Ferrovia em Berlim pode abrigar ciclovia coberta que gera energia limpa
Projeto sugere intervenções como semáforos que abrem com a proximidade de ciclistas e pavimento que gera energia elétrica, em trajeto de 9 km cortando a cidade
Berlim pode ganhar em breve sua primeira grande ciclovia coberta. Lançado este ano por oito bicicleteiros de diferentes países e profissões, o Projeto Radbahn tem como objetivo revitalizar um cartão postal da cidade, a linha férrea U1 (parte da rede de metrô da cidade), e transformá-la em uma rota segura, agradável e sustentável para a passagem das bicicletas.
Com mais de 120 anos de existência e nove quilômetros de extensão, a via cruza bairros modernos no centro da capital alemã por baixo de um viaduto e, devido às suas más condições, se resume hoje a um abrigo para carros nos dias de chuva. O Projeto Radbahn sugere uma série de intervenções que iriam estimular a população local a discutir mobilidade e a pedalar mais, não só na U1, mas por toda a cidade.
Entre as melhorias que os criadores esperam ver surgir a partir da reforma, estão a diminuição do trânsito e de acidentes entre motoristas e ciclistas, o aquecimento do empreendedorismo local, a experimentação com novos materiais sustentáveis e produtos voltados à mobilidade e a multiplicação de novas rotas exclusivas para as magrelas.
As intervenções na linha férrea
O Projeto Radbahn argumenta que 80% do trajeto da U1 já está preparado para receber ciclistas. Nos outros 20%, obstáculos como intersecções de carros e ferrovias seriam superados por meio de soluções inovadoras como:
– substituir escadas por rampas, transformando toda a extensão em uma única superfície ininterrupta e protegendo os ciclistas contra veículos motorizados;
– zonas verdes às margens da via para amenizar barulhos e limpar o ar;
– semáforos inteligentes orientados pelo ritmo da locomoção dos ciclistas, criando um “caminho verde” com o mínimo de interrupções no deslocamento de quem pedala;
– conectar o percurso com a malha de transporte público de Berlim, como estações de ônibus e outras ciclovias;
– usar a ponte que cobre o percurso como proteção contra sol, chuva e neve;
– espalhar “estações de serviço” pela pista: bares, cafés, lojas para aluguel de bikes, áreas de descanso e postos de assistência técnica gratuita são alguns exemplos;
– criar pontes suspensas, presas na estrutura acima, para possibilitar a passagem sobre obstáculos como canais e irregularidades do terreno;
– instalar um pavimento sensível a pressão, que gera energia a partir do atrito dos pneus, aproveitando a eletricidade produzida para iluminar o percurso.
Mais bicicletas em Berlim
Berlim tem ruas amplas, grandes parques, solo plano e uma malha de transporte público extensa. Apesar de ser ideal para o deslocamento sobre duas rodas, a cidade mantém uma forte relação com os automóveis, responsáveis por 58% do engarrafamento da cidade – comparados aos 3% gerados pelas bikes (fonte: Flächen-Gerechtigkeits-Report, Agentur für clevere Städte, 2014).
O enorme potencial da metrópole para virar uma das mais “amigas da bicileta” na Europa é comprovado pelo aumento no número de ciclistas no decorrer dos últimos anos: em 2014, a cada mil moradores, 324 dirigiam carros e 721 pedalavam (fonte: Environmental Awareness Study, 2014, UBA).
Proposta busca apoio popular
Até agora, o Projeto Radbahn não passa de uma reflexão urbanística – seus integrantes não sabem por exemplo, estimar a verba necessária para concretizar as medidas sugeridas.
O grupo vem pedindo ajuda aos cidadãos de Berlim para exigirem do poder público políticas em favor da locomoção ativa e a abordagem do tema nas eleições de 2016. A estratégia está funcionando: no terceiro dia após sua inauguração, a página da causa no Facebook já contava com 6 mil fãs. No dia 23 de novembro, o projeto ganhou o prêmio Ecodesign, concedido pelo Ministério do Meio Ambiente alemão. E políticos – como Jan Eder, diretor da Câmara de Comércio e Indústria de Berlim – apoiaram publicamente o projeto.
Para mais detalhes sobre a proposta da Radbahn, clique aqui.