Foto: Paulo Fehlauer, via Flickr

Excesso de carros prejudica os ônibus

Entenda por que a quantidade excessiva de carros nas ruas afeta a qualidade de serviço dos ônibus, até mesmo nos corredores.

Corredor de ônibus congestionado na Av. Francisco Morato. Foto: cassimano, via Flickr
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Final do dia, saída do trabalho. O ônibus demora para passar e, quando chega, vem lotado. Todo mundo que usa transporte coletivo já deve ter sofrido com isso.  E qual a solução? Veículos mais rápidos? Mais ônibus nas ruas? Não necessariamente.

Isso porque problema principal não é o ônibus ser “lento”. E, em muitos casos, também não é a falta de veículos atendendo a linha. A maior causa de ônibus lotados e que demoram a passar é, na verdade, a quantidade exagerada de carros nas ruas.

Não acredita? Eu explico.

Ônibus que não anda lota rapidamente

Imagine um ônibus que está ainda no início de sua viagem, passando pelos primeiros pontos da linha, relativamente vazio. De repente, ao virar uma esquina, aquela fila interminável de carros.

Foto: Paulo Fehlauer, via Flickr

Esse ônibus levaria mais dois minutos para chegar no próximo ponto, mas acabará demorando quinze. Supondo que os veículos que atendem essa linha saiam a cada 15 minutos, esse ônibus do nosso exemplo vai acabar coletando o dobro de pessoas ao parar no próximo ponto. O atraso vai se acumulando e a quantidade de pessoas esperando no ponto também.

Em pouco tempo, o ônibus estará lotado. Quando passar pelos próximos pontos, pouca gente conseguirá embarcar, aumentando o acúmulo de pessoas que subirá no ônibus que vem atrás, também atrasado. A situação vai piorando, até que o congestionamento diminua.

E quem causa o congestionamento? Um ônibus com 60 pessoas, ocupando uns 15 metros em uma única faixa, ou 60 carros com uma pessoa em cada um, ocupando todas as faixas em uma ou duas quadras?

Corredores

O exemplo acima reflete uma situação em que não há faixa exclusiva. Ainda que seja uma faixa preferencial (aquelas posicionadas à direita da via), os carros que entram “eventualmente” – seja para virar numa rua, entrar numa garagem ou mesmo para cortar o trânsito das outras faixas, simulando que vão virar a esquina – acabam impactando em seu deslocamento.

Mas e os corredores? Bem, para um corredor de ônibus continuar eficiente mesmo em horários de pico, é preciso, entre outras coisas, que ele esteja totalmente isolado do tráfego de automóveis. E geralmente isso não acontece. É muito comum em São Paulo os corredores terem pontos em que os ônibus sofrem interferência do fluxo de automóveis.

Um exemplo disso é o corredor Santo Amaro/Nove de Julho, que tem pelo um ponto crítico: o túnel da Av. 9 de Julho, embaixo da Avenida Paulista. Antes desse túnel, há duas faixas para os carros e o corredor isolado; no túnel, há apenas duas faixas. O correto seria manter o corredor, deixando apenas uma faixa para os automóveis, mas aí não seria São Paulo. As duas faixas se tornam de uso comum, os ônibus empacam atrás dos carros parados e o corredor entope novamente. Atravessar o túnel pode chegar a levar 15 minutos.

Depois de quase dez táxis, vem vindo um ônibus lá atrás. Imagem: Reprodução

Carros no corredor de ônibus

São Paulo é uma das poucas cidades onde corredores de ônibus tem horário de funcionamento e exceções de uso. Essa página da CET informa os dias e horários em que o corredor de ônibus “não opera” e qualquer carro pode utilizá-lo. Esta outra página informa também sobre a permissão – “temporária”, mas renovada periodicamente há anos – para que táxis com passageiros possam circular no corredor. Na prática, muitos taxistas sem passageiros também circulam na área que deveria ser exclusiva, dada a baixa fiscalização.

Com isso, acaba-se dando prioridade para o transporte em táxi, em detrimento do transporte coletivo. Isso não deixa de trazer as mesmas consequências para a cidade que o transporte em carro individual (excetuando-se apenas a do espaço ocupado para estacionamento): um táxi também congestiona, também ocupa espaço de circulação, também polui. E, considerando o deslocamento entre viagens, circula bem mais no viário do que os automóveis das pessoas transportadas circulariam em viagens individuais, se somados, já que precisa se deslocar vazio entre um atendimento e outro.

Você sabia?

A quantidade de viagens de bicicleta na Região Metropolitana de São Paulo é mais que o dobro das viagens em táxis (333 mil/dia contra 158 mil/dia). E quem diz isso é a Pesquisa de Mobilidade do Metrô, de 2012.

Se você acredita que táxis no corredor não impactam no transporte coletivo, veja o vídeo abaixo, encontrado no finado (mas esperamos que apenas adormecido) site Apocalipse Motorizado:


Congestionamento encarece os ônibus

O modelo de cidade priorizando o deslocamento em automóvel também influi no preço da passagem de ônibus. É o que afirma Rogério Belda, diretor da ANTP em janeiro de 2013, em entrevista ao Estadão (imagem ao lado – clique para ampliar).

Em uma resposta curta e direta, Belda explica que o fato de parar constantemente devido ao congestionamento prejudica “a velocidade e o desempenho do veículo”, aumentando os custos.

Não ficou claro se Belda considerou apenas os custos diretos de cada veículo (combustível, manutenção, desgaste e etc.), mas é necessário incluir nessa conta os malabarismos operacionais necessários para tentar conter o impacto do congestionamento, como a disponibilização de veículos e pessoal adicionais em determinados horários.

Inspirado em um post do site Quintal

23 comentários em “Excesso de carros prejudica os ônibus

  1. Levando em conta que 99% da CNH brasileiras são compradas, de transito e transporte, brasileiro ñ sabe nada,,,ônibus articulado em rua de bairro,,motoristas e policiais mal preparados,,o caos é geral,,é mais facil mudar de pais do que ficar esperando que algo melhore, ou mude, chega a ser ridículo, secretario de transporte público é um cargo político e ñ concursado, etc etc etc….

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  2. Desde pequeno vi o carro como uma “ferramenta” de liberdade. queria chegar aos 18 anos e poder tirar minha carta e poder dirigir. Este é o sonho de muita gente, acha que o carro vai dar maior liberdade, maior agilidade, a final é você quem faz seu horário, seu caminho, sem depender dos outros.

    Logo vi que para realmente ter agilidade, em são paulo, só de moto ou de bike (eu prefiro minha bike), e mais algumas pessoas viram a facilidade da bicicleta como meio de transporte diário. entretanto, ainda somos vistos como “fracassados”, pois o “bem-sucedido” é o que esta num carrão caro, mesmo que no transito.

    Acho que já estamos fazendo a nossa parte, nunca se falou tanto de bicicleta como nos dias de hoje, o que antigamente representava 0% de pessoas que trocariam o carro pela bicicleta, hoje já é algo entre 45%, que é um aumento gritante. Mas isso não é da noite para o dia que vai mudar, é com o tempo. Acho que estamos indo para o caminho certo.

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  3. Gostando ou não, quem usa exclusivamente carro vai ter de sair dele, é consenso mundial e não é de agora, apenas que os novos ventos demoraram a chegar por aqui.

    Sempre foi evidente que as centenas de carros PARTICULARES COM UMA PESSOA atrapalham a circulação dos MILHARES que estão no transporte público. A recente experiência da prefeitura em São Paulo no Largo 13 de maio mostrou esse óbvio, as linhas ENCURTARAM O TEMPO de trajeto em média em 30 MINUTOS, e estamos falando do corredor SANTO AMARO.

    Então restringir o automóvel não é questão de gosto ou estilo de um governo, mas de justiça à maioria, que diga-se, NUNCA foi feita.

    Quando a classe média migrar para o TP, então haverá gritaria forte e haverá mudança para melhor nesse meio de transporte. Porque enquanto puderem circular em seus carros sem restrições, nada farão pelo bem coletivo, pensarão apenas em si mesmos, e nisso não virtude.

    Vai chegando a hora de entender que não se pode ser viver coletivamente sem pesar as consequências dos próprios atos e escolhas individuais a todos.

    Ou dá-lhe ataque cardíaco e AVC em motorista preso há duas horas no trânsito.

    Por isso sigo pedalando meus caminhos…

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  4. Realmente não dá pra pensar na vida fora do carro. Além de internet, deveria vir com tv, frigobar e microondas pra esquentar o jantar e ver a novela enquanto o trânsito não anda.

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  5. [Comentário oculto devido a baixa votação. Clique para ler.]

    Esse comentário não tem feito muito sucesso. Thumb up 1 Thumb down 7

    1. É um direito seu Marco. Nada a contestar. Vivemos numa democracia, e vc tem todo o direito de não largar o carro, e nem precisa justificar nada, é a sua vontade e pronto. Basta arcar com os custos, que serão cada vez maiores, além da inficiência. Eu fiz o contrário que vc, vendí meu carro, comprei uma bicicleta, e combino o uso com transporte público e bike. 2 anos depois, 10 kg mais magro te digo que valeu a pena. E eu tb mereço ser respeitado assim como vc. Espero que um dia vc mude de idéia, mas nõa há nada errado em sua escolha. E tb acho muito legal que a página vá de bike te dê a liberdade de expressar sua opinião. Vc não ofendeu ninguém, mas sigo torcendo para que vc reveja sua posiçào, numa boa, sem ofensas. Abraço !!!

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      1. Comentário sensacional Fabio! Gentileza gera gentileza… Nós, ciclistas, temos que respeitar quem quer que seja (pedestre, motorista, motoqueiro, etc).

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  6. Discordo sobre a visão do corredor da Santo Amaro. Ali o problema não são os automóveis. O problema ali é um entroncamento mau pensado. Mais da metade dos ônibus que estão no corredor da Santo Amaro precisam subir a avenida Brigadeiro Luís Antonio ou descer a rua Joaquim Floriano. Por isso precisam converter à direita. O origem do problema é que há um ponto nesta área de conversão que faz os ônibus pararem e criarem um fila de ônibus e carros atrás deles. É isso que gera congestionamentos que muitas vezes se estendem dali até o viaduto sobre a avenida Bandeirantes. Se esse ponto fosse deslocado para antes do cruzamento da avenida Santo Amaro com a avenida Juscelino Kubitschek, no canteiro central, como nas outras paradas, essa conversão seria menos confusa. Foi por causa da ineficiência desse corredor que passei a ir de bicicleta para o trabalho.
    Também discordo sobre a questão dos táxis. O usuário de táxi tem um perfil bem peculiar e jamais deixaria de usá-lo para andar de bicicleta ou de ônibus. Um táxi elimina várias pequenas viagens de automóvel por dia e passaram a ser uma opção mais rápida e confortável desde que passaram a usar os corredores.
    A demonização do automóvel não vai levar a lugar nenhum a não ser a intensificação dessa divisão social. O que vai tirar os automóveis das ruas é um transporte coletivo de qualidade, com motoristas mais bem treinado e responsáveis, sistemas mais eficientes e veículos minimamente confortáveis que façam as pessoas deixarem seus automóveis em casa.
    Acreditar que o automóvel deva ser banido de nossas vidas é coisa de gueto, de quem é desprovido de empatia e não compreende que as pessoas possuem rotinas diferentes das delas.

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    1. O lance da avenida Santo Amaro é bem mal pensado mesmo e difícil se ser reorganizado, pois a avenida é muito estreita e na maioria das vezes a Brigadeiro Luiz Antônio tem um tráfego terrível que piora a situação.

      Com relação aos taxis, eu discordo totalmente. Eles deveriam ser coibidos da utilização do corredor de ônibus, pois impedem os passageiros de acessá-los de maneira decente seja para escolher a melhor opção de linha seja somente para entrar neles. O táxi pode muito bem usar vias alternativas, cortar caminhos em ruas paralelas ou mesmo fazer outra trajetória. Os ônibus estão presos a um itinerário e não podem ter obstáculos para ser um transporte eficiente, exceto claro pelos faróis e casos de emergência.

      E particularmente não dou a mínima pra quem pega táxi e usa o corredor do ônibus de modo confortável. Essa pessoa já está confortável ao estar sentada num banco alcochoado e pode ter uma viagem confortável e prazerosa com um motorista dirigindo somente para ela, mesmo buscando caminhos diferentes dos utilizados pelos coletivos.

      Eu como passageiro de ônibus não tenho esse “conforto” (na verdade, nem ligo tanto pra isso já que fico em pé mesmo com o busão vazio), mas quero chegar ao meu destino com um tranporte público decente e rápido, coisa que os taxis impedem que aconteça todos os dias.

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      1. ‘Não dar a mínima para os outros’ é o espírito que vem construindo o nosso trânsito e na nossa cidade há décadas. Diariamente convivo com motoristas que não dão a mínima para os ciclistas, e ciclistas que não dão a mínima para os pedestres.

        Conforto no transporte público significa usar um ônibus ou um trem limpo, sem aperto e onde as pessoas sejam respeitadas e se respeitam. Isso não acontece no sistema de transporte de São Paulo.

        É um proselitismo radical, quase bolchevique, achar que a solução é proibir automóveis e táxis em uma canetada. Uma total falta de empatia, coisa de gente que realmente não dá a mínima para os outros e enxerga o universo a partir do próprio umbigo.

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        1. Eu não enxergo o universo a apartir do próprio umbigo, mas de uma pessoa que prefere o coletivo do que o individual. Eu vejo todo dia os obstáculos que os passageiros de ônibus sofrem porque os motoristas querem usufruir de seus possantes individualmente, enchendo as ruas e impedindo sim a passagem alheia de pessoas na vias e até nas calçadas, além de fechar o trânsito em mão dupla. O motorista de carro é o mais egoísta de todos os condutores.

          Deixei de pensar no motorista de carro há pelo menos quatro anos quando a venda do automóvel disparou absurdamente. Na minha visão só existe três pessoas que devem ser beneficiadas nas ruas: o pedestre, o ciclista e o passageiro de ônibus/metrô/trem. Isso não é individualismo, é coletivismo.

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  7. Os pontos elencados reforçam a idéia de que o argumento “primeiro temos que melhorar o transporte coletivo para depois tirar os carros da rua” não é consistente. Na verdade, temos que tirar os carros da rua, assim já tériamos um aumento considerável na eficiência do transporte coletivo já existente. Concomitantemente poderiam ser implementadas as melhorias necessárias como aumento da frota, melhoria da qualidade (conforto, segurança etc), diminuição dos preços e por aí vai. Explica isso para um carrólatra….

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  8. Muito obrigado William,
    Já passei horas explicando isso para as pessoas com os mesmos argumentos e nada. Agora eu mando o link e não me desgasto…hehehehehe

    Abraço desde BH!

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  9. Willian

    Excelente texto!

    Tenho apenas uma observação. Você diz: “Ainda que seja uma faixa preferencial (aquelas que ficam na direita, nas quais o ônibus não pode sair mas, na prática, todo mundo pode entrar)”. Na verdade, os ônibus podem circular em qualquer faixa, podem circular também fora das faixas exclusivas ou preferenciais. O espaço da faixa é de uso exclusivo ou preferencial para os ônibus, mas eles podem circular em qualquer faixa. Os outros veículos é que sofrem as restrições.
    😉

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    1. Oi, Eli. É verdade, obrigado por levantar esse ponto, vou adequar o texto. Pena que na prática os motoristas não dêem espaço para os ônibus quando precisam sair da faixa e ainda usam o espaço para cortar o trânsito. Outro problema é que algumas faixas funcionam apenas TRÊS horas por dia, servindo como estacionamento todo o resto do tempo.

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      1. Pois é, Willian… se a gente vivesse numa cidade preocupada com a mobilidade sustentável, existiriam mais medidas de real prioridade para os modos sustentáveis, como transporte coletivo e bicicletas.
        Bem, parece que nosso novo prefeito vai mudar as coisas. Tomara!

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  10. Todos precisam fazer a sua parte. O cidadão deve usar menos o carro e o poder público deve se comprometer com um transporte público melhor – no caso apontado no artigo, corredores de ônibus mais eficientes e confortáveis.

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  11. William,

    Excelente texto, novamente. Esse é um ponto que eu nunca havia notado, mas é completamente lógico.

    Péssimo notar que o congestionamento, além de atrasar pessoas que necessitam do transporte público, ainda encarece a passagem.

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  12. Willian,

    Você e a Aline fazem um ótimo serviço a este país.

    O maior problema é enfrentar diariamente céticos ou pessoas que não “se tocam” por essas causas. Mesmo se não houvesse trânsito, o carro é ruim. Polui, é caro, divide socialmente, causa acidente, etc, etc, etc (http://williamantonio.wordpress.com/2012/02/22/menos-carros-nas-ruas-mais-vida/). Deveria ser usado só em casos bem específicos.

    Fico pasmo ouvir que alguns conhecidos na Europa raramente usam carro, enquanto a gente aqui fica nessa “piração” por carros.

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  13. Isso mostrado no vídeo não é um corredor de ônibus, mas sim corredor de táxis! Kkkkkkkkkkkkk tenha dó viu, que raio de faixa exclusiva é essa? Pra variar tinham algumas motos passando por ela tb. Absurdo isso. Faixa de ônibus é faixa apenas para ônibus… é claro, para veículos de emergência tb (em emergência mesmo e não passeando como apareceu a Blazer da Policia Civil no começo do vídeo). Digo e repito: ou SP muda radicalmente seu trânsito ou travará completamente em pouquíssimo tempo.

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