Foto: Lucas Moraes

Rota ciclável entre Recife e Olinda começa a sair do papel após 3 anos do lançamento do PDC

Projeto ainda apresenta desconformidades com o Plano Diretor Cicloviário. Poder público não entregou nem metade das vias prometidas há três anos

Poder público não entregou nem metade das vias cicláveis prometidas há três anos. Foto: Lucas Moraes
Poder público não entregou nem metade das vias cicláveis prometidas há três anos. Foto: Lucas Moraes

A construção de rotas cicláveis que interligam a Região Metropolitana do Recife e os principais pontos de 14 municípios de Pernambuco parece ainda estar distante de sair integralmente do papel. A proposta, que faz parte do Plano Diretor Cicloviário (PDC), só começa a ganhar forma três anos após o lançamento das diretrizes, com a construção de um percurso de 5,6 quilômetros, que em grande parte está em discordância com o PDC, e ao custo de mais de R$ 2 milhões.

A construção de uma extensa e interligada ciclovia chamada Rede Cicloviária Metropolitana – que segundo o PDC seria obrigação do poder estadual –, começou a ganhar forma este ano com a implantação de uma rota entre o Marco Zero do Recife e a cidade vizinha, Olinda. No traçado original, o roteiro deveria, além das duas cidades, estar interligado pela ciclovia com outras 12.

Segundo a secretaria de Turismo do Estado, responsável pelo novo trecho, “a concepção (da primeira parte da Rede Cicloviária) visa aspectos turísticos, mas a rota visa também atender a mobilidade de milhares de ciclistas, criando um importante corredor entre a zona norte do Recife e o centro da capital.”

O problema é que mesmo após mais de três anos do lançamento do PDC, essa primeira rota, denominada como Eixo Cicloviário Estruturador, ganha a cidade sem seguir determinações básicas do plano, e com um trecho reduzido de ciclovia, dando prioridade a ciclofaixas e ciclorrotas.

“O PDC prevê ciclovia para o trecho indicado na Agamenom Magalhães, por esta ter velocidade máxima de 60km/h. Para garantir a segurança do ciclista, no caso de implantação da ciclofaixa, o trecho da avenida precisaria ter sua velocidade máxima até 40km/h garantida pelos radares”, é o que explica Luisa Sobreira, coordenadora da Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo). O governo afirma que não há necessidade da ciclovia, visto que a rota contempla apenas a pista local da via.

Caso seguisse o traçado do Plano Diretor, o poder estadual deveria, no biênio 2016-2017, construir pouco mais de 8 quilômetros de ciclovia no Recife, o que estaria dentro dos resultados de médio prazo do projeto, a um custo de pouco mais de R$ 4,6 milhões.

No caso do Eixo Estruturador, a responsabilidade, que deveria também ser da prefeitura, passou a ser totalmente do Estado. Para a Secretaria de Turismo, “não se pode projetar e executar uma obra cicloviária recortada, segmentando trechos metropolitanos e trechos complementares”. A argumentação vai de encontro à integração entre os segmentos políticos sugerida pelo Plano Diretor.

Foto: Lucas Moraes
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Descontinuidade

Outro problema apontado pela Ameciclo é a descontinuidade da rota. “Não há argumentos técnicos para que o ciclista desmonte da bicicleta em todas as pontes. É contraintuitivo e contraproducente para o ciclista (…). A rota que será implantada obriga o ciclista a utilizar a ponte Maurício de Nassau, tendo que percorrer os trechos com maior movimentação de ônibus: Cais do Apolo, ponte Maurício de Nassau e avenida Martins de Barros. Ciclofaixa não é estrutura segregada como ciclovia, não dando proteção suficiente ao ciclista; o que é grave, considerando o fato de que 47% das mortes de ciclistas por atropelamento no Recife são de responsabilidade de motoristas de ônibus (Datasus, 2014)”, pontua a coordenadora da associação.

O roteiro, com obras em execução e orçado em mais da metade dos gastos previstos para este ano na área, contempla uma área turística do centro da cidade, onde, conforme o PDC, as rotas cicláveis deveriam ser de obrigação da prefeitura. O projeto está sendo tocado pela Secretaria de Turismo de Pernambuco, por meio do Programa de Desenvolvimento do Turismo e com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A previsão é de que as obras estejam concluídas ainda no primeiro semestre de 2017.

“Descomemoração”

No dia 3 de fevereiro, ciclistas estiveram reunidos em frente à prefeitura do Recife para cobrar a implantação do PDC, que atingiu a marca dos 3 anos desde o seu lançamento. Na ocasião, o grupo levou uma série de demandas ao conhecimento do secretário de mobilidade e controle urbano da capital, João Braga, com o qual foi acertada uma reunião para debater o tema.

Uma campanha para tornar o PDC mais conhecido entre os ciclistas e a população também será iniciada.

Promessa de interligar 14 cidades

O Plano Diretor Cicloviário foi lançado em 2014 pelo então governador de Pernambuco Eduardo Campos. Naquela época, a ideia era que até 2024 as 14 cidades que fazem parte da região metropolitana estivessem interligadas por meio de uma ciclovia, ciclorrotas e ou ciclofaixas, que seguiriam uma espécie de “padronização”.

O projeto, embasado no estudo que envolveu diversos profissionais e estudiosos, permitiu ainda a criação do Escritório da Bicicleta, órgão responsável pela garantia da execução das obras, que custaria ao governo em média R$ 150 mil ao ano, e permitira a construção de mais de 70 quilômetros de ciclovia no Recife por parte do governo do Estado, além de outros 170 quilômetros de rotas cicláveis na cidade a cargo da prefeitura. A Ameciclo, até o início deste ano, não contabilizou sequer metade do que foi prometido pelo poder público.

2 comentários em “Rota ciclável entre Recife e Olinda começa a sair do papel após 3 anos do lançamento do PDC

  1. Quando viajo para Pernambuco fico abismado com a quantidade de ciclistas na região de Recife. Um absurdo o governo querer atender primeiro o turismo que os cidadãos.

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