Pão de Açúcar e o bicicletário que não era
No texto anterior, comentei que ainda voltaria ao “Pão de Açúcar Verde”, a loja da V. Clementino, em São Paulo, em busca do bicicletário perdido, já que na visita anterior não havia conseguido encontrar a plaquinha bonita que o site deles mostra, tampouco a área do estacionamento reservada para bicicletas.
Pois bem, achei o bicicletário. Ou melhor: não achei não. Nem o bicicletário nem a plaquinha bonita, que pelo jeito colocaram no site só para vender a imagem verde da loja.
O que encontrei foram esses paraciclos, quase escondidos atrás de um cavalete publicitário, do lado de fora da loja, sem segurança alguma. E com uma placa pequena, mas bastante antipática, que diz que a segurança da bicicleta ali estacionada é “de única e exclusiva responsabilidade do usuário”. Usuário, porque cliente é quem chega de carro.
O Pão de Açúcar diz no site que o bicicletário é “para incentivar as atitudes ecologicamente corretas”. Mas por que eu iria de bicicleta num lugar que me diz isso aí que eu li na placa? É um desincentivo! Se a pessoa está cogitando deixar o carro em casa para ir ao mercado de bicicleta, quando ler essa placa vai resolver continuar indo de carro mesmo, porque a bicicleta fica ali desprotegida e alguém pode roubar… O carro fica protegidinho ali na garagem. E, se por uma infelicidade improvável for roubado, o estacionamento tem seguro. Pra quê ir de bicicleta?
Paraciclos assim largados, do lado de fora, com uma placa “se roubarem o problema é teu”, oferecem praticamente a mesma segurança do poste em frente à loja. Um bicicletário precisa ser um estacionamento de bicicletas com algum nível de restrição de acesso, com alguma garantia mínima de segurança. Do modo como estão esses paraciclos, é fácil alguém passando na rua “se interessar” por uma das bicicletas e ir até lá tentar a sorte com a tranca.
Para os automóveis que estacionam no subsolo, há seguro, um ticket para liberar a cancela e um segurança na porta do estacionamento, garantindo a tranquilidade dos clientes durante as compras. Já os usuários, que se virem se o seu veículo for roubado. Veículo? Não, ‘magina, é só uma bicicleta mesmo…
Lei nº 14.266, de 6 de fevereiro de 2007 Art. 8º Os terminais e estações de transferência do SITP, os edifícios públicos, as indústrias, escolas, centros de compras, condomínios, parques e outros locais de grande afluxo de pessoas deverão possuir locais para estacionamento de bicicletas, bicicletários e paraciclos como parte da infra-estrutura de apoio a esse modal de transporte. (Lei Municipal nº 14.266, São Paulo – SP) |
Outa coisa que chama bastante atenção nesse cartaz é a frase “gentileza Pão de Açúcar a seus clientes”. Mas como assim, gentileza? Disponibilizar um bicicletário não é nenhuma gentileza, é lei!
E não encontrei mesmo a placa bonitinha e verde que vi no site. Também não encontrei um mercado com ação tão ecológica quanto a do discurso, no que diz respeito ao incentivo ao uso de veículos não poluentes. Até aí não seria nenhuma surpresa, se não anunciassem isso no site como um dos pontos fortes da “loja verde”, dando a impressão de ter uma infraestrutura diferenciada para quem chega à loja de bicicleta.
É bonito uma empresa dizer que apóia a bicicleta. Fica bem na imprensa, melhora a imagem, gera comentários positivos de quem acha bicicleta bonitinho mas não se aventura a utilizá-la. Mas a prática tem que bater com o discurso: ciclista não é idiota e sabe quando está sendo levado a sério e quando está só sendo usado para agregar valor à imagem da marca.
Sugestão ao Pão de Açúcar
Façam um bicicletário como o do Extra Itaim, hipermercado do mesmo grupo, que possui uma área separada para bicicletas dentro do estacionamento, com um vigia que entrega/recolhe um ticket de estacionamento. Conheçam o bicicletário do Shopping Ibirapuera, que pede RG e dá uma senha. Vejam como é simples o processo para estacionar nos bicicletários do Use Bike.
Não deixem que a concorrência passe a frente de vocês, tratando o ciclista como cliente e não como usuário de paraciclo. Eu vou no mercado fazer compras, não vou para usar um paraciclo! E se o lugar não quer me receber, eu procuro outro lugar e pronto. Nem que seja um que pelo menos não tente me iludir.
Entendam melhor o que é um bicicletário antes de sairem dizendo que têm um e vendendo isso como um diferencial verde da loja. O diferencial pode acabar se mostrando negativo se não for implementado de verdade. Se querem dizer que incentivam o uso de um meio de transporte não poluente e sustentável, que o façam de verdade. Senão pega mal.
Ponto a favor
Para não dizerem que eu só reclamo, uma coisa tenho que reconhecer: o modelo do paraciclo é ótimo. Não é aquele que oferece risco de entortar roda e câmbio. Nesse, você apóia a bicicleta e tranca da maneira que achar mais adequada. E com esse modelo dá para colocar seis bicicletas num espaço bem pequeno. Prendendo várias juntas com a mesma tranca, cabem bem mais. Tudo usando um espaço equivalente a uma única vaga de automóvel.
Podia estar no subsolo, com a mesma segurança oferecida aos automóveis. E não ocuparia muito espaço.
Quero comprimentar o Willian Cruz pelo trabalho dele.
Para nós aqui na Alemanha a bike é um transporte.
Nao sei se voce sabe maisn a Alemanha da europa é o país que mais ciclovias tem.
Para mim bike é tudo transporte, lazer e mais doque nunca terapia!!!!
Abracos aus Germany
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Mudou a lei !
Agora tem que ter seguro.
http://www.ondepedalar.com/ciclismo/agora_e_lei_-_bicicletas_e_motos_conquistam_direitos_em_estacion.html
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Tenho a impressão que os envolvidos no planejamento das ações pró-bicicleta desconhecem por completo as necessidades e interesses do ciclista. É possível que o gerente da loja tenha considerado o paraciclo excelente, já que nunca usou um na vida! Falta inteligência, interesse e empatia por parte do Pão de Açúcar.
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Aí William, seria bacana levar uma versão desse texto escrita pro pessoal do PDA, não?. Ridícula mesmo essa história toda e esse posicionamento contraditório da loja. Venho lendo todos os posts relacionados ao caso do PDA e tu tá de parabéns pelo acompanhamento do caso.
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