (Interface for Cycling Expertise). Está hospedado no site da ONG Transporte Ativo e tem 25.55Mb. Ele fala sobre as cidades de Copenhagen (Dinamarca), Amsterdam (Holanda), Houten (também holandesa) e Bogotá (Colômbia) (baixe aqui).

Em Copenhagen, há a mentalidade de que a cidade é um lugar para as pessoas. Passo a passo, foi sendo fechada aos carros nos últimos 40 anos, ao mesmo tempo em que foi criada uma infra-estrutura que favorece o uso da bicicleta. As pessoas não vêem necessidade de usar o carro, já que conseguem fazer tudo de bicicleta. Uma em cada 3 pessoas usa a bicicleta no dia-a-dia. Há mais um video sobre Copenhagen, entitulado “Copenhagen, cidade dos ciclistas“.

Amsterdam decidiu, ainda na década de 70, resolver seus problemas de trânsito através do uso da bicicleta. Hoje é o país onde as bicicletas são mais usadas no mundo: em Amsterdam, metade dos habitantes usam a bicicleta diariamente. As crianças recebem aulas de como usar a bicicleta com segurança nas ruas, há uma rede cicloviária por praticamente toda a cidade, os carros dão preferência às bicicletas e os ciclistas respeitam os pedestres. Lá bicicleta é coisa séria: além de educar as crianças, os adultos podem ser multados e as luzes na bicicleta são obrigatórias.

Rua anti-pedestresEnquanto isso, em São Paulo…
A R. André Fernandes, no Itaim Bibi, é um pequeno exemplo de como a cidade é planejada para os carros e não para as pessoas (clique na foto para ampliar). Os pedestres têm que andar pela via, pois a calçada é muito estreita e cheia de postes. O outro lado da rua é idêntico, embora com um pouco menos de postes. E há um ponto de táxi ali: quando os táxis estão estacionados, não há por onde os pedestres passarem a não ser o meio da rua. Se não houvesse o espaço para carros estacionarem (elegantemente ocupado por uma caçamba, ao fundo da foto), a calçada poderia ser mais larga. Mas em São Paulo os automóveis são os reis, melhor ter área para estacionar do que uma calçada transitável. Os pedestres que usem outra rua. O pior é que tem mais umas três ruas paralelas a essa que também são assim…

Em Bogotá, Enrique Peñalosa fez extremas mudanças no panorama da cidade, priorizando as pessoas em relação aos carros. Foram construídas praças, ciclovias, largas calçadas e espaços públicos onde antes havia avenidas. Há 300km de ciclovias, com uma circulação diária de 300 mil ciclistas. Para efeito de comparação, na cidade de São Paulo estima-se em mais de 250 mil as viagens diárias de bicicleta nos dias úteis – ou seja, temos quase o mesmo volume, mesmo sem uma estrutura cicloviária decente. De segunda a sexta, 40% dos carros são proibidos de circular em Bogotá (em São Paulo, são 20%) e uma vez por ano os carros são proibidos o dia todo. Segundo Peñalosa, 20 a 35% da importância da ciclovia é em razão da segurança que oferece ao ciclista, mas os outros 70 a 80% de sua importância se devem à igualdade de direitos que ela representa.

Em todas as cidades citadas no documentário Cycling Friendly Cities, as pessoas usam a bicicleta como meio de transporte porque se sentem melhor com isso. A infra-estrutura é adequada e há respeito com os ciclistas, o que incentiva seu uso. Fica mais cômodo e mais prático usar a bicicleta. Veja mais sobre o uso da bicicleta lá fora e veja alguns exemplos de iniciativas que, com boa vontade do poder público, poderiam ser implementadas aqui. O que falta é os políticos e a população se livrarem da miopia de sociedade do automóvel e conscientizarem-se de que a bicicleta na rua não é um problema para o trânsito e sim uma solução. Na pior das hipóteses, cada bicicleta é um carro a menos na rua, o que já ajuda muito (lembre-se disso quando vir aquela fila interminável de carros na sua frente na hora do rush).

Precisamos avançar mais por aqui em relação á aceitação da bicicleta nas ruas, isso é claro e muita gente diz. Mas para melhorar precisamos ser ativos. Não basta fazer um muxoxo, pensar “é, o Brasil é uma m… mesmo” e continuar levando sua vidinha esperando que uma mudança caia do céu.

Estamos em ano de eleição. Não vamos eleger só governadores, senadores e presidente, vamos votar também em deputados estaduais e federais. São eles quem fazem as leis. Por isso, não vote apenas em quem tem um nome conhecido, “tradição política” ou uma boa apresentação pessoal. Saiba o que os candidatos pretendem e principalmente o que pensam, qual sua visão de mundo, qual sua postura em relação aos temas que você considera relevantes. Consulte o site dos partidos, busque o nome do candidato no Google (dica: digite o nome entre aspas), faça o sacrifício de assistir ao horário eleitoral de vez em quando, discuta o assunto com amigos.

Seja cidadão, participe da construção do seu futuro!

2 comentários em “Cidades feitas para as pessoas, não para os carros

  1. Prestar atenção nos candidatos, esse é o segredo. Anotar em quem votou ajuda também. Quanto às bicicletas. Eu admiro muito quem domina, pois eu mesmo como diz meu irmão caçula: sou o maior frango para andar de bike

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  2. Parabéns Cruz, valeu pelas dicas.

    Em questão das eleições, não vejo nenhum candidato falando de propostas para transporte coletivo, bikes ou ciclovias e bicicletários. Se tívessemos um Penalosa aqui…

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