Com famílias e bicicletas à porta, comerciantes aprovam abertura da avenida Paulista às pessoas
Entrevistamos comerciantes, que apontaram aumento de clientes com a abertura. Pesquisa registrou 50% de aprovação entre o comércio e apenas 25% de rejeição.
A polêmica é grande quando o tema é o fechamento temporário para lazer – sem circulação de veículos motorizados – de algumas vias da capital paulista pela gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Principal objeto dessa decisão, a avenida Paulista tem sido palco de discussões. Os argumentos contrários à sua abertura às pessoas afirmam que a medida prejudicaria a passagem de ambulâncias rumo aos hospitais da região e também o comércio local.
Quanto aos hospitais, as unidades de saúde deram o aval ao fechamento, incluindo o Hospital Santa Catarina, que tem uma das suas saídas para a Paulista – mas que possui uma outra entrada, a que atende ao pronto-socorro, na rua Teixeira da Silva. Em relação ao comércio, o debate se acentuou com as declarações concedidas por Vilma Peramezza, presidente da Associação Paulista Viva, ao jornal Folha de S.Paulo no último dia 19 de agosto. A responsável pela entidade afirmou que os restaurantes teriam de 30 a 40% de prejuízo com a medida. Decidimos conversar com alguns comerciantes da região para avaliar seu posicionamento.
Com a palavra, os comerciantes
Em 23 de agosto, dia em que a avenida Paulista ficou fechada para carros e aberta para pedestres, ciclistas e skatistas em função da inauguração da ciclovia na Av. Bernardino de Campos, ligando a via especial da Paulista à da rua Vergueiro, comerciantes procurados pelo Vá de Bike apresentaram visões diferentes sobre o tema. O atendente da lanchonete Banana Split (próxima ao Conjunto Nacional) conhecido como Barbosa discorda da presidente da associação. Questionado se houve queda no movimento por conta da medida, afirmou: “Pelo contrário. Até agora (por volta das 14h) teve um aumento grande do movimento, principalmente de famílias”. Em frente à lanchonete, pessoas procuravam lugares entre os postes próximos para guardar suas bicicletas e poderem entrar tranquilos no comércio.
mas com a Paulista fechada
é muito melhor,
não tenha dúvida”
A mesma cena se repetiu no bar e lanchonete Charme da Paulista, a menos de uma quadra do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Nas tradicionais grades verdes do bar, que delimitam o espaço das mesas na calçada, havia mais bicicletas presas por clientes que estavam aproveitando o domingo de sol para se alimentar ao ar livre. O gerente do estabelecimento afirmou sentir um expressivo aumento em relação a outros domingos. Em concordância com o concorrente da Banana Split, observou uma presença significativa de famílias em seu comércio. “Nossos clientes saem aos fins de semana com a família para o [parque do] Ibirapuera, por exemplo. Se [a via] está fechada [para os carros], é natural que eles prefiram vir para a Paulista”.
Questionado sobre o motivo de comércios vizinhos – a maioria lojas de roupa – estarem fechados, o gerente responde: “eles normalmente já não abrem de domingo, o único setor que costuma funcionar é o nosso, de alimentação. Então para eles acredito que não faça muita diferença”. Pergunto então a visão dele em relação ao setor como um todo, uma vez que, segundo a Associação Paulista Viva, seria um dos principais prejudicados. “Não acho. O movimento de domingo é bom, mas com a Paulista fechada é muito melhor, não tenha dúvida”.
favoráveis à abertura;
apenas 25% são contrários
Pesquisa
Uma pesquisa feita pelas entidades Rede Nossa São Paulo e a SampaPé revelou que 50% dos comerciantes da avenida são a favor da abertura a pedestres e ciclistas aos domingos e que apenas 25% são contrários. 46% afirmaram haver impacto nas vendas, 25% disseram ser indiferente e 29% apontaram impacto negativo. Foram consultados 107 estabelecimentos, sendo que 46 estavam fechados (43%) e 61 abertos.
O secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, afirmou no último dia 31 de agosto que a administração municipal conversou com comerciantes da região e que também verificou que a “ampla maioria” aprova a medida – em especial a área de alimentos, que teria aumentado o número de vendas com a Paulista aberta às pessoas.
Os visitantes que transformaram a avenida em um verdadeiro parque no dia 23 de agosto contavam também com outras opções de alimentação, como as food bikes. Hambúrgueres, doces diversos, produtos orgânicos e até café foram oferecidos sobre duas rodas.
Abertura deve ocorrer em outubro
Na sexta-feira 4 de setembro, o Ministério Público Estadual (MPE) se posicionou de forma favorável à interdição, que deve ocorrer de forma permanente aos domingos, a partir de outubro. Em troca, a prefeitura deve realizar audiências públicas no vão livre do MASP (Museu de Arte de São Paulo), interditar viários também na periferia e reformar clubes municipais.
A Promotoria exige também que a Secretaria de Transportes apresente estudos para abrir a avenida. De acordo com a ata da reunião, “qualquer decisão de fechamento da Avenida Paulista ou de qualquer outra via do Município deverá ser necessariamente precedida de estudos prévios acerca da mobilidade urbana, constando as alternativas para tráfego de veículos, notadamente para acesso a hospitais situados na via e nas suas imediações, estudos esses que deverão ser elaborados por profissionais capacitados”.
Quando a Paulista abrir definitivamente aos domingos, ao menos os restaurantes não devem se queixar nem um pouco da medida.
Li esta semana que nos anos 60, em Copenhagen, quando a principal via foi fechada ao tráfego de carros os comerciantes chiaram. Num país quase sempre frio e chuvoso, até fazia sentido. Um ano depois, porém, tinham triplicado as vendas e estavam pra lá de felizes. No caso da Paulista, o fechamento vai se dar num único dia e num país onde há sol a maior parte do ano. Sem contar que andando ou pedalando, a gente tende a notar mais pequenos espaços, lugares legais pra comer que nem se nota de dentro do carro. Há de ser um sucesso!
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É claro que o movimento de bikes aumenta o fluxo do comercio, enquanto o carro precisa de um local adequado para estacionar, a bike estaciona em qualquer poste, é muito atrativo. Talvez o shopping sinta alguma diferença, mas se tiver bicicletários bons, talvez o fluxo de bikes compense os motoristas que iram fugir do transito. A grande verdade é que quanto mais agradável é o ambiente, mais as pessoas se sentem animadas a consumir e se divertir. O duro será quebrar a barreira cultural imposta por anos de politicas voltadas ao transporte individual motorizado.
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E o Shopping tem bicicletários. Todos eles.
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Eu mesmo quando fui a Paulista nos domingo que ela ficou fechada ao trânsito, andei toda a extensão da avenida e na volta parei em uma lanchonete que tem cadeiras do lado de fora e fiz minha refeição e fiquei apreciando o pessoal passeando, andando de bicicleta, jogando conversa fora. Os estabelecimentos têm é que criar atrativos para que a gente queira passear e entrar para consumir alguma coisa.
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