Para o Estadão, o que importa no protesto da USP é o efeito no "trânsito"

A primeira página e as capas de três dos seis cadernos do Estadão de hoje exibiam propaganda de carro. Sem contar os diversos anúncios dentro dos cadernos.
Imagem: Reprodução

Na primeira página do Estadão de hoje, o que se vê ao olhar para o jornal na banca é uma foto enorme da manifestação de alunos, professores e funcionários da USP, com o título: “USP: Protesto fecha o trânsito”. Até há uma manchete com maior destaque, mas ela vem coberta por uma propaganda.

Quem passa e olha o jornal, assimila apenas a informação sobre o trânsito. A legenda da foto está abaixo da dobra. E a explicação sobre onde foi, o que aconteceu por lá, o motivo da manifestação e outras informações relevantes está na matéria, que diz inclusive que “a CET informou que o congestionamento não foi significativo” e que o tráfego de veículos foi desviado pelas ruas adjacentes.

Ora, se nem a CET se preocupou com o congestionamento causado pela manifestação (e olha que ela se preocupa bastante com isso), então, por que diabos ressaltar que a manifestação “fechou o trânsito”? É essa a informação relevante? Como assim “fechou”, se o tráfego foi desviado? E que trânsito é esse: de pessoas, de ônibus ou só os automóveis transitam? O Metrô operava normalmente?

Como disse o site Apocalipse Motorizado, ainda bem que a chuva na quarta-feira recordista da semana passada impediu o pessoal da USP de fazer a manifestação. Senão, a culpa do congestionamento certamente seria deles, não do excesso de carros nas ruas da cidade.

Tudo que acontece nas ruas é medido pelos jornais em quilômetros de “lentidão”. Se alguém morre, noticiam quantos quilômetros de congestionamento o acidente gerou. Se há uma manifestação, criticam-na por afetar o trânsito, por vezes sem ao menos tentar entender o motivo da manifestação. Não quero um jornal que seja um boletim de trânsito, até porque o congestionamento não me afeta.

Os grandes jornais têm o enfoque de quem anda de carro. Será que tem alguma relação com a quantidade de anúncios de automóveis nos jornais?

Outra pergunta que fica

Será que a CET vai querer multar esses manifestantes também, como quis multar outros que não obstruíram via nenhuma?

Antes que me malhem, aviso que sou CONTRA multarem, principalmente porque a lei desobriga arcar com os custos operacionais da CET em caso de “manifestações públicas, por meio de passeatas, desfiles ou concentrações públicas, que tragam uma expressão pública de opinião sobre determinado fato” (Lei Municipal 14.072/05).

4 comentários em “Para o Estadão, o que importa no protesto da USP é o efeito no "trânsito"

  1. Estou de saco saturado de abrir um jornal ou ligar o rádio e receber informações sobre taxa de juros, dólar e trânsito. Parece que não sabem falar de outra coisa. Já as propagandas, carro puro! Tá na hora de mudar esse disco.

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  2. Willian,

    Excelente observação. Como sempre procuram uma desculpa para explicar o trânsito tentando excluir os principais motivos: um planejamento de mobilidade urbana ineficiente, além do excesso e mau uso (práticas de condução imprudente, baixa adesão aos programas de caronas – para citar só alguns exemplos) dos veículos em SP.

    Sobre o outro ponto levantado, a cobertura dos eventos na USP, é realmente lamentável o tratamento que o assunto vem recebendo em alguns meios de comunicação. Expor questões secundárias, informações incompletas ou erradas é uma estratégia largamente adotada por alguns veículos para deixar de discutir pontos cruciais, porém espinhosos. Sobre este assunto, vale a pena dar uma olhadinha nestas análises:

    USP em crise: TV reproduz versões e se exime de apurar
    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=542IMQ011

    USP em crise: Cobertura da greve não tem fôlego analítico
    http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=542IMQ010

    Acho que é isso.

    Dri

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