SUVs na mira
SUVs são os “Sport” Utility Veicules, carros maiores que o normal. São mais largos, mais altos, poluem mais (alguns usam diesel), ocupam mais espaço e impõe “respeito” através da força bruta. A propaganda os vende como carros que “enfrentam qualquer desafio”, mostrando como “desafios” ruas desertas, estradas vazias, riachos e capim. Boa parte desses veículos nunca entra nem ao menos em uma estrada de terra, tampouco transporta peso ou quantidade de pessoas que um carro pequeno não transportaria.
Na inglaterra, a Associação de Professores e Mestres luta contra o uso de automóveis 4×4 para levar as crianças à escola, alegando que “podem matar ou ferir gravemente duas ou quatro vezes mais do que os carros comuns”. O motorista não tem visão de uma criança pequena na frente do carro e uma colisão atinge diretamente o tórax ou a cabeça dessa criança.
A Associação dos Fabricantes e Comerciantes de Motores diz que muitos dos medos que cercam os 4×4 e SUVs são infundados e baseados em “estereótipos que não ajudam em nada e estatísticas inexatas”. Diz ainda que “a segurança dos ocupantes e pedestres é da maior prioridade para os fabricantes de automóveis” e que a indústria “está fazendo os investimentos e melhorias necessários no design dos veículos”.
Em janeiro, um grupo de ativistas preocupados com o meio ambiente fez uma manifestação em Londres, também contra os pais que usam SUVs e 4×4 para levar os filhos á escola. Fantasiados de meninas e professoras, paravam os motoristas e acusavam-nos de usar os carros para se mostrar para os outros, entregando boletins com nota E em “esforço”.
Um porta voz desse grupo, a Aliança Contra os 4×4 Urbanos, disse que os pais que usam esses veículos para levar as crianças à escola são “extremamente irresponsáveis” e que os veículos são “totalmente inadequados para as cidades, congestionando ruas, ameaçando a segurança das crianças e aumentando a poluição”.
A Associação dos Fabricantes e Comerciantes se justificou dessa vez dizendo que:
– Esses carros se tornaram populares porque são “úteis e flexíveis”. Ele se contradirá logo a seguir, quando descreve outros motivos para as pessoas gostarem desses carros.
– “A performance ambiental de um 4×4 médio não é pior que a de um grande sedan ou um veículo de transporte de passageiros”. Nossa, que consolo. Tem gente que polui mais que eu, então eu ainda posso poluir bastante. Troque “poluir” por alguma outra ação desprezível e veja se o argumento faz sentido.
– “Em muitos casos a segurança desses veículos é melhor que a de muitos outros veículos na rua”. Note a utilização exagerada da palavra “muitos”. A frase é totalmente vaga e não explica ou justifica nada. Muitos casos, alguns casos, muitos outros, alguns outros, sabe-se lá…
– “As pessoas acham mais seguro o estilo elevado de dirigir, elas vêem mais a rua, se sentem mais no controle e em muitos casos dirigem com mais responsabilidade”. Concordo, as pessoas acham mais seguro, se sentem no controle… Só não concordo com a parte da frase que vem depois do “muitos” e novamente se tornou vaga. “Em muitos casos…” Muitos quanto? 1% pode ser muito em valor absoluto se o universo estatístico for grande.
Pelo menos aqui em São Paulo, as pessoas compram SUVs porque se sentem mais seguras contra assaltos (quando na verdade chamam mais atenção), se sentem mais seguras contra acidentes (sendo que além de terem maior chance de capotamento, ainda vão causar mais destruição e dor nos outros em uma batida), status (sou melhor que você porque tenho mais dinheiro) e “respeito” (saia da minha frente ou eu te empurro com esse quebra-mato).
Veja mais
– Multas simuladas que os ativistas da Aliança Contra os 4×4 Urbanos colocam nos parabrisas dos SUVs que encontram estacionados nas ruas inglesas.
– Estudo explicando por que os capotamentos de SUVs são mais comuns que os de carros convencionais.
– Artigo do Centro de Segurança do Tráfego, da Universidade de Berkeley, sobre a segurança dos SUVs.
– Site da campanha Preconceito 4×4, onde você pode encontrar pérolas de sabedoria, como uma tabela que confunde poluição com consumo de combustível, a afirmação de que carros elétricos também são poluidores porque há poluição para carregar suas baterias ou a justificativa de que poluir, ocupar espaço e matar pedestres não é exclusividade de veículos 4×4, com comparações selecionadas com outros veículos de estatísticas ruins.
(Depois de ver esse último link, eu vou ter que tratar da minha úlcera…)
Pois é, sempre pensei que quem compra um carro desses quer mais é ostentar mesmo. Não tem sentido nenhum pagar o preço deles pra fazer um trajetinho de 5km diários em uma cidade, e duvido que alguém seja tão influenciável a ponto de se achar mais “radical” só porque tem um carro grande com um estepe na frente do porta-malas. Sem contar o pessoal que prefere se enforcar numa dívida pra quitar um carro desses ao invés de, sei lá, ir morar em um apartamento melhor e mais perto do trabalho. Moro em um prédio de apartamentos minúsculos (não exagero, coisa de 25m²), mas a garagem está cheia desses monstrengos. Não entendo alguém que não faz questão de ter uma casa maior que o carro, mas enfim…
É impressionante como a gente só assimila os contras da cultura americana…
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Estou em guerra com os SUVs há bastante tempo. São quase sempre eles que me obrigam a pular para a calçada com a bike nas avenidas da cidade. Aquela largura a mais é incrivelmente incômoda. Em termos de imposição e prepotência do mau motorista, porém, não tenho visto diferença entre os SUVs e os carros menores, então o argumento ambiental passa a pesar mais. Quando criarem uma coalizão brasileira contra os SUVs, podem me convocar. Aliás, estou criando agora mesmo uma peça visual sobre o assunto, aguarde.
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No Brasil, não há essa consciência da inadequação do “futilitário” 4×4 na cidade. Infelizmente, se você for argumentar com alguém que usa essas porcarias, ele ainda vai dizer que as ruas aqui são esburacadas.
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