Como passar as marchas da bicicleta
As marchas ainda são um mistério para muita gente, que acaba sofrendo desnecessariamente nas subidas. Veja como utilizá-las, de forma simples e esclarecedora.
Uma dúvida que assola os iniciantes é como passar as marchas de forma correta. Este artigo tenta esclarecer essa questão, em linguagem simples e clara.
Nas bicicletas que têm engrenagens de marchas apenas na roda traseira – ou marchas internas, dentro do cubo (eixo) – não há muito segredo: um único passador é responsável pela mudança e é fácil perceber se a bicicleta está ficando “leve” ou “pesada”, o que torna a passagem de marchas bastante intuitiva. Entretanto, quando há passadores dos dois lados do guidão, muita gente acaba se confundindo. Não se preocupe, isso é normal. Estamos aqui para te ajudar.
A explicação contida neste artigo é detalhada. Se não tiver paciência de ler tudo, pule direto para o box azul escrito Resumo, ali no meio da página.
Passadores
Em bicicletas que tenham apenas câmbio traseiro, há um único passador, geralmente no lado direito do guidão. Quando a bike tem câmbio dianteiro e traseiro, há dois passadores: um no lado esquerdo do guidão e outro no lado direito. Na esquerda, você tem sempre duas ou três posições; no lado direito, a quantidade varia de acordo com a quantidade total de marchas que você tiver (multiplique um número pelo outro para saber o total de marchas da sua bicicleta).
Os passadores podem ser de alavanca simples, duas alavancas (rapidfire, EZ-fire, trigger shifter) ou de girar (grip shift, Revoshift).
Nos de alavanca simples, há uma única alavanca pequena que, conforme movida para um lado ou outro, aumenta ou diminui de marcha. Algumas bicicletas de estrada mais antigas têm essa alavanca no quadro, mas é um modelo pouco comum hoje em dia.
Os de alavanca dupla ou rapid-fire/EZ-fire têm alavancas separadas para aumentar e para diminuir, dispostas estrategicamente perto dos dedos indicador e polegar, de forma que você suba a marcha com um dedo e desça com o outro, tornando a passagem mais simples, rápida e eficiente.
O sistema Revoshift ou grip-shift é formado por uma cobertura giratória próxima à manopla, que envolve parte do guidão e aumenta ou diminui a marcha conforme girada.
Simples ou indexado
O sistema de câmbio pode ainda ser simples ou indexado. Os sistemas rapid-fire/EZ-fire são sempre indexados; os outros sistemas podem ser indexados ou não.
No câmbio indexado, conforme você troca de marcha nos passadores, a corrente “passa” para o lugar exato onde ela deve estar para que a próxima marcha entre e ouve-se um “clique”.
Já nos sistemas mais simples, é você quem tem que acertar o ponto da corrente para ela entrar na posição correta. Você saberá que ainda não está na posição correta se estiver fazendo barulho, enroscando, etc. A experiência de usar um sistema desses costuma ser bastante ruim.
O sistema indexado geralmente é mais vantajoso, mas precisa estar sempre regulado. Quando o câmbio desregula, ainda que milimetricamente, a passagem de marchas se torna difícil e às vezes a marcha não entra. O sistema se desregula com o uso, isso é normal, mas os conjuntos mais modernos levam mais tempo para desregular e tem a regulagem simplificada, podendo ser ajustados sem ferramentas e até mesmo sem parar a bicicleta, com dispositivos junto aos passadores.
Quando o mecanismo desregula, as marchas não passam corretamente e ficam “arranhando”, ou ficam pulando de uma posição para outra enquanto você pedala, o que pode até ocasionar uma quebra da corrente.
Passando as marchas
O passador do lado esquerdo move o câmbio dianteiro, que são as marchas das coroas – engrenagens que ficam no pedivela (onde se pedala). Elas têm esse nome porque se assimilam a uma coroa. A semelhança é remota, admito: parecem-se mais com coroas de espinhos do que com coroas de jóias. 🙂
No lado direito, move-se o câmbio traseiro, que chamamos também de catraca ou cassete (pronuncia-se K7). Há uma diferença técnica entre esses dois termos, mas ela não importa agora: qualquer dos dois que você usar, será entendido. Alguns ciclistas mais antigos chamam também de pinhão.
A ordem da passagem das marchas não é sequencial. Há uma sequência lógica, mas parece ser meio misturado mesmo. Para os exemplos abaixo, usei uma relação típica de 21 marchas, a mais encontrada no mercado, mas mesmo que sua bicicleta tenha uma quantidade diferente de marchas, você entenderá os exemplos.
A ordem correta para passar as marchas em um bicicleta de “21 velocidades”, em termos de esforço crescente, é a que está listada abaixo. Considere o primeiro número de cada par como a marcha da frente (a da coroa, geralmente do lado esquerdo do guidão) e o segundo como a de trás (catraca). Em ambos os casos, a marcha 1 é a mais leve (em algumas bicicletas, vem marcada com um L, que representa “low” – baixa).
1-1 / 1-2 / 1-3 / 2-2 / 2-3 / 2-4 / 2-5 / 2-6 / 3-5 / 3-6 / 3-7
Mas não tente decorar! Você vai perceber aos poucos qual a melhor passagem de marchas. Vai entender, por exemplo, que a 2-2 é realmente mais “pesada” para pedalar que a 1-3. Você pega isso na prática e acaba se tornando instintivo, por enquanto é só entender que elas são um pouco “misturadas”.
Resumo
O melhor mesmo é entender que marcha leve de um lado combina com marcha leve do outro!
1 na frente, 1 ou 2 atrás
2 na frente, 2 até a penúltima marcha na direita
3 na frente, duas últimas marchas atrás
É bem mais fácil de lembrar e funciona bem. Você usa a 1 e a 2 na direita com a 1 na esquerda, depois passa a esquerda pra dois e vai subindo a direita até a 6, depois muda a esquerda para 3 e depois usa a última na direita. Aos poucos você vai fazendo as variações, conforme pegar o jeito.
Se ainda assim estiver muito complicado, coloque a corrente na coroa do meio e mantenha ela ali, trabalhando apenas com o câmbio traseiro, até se acostumar.
Devo me preocupar com isso? |
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Segundo a Shimano, não. Se estiver com um grupo de componentes de sua fabricação, bem regulado e devidamente montado na bike (compatível, ajustado, etc.), o ciclista pode utilizar todas as marchas de sua bicicleta, sem se preocupar com o câmbio cruzado. O importante é evitar as marchas pesadas nas subidas e as marchas leves nas descidas. |
Câmbio cruzado
Existem algumas combinações de marchas que evitamos, para não forçar o mecanismo: repare que se você colocar a 3 na esquerda e a 1 na direita, ou a 1 na esquerda e a 7 na direita (ainda no nosso exemplo de 21 marchas), a corrente fica muito esticada e um pouco torcida, desalinhada em relação ao quadro. Em alguns casos, ela fica até fazendo barulho, por roçar no mecanismo do câmbio dianteiro. Isso é o que chamamos de câmbio cruzado.
Essas posições forçam o conjunto todo e exercem uma pressão lateral para a qual, em muitos casos, a corrente não foi projetada para suportar. Como resultado, há desgaste prematuro do conjunto e em alguns casos até quebra da corrente. Evite as seguintes combinações: 1-6, 1-7, 3-1 e 3-2 (novamente tendo como base 21 marchas), ou seja, as duas combinações mais extremas de cada ponta. Se puder evitar também o 2-1 e o 2-7, também ajuda.
Quer dizer então que eu comprei uma bicicleta com 27 marchas mas não devo usar todas? Exatamente. A quantidade total de marchas representa apenas a quantidade de combinações possíveis, mas na prática não é recomendável usar todas. E, sinceramente, você não sentirá falta alguma dessas combinações. Não porque 27 ou mesmo 21 marchas sejam demais, mas sim porque o que importa são os limites máximo e mínimo de esforço/velocidade na pedalada. A combinação mais pesada em uma relação de 27 permitirá velocidade maior que a combinação similar de uma de relação de 18 – e a mais leve é *bem* melhor para as subidas em uma 27 do que em uma 18.
Passando mais de uma marcha por vez
Alguns sistemas permitem ao ciclista passar mais de uma marcha por vez. Isso deve ser feito apenas no passador da direita (câmbio traseiro), tanto para diminuir quanto para aumentar a marcha. Alguns câmbios indexados do tipo rapid-fire permitem fazer a mudança de duas em duas ou até de três em três marchas na relação traseira, com uma pressão mais forte do polegar.
Não é recomendável fazer isso na marcha dianteira (esquerda), senão a corrente pode enroscar no mecanismo ou até cair para fora das coroas.
Subidas
Nas subidas torna-se mais difícil passar a marcha, porque você está fazendo uma força de tensão maior na corrente ao pedalar. Isso dificulta ao mecanismo passá-la para outra posição, principalmente no câmbio dianteiro. A corrente “gruda” na coroa em que está: se estiver na frente, vai ficar fazendo barulho sem sair do lugar; atrás, mudará com um estalo, com impacto prejudicial na corrente.
Para facilitar essa passagem, pedale um pouquinho mais forte antes de fazer a passagem e, então, diminua a força que você está aplicando na pedalada enquanto faz a passagem, para fazê-lo girando mais leve, sem muita tensão na corrente. Para quem dirige automóveis, é mais ou menos o mesmo conceito da passagem de marchas em um carro, em que para subir a marcha você primeiro acelera um pouco, para então aliviar a aceleração enquanto pisa na embreagem e faz a passagem. Na verdade, usando essa técnica em um bom e velho Fusca você consegue até passar a marcha sem pisar na embreagem! 🙂
Willian, boa noite!
Ótimo seu artigo e excelentes as instruções. Gostaria de sua opinião sobre a passagem das marchas no câmbio rapidfire shimano, eu levo o dedo e seguro o tempo do câmbio completar a passagem. Alguns segundos apenas, com isso evita de pular ou não engatar a marcha.
Mais importante é na passagem das coroas da frente.
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Walter, é isso mesmo, segurar até entrar ajuda o mecanismo encaixar mais fácil, também faço isso.
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O que apanhei pra entender esse tal de cambio e com teu artigo ficou tudo claro.
Muito bom, parabéns.
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Excelente esta artigo. Muito esclarecedor mesmo para o mais leigo dos ciclistas! Parabens…
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Excelente artigo!! Parabéns, muito bem escrito!
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Obrigado, Eduardo!
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Esse comentário não tem feito muito sucesso. 6 13
Compra outra???
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Minha catraca tem uma mega range…para subir um morro pesado, utilizo ela com qual coroa?
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Coroa menor, catraca maior.
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Comprei minha bike hoje e estou louca para usá-la;mas como não sei usar as marchas e nem conheço cada peça da bike, estou fazendo pesquisas entendendo um pouco desse universo, termos, a parte mecânica e etc. Seu texto explicando e exemplificando as marchas, ADOREI!!!! Sábado começo a sair com ela sozinha e quando me sentir segura me engajo nos grupos de pedaladas e passeios.
Muito legal seu artigo. Me esclareceu tudo que eu precisava.
Abraço.
Regina Grimaldi
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O passador de marcha da caloi 10 se usa como o de uma bicicleta normal? Como vou saber se a marcha foi passada ou não?
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Pelo barulho da marcha entrando ¯\_(ツ)_/¯
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Posso e tem como usar um Passador Indexado com Câmbios, Catraca, Corrente e Coroa não Indexadas???
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Quero trocar os Passadores da minha bicicleta mas só encontro Indexado, e o sistema de Relação/Transmissão da minha bicicleta não é Indexado.
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Comprei uma caloi twister e estou conseguindo passar as marchas corretas pra subir, porém eu preciso de velocidade nos planos e ainda não consegui uma boa combinação… O passador da mão esquerda coloco no 2 e não sai do lugar pra ir pra coroa do meio sempre fica na coroa menor… o que fazer?
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Gabriel, seu problema parece ser regulagem do câmbio, leve a um mecânico para um ajuste.
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se eu quiser deixar uma bike bmx leve eu tenho que tem uma coroa grande ou pequena, e uma pinha grande ou pequena?
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Boa tarde. Comprei a bike do meu irmão que tava parada há algum tempo pra me servir de transporte até a faculdade, fiz revisão nela pra deixar tudo ok mas não consigo regular as marchas pra deixar elas leves de jeito nenhum. Inclusive não consigo subir nenhuma ladeira ou qualquer região mais elevada por esse motivo. Tem alguma dica pra pasar marcha quando o passador é mais antigo? Pq nas bicicletarias eles sempre deixam da mesma forma e fica pesado pra subir e leve pra descer.
Agradeço a atenção.
Polêmico. O que acha? 6 4
Karen, não sei a qual passador vc se refere, mas se for aqueles todo em plástico, eles são muito simplórios, geralmente são de seis catracas e são destinados a iniciantes e passeios leves.
Essa bike possui câmbio dianteiro? Pela dificuldade que vc relata em subidas, pareceu-me que há somente o câmbio traseiro e com poucas catracas (o que também explica o fato de sair da bicicletaria sempre com o mesmo ajuste!)
Como seu objetivo não é velocidade mas sim deslocamento em trânsito, uma pedivela dupla com coroa maior de até 50 dentes, já ajudaria. Para subidas mais fortes, uma pedivela tripla seria o ideal.
Explique na bicletaria o uso que faz da bike e sua dificuldade. Eles indicarão uma relação mais adequada às suas necessidades!
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Excelente dica. para mim clareio muio meus conhecimento, obrigado
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Ainda não comprei uma bike. Estou pesquisando. Então: você vem andando com a marcha na relação 3:6. Aí, você dá uma freiada. A bicicleta para. Como fazer para mudar a marcha, para marcha de partida, digamos 1:1, se ela está parada, e o trocador de marcha só funciona com a bicicleta em movimento?
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O câmbio de bicicleta foi idealizado e projetado para mudanças em movimento! Os câmbios apenas puxam ou empurram a corrente. Ela só mudará de catraca se houver giro! O que vc critica é o próprio princípio de funcionamento do sistema! Mesmo os novos e caríssimos câmbios eletrônicos de qualquer fabricante (Shimano, Sram ou Campagnolo) só usam a eletrônica para subir ou descer os câmbios. A mudança de catraca ou coroa só ocorre porque a corrente encontra o desvio de curso forçado pelos câmbios! É o mesmo princípio do trem: ele só vai mudar de trilho se, obviamente, estiver em movimento!
Se vc parou, arranque sem passar marcha!! Se vc descer de marcha e arrancar sentirá os fortes trancos provocados pela queda abrupta nas catracas menores dificultando seu arranque ou se tiver subido marcha sentirá a enorme tensão da corrente arranhando as catracas enquanto ela sobe, o que só desgasta o mecanismo!
Enfim, é preciso saber como se utiliza corretamente cada veículo a fim de que ele tenha uma longa vida útil e preste bons serviços a seu dono!
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Excelente texto! Muito bem explicativo, fácil de entender, até para quem está começando.
Sucesso!
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