Gabriel di Pierro, da Ciclocidade, tentando mais uma vez esclarecer por que o projeto é prejudicial ao uso da bicicleta na cidade. Foto: Willian Cruz

Emplacamento em SP: votação adiada novamente, mas vereador não retirará projeto

Votação adiada para que autor possa retirar o projeto, mas ele já decidiu mantê-lo e se recusa a receber ciclistas e imprensa especializada.

Gabriel di Pierro, da Ciclocidade, tentando mais uma vez esclarecer por que o projeto é prejudicial ao uso da bicicleta na cidade. Foto: Willian Cruz
Gabriel di Pierro, da Ciclocidade, tentando mais uma vez esclarecer por que o projeto é prejudicial ao uso da bicicleta na cidade. O vereador Adilson Amadeu não estava presente.  Foto: Willian Cruz

Comissão de Trânsito, Transporte, Atividade Econômica, Turismo, Lazer e Gastronomia da Câmara Municipal de São Paulo decidiu adiar novamente a votação do Projeto de Lei do vereador Adilson Amadeu (PTB), que pretende emplacar as bicicletas do município. A sessão ordinária da Comissão aconteceu na quarta-feira, 9 de outubro.

A decisão foi adiada por mais cinco semanas, apesar do vereador Ricardo Young (PPS) ter sido favorável à votação. A expectativa da Comissão é que, com esse novo prazo, Adilson Amadeu se sensibilize e retire o projeto.

Dois cidadãos pediram a palavra: Gabriel di Pierro, da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo), e um ciclista profissional (atleta) que se apresentou como Vanderlei. Alguns vereadores falaram um pouco sobre a decisão de adiar e deixaram transparecer sua tendência a reprovar o projeto na votação, mas como nada está definido, ele ainda pode ser aprovado. Acompanhe nos vídeos do final desta página.

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Durante a sessão, Roberson Miguel, da Ciclocidade, nos contou que tentaram contato com o vereador, que se negou a recebê-los. Ainda assim, decidimos procurá-lo ao final da reunião da Comissão.

O Vá de Bike e o Bike é Legal foram até o gabinete do vereador Adilson Amadeu, para tentar uma entrevista. O objetivo era obter um posicionamento sobre a retirada do projeto e lhe dar voz para expor suas motivações para mantê-lo. Porém, através de sua assessoria, o vereador se negou a nos receber, mesmo deixando claro que estávamos ali como imprensa, não como ciclistas ou cicloativistas.

De forma enfática e bastante áspera, uma assessora exaltada disse que Adilson Amadeu não iria mais conversar com ciclistas, pois havia sido ofendido diversas vezes. A assessora afirmou que os ciclistas, cicloativistas e entidades a eles relacionadas “não representam a sociedade” e que o vereador pretende levar o projeto a votação no plenário, pois “essa é uma casa de debates” e “os 55 vereadores vereadores representam 100% da cidade e são livres para votar com sua consciência”. Perguntamos se não poderíamos gravar esse posicionamento e a resposta foi um enfático não, com a justificativa de que ela não era porta-voz do vereador. “Procurem no Facebook dele, lá está a posição dele. Ele não vai mais discutir, ele não quer mais ser desrespeitado.”

Em resumo, o vereador se fechou ao diálogo, recusando-se até mesmo a atender a imprensa, e divulgou seu posicionamento no Facebook, uma rede social sem caráter oficial.

Reproduzimos abaixo o texto do vereador em sua página na rede social, que pode ser visto aqui. Parece que, por ali, o vereador continua aberto a dialogar – ou melhor, a defender seu posicionamento.

Ciclistas vão a comissão de Trânsito e Transporte pedir a retirada do projeto que trata da licença para bicicletas. Me acusam de ser despachante. Não trato disso, não pedi a criação de IPVA para bikes e nem vou me beneficiar dele. A sociedade civil não é representada apenas por ciclistas. A Câmara é um lugar para debates e ele está aberto. Por que devo retirar o projeto? Por que não é popular? Os projetos da Casa não são 100% populares e os vereadores tem ampla liberdade para votar como bem desejarem. Defendo a ida do projeto para plenário. E que cada um dos 55 possam se posicionar.

Cabe esclarecer que os motivos para retirar o projeto são inúmeros e foram expostos em audiência pública, em presença do vereador, indo muito além de simples impopularidade.

A novela

Em meio a tantos problemas que São Paulo enfrenta, como a constante insegurança que o ciclista sofre no trânsito, o vereador Adilson Amadeu (PTB) levou para votação um Projeto de Lei de sua autoria (PL 224/2012) que pretende estabelecer o emplacamento e licenciamento de bicicletas, além de obrigar o uso de capacete, óculos, luvas e “calçado de sola antiderrapante”.

O vereador é proprietário de um grande escritório de despachantes em São Paulo, a SODESP, mas rebate as acusações de que teria interesse pessoal na aprovação do projeto, afirmando que os custos seriam arcados pelo fundo de transportes da cidade, sem onerar o cidadão no momento do licenciamento.

A justificativa do PL afirma que o objetivo é “criar em âmbito municipal uma espécie de cadastro e controle das bicicletas utilizadas nas vias públicas da cidade” e o embasamento são “matérias jornalísticas que informam sobre o desrespeito às regras de transito por ciclistas”. O texto da lei informa que a bicicleta “será de imediato apreendida” quando estiver sem placa ou licenciamento vencido e, apesar do autor do afirmar que não haverá cobrança, o artigo 8º especifica que o poder público poderá “cobrar do proprietário taxa para custear o licenciamento e emplacamento das bicicletas”.

Em 12 de junho foi realizada uma audiência pública, onde Amadeu esclareceu suas motivações para o projeto e os cidadãos presentes apresentaram inúmeros argumentos para que ele não seja aprovado. Cerca de 70 ciclistas estavam presentes na Câmara. Apesar disso, o autor não se sensibilizou e o PL continuou na pauta. Veja aqui como foi a Audiência Pública e as justificativas apresentadas, com relato e fotos.

No início de setembro, o PL já havia entrado na pauta da reunião da Comissão, mas decidiu-se adiar a votação por cinco semanas, para que os ciclistas pudessem conversar com o vereador, convencendo-o a retirar o projeto. Amadeu não estava presente à sessão, que foi acompanhada por cicloativistas.  Veja como foi a sessão de setembro, com vídeos.

Muitos e-mails foram enviados por cidadãos ao autor do projeto e foram feitas tentativas de diálogo pela Ciclocidade, mas Adilson Amadeu se negou a recebê-los.

Vídeos

Além dos trechos abaixo, o vídeo completo da sessão pode ser visto aqui.

39 comentários em “Emplacamento em SP: votação adiada novamente, mas vereador não retirará projeto

  1. A gente pode fazer uma contra-partida: se as marginais e todas as avenidas virarem ciclovias permanentes, o emplacamento e licenciamento pode ser feito!

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  2. Vamos mostrar que os ciclistas tambem são ativos e sabem se comunicar, bora vasculhar a vida deste vereador e achar algumas coisas estranhas como por exemplo:

    Para que o dignissimo gasta nosso dinheiro para impressao de 3000 cartões de visita nenhum em seu nome

    http://www2.camara.sp.gov.br/contas_vereadores/ADILSON%20AMADEU/2013/2013_02_AAmadeu.PDF

    http://politica.estadao.com.br/eleicoes/candidatos/vereador-2012,sao-paulo,sp,adilson-amadeu,14200

    bora fuçar pois alguem que gasta quase sua totalidade de recursos disponiveis todo ano, uma hora escorrega …

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  3. A troco de que o Sr. esta buscando dificultar a vida dos cidadãos?

    O seu cargo de funcionário público, visa facilitar a vida de todos.
    Melhorar os serviços.
    Inibir o aumento de impostos.

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  4. Esse sujeito deve está esperando obter alguma vantagem financeira com isso. Me fez lembrar a lei do kit de primeiros socorros que inventaram de ultima hora e que fez algumas pessoas lucrarem bastante com o golpe. Temos que preparar uma manifestação contra esse absurdo em frente a câmara.

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  5. Com certeza esse nunca andou na periferia, onde muitos dos que fazem uso da bicicleta mal conseguem pagar a manutenção basica de se seus veiculos, quem dirá pagar por placas, sapatos e uniformes para ciclismo. E a cada vez mais fica claro que a cidade está sendo construida para CARROS e não para PESSOAS! placa em bicicleta não tras segurança para ciclista em vias, e sim respeito por parte dos motoristas, afinal não tem fiscalização para estes que desrespeitam o direito de ser utilizada a rua para transitar (com ou sem motor). Usar uma materia tosca da globo para se defender e atacar má conduta de ciclistas não justifica não da importancia para o que é pedido na lei de emplacamento! pois se em alguns casos não se é utilizada a RUA para se transitar é justamento porque a MESMA não é SEGURA! então que se torne primeiro segura e depois cobre dos ciclistas algo como tal.

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  6. Deveria rolar uma combinação de manifestação de algo tão absurdo como este antes mesmo de aguardar estas 5 semanas… Se rolar pode contar com minha presença!!!

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  7. Pessoal que trabalha na imprensa nao pode expor este caso para q a populacao nao ciclista demonstre a sua posicao (q obviamente e contraria a algo tao absurdo…)

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  8. Só pra cara do vereador ”anti-bicicleta”.
    A bike existe muito antes que o carro, placas e veículos poluidores. Isso é ridículo. Vê se em países desenvolvidos tem bike com placa?
    O trânsito caótico só irá melhorar com o uso da bicicleta, com a melhora em transporte público.
    Puffff… esse vereador que vá juntar lixo da rua que ele ganha mais!!!!

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  9. Acabei de ver um post do vereador no Facebook:

    “…A partir de um cadastro oficial, em qualquer administração, seria mais fácil defender os interesses do grupo, estabelecer áreas prioritárias de investimento ou até tratar da isenção de impostos para compra de bikes e acessórios Isso certamente incentivaria o uso de bicicleta, anularia o “alto” impacto da cobrança de uma placa, mas pelo que vejo tudo isso é bobagem.”

    Não é possível que ele precisa de um cadastro oficial para descobrir que realmente precisamos de Ciclovias na Paulista, Faria Lima e outras grandes avenidas de SP, fora os diversos bicicletários. E fora que ele pensa em dar isenção de impostos em bicicletas e acessórios SÓ AGORA!!? Tenho todos os acessórios necessários e a bicicleta, como eu recebo a porcaria da isenção nesse caso? E quem juntou uns trocados para conseguir uma bicicleta de 150 reais? Como dizer a ele que agora ele deverá desembolsar mais uns 400 reais (estou chutando o valor) para poder andar com a bike?

    Ainda não ficou claro como ele irá botar uma placa em cada bicicleta já que existem diversos modelos de bicicletas. E como ficariam as Handbikes? Será que ele pretende colocar essa obrigatoriedade em monociclos também?

    Sinceramente, SP é uma cidade que anda na contramão mesmo.

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  10. Começa com emplacamento, depois vem a exigência de habilitação para condução de bicicleta, o Imposto anual para licenciamento, rodizio de bikes no centro expandido, a indústria de multas descendo o sarrrafo, blitz do bafômetro, vistoria anual, etc…em alguns anos teremos zero ciclistas na cidade e um aumento considerável na frota de veículos automotores. Parabéns vereador, o Sr. entende dos “paranauê”.

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  11. Concordo com o vereador Young, se ele quer fazer valer o direito de ter o seu projeto votado, que seja. Está claro que esse projeto será reprovado, caso contrário eles terão muita dor de cabeça. Não são só os ciclistas cotidianos que serão afetados mas sim, todos os que possuem uma bike.

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  12. Que nojo isso cara! QUE NOJO!!! Aonde este “vereador” quer chegar com tudo isso? Só se for pra ter exposição na mídia por querer implantar alto tão controverso! Este sim NÃO me representa!

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