O catador e o motorista

Não deu tempo de fotografar o catador,
até sair do restaurante ele já tinha ido embora.

Um engarrafamento enorme. Um sinal que abre, fecha e ninguém passa. Três pistas cheias de carros parados em uma rua que um dia foi tranqüila.

Os motoristas se sentem presos. Sufocados. E não podem nem desistir e ir embora, porque estão carregando uma tonelada de metal com eles, que não tem por onde passar.

Em um dos carros, um homem começa a buzinar, descontando sua frustração na buzina. É um absurdo um carro que custou tanto e que deveria levá-lo a todo lugar ficar parado ali, às 4 da tarde!

Outro homem, com pelo menos uns 60 anos, puxa uma carroça cheia de papelão embaixo da chuva fina. Ao ver o primeiro em seu acesso de fúria que não levará a nada, ele ri. Com seu riso sem dentes, diz a quem quiser ouvir:
“É só comprar um avião que não tem mais trânsito! Vai por cima, zupt!” – e faz um gesto com a mão, como se fosse o avião passando por cima.

O homem que puxa a carroça ri e segue feliz, esperando os carros andarem para ele andar também, no seu ritmo de sempre. Ele vai chegar lá no sinal junto com o homem que buzina. Um feliz, o outro alguns passos mais perto de um ataque cardíaco. Escassez versus excesso, simplicidade versus ostentação, sorriso versus stress.

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