Chega de mortes!

Em 13 de junho faleceu mais um ciclista em São Paulo. Antonio Bertolucci, de 68 anos, era um ciclista com experiência nas ruas. Uma de suas 15 bicicletas será sua ghost bike, a quinta na cidade de São Paulo.

Nessa segunda-feira, 13 de junho, faleceu mais um ciclista nessa cidade. Antonio Bertolucci, de 68 anos, era um ciclista experiente, que sabia como se portar nas ruas. Uma de suas 15 bicicletas será sua ghost bike, a quinta na cidade de São Paulo. Mais informações aqui.

Um ônibus fretado passou por cima de Antônio num acesso da Av. Sumaré. O motorista alega que o ciclista estava no ponto cego do ônibus. Antônio não está presente para dar sua versão, mas é certo que ele não se teletransportou para o tal ponto cego, se é que estava nele.

O mais provável, quem pedala nas ruas sabe, é que o motorista do ônibus pouco tenha se importado com a presença do ciclista e tenha continuado sua trajetória. O ciclista que se vire, que bata as asas e saia dali. Ou, pior, pode ter ocorrido a chamada “fina educativa”, em que o motorista passa propositalmente perto do ciclista para “educá-lo” a não utilizar as vias.

De qualquer forma, #naofoiacidente. O simples respeito ao artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro, que determina distância de 1,5m ao ultrapassar um ciclista, teria evitado essa tragédia. Quem o desrespeita, deve levar em consideração o risco de uma lesão corporal ou morte. Se ainda assim o faz, não se pode dizer que foi um acidente. Acidente é o que não poderia ter sido evitado.

O que diz a lei

Art. 201. Deixar de guardar a distância lateral de um metro e cinqüenta centímetros ao passar ou ultrapassar bicicleta:
Infração – média;
Penalidade – multa.

Art. 192. Deixar de guardar distância de segurança lateral e frontal entre o seu veículo e os demais, bem como em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade, as condições climáticas do local da circulação e do veículo:
Infração – grave;
Penalidade – multa.

Art. 38. Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá:
(…)
Parágrafo único. Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de preferência de passagem.

Art. 170. Dirigir ameaçando os pedestres que estejam atravessando a via pública, ou os demais veículos:
Infração – gravíssima;
Penalidade – multa e suspensão do direito de dirigir;
Medida administrativa – retenção do veículo e recolhimento do documento de habilitação.

Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.

Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de forma compatível com a segurança do trânsito:
(…)
XIII – ao ultrapassar ciclista:
Infração – grave;
Penalidade – multa;

A responsabilidade não é só do motorista

O Código de Trânsito é bem claro ao dizer que o órgão de trânsito DEVE zelar pela segurança de todos que utilizam as vias, sejam motoristas, ciclistas, pedestres ou carroceiros. O trânsito é feito de pessoas, não de carros.

Mas numa cidade onde a Companhia responsável pela sinalização a retira em vez de implementá-la, não podemos esperar outra coisa. É preciso oficializar a presença da bicicleta nas ruas e conscientizar os motoristas quanto ao seu direito de circulação..

Enquanto o poder público, que deveria zelar por nossa segurança, continuar nos tratando como suicidas teimosos, que insistem em compartilhar as vias em vez de esperar as ciclovias que não chegam (e que nunca cobrirão a cidade toda), os motoristas farão o mesmo, nos tratando como incômodos, como empecilhos à circulação de seus carros.

Enquanto formos tratados como seres invisíveis para a CET e a Prefeitura, os maus motoristas continuarão acreditando que a bicicleta NÃO tem direito de circular, apesar da legislação – que deveriam ter aprendido na autoescola se não tivessem comprado o exame. Continuarão cometendo atos que colocam em risco nossas vidas, como a “fina educativa”, tão absurdamente comum e tão perigosa.

Também somos cidadãos, também temos família, amigos, uma vida com pessoas que nos amam e esperam por nós em casa. Já passou da hora do Ministério Público obrigar a CET a cumprir o art. 24 do CTB, já passou da hora de crimes como esse serem punidos de maneira exemplar, para que maus motoristas deixem de confiar na impunidade ao praticar tais atos.

Não dá para continuarmos aceitando que um Ricardo Neis continue tomando cafezinho na padaria, enquanto suas vítimas tentam conviver com as sequelas físicas e psicológicas. Não aceitamos mais nenhuma morte.

Ombudsman

A CET conta agora com um Ombudsman, que se propõe a ser alguém dentro do órgão que defenderá os direitos do cidadão. Façamos uso desse recurso.

Comuniquem a ele o que desejam para sua cidade. Respeito ao ciclista, reconhecimento do direito de usar as ruas de bicicleta, punição aos motoristas que desrespeitam o ciclista (hoje, um agente da CET não pode multar desrespeito ao art. 201), sinalização de compartilhamento da via, sinalização de melhores rotas para o ciclista, campanhas educativas pedindo respeito à vida sobre duas rodas sem motor. Faça valer sua voz. Faça valer seus direitos.

É possível enviar uma mensagem ao Ombudsman da CET através desta página. Faça isso agora, não levará mais de 5 minutos e ajudará a mudar a cidade. E, a longo prazo, sua atitude pode ajudar a salvar vidas.

14 comentários em “Chega de mortes!

  1. Trabalho em uma empresa no centro de São Paulo onde vários funcionários moram em Campinas e estavam no ônibus que atropelou o ciclista. Por mais que alguns queiram colocar a culpa no preconceito a verdade é que todos foram unânimes em afirmar que o ciclista caiu na pista e o motorista não foi capaz de desviar o ônibus. Imperícia do motorista e do ciclista ? Fatalidade ? Não sei, o fato é que devemos sim lutar pela causa do respeito e tolerância para com os ciclistas. Mas não devemos transformar em bode expiatório um motorista que estava trabalhando e não teve culpa no acidente. O que irá nos diferenciar dos demais se tomarmos as mesmas atitudes intransigentes de que somos vítimas ? O debate deve ser incentivado mas não as custas de um inocente transformado em culpado sem a devida análise dos fatos.

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  2. Oi, já comentei anteriormente e repito resumidamente o que disse: campanha pela TV, Fantástico, Domingo Maior, matérias com câmera nos capacetes dos ciclistas (como usam em Londres) para filmar os abusos no trânsito!!! O alcance é enorme,as imagens dizem mais do que mil palavras.

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  3. Eu morrei em Brasilia, quando era criança, lá o respeito ao pedestre é admirável, em locais sem Farol, o pedestre estica a mão e os veículos param, por que la a lei da certo e aqui não? porque teve uma campanha forte de educação no transito e multa aos infratores. Aqui deveria ter a mesma postura, pois infelizmente essa é a forma de educar mais eficiente, fazendo doer no bolso.
    Há um mês comprei uma specialized usada, minha ideia era ir para a faculdade que fica a menos de 3 km de distancia do meu apartamento e com isso ia deixar meu carro em casa, principalmente que segunda feira que é meu rodizio, dia que vou á pé para o trabalho (1,5 km de casa), mas não tenho coragem de ir para faculdade bicicleta pois tenho que passar por uma ponte (sem acostamento) e já vi um ciclista sendo atropelado lá.
    Tenho outros dois amigos, que também moram e estudam perto, mas vão de carro, pois tem medo. Ninguém respeita o ciclista, acham que são uns “coitados” que não tem carro é usam a bicicleta como transporte por não terem dinheiro. Já ouvi muita gente falar isso. Em Copenhague até no inverno eles usam bicicleta. E tem que ser muito burro para não perceber que uma bicicleta não ocupa nada de uma pista e cada ciclista é um enorme carro a menos. A cidade de São Paulo já atinge o número 7.033.604 de veículos (http://www.detran.sp.gov.br/frota/frota.asp), portanto acredito que 20% não rode por conta do rodizio, ou seja o “Estado” força uma parte a largar o carro em casa para ter menos transito, mas não incentiva a usar a bicicleta que é uma ótima solução para o transito? Precisamos de uma campanha forte de educação no transito, até o momento de não precisarmos de ciclovia, ciclofaixa e etc, sermos apenas seres humanos ido do ponto A ao ponto B em segurança, independentemente do meio de transporte utilizado.

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  4. Só quando o movimento cicloativista conseguir atingir das autoridades públicas um nível de conscientização de que é preciso PRESERVAR a vida de quem usa a bicicleta como seu meio de transporte (e não estar “invadindo” o espaço dos motoristas nas ruas) é que vamos parar de vir aqui “chorar/lamentar/…” a vida dos companheiros. Vamos aumentar a PRESSÃO! (Em memória de Antonio Bertolucci.)


    P.S. Já fui covardemente atropelado (por trás) na Av. Rebouças, totalmente sinalizado, e sei bem a sensação de impotência que se tem. Os motoristas nos vêem como **invasores**.

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  5. São Paulo…Vou contar uma pequena história verídica: há 10 meses eu desisti de SP. Peguei minha família (mulher e 2 filhos) e viemos morar numa cidade pequena do NE (um desses pequenos paraísos na Terra), pois sou funcionário federal e consegui uma transferência (pelas vias legais, demorou 1 ano desde o meu pedido, mas saiu). Depois de todos esses meses sem colocar os pés em SP, embarcamos em uma viagem de uma semana à metrópole. Resultado: TODOS OS 4 LITERALMENTE ADOECEMOS DE CORPO E ALMA ASSIM QUE CHEGAMOS À CIDADE, mesmo estando cercados de parentes e amigos queridos. Essa monstruosidade de cidade é perda de tempo, de vida e de saúde. A sensação que tive ao aí desembarcar era algo como estar chegando a um criadouro de gado confinado, é o que melhor define o que senti.

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  6. Tenho 37 anos, ou seja, um pouco mais da metade da idade do Sr. Antonio Bertolucci. Quando tinha 10 ou 11 anos de idade, durante o período de férias, costumava ir de bicicleta da casa do meu primo, que fica em uma cidade no interior de São Paulo, até o sítio da família. Me lembro como era divertido e sério, todos os primos juntos, naquela coisa de independência e aventura, para ao fim do percurso ainda “jogar bola”, cavalgar, nadar e “tomar” um lanche e depois de tudo voltar pra casa. Minha mãe e as mães de meus primos sempre nos diziam: ” Cuidado!! Juízo!!”. Muito mais com o intuito de nos alertar para algo de errado que poderíamos fazer durante o percurso do que no sentido de alertar para o trânsito. OK, alguns podem dizer que era uma outra época, com outro trânsito, mas o que mais me chama a atenção é que a poucos meses comecei a pedalar novamente, influenciado pela minha esposa. Em 2007 dei a ela, como presente de aniversário, uma bike e desde então ela se apaixonou. Eu de certa forma também me entreguei as lembraças de outrora. Ela se aprimorou fisíca, mental e principalmente em sua atitutde para eleger a quase um ano e meio a bike como veículo de transporte, percorrendo diariamente 24 KM no trajeto entre casa-trabalho-casa. Já fiz o trajeto de casa ao meu trabalho e vice-versa,mas sem o mesmo empenho. Hoje em dia percebo que minha mãe, minha sogra, as tias e qualquer pessoa que sabem que utilizo uma bike em SP, e principalmente que minha esposa SÓ utiliza a bicicleta como meio de transporte, não conseguem conceber esta idéia como sendo algo seguro. Acho que alguma coisa está muito errada!!! Algo se inverteu. Não é somente um sentimento inverso das pessoas que nos amam, mas das instituições que deveriam zelar pelo cumprimento das leis, das pessoas motorizadas que deveriam zelar pelas que não estão, do forte(toneladas de aço) que deveria olha para o mais fraco (PEDESTRE /CICLISTA), pela simples razão de que uma vida perdida não se conserta ou se constrói após um pequeno “acidente”. Vamos enviar nossa indgnação ao Ministério Público e fazer valer nossos direitos.

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  7. Devemos nos respeitar seja ciclita,pedestre,motorista coisa dificil hoje em dia,CET nao seve para nada ou melhor, fazer multas para encher os cofres do C………..o pref.Alias essa cidade esta no caos, vamos rezar para que ele descanse em paz, e srs. CUIDADO PARA ANDAR DE BICICLETA POR SP> ESSA TERRA DE NINGUEM…………

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  8. Já tomei “dois tapas” no ombro da lateral de um ônibus de viagem da empresa Gontijo http://www.gontijo.com.br em uma avenida larga, de 3 pistas, em Belo Horizonte. Por sorte consegui “negociar” com a calçada e não parar debaixo do ônibus. Isso aconteceu às 6 horas da manhã e tinha apenas eu e o ônibus na avenida. Já estava dia claro, não é possível que o motorista não me viu!

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    1. É, Diniz… a coisa tá feia aqui em Bh também. Além das empresas de transporte coletivo não possuir qualquer campanha de educação dos motoristas, as empresas de transporte intermunicipal estão na mesma linha.
      Tomamos uma fina, eu e minha namorada, de um ônibus da http://www.Saritur.com.br Comuniquei ao DER, Detran, à propria Saritur. Não obtive sequer uma resposta automática.

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  9. Encher somente a CET de mensagens não vai resolver. Entendam: o Estado NÃO é a babá de ninguém (seja ele ciclista, motorista, motoqueiro, skatista e todo o tipo de veículo).

    Uma cidade é feita de pessoas. De nada adianta a CET ficar em cima se as pessoas não se respeitarem (TODOS os lados).

    Antes de me xingarem: eu não estou falando que sou contra enviar email para a CET. Muito pelo contrário. É sim uma idéia válida, mas somente se ela vier acompanhada de uma atitude que repreenda também o autor da besteira.

    Por isso que depois de enviar email para a CET, deve se enviar também para a Silvetur como o Bicicletada bem falou, exigindo explicações da empresa e também do motorista e que esse motorista seja punido de forma exemplar, seja ela como for.

    Eu já estou enviando minha mensagem para a Silvetur.

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