O carro que Gabriela passou para a frente. Foto: Arquivo Pessoal

Carta de uma ex-motorista aos novos donos do seu carro

Descubra por que Gabriela vendeu seu automóvel para se deslocar de transporte público, a pé e de bicicleta e veja sua carta aos novos proprietários do carro.

O carro que Gabriela passou para a frente. Foto: Arquivo Pessoal
O carro que Gabriela passou para a frente. Foto: Arquivo Pessoal

Descubra porque a paulistana Gabriela Vuolo, de 33 anos, vendeu seu automóvel para se deslocar de transporte público, a pé e de bicicleta em São Paulo e veja sua carta aos novos proprietários do carro. O depoimento foi postado no Facebook – e reproduzido aqui com autorização da autora.

Em agosto de 2009, eu comprei um carro. Era a coisa mais cara que eu já tinha comprado até então e eu lembro bem do frio na barriga. Hoje eu vendi esse carro. Um pouco porque precisei, um pouco porque escolhi – tava cansada de dirigir em São Paulo e cheguei à conclusão de que aquele carro já não me trazia a desejada liberdade e independência.

Nesses 5 anos e meio, eu descobri outros jeitos de me deslocar pela cidade. E descobri que a liberdade pode estar em tirar um cochilo no busão (como eu fiz hoje, voltando do cartório); ou então em voltar pedalando pra casa; ou então eu caminhar distâncias que antes eu julgava enormes (e de quebra encontrar amigues pelo caminho ♥). Vender o carro me deu um alívio tremendo, mesmo sentindo um frio na barriga igual ao que senti quando eu comprei – porque, afinal, viver sem carro será algo completamente novo pra mim.

Deixei uma cartinha simpática pros novos donos (porque ativista que é ativista deixa recado até nessa hora, rs). Transcrevo aqui pra quem tiver saco de ler.

E deixo também um beijo pras pessoas que botaram pilha e que me inspiram todos os dias, provando que sim, viver sem carro é possível – e talvez seja bem melhor. Obrigada. ♥ #‎maisamormenosmotor‬

“Queridos Fulano e Fulana,

Antes de mais nada, obrigada por comprarem meu carro! Vocês nem imaginam como isso será importante neste momento da minha vida… Agradeço demais, de verdade.

Como vocês sabem, hoje deixo de ser uma motorista diária e passo a ser uma pedestre e ciclista. Escolhi outros jeitos de me locomover pela cidade, e por isso gostaria de deixar quatro pedidos para vocês:

  1. Por favor, deem sempre preferência ao pedestre – mesmo quando ele não estiver na faixa. Lembrem-se de que aquela pessoa que caminha é um carro a menos na rua – e portanto, menos trânsito e menos poluição! Nem sempre há faixas e calçadas decentes por onde o pedestre passa, mas o pedestre é sempre bem mais frágil do que o carro. Por isso, todo cuidado é pouco.
    .
  2. Por favor, tenham cuidado com ciclistas como eu. Nós também somos bastante frágeis – qualquer deslize ou imprudência recai sobre nossos corpos, e não sobre a lataria (como acontece com um carro). Ultrapassagens em alta velocidade podem fazer com que a gente desequilibre e caia, por causa do deslocamento de ar. Passar muito pertinho também – é por isso inclusive que o Código de Trânsito diz que os veículos devem manter 1,5m de distância na hora de ultrapassar bicicletas. É difícil medir 1,5m ali, no meio do trânsito, então, por garantia, basta mudar de faixa na hora de ultrapassar. Não custa nada – e, por outro lado, uma ultrapassagem descuidada pode custar nossa vida. Lembrem-se de que o ciclista também é um carro a menos na rua – e portanto menos trânsito e menos poluição.
    .
  3. Por favor, deem preferência aos ônibus. Eles transportam muitas pessoas ao mesmo tempo. Se todas essas pessoas resolvessem ter um carro, teríamos muitos carros a mais na rua. Mais carros = mais trânsito, mais poluição e mais stress. Respeitar a faixa de ônibus e dar preferência aos coletivos beneficia todo mundo – quem anda de carro e quem anda de ônibus.
    .
  4. Por último, por favor, sejam gentis. São Paulo tem um trânsito maluco e muitas vezes a gente esquece que quem está dentro do outro carro são pessoas, como nós e nossos familiares. Não custa nada ser gentil, dar passagem, não fechar cruzamentos, não parar sobre a faixa de pedestre, etc. Tenho certeza que vocês, assim como eu e muita gente, também querem uma cidade melhor e menos estressante. Mas se a gente não começar fazendo a nossa parte, isso não vai acontecer nunca.

Eu fui bastante feliz com este carro nos últimos 5 anos e meio e ele foi muito útil pra mim. Espero que o mesmo valha pra vocês!

Boa sorte, e nos vemos nas ruas,”

Parabéns, Gabriela! Bem vinda à liberdade! 😀

E se você gostou do relato, assista esta animação aqui, que mostra uma história semelhante. 😉

Tem uma história parecida? Conhece alguém que fez o mesmo? Conte aqui nos comentários!

23 comentários em “Carta de uma ex-motorista aos novos donos do seu carro

  1. Um único principio seria suficiente se todos nós ciclistas, pedrestres, motoristas, etc adotássemos.
    Lei de convivência civilizada
    art. único – A preferencia é sempre do outro.

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  2. Nossa!!!! Parabéns Gabriela. É muito difícil para a maioria das pessoas sair da zona de conforto mas sempre há um modo de se readequar a vida. Basta um friozinho na barriga. Por experiência própria vejo que não troco bike e ônibus por nada nas horas de trânsito da cidade. Há momentos que preciso do carro para ir a praia com minha prancha de surfe,porém acredito que cada modal tem seu momento diário. Nada como pedalar no trânsito deixando filas de carros para trás e ter a liberdade de chegar aonde quiser e parar onde quiser.

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  3. Gabriela que alegria em ver sua escolha. Adoro pedalar e hoje também dou preferência ao transporte público e a bike, realmente tirar um cochilo no ônibus não tem preço, parabéns pela sua és olha e seja bem vinda ao mundo dos felizes em pedalar!!!!

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  4. Eu sempre fui um viciado em automóvel. Ia na padaria da esquina de carro, só para depois dar um rolê pelo bairro. Depois, cansado com o trânsito caótico, me aventurei com a compra de uma motocicleta (antiga, baleada, mas andava e me servia bem). Um dia vendi a moto velha e comprei uma mais nova, mas não 0 KM. Troquei o carro (vendi) pela moto até que um belo dia, sofri um acidente mais grave na marginal do rio pinheiros indo para o trabalho, aonde lesionei os 2 joelhos! Mesmo me recuperando do acidente e tendo novamente a tentação de voltar a andar de moto e, tendo orientação oposta a isso do meu médico, desisti da motocicleta e parti para uma rotina similar a do texto inicial. Voltei a andar de ônibus, trem e a pé. Foi quando após conversar com o meu ortopedista (ainda estava fazendo o tratamento) decidi começar (gradativamente) a andar de bike para ir/ vir ao trabalho. Deu certo. Comecei indo uma vez por semana levando quase 2 horas para pedalar pouco menos de 15km (com ciclovia parcialmente interditada), isso usando a ciclovia do rio pinheiros (em obras), quando tinha serviço de transporte de vans para o transporte dos ciclistas no trecho interditado. Fui aumentando a frequência do uso da bike, chegando aos “incríveis” 3 dias da semana pedalando para ir/ vir ao trabalho. Depois foi construído um trecho de desvio da ciclovia aonde um dos acessos coincidiu com o bairro que eu morava e, a saída da ciclovia para o meu local de trabalho também, ficando ambos a pouco mais de 1,5 km da porta de cada local. Não vacilei mais. Adotei a bike como transporte diário. Hoje vou todos os dias de bike. Minha saúde agradeceu e, eu mudei completamente minha visão sobre transporte saudável e sustentável. Trânsito hoje? Só observo da ciclovia, enquanto passo todo mundo preso no engarrafamento. Mais rápido do que eu? Só os motociclistas (se arriscando de mais nos corredores entre carros) e, algumas vezes o vento!

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    1. O trali é um boneco na mão da emissora, que sempre vai priorizar a defesa dos lucros dos seus anunciantes e parceiros. Pra que se preocupar com o pedestre, né? As calçadas dessa mesma rua têm um degrau gigante em cada portão pra facilitar a entrada dos carros, enquanto deveria ter a inclinação do piso apenas no interior do imóvel. Cadeirantes, idosos, pessoas com dificuldade de locomoção e mães com carrinhos de bebê são obrigados a caminhar pelo asfalto, mas a Rede Globo está preocupada com a manobrabilidade dos automóveis…

      Concordo que, dependendo do tipo de árvore, suas raízes podem se desenvolver demais e partir o asfalto. Mas o que que tem a ver árvore com esgoto?!?!?!

      E a quase totalidade dos motoristas brasileiros são impacientes e incautos na direção. Ultrapassagem em via de mão dupla como essa não é permitida. As árvores serviriam (poderiam ter a base dos seus troncos pintadas em preto e amarelo) como um obstáculo físico mais bonito pra rua. Ou uma rua com divisória de concreto entre pistas é mais bonita que um boulevard?

      E argumentar que árvore pode cair em cima de casas com temporal… é um argumento tão pobre que não vale a pena nem começar a ser discutido!

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  5. Eu tomei essa mesma decisão em 2009. Comprei um carro achando que resolveria todos os meus problemas e vi que ele não era a solução, no meu caso. Sim, carro é útil: para fazer viagens (tem lugares que são acessíveis apenas por carro, infelizmente), transportar compras grandes e para alguns deslocamentos que o transporte público não faria com a mesma eficiência. Por outro lado, o carro me obrigava a ter mais gastos (combustível, seguro, IPVA, manutenção). E, também, mais dores de cabeça. Quem vive aqui sabe que o trânsito em SP é muito estressante, achar vaga para estacionar é quase uma loteria (além de absurdamente caro) e ainda temos que conviver com a exploração dos flanelinhas.

    Decidi abandonar o veículo particular e não tenho saudades. Uso prioritariamente o transporte público, as pernas e, de vez em quando, a bicicleta (gosto de usar as laranjinhas). Aliás, as pessoas deveriam caminhar mais. Além de fazer bem para a saúde e para o humor, a gente consegue ver e interagir com a cidade de outra forma.

    Se voltaria a ter um carro? Talvez, mas não para o uso diário.

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  6. Fica a dica :

    http://exame.abril.com.br/seu-dinheiro/ferramentas/quanto-custa-manter-um-carro/

    Tomei a mesma decisão em outubro de 2012. Tirando alguns sustos com os psicopatas ao volante, não me arrependo nem um pouco. Espero que com as ciclovias os sustos com alguns insanos ao volante acabe e eu possa pedalar em paz.

    Façam as contas e verão que trocar o carro pela bike pode ser muito bom para o bolso também !!!!

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  7. Parabéns a Gabriela e a todos que fizeram essa escolha. Em 2010 eu cheguei a mesma conclusão, naquela época percebi que o tempo das minhas viagens de carro tinham aumentado drasticamente, então percebi o quão ágil e econômica minha bike poderia ser e troquei o acelerador pelo pedal. Foi a melhor coisa que fiz, mesmo passando um aperto enorme por conta da falta de educação de alguns motoristas, fico bem mais disposto com minha bike, passo menos tempo no transito e posso dormir mais de manhã.

    De lá pra cá o transito piorou, parece que o numero de carros nas ruas de SP nunca cai, só aumenta, mas meu tempo de viagem até o serviço de bike continua exatamente o mesmo, nos dias que estou muito cansado, saiu mais cedo e vou dormindo no ônibus, pra descansar bem pro dia seguinte. Ainda tenho meu carro, mas ele só roda nos fins de semana ou pra alguma emergência da família. Me acostumei tanto com a mobilidade da minha bike que agora ficar parado no transito com meu carro é extremamente tedioso, por isso quase não dirijo mais, prefiro deixar essa tarefa pra minha esposa.

    Meu único aborrecimento é que ainda é muito comum ver motoristas estressados colocando sua vida em perigo, e em 99% das vezes sem nenhum motivo aparente, já que mais a frente o transito para, você continua pedalando e os carros ficam. Mas paciência, o vicio do pedal já me pegou, minha vida é dinâmica demais pra ficar presa num engarrafamento, costumo dizer pra minha esposa que se tiver que morrer pedalando, é assim que vai ser, pois não largo mais minha bike.

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    1. Anderson, a bike não existe horário de pico e o tempo de percurso é sempre o mesmo…tanto é que no desafio intermodal que tem em SP todos os anos, a bicicleta foi a primeira na maioria das vezes….se não me falha a memoria, só no ano passado que a bike não ganhou, perdeu apenas para a moto.

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  8. Parabéns pela atitude. Eu também desisti de ter carro, já faz 10 anos. Um tanto revoltado pelo preço e custo para manter um carro. Se tornou meu protesto, para este estado de coisas. Nesta brincadeira na cidade de São Paulo, economizo muito com isto, economia que dá para pagar muita coisa, importante na sua vida.

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  9. É pena que a galera carioca ainda tá na contramão dessa filosofia. As pessoas parecem preferir enfrentar 1h de trânsito pra cruzar 13km em lugar de fazer o mesmo trajeto com metrô/ trem / ônibus e complementar com caminhada ou bicicleta. Espero que esse texto ajude a mexer com algumas cabeças duras cariocas…

    São os desejos de um ciclista urbano carioca há 21 anos (da época em que rodar pela cidade de bicicleta não era “cool” e que ciclistas urbanos eram chamados de loucos ou pobres sem carro…).

    PS: Bicicleta é vida. Bicicleta é amor!

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    1. E olha que o Rio está muito bem servido de ciclovias: Cerca de 380 km e expandindo…enquanto aqui em SP acabamos de passar de 250km…e ainda tem a imprensa preconteituosa que fica metralhando as mesmas, só mostrando o lado ruim e os erros da prefeitura, sem nem esperar a conclusão da implantação da malha e nem mostrar o lado bom de estimular o uso da bicicleta, já que assim como o metrô, pouco ou muito, retira carros das ruas por oferecer uma opção de locomoção a curta/média distancias.

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  10. Parabéns, Gabriela, pela iniciativa e por escolher esse novo estilo de vida.

    Meu marido e eu fizemos essa opção no final do ano passado e não nos arrependemos, pelo contrário, deveríamos ter feito isso antes.
    Segue uma mensagem que enviei para amigos e conhecidos ao compartilhar um vídeo bacana sobre o uso da bike em São Paulo:

    “Pra quem não sabe, recentemente meu marido e eu optamos por vender nosso carro e colocar como meta a utilização da bicicleta como meio de transporte.
    Essa escolha não se baseou apenas na irritação e stress que são causados por estar atrás do volante, mas foi fruto de uma jornada que se iniciou já fazem alguns anos e que tem como objetivo alinhar nossas vidas com nossos ideais de sociedade.
    Nessa questão do transporte, em específico, o melhor uso do espaço público, o fortalecimento de um meio acessível pra toda população, além da ausência de poluição e do uso de combustível fóssil ou daquele proveniente de plantações com altos indíces de trabalho escravo, foram as principais razões que direcionaram nossa escolha.
    É claro que os efeitos benéficos para a saúde, a economia e todo o apelo lúdico também são fatores importantes.
    Para aqueles que querem saber mais sobre as bikes em Sampa tem um documentário bem legal aqui: http://vimeo.com/53782269
    Só pra deixar claro, eu entendo e respeito totalmente todos que preferem usar o carro como meio de transporte, mas fica aqui meu pedido: não desrespeite ou critique quem está buscando formas alternativas de se locomover, até porque muitas dessas bikes são um carro a menos na sua frente no trânsito insano dessa enorme cidade.
    Respeite a vida!!!!”

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    1. Carro só é bom para viagens e olha lá…uso diario tem um custo altissimo e o veiculo se desgasta mais rapidamente pelo uso excessivo.

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