Como funcionam as provas de ciclismo de pista nas Olimpíadas
Nos Jogos desde 1896, ciclismo de pista é disputado com bicicletas de roda fixa. São 5 categorias – incluindo a Omnium, composta por 6 provas diferentes!
Das quatro modalidades nas competições de ciclismo nas Olimpíadas do Rio 2016 – estrada, mountain bike, pista e BMX – todas contaram com participação do Brasil. Foram dez atletas representando nosso país, a maior delegação brasileira da história do ciclismo até então (além de dois triatletas).
E, depois de 24 anos sem nenhum brasileiro no ciclismo de pista olímpico, o cearense Gideoni Monteiro representou o país no Omnium. Gideoni conseguiu a pontuação no Mundial de Londres, em março, ficando na 15ª posição no ranking olímpico. O atleta treinou no Centro Mundial de Ciclismo da UCI, na Suíça, em um programa de intercâmbio, e era o 28º colocado no ranking mundial.
Tipos de provas
O ciclismo de pista é praticado em velódromo com bicicletas de roda fixa, que não possuem freios (a frenagem é feita reduzindo a rotação através dos pedais). A modalidade está presente nos Jogos Olímpicos desde Atenas 1896, primeira edição da era moderna.
As competições de 2016 aconteceram no Velódromo Olímpico do Rio, reunindo ciclistas de 36 países. O Vá de Bike fez um resumo das regras de cada prova, divididas em cinco disputas: Velocidade, Velocidade por equipes, Perseguição por equipes, Keirin e Omnium.
Velocidade (Sprint)
Na prova mais rápida do velódromo, os ciclistas precisam de muito impulso e arrancada, usando o máximo de sua força – o que os leva a terem pernas extremamente musculosas.
Dois ciclistas precisam percorrer 1 km na pista, mas apenas os últimos 200 m são cronometrados. Por isso as primeiras voltas são muito lentas e estratégicas, com os atletas se estudando, procurando a melhor posição de “ataque” e evitando ficar à frente um do outro, para não conceder a vantagem do vácuo. Quando começa a contar o cronômetro, eles explodem e chegam a mais de 70km/h. Vence quem cruza a linha de chegada primeiro.
Velocidade por equipes (Team Sprint)
Apesar do nome “sprint”, é mais parecida com a perseguição por equipes do que com a prova de sprint individual.
Duas equipes competem uma contra a outra, se posicionando em lados opostos do velódromo. A prova masculina é disputada em três voltas, com a equipe sendo composta por três atletas, pedalando um atrás do outro. A cada volta, o ciclista que liderava a equipe se retira, deixando o seguinte à frente. No feminino, são duas voltas, com duas atletas. Ganha a equipe com o menor tempo.
O ciclista responsável pela última volta precisa ter boa resistência, para manter a velocidade alta até o final. Geralmente se escolhe um atleta de contrarrelógio para essa posição.
Perseguição por equipes (Team Pursuit)
Como na prova de velocidade por equipes, dois times largam em posições postas no velódromo, cada um com quatro atletas. Ganha a equipe que fizer o menor tempo ou, na final, a que alcançar a outra.
Nessa modalidade os atletas revezam seus posicionamentos com muita técnica e precisão. A mudança de posições acontece para alternar quem puxa a fila, maximizando a performance de todos. Após completar a primeira volta, o ciclista que está puxando sobe pelo lado direito da parede do velódromo, se posiciona em último da fila e dá lugar ao segundo, que passa a comandar o ritmo. Essa “dança” acontece sucessivamente, até o fim.
Essa é uma das provas mais bonitas do velódromo. São 4km (ou 16 voltas).
Keirin
Essa prova conta com o auxilio de uma moto ou de uma bicicleta elétrica e aqui se registram os piores tombos da competição. Seis ciclistas de várias equipes pedalam em grupo atrás do veículo motorizado, que controla a velocidade dos atletas, que começa em 25 km/h e vai aumentando até 50 km/h.
Nos últimos 700 metros, a moto deixa a pista e começa a disputa forte. Os competidores alcançam velocidades finais de até 70km/h.
Omnium
Esse é o maior desafio individual para os ciclistas de velódromo. A competição é composta por 6 provas diferentes, disputadas durante dois dias, que exigem potência e também resistência dos atletas.
Os pontos acumulados pelos competidores nos primeiros cinco eventos são somados. Durante a sexta e última corrida, esse total pode aumentar ou diminuir de acordo com os pontos conquistados ou perdidos pelo ciclista. O vencedor é o atleta com maior pontuação ao final da sexta prova.
- Scratch: Um pelotão larga junto e quem chegar primeiro ganha. São 15 km para os homens e 10 km para as mulheres.
- Perseguição individual: Dois ciclistas largam em lados opostos do velódromo, disputando quem anda mais rápido em 4 km no masculino e 3 km no feminino.
- Eliminação: O pelotão disputa sprints eliminatórios, com o último a passar pela linha a cada duas voltas sendo eliminado da competição. Quem ficar até o final ganha.
- Contrarrelógio: Prova de velocidade com medição de tempo individual. Distância de 1 km para homens e 500 m para mulheres.
- Flying Lap: Cada ciclista dá uma volta sozinho e quem fizer o melhor tempo, ganha. A volta começa a ser contada com a bicicleta já em velocidade, em vez de iniciar parada como no contrarrelógio tradicional.
- Corrida de pontos: Essa é uma das provas mais confusas para quem não está familiarizado com as regras. É disputada com vários ciclistas simultaneamente, em distâncias longas (40 km homens e 25 km mulheres). A cada dez voltas há um sprint intermediário, que rendem pontuação para os quatro primeiros (5, 3, 2 e 1 ponto, respectivamente). Cada ciclista que consegue dar a volta no pelotão ganha um extra de 20 pontos. Isso gera estratégias diversas: há os que permanecem no pelotão economizando energia, para atacar e pontuar nos sprints; outros tentam conquistar uma volta sobre os demais logo no início da disputa, se esforçando depois para manter essa vantagem. Muitas vezes alguns dos atletas trabalham em conjunto durante a competição para conseguir conquistar essa volta, difícil de ser conseguida individualmente.
Falta de velódromos dificulta crescimento do esporte
Para formar atletas de pista é necessário um equipamento fundamental: o velódromo. Com provas extremamente emocionantes e velozes, o Brasil não consegue competitividade no ranking mundial e continua sem tradição no esporte por um motivo muito simples: parou de investir e enterrou a modalidade.
O velódromo do Rio de Janeiro foi demolido em 2013, causando o encerramento da equipe que lá treinava. Todo o trabalho desenvolvido pelos atletas, treinadores e equipe de apoio foi jogado pelo ralo com a decisão de desmontar o antigo velódromo sem que houvesse outro local em que os atletas pudessem treinar.
Em São Paulo, a pista da CepeUSP, idealizada para os jogos Panamericanos de 1975, está abandonada há quase 30 anos, funcionando hoje apenas como palco de festas universitárias. Em 2008, o então diretor do Cepeusp, Carlos Bezerra de Albuquerque, defendia que o espaço não fosse reformado, acreditando haver poucos ciclistas de pista. Óbvio: não havendo estrutura mínima para que o esporte possa ser praticado, não haverá atletas da modalidade.
Após as Olimpíadas 2016, o Velódromo Olímpico do Rio passaria a ser usado para treinos de atletas de alto rendimento. Há poucos velódromos no Brasil, sendo um dos mais recentes o da cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo. Alguns outros estão em Curitiba/PR, Caieiras/SP, Maringá/PR e Americana/SP. As condições de conservação variam.
É muito pouco para um país com tanto potencial e para um esporte com várias categorias, que poderia nos render tantas medalhas.