Foto: Carlos Aranha

Ciclofaixa de Lazer é ampliada, mas mobilidade ainda retrocede em São Paulo

Novo trecho de 3,5km fará importantes conexões, mas apenas aos domingos. Estruturas permanentes vêm sofrendo perdas graduais na atual gestão.

Novo trecho da Ciclofaixa de Lazer faz importantes conexões, mas apenas nos domingos e feriados nacionais. Foto: Willian Cruz

A Ciclofaixa de Lazer de São Paulo, que opera nos domingos e feriados nacionais das 7 às 16h, tem agora um novo trecho de 3,5 km, ligando o Parque do Ibirapuera à ciclovia da Avenida Sumaré, que por sua vez possui conexão com as estruturas da Zona Oeste e Centro. Veja o mapa atualizado no final da matéria.

A expansão foi anunciada pela Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes (SMT) e começou a valer no dia 7 de setembro. A nova conexão segue pelas avenidas Brasil, Henrique Schaumann e Paulo VI. No caminho, o trecho novo também conecta com a ciclovia da R. Arthur de Azevedo.

Atualizado: na mesma data foi inaugurado novo trecho também na Zona Leste, ligando a Ciclofaixa de Lazer já existente com a ciclovia da Radial Leste. O trajeto de cerca de 2 km passa pelas seguintes vias: Av. Calim Eid, Viaduto Milton Leitão, Av. José Pinheiro Borges e R. Engenheiro Sidney A de Moraes. Esse trajeto já contava com uma ciclofaixa permanente.

Foto: Carlos Aranha

Prioridade ao Lazer

A medida aumenta as opções de lazer do paulistano nos domingos e feriados, principalmente oferecendo conexão com a infraestrutura cicloviária existente.

Mas seria importante torná-la permanente, pois falta conexão entre as estruturas da Arthur de Azevedo e Sumaré, por exemplo. E a subida da Henrique Schaumann é bastante ingrata aos ciclistas quando feita junto aos automóveis – bem como a descida pelo lado oposto, onde motoristas em duas faixas da avenida convergem à direita na Cardeal Arcoverde, colocando ciclistas em perigo diário.

O prefeito João Doria já tinha se mostrado simpático à Ciclofaixa de Lazer, que tem apoio da iniciativa privada, durante conversa com ciclistas ainda antes da posse, em outubro de 2016 (veja aqui). Mas essa preferência resulta em uma priorização do equipamento de lazer em relação às estruturas permanentes, que de fato atendem aos ciclistas diários e os protegem no trânsito.

Ciclovia da avenida Ricardo Jafet: implantação mal começou e foi interrompida. Estrutura faria a conexão com pelo menos três outras ciclovias, que seguem desconectadas da rede cicloviária. Foto: Willian Cruz

Mobilidade retrocedendo

Apesar da SMT declarar que “a medida faz parte da política da nova administração de incentivar o uso de bicicletas como meio de transporte e lazer”, apenas o lazer vem recebendo atenção da gestão até o momento.

Em contraponto a esses pequeno aumento no equipamento que só opera aos domingos e feriados nacionais, as estruturas voltadas à mobilidade vão aos poucos sendo reduzidas, seja por remoção ativa ou por inação da prefeitura.

Implantação cancelada

O primeiro sinal foi a interrupção da implantação da ciclovia da avenida Ricardo Jafet, na zona sul. A justificativa foi que a gestão estaria fazendo uma revisão da estrutura cicloviária, mas passados nove meses ainda não foram divulgados os resultados.

A respeito dessa revisão, na última reunião da Câmara Temática da Bicicleta (em 8 de agosto) integrantes da CET mostraram um mapa, com uma categorização das ciclovias e ciclofaixas existentes de acordo com critérios de conexão à rede cicloviária e aos terminais de transporte coletivo, o que seria um primeiro passo desse trabalho (assista aqui, avançando até 1h29 do vídeo).

Estrutura do Morumbi foi repintada por ciclistas. Foto: Mauricio Andrade/Bike Zona Oeste

Remoção de trechos

A partir da interrupção dessa implantação na Ricardo Jafet, trechos de ciclovias começaram a ser retirados silenciosamente, com a justificativa de manutenção de pavimento. O caso mais emblemático é o de uma estrutura no Morumbi, que foi removida sob alegação de recapeamento e nunca mais foi reimplantada.

A SMT afirma que a estrutura do Morumbi só retornará após amplo debate com os moradores, sabidamente contrários à ciclovia por desejarem usar o viário como estacionamento. Mas mesmo esse debate nunca ocorreu. A faixa foi repintada por iniciativa popular pouco tempo depois, mas o trecho de cerca de 1 km continua sem sinalização oficial.

Sem manutenção

Sinalização de travessia da ciclovia se apagou com a passagem de carros na zona norte. Foto: Odir Züge Junior

Alguns trechos de ciclofaixas e ciclovias também vem sumindo gradativamente por falta de manutenção. De acordo com Doria, a expansão e a manutenção de ciclovias só serão feitas com dinheiro da iniciativa privada, mas nenhum plano para que isso seja feito, ou mesmo um pedido público a empresas, foram feitos até o momento.

Enquanto isso, as estruturas vão se apagando e sendo retomadas pelo automóvel, resultando numa remoção gradativa por inação do poder público.

Motoristas param sobre a área que os ciclistas deveriam usar para atravessar, forçando quem está de bicicleta a invadir a faixa esquerda da avenida junto ao fluxo rápido de automóveis. Foto: Odir Züge Junior

É o caso das travessias nos retornos da ciclovia da avenida Cruzeiro do Sul, na zona norte, onde após a tinta sumir pelo alto fluxo de automóveis, as antigas faixas de retenção reapareceram, expondo quem está de bicicleta a um duplo risco de atropelamento: por parte dos motoristas que entram no retorno calculando a frenagem para a faixa de retenção, sem se ater a um ciclista que possa vir da ciclovia; e por serem obrigados a usar a faixa esquerda da avenida quando encontram carros parados no retorno, sobre o que antes era o cruzamento sinalizado da estrutura cicloviária.

Vereadores em busca do retrocesso

Para piorar, vereadores da base aliada do prefeito vêm se mobilizando para remover trechos maiores de ciclofaixas, atendendo a apelos de comerciantes e moradores que acreditam que seu desejo de estacionar na via pública deve ter prioridade sobre a sinalização de segurança viária que protege a vida de quem se desloca de bicicleta na capital paulista.

Esse discurso é apoiado indiretamente pelo prefeito, que já declarou em mais de uma oportunidade que as ciclovias foram feitas em excesso e que “prejudicam fortemente o comércio, prejudicam a economia, a manutenção de empregos e a oportunidade de sobrevivência dessas famílias [de comerciantes]”. Esse tipo de afirmação acaba por jogar parte da população não apenas contra as ciclovias, mas também contra as pessoas que usam a bicicleta na cidade e defendem as estruturas que lhes fornecem segurança, pintando ciclistas como vilões que precisam ser combatidos em nome da família paulistana.

Com esse cenário preocupante, as manifestações em defesa da estrutura cicloviária, a presença nos espaços participativos, as conversas com vereadores e a participação em entidades de defesa dos ciclistas, entre outras iniciativas, se tornam cada vez mais necessárias. Se aceitarmos esse caminho passivamente, reclamando apenas em nossas páginas pessoais nas redes sociais, logo será tarde para reverter a situação.

A rede cicloviária implantada na cidade é uma conquista dos cidadãos, não um símbolo dessa ou daquela administração que deva ser apagado pela gestão seguinte. Precisamos protegê-la.

Mapa

Veja o novo traçado da ciclofaixa de lazer (em verde) com a estrutura permanente marcada em vermelho (atualizada até junho/2016).

Clique aqui para abrir o mapa em outra janela.

3 comentários em “Ciclofaixa de Lazer é ampliada, mas mobilidade ainda retrocede em São Paulo

  1. Olá,
    Falta uma ciclovia no mapa do Google: na Vila Romana na Lapa que vai pela Coriolano, Padre Chico até a Avenida Sumaré.

    Está marcada no mapa só com uma fina linha azul porém é uma ciclovia permanente toda pintada no asfalto em vermelho e com sinalizações.

    Só falta os semáforos de ciclistas pois como a ciclovia é de mão dupla e parte da rua é mão única não da para ver os semáforos quando se está na contramão da rua.

    Utilizo essa ciclovia 1x por semana para ir com minha filha de 6 anos para a escola de bike. Cada um na sua bike. Trajeto de 4 km.

    Comentário bem votado! Thumb up 7 Thumb down 0

  2. O fato é: Politicos desse partido não prestam e só governam para quem anda de carro e a elite em geral. Enquanto dominarem SP e o Estado em geral, não veremos melhoria alguma na mobilidade em geral (onibus, metrô e trem) e nem na ativa (reforma de calçadas e ciclofaixas permanentes).

    Rede de metrô medíocre, serviço que deixa a desejar, insegurança….
    Onibus pior ainda…
    Ciclovias e ciclofaixas com manutenção largada….

    Ciclofaixa de lazer não serve para NADA, apenas para manter a ideia de que a bicicleta é apenas para lazer e passeio. E isso não melhora a mobilidade do dia a dia.

    É esse o governo que os TROUXAS querem. Daqui a 3 anos teremos um monte de idiotas se lamentando por terem mais uma vez, votado errado….

    Quero mais é que PIORE mesmo para aprenderem a votar.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 9 Thumb down 6

    1. É essa droga de democracia. O certo seria o Haddad fazer uma revolução, instalar uma ditadura marxista, acabar com os carros e obrigar todo mundo a andar de bicicleta.

      Não importa que o governo dele foi um lixo, que o partido está afundado até o pescoço em corrupção se o cara pintou ciclovia tem que ser presidente, contando com o apoio dos 17% (kkkk) que votaram nele ano passado.

      Polêmico. O que acha? Thumb up 7 Thumb down 8

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *