Bicicleta parada em poste no Rio de Janeiro. Foto: Transporte Ativo

Bicicleta no poste, direito garantido por lei no Rio

Um decreto oficializa o direito de prender bicicletas em postes e ‘grampos’, evitando tentativas de apreensão como a relatada neste vídeo.

Bicicleta parada em poste no Rio de Janeiro. Foto: Transporte Ativo
Bicicleta parada em poste no Rio de Janeiro. Foto: Transporte Ativo
Bicicleta presa em poste de São Paulo. Foto: Luddista

Quem usa a bicicleta como meio de transporte sabe o quanto é difícil conseguir um local para estacioná-la. Os estacionamentos não as aceitam, mesmo oferecendo-se para pagar. Comércio e condomínios não oferecem espaço para prendê-las, mesmo quando a lei obriga a isso (como na cidade de São Paulo). Os bicicletários públicos são poucos e geralmente distantes quilômetros de onde se pretende ir.

E em postes e outros equipamentos urbanos, conta-se com a sorte. Se o ladrão não leva, a prefeitura eventualmente tenta levar, de forma oficial. A tranca é cortada e a bicicleta é levada para algum depósito, de onde raramente sai – mesmo porque nunca somos informados sobre qual é o depósito, onde fica, com quem falar e qual o procedimento para recuperá-la.

Bicicletas presas em postes já foram tema de debate com os leitores do Vá de Bike.

Quando a própria prefeitura tenta levar

Como todos os dias, Arlindo Pereira foi para o trabalho de bicicleta numa manhã de setembro, em 2011. Por não haver onde estacionar, prendeu-a, como também sempre fazia, em frente ao prédio onde trabalha, no Centro do Rio de Janeiro. No final da manhã, foi avisado de que guardas municipais estavam tentando levar sua bicicleta.

Arlindo desceu e, com calma e educação, conversou com os guardas, que lhe deram uma reprimenda por deixar a bike ali, sem entretanto saberem oferecer uma alternativa satisfatória. Recomendaram estacionar junto às motos, local onde muito provavelmente não há onde prender a bicicleta e nem ao menos apoiá-la.

Enquanto conversava, Arlindo gravou tudo em vídeo, discretamente, com o celular. Subiu para o Youtube e relatou na descrição o ocorrido. A notícia começou a se espalhar em listas de discussão, blogs e redes sociais, sendo obviamente recebida com indignação pelos ciclistas. A opinião do Vá de Bike é de que só não levaram sua bicicleta porque não tinham ferramentas para cortar uma u-lock.

Veja abaixo o vídeo gravado por Arlindo:

Decreto liberou postes e grampos

O imbróglio culminou, cerca de uma semana depois, em um decreto do prefeito do Rio, Eduardo Paes, autorizando o uso de postes e “grampos” para prender bicicletas. E reparem na data do Decreto Lei 34481: 22 de setembro, o Dia Mundial Sem Carro.

Parabéns ao prefeito pelo posicionamento, que decidiu por regulamentar em vez de proibir. E parabéns também ao pessoal da Transporte Ativo, que faz um trabalho bastante sério e atua junto ao poder público, ajudando a tornar o Rio uma cidade amiga das bicicletas.

“Não é fácil, o caminho é longo e muito tem que ser mudado”, lembrou Zé Lobo, da TA, em citação no blog De Bike, em que também agradece Arlindo por ter publicado o vídeo que deu início a esse processo. Mas aos poucos, caro Zé, vamos mudando o mundo. E o passo dado por esse decreto é mais importante do que parece, para a aceitação da bicicleta como meio de transporte e para um maior respeito ao seu uso.

Veja nota no site da Prefeitura do Rio de Janeiro

Texto do Decreto Lei 34481/11. Clique para ampliar. Fonte: Transporte Ativo

25 comentários em “Bicicleta no poste, direito garantido por lei no Rio

  1. Otimo artigo, não sabia da determinação da prefeitura e já aviso que será muito útil. A uma semana decidi ir de bike para o centro (rio de janeiro), incialmente com a bicicleta da bike rio, servico de aluguel de bicicletas patrocinado pelo itaú, mas a bicicleta deles é muito ruim e não consigo adapta-la ao meu tamanho (1,91m), decidi vir com a minha bicicleta mesmo. Pedalando por 40 minutos até chegar em frente ao trabalho a estacionei em um poste em frente a um restaurante que tem em frente ao meu trabalho. Rapidamente um representante do restaurante veio falar comigo dizendo que eu não poderia parar a bicicleta lá. Educadamente expliquei que estava no meu direito mas que me dispunha a prender a bicicleta da forma que ele achasse melhor para a circulação de potenciais clientes. Resolvi conversando e combinamos a forma como a bicicleta ficaria presa, acho que ele não gostou muito da solução , mas espero que conviva com ela.

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  2. Amigos, tenho carro mas gosto de me transportar pela cidade do Rio de Janeiro com minha bicicleta.
    Segunda feira, dia 13 de fevereiro as 13:15, parei minha bicicleta ao lado da nova estação do metrô cidade nova, em frente a prefeitura. Escolhi o local pois tinham duas viaturas, uma da PM e outra da Guarda Municipal, pensei que ali o local estaria seguro. Visualizei um poste mais deslocado para que não atrapalhasse a passagem dos pedestres, como sempre faço, e amarrei minha bicicleta com a tranca.
    Fui a um compromisso, e 16:10 voltei ao local e minha bicicleta já não estava mais lá. Fiquei confuso por alguns segundos pois as duas viaturas ainda estavam lá. Ninguém veio falar nada, fui até aos Guardas Municipais e perguntei se eles sabiam de alguma coisa. Eles me falaram, tranquilos, que uma viatura da GM passou e levou, pois ali não era lugar de parar bicicleta.
    Amigos, os GM’s e os PM’s estavam na minha frente vendo eu colocar a bicicleta e não fizeram nada, não me falaram nada.
    O nosso prefeito que estimula tanto que a população use a bicicleta como meio de transporte, faz isso! Ele posa para algumas reportagens com sua bicicleta e deixa acontecer isso?
    Não sabia que existia o decreto 34.481/2011. Agora sabendo, vou correr atrás dos meus direitos.
    Quando não são os marginais que levam nossas bicicletas, é a prefeitura.

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    1. Leonardo,

      Estamos cercados de bandidos por todos os lados. A minha bicicleta tem 3 trancas, uma simples , flexivel e barata para manter o canote preso ao quadro, outra para prender o quadro e a roda traseira a um poste e outra ulock que prende roda dianteira ao quadro. São dois kilos de tranca a mais na bicicleta. No caso da guarda municipal ter recolhido a sua bicicleta voce precisaria ter a nota fiscal dela ou uma identificacao e anotar o nome dos guardas que estavam de guarda na hora para seguir com a reclamação.

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  3. Willian,

    A repercussão que o vídeo do Arlindo teve na mídia foi muito forte. E realmente o trabalho do Zé Lobo foi fundamental nisso. Posso dizer – por experiência própria – que a Transporte Ativo tem ajudado definitivamente a mudar este cenário. Especificamente sobre este decreto lei: isso pode virar “jurisprudência”. O mesmo Zé Lobo diz que se a cidade não dá infra-estrutura para os ciclistas, eles acabam criando suas formas de utilizá-la; quando o poder público assume isso, é uma grande vitória!

    Abs!

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  4. Oi Willian,

    nós do PdSA somos fãs do seu site, e eu particularmente adoro seus textos, muito bem escritos como poucos hoje em dia. É uma pena o que um ctrl c – ctrl v pode fazer, mas não desanime!

    Qto à lei aprovada aí no Rio, parabéns! Aqui em BH as coisas são bem mais lentas em relação ao uso de bike, mas estão começando a melhorar.

    Abraços.

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  5. Em inúmeras situações não tem como não deixar no poste. O caso do Arlindo é sacanagem e maior piada é só a alternativa da vaga pra moto.
    Agora, perdão por fugir do tema, mas hoje, indo da USP para o trabalho, me deparo com um pequeno trecho de ciclovia no canteiro central da Avenida Afrânio Peixoto e uma indicação para ciclorota ao fim do mesmo. Alguem de São Paulo tem informação sobre isso? A ideia do Brooklin vai pra frente mesmo?

    Abraços!

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  6. Willian,

    Você é o cara! Se um dia tiver uma empresa, quero um funcionário como você. (ehehe)

    Mas fora de brincadeira, sabe qual é a melhor sensação que deriva de ser ético? É a de não ter rabo preso, e a consciência limpa.

    Parabéns, avante e não desista nunca de escrever: seu excelente trabalho não será substituído à altura!

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  7. Oi, Willian

    tudo bem?
    Seus textos são extremamente claros, lúcidos e coerentes, e merecem ser replicados para que cada vez mais pessoas se beneficiem com informações relevantes e úteis sobre bike. A citação da fonte é mais que necessária, tanto pelo respeito ao seu trabalho quanto pelo respeito à ética profissional. Conte comigo, e obrigada pelo apoio. Grande abraço.

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    1. Rosana e Marcos Manocchi,
      Bob Sharp representa o passado. Ele parou no tempo, acredita que “o carro foi a maior invenção da humanidade” que ele é o “máximo da individualidade do ser humano” e que isso não muda e não mudará.
      O mundo é assim, o ser humano é assim, alguns retrógrados e outros que olham para a frente.
      Bob Sharp definitivamente não é alguém que vale a pena se levar em consideração. Ele já passou. O que ele diz só importa para o pequeno grupo que ainda vive neste passsado. Eles também passarão.
      Aliás, o próprio termo “burguês” é algo mesmo muito antiquado.

      Willian,

      Você é sempre uma grande referência, o que você escreve é referência para muitos.
      Por favor, continue!

      Abs!

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    1. Marcos,

      Deixa de ser imaturo! Porque chamar de burguesinho o cara? Burguesinho é você que gasta uma grana abssurda para manter seu deus-carro e ficar parado no trânsito. Se enxerga rapaz. Vai casar com o Bob e ser feliz com ele. Enquanto você fica aí estressado e parado no trânsito eu passo do seu lado assoviando.

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    2. Sr. Marcos, é tocante a sua preocupação e a do Sr Bob com o ciclista em tempo de chuva ou em como chegará ao trabalho, se suado ou não. Mas é mais produtivo se preocupar com o pneu de banha em volta da cintura. Saiba que uns pingos de chuva ou umas gotas de suor fazem menos mal que sedentarismo e stress. Agora pense: ser a favor da bicicleta não é ser contra o carro. É exigir o respeito que é devido por LEI a um VEÍCULO. Se o ciclista chegar suado ou não é problema dele, mas garantir sua circulação segura é dever de todos, quer queiram vocês ou não. Não precisa ser simpático com o ciclista nem sair por aí de bicicleta, apenas respeite as leis que já está de bom tamanho.

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    3. “O objetivo da comemoração é de que o dia 22 de setembro seja um manifesto contra a poluição ambiental e os problemas que o dióxido de carbono (CO2) tem trazido para a camada de ozônio, o efeito estufa, poluição do ar, doenças respiratórias, poluição sonora, irritabilidade, acidentes com mortes, etc.”

      Se todos esses problemas mundiais que o uso abusivo do carro causa não tem importância para você, reveja quem é o burguesinho que tem nojinho de suar.

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    4. Acho engraçado, estou no cicloativismo a uns 8 anos e volta e meia aparece um ‘apologista do carro’. Realmente o carro é um veiculo mais confortavel, a prova de chuva e que pode transportar várias pessoas. Só que ele tambem é um recurso artificial, as cidades foram projetadas para dispor de um espaço limitado para veiculos de transporte chamados ‘rua’, na medida em que o tempo passa e a economia se desenvolve um numero cada vez maior de pessoas começa a desejar um veiculo confortavel, a prova dagua , etc..etc.. , mas a rua continua a mesma. É por isso que as cidades precisam pensar uma alternativa ao carro. O ‘um dia sem carro’ existe para isso, uma prova de que as grandes cidades não estão mais suportando seus veiculos. Quanto mais o tempo passa o carro, como vem sendo pensado nos ultimos 100 anos está se tornando ultrapassado para o convivio urbano, é poluente, ocupa espaço demasiado, causa muitos acidentes com morte. O grande problema é que ele tambem recolhe muitos impostos, tornando-se parceiro dos governos, dificultando dessa forma politicas publicas de contenção, mas aparentemente os politicos já viram que o sistema não se sustenta da forma como está e efetua politicas de controle, como o rodizio de carros em são paulo ou o ‘um dia sem carro’.
      Entendo que suas intenções até devem ser boas, Marcos Manochi, mas você está ultrapassado, em extinção.

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    5. Sr Marcos, a moto supera em muito o carro em mobilidade e praticidade! E vai do seu perfil também escolher o veículo, afinal, homens solteiros não andam com bebês por ai.
      ps: Mude-se daqui urgente pois será massacrado em tudo que postar..kkk

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  10. 🙂 Eu já copiei ums dois ou três textos aqui do Vá de Bike..rsrsrs com orgulho de difundir o cicloativismo !!! Claro que citei a fonte, com link para o artigo original e tudo o mais 😉

    Visito quase todos os dias o vá de bike, aqui onde moro, no interior de SP, me sinto como um peixe fora do aquário… as poucas pessoas que vejo/conheço que usam a bike no dia-a-dia são porque não possuem carro, e assim que tiverem condições de ter/comprar/manter um carro, vão abandonar a bike…

    Eu acabei fazendo o caminho inverso, vendi meu carro, uso a bike para quase tudo, rodo entre 25 a 50Km por dia… consegui convencer duas pessoas no meu trabalho que ir de bike pro trabalho “é legal” e mais do que isso, que é POSSÍVEL e todos ganham com isso…

    E por ai vai…

    Estou escrevendo isso tudo pois os seus textos muito me estimulam (e imagino que a outros também !)… você tinha que me ver pedalando em SP, um mês atrás… eu parecia uma criança feliz (tenho quase 40 anos)ao pedalar pela Av. Paulista, ao ver outras pessoas pedalando com capacete….

    Continue escrevendo !!! Parabéns pelo blog e pelos textos !!

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