São Paulo terá 80 mil bikes compartilhadas, muitas delas sem estação

Três operadoras funcionarão sem estação, com bicicletas soltas pela cidade. Veja como vai funcionar, conheça uma das bikes e saiba o que pode dar errado (sim, pode).

As bicicletas que serão usadas pelas outras quatro operadoras de bike sharing em São Paulo, além do Bike Sampa: Trunfo (esq), Serttel, Yellow e Mobike

Mais quatro empresas foram credenciadas para compartilhamento de bicicletas na cidade de São Paulo nessa sexta-feira (06/04). A previsão da prefeitura é que cada uma delas ofereça em torno de 20 mil bikes à população, totalizando 80 mil bicicletas compartilhadas, mais as laranjinhas do sistema Bike Sampa.

Esse número pode ser ainda maior, chegando a 160 mil bicicletas, se a promessa de uma das empresas for cumprida: a Yellow garante colocar, sozinha, cem mil bikes em circulação na capital paulista, sem entretanto mencionar prazos.

Foto: Divulgação

O ainda prefeito João Doria pediu às empresas que as iniciativas comecem no dia primeiro de maio, “um dia emblemático por ser o Dia do Trabalho”. Mas a Yellow, por exemplo, já havia afirmado que iniciaria o serviço em julho. A Secretaria de Mobilidade e Transportes (SMT) informou que as bicicletas devem alcançar “todas as regiões da cidade, de forma gradativa, a partir deste primeiro semestre”.

O evento oficial foi realizado no último dia de Doria à frente da administração municipal. O tucano deixou o cargo para disputar o governo do estado, ficando no comando da cidade o até então vice, Bruno Covas, também do PSDB.

Serviço pago

Nenhum dos novos sistemas será de uso gratuito. A cobrança será feita através do aplicativo de cada empresa, sem a possibilidade inicial de se utilizar o Bilhete Único – ainda que essa seja um objetivo para o futuro. A prefeitura estabeleceu o preço máximo de até duas passagens de ônibus para cada viagem (atualmente, R$ 8).

A bicicleta da Yellow: sem marchas apesar do quadro de aço e do pneu maciço. Poderiam pelo menos ter colocado a modelo para pedalar na ciclovia ali atrás… 😉 Foto: Divulgação

Eduardo Musa, ex-dono da Caloi e hoje à frente da Yellow junto com ex-executivos da 99, diz que ainda não há um preço definido para o compartilhamento oferecido pela sua operadora, mas que ele “deve ser bem mais em conta” que a tarifa do transporte público, hoje em R$ 4, já que “a ideia é usar a bicicleta como um complemento”.

As bikes da Yellow terão pneus maciços sem câmara para evitar furos e não terão marchas – algo estranho para uma cidade com subidas como São Paulo, sobretudo em bicicletas que terão o quadro feito de aço, um material mais barato porém mais pesado. Musa justifica que essas características evitariam que as bicicletas fossem roubadas, por serem “simples, baratas e com um mínimo de componentes”, o que em sua opinião reduziria o interesse de ladrões. A empresa afirma que todas as bikes terão monitoramento por GPS.

Outras operadoras ainda não divulgaram informações sobre suas bicicletas ou sistemas.

Sem estação – o que pode ser um problema

Três das quatro empresas credenciadas (Mobike, Serttel e Yellow) oferecerão o compartilhamento no sistema dockless (sem estação). A principal vantagem desse modelo é a disponibilidade porta a porta, além de um custo bem menor de implantação – o que permite uma grande quantidade de bicicletas nas ruas com investimento menor do que o exigido em um sistema com estações.

Bicicletas de sistema dockless espalhadas ao longo de calçada em Pequim (China). Foto BabelStone(cc)

As bicicletas poderão ser retiradas e deixadas em qualquer ponto, o que traz vantagens mas também desvantagens, podendo se transformar numa grande dor de cabeça para a mobilidade a pé (veja nossa análise). Basta imaginar as calçadas de uma avenida como a Paulista passando o dia apinhadas de bicicletas, utilizadas por quem chegou ali pedalando de manhã.

Essa situação tem causado problemas em muitos países, gerando uma forte reação de pessoas e movimentos que já eram contrários à utilização da bicicleta e que passaram a ter fortes argumentos para contestar os sistemas de bike sharing. E como a bicicleta estacionada não está fixa a uma estrutura, fica muito mais vulnerável à depredação. Em muitas cidades ao redor do mundo, bicicletas tem sido vandalizadas por quem não aguenta mais vê-las espalhadas para todos os lados.

Para tentar conter esse problema, a prefeitura prevê multas para as empresas, que precisarão garantir que os usuários estacionem a bicicleta apenas “em locais adequados e indicados pelo aplicativo das empresas por meio de georreferência” (veja detalhes nesta matéria). Se respeitada, essa regra pode acabar criando “estações virtuais”, perdendo justamente a maior vantagem do sistema para os usuários, que seria a liberdade de retirada e devolução em qualquer ponto.

Bicicletas de varias operadoras amontoadas em calçada de Shangai (China). Foto: Ctny (cc)

A Yellow afirma que contará com “diversas iniciativas de manutenção, organização e incentivo ao consumo responsável”, como uma patrulha periódica diária, realizando uma varredura pela cidade e mapeando as bicicletas para organizá-las, redistribuí-las e retirá-las para manutenção. De acordo com matéria da Folha, carros farão a redistribuição das bicicletas no começo, mas Eduardo Musa acredita que “o sistema se balanceará sozinho” – algo difícil de acreditar numa cidade com deslocamentos de característica pendular.

A quarta empresa credenciada é a Trunfo (Bradesco Seguros), que hoje já opera 17 estações de compartilhamento, posicionadas ao longo das Ciclofaixas de Lazer. De acordo com a nota da SMT, esse sistema também deverá contar com “cerca de 20 mil bicicletas”. O texto dá a entender que as bicicletas vermelhas da Trunfo continuarão tendo estações, o que demandaria um investimento muito maior para conseguir atingir as 20 mil bicicletas compartilhadas.

Esse vídeo mostra um cemitério de bicicletas compartilhadas pelo sistema dockless na cidade de Heifei, na China, com mais de 10 mil delas empilhadas e abandonadas, após serem apreendidas por violar regras de estacionamento ou serem descartadas nas ruas. Estamos torcendo para não termos esse problema por aqui, porque quantidade de bicicletas pra isso a gente vai ter.


15 comentários em “São Paulo terá 80 mil bikes compartilhadas, muitas delas sem estação

  1. Sobre o “problema” de bikes largadas indevidamente, não sei se os carrocêntricos aí já perceberam, mas a maioria das ruas estão entupidas de caixotes de metal com 6, até 8 metros quadrados de área. Esses equipamentos enormes ocupam quilômetros de ruas e avenidas ao lado de todas as calçadas. É impressionante.

    Ocupam tanto, que nem sobra um espacinho para deixar uma bicicleta estacionada.

    Bikes “dockless” são de longe a melhor solução. O problema na Europa foi o excesso de disponibilização de bikes, coisa que estamos a anos-luz de acontecer no Brasil, e a impunidade que estimula a garotada rebelde lá a sair vandalizando tudo. “First world problems”.

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    1. O problema maior foi as bicicletas entulharem as calçadas e atrapalharem a circulação de pedestres, coisa que os caixotes de metal geralmente não fazem (e claro que quando o fazem o incômodo é maior ainda). Para tentar evitar isso, a Yellow pede que os usuários deixem as bicicletas em vagas de estacionamento de carros e não sobre a calçada, o que se for respeitado fará toda a diferença. Outro problema é que as bicicletas quebradas/vandalizadas ficavam largadas por aí ocupando espaço que deveria ser usado para circulação (seja calçada ou viário) sem que fossem removidas. E quando isso acontece com os carros, eles também são rebocados e jogados num páteo.

      No mais, achei divertido chamarem esse site de carrocêntrico (ou seus leitores, não entendi). Essa é nova. 😀

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  2. Infelizmente não tem jeito, ontem foi abandonada uma bike da yellow aqui na frente da faculdade na rua padre de carvalho, os meliantes estouraram o QR a placa que na parte de trás da bike e não conseguiram levar por motivos da mesma ter travado a roda traseira, dessa forma só largaram na rua desde ontem, horário indefinido.

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  3. A mobike estava prometida pra esse mês e até agora nada, a yellow tinha previsão pra julho mas parece que já adiou pra agosto e no começo será restrita a poucas bicicletas em uma pequena parte da cidade.
    O bike sampa vai de mal a pior desde que trocou de empresa e criou os planos pagos.
    Enquanto isso temos menos opções de bicicletas compartilhadas do que tínhamos em 2014…

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  4. Ninguém se engane, essas empresas(startups ou não), não têm compromisso nenhum com soluções em mobilidade, apenas estão surfando as ondas que aparecem. Agora bike share dockeless é a febre. Na China o espólio das falências são montanhas. A energia e recursos naturais consumidos na produção desse lixo novo não entra na conta do débito da mobilidade ativa “não poluidora, verde, ambiental”.
    É assim que o capitalismo gere as oportunidades, sem nenhuma sinceridade, apenas sentindo o cheiro do que dá dinheiro.

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  5. Isto parece como os carrinhos de supermercados, muitos moradores de rua roubam e as usam como carrinho de transporte. Pela educação que há em São Paulo, eu acho que não vai dar muito certo. Espero que dê certo o sistema, e, que os usuários sejam mais educados.

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  6. Fugindo um pouco ao escopo da matéria, os Sres. poderiam perguntar por mim, ao Sr. EDUARDO MUSA, se ainda existem aquelas bicicletas dobráveis (um parafuso segurava toda estrutura pelo meio do cano) e onde encontra-las? A CALOI e a MONARK fabricavam esses tipos de bicicletas…

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    1. Vc tá falando das antigas berlineta e monareta? Tenho uma kkkkkkk
      Vc pode encontrar usadas, mas saíram de fabricação desde a década de 80.

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    2. Eduardo, não fabricam mais, eram as Berlinetas e Monaretas. A Caloi hoje tem uma dobrável mais moderna, o nome do modelo é Urbe. As antigas você só encontra para vender usadas e geralmente em péssimo estado de conservação, pois deixaram de ser fabricadas há muito tempo.

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  7. As novas estações do Bike Sampa estão uma piada, todas concentradas na Vila Olímpia.

    Ao invés de aprimorar o sistema Itaú / Bradesco, vão investir em um sistema que deu errado em quase todo lugar. É só dar um google em dockless bikes e ver a quantidade de empresas que abandonaram o serviço.

    https://www.forbes.com/sites/evgenytchebotarev/2017/12/16/with-hundreds-of-millions-of-dollars-burned-the-dockless-bike-sharing-market-is-imploding/#6031b87b543b

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  8. Agora as coisas estão ficando mais claras, os serviços de Itaú e Bradesco serão de “elite”, enquanto os dockless serão mais “populares”, acho importante que tenha opções para todos os gostos e bolsos.
    Outro ponto importante é o tamanho do investimento dessas empresas que pode gerar um “lobby” pró-ciclovia, algo importante na atual gestão que não escuta a população, mas dialoga muito bem com empresas privadas.

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    1. Cara eu acho que o serviço do Bradesco vai continuar irrelevante neste cenário, e que para que for usar todo dia o dockless vai acabar sendo mais caro. Explico lá fora cobram o dockless por trajeto/tempo de utilização, coisa de $1 por meia hora, aqui o sistema do Itau no plano anual considerando somente dias úteis sai por R$0,60 por dia, duvido que um modelo de cobrança por uso para quem usa todo dia vai bater este valor. Vamos ver só o espalhamento das estações ;D
      Sobre a criação de um lobby torço para que aconteça, a Yellow tem quase 9 milhoes investidos nisso .
      Bora pedalar

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  9. Bradesco não vai ter 20mil estações, eles não investem a anos no sistema e não tem a menor estrutura para tal. A Serttel não consegui nem lidar com o Bike Sampa duvido que vá ter capacidade para lidar com dockless. Torço muito para a Yellow dar certo, mas tenho minhas dúvidas justamente pelo citado na matéria. Até agora o modelo da Tembici me parece o mais sólido, a unificação dos modelos me pareceria mais lógica.
    Enfim vai ser legal ver o comportamento do mercado com a Tembici e a Yellow no jogo.

    Comentário bem votado! Thumb up 5 Thumb down 0

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