Conquistando mais ciclistas – uma visão publicitária sobre o assunto
Para levarmos mais gente a experimentar o uso da bicicleta, precisamos substituir o tom de acusação por um discurso sedutor. Veja nesse artigo de Kiko Morente.
Colaboração do leitor Kiko Morente, com considerações importantes sobre a forma como o uso da bicicleta deve ser divulgado: de forma conciliadora, sedutora, conquistando em vez de confrontar. Uma visão publicitária sobre o assunto, muito bem vinda e em linha com o que acreditamos aqui no Vá de Bike.
Como fazer um motorista pular a cerca?
Não me considero um ativista no sentido mais restrito da palavra, mas sei que minha escolha pela bike tem um impacto grande nas pessoas a minha volta e até nas que ficam pra trás quando o transito está parado (tipo sempre em São Paulo). Apesar disso, gosto de pensar em como melhorar minha cidade, que apesar de tudo amo, e talvez pela minha formação, a publicidade, penso muito em como convencer as pessoas a usarem e respeitarem mais a bike ou até mesmo no que (e como) falar com um motorista quando levo uma fechada, ou com um ciclista que esta fazendo
m…coisas erradas.Por isso, gostaria de deixar uma reflexão sobre a forma e os termos que temos usado para nos fazer ouvir. Acredito que hoje tenhamos atingido uma “massa critica” de bikers em São Paulo, em que, pelo simples número de bicicletas pelas ruas, já não é mais possível nos ignorar. Isso foi fruto do trabalho de muitos que, bem antes de mim, gritaram, tiraram a roupa e desafiaram um trânsito muito mais perigoso do que eu desafio hoje. Mas acho que agora que, graças a eles conseguimos conquistar esse pequeno, mas valioso espaço, temos a responsabilidade de dar o próximo passo. E junto com esse passo vem uma nova meta, e novos discursos.
E pra mim, esse discurso deve se focar menos no carro, e mais na bike. Carro não é o inverso de bicicleta e também não é coisa de gente sem consciência. Muitos dos que usam carro o fazem por não ver na bicicleta um meio de transporte viável, e é isso que temos que mudar. Falar isso pode parecer “chover no molhado”, mas é exatamente isso que o bordão “mais amor, menos motor” quer dizer. Será que quem usa carro ama menos a cidade? E mesmo que o alvo dessa frase seja a poder publico, será que ela não passa essa impressão pro cidadão comum?
Quando criticamos o carro estamos na verdade criticando a pessoa que está dentro dele, pois o carro é uma escolha dela. É diferente de criticar o trânsito, que não é uma escolha (ninguém deseja pegar trânsito) e que, além disso, é uma frustração compartilhada por bikers e motoristas. Por isso o famoso “você não está no transito, você é o transito” causa menos impacto negativo e mais simpatia (sym = junto, mesmo; pathos = sentimento, sofrimento).
Gene Sharp, um teórico da luta pela Democracia, diz que em passeatas devemos colocar os idosos, mulheres e crianças na frente, pois assim mostramos que não oferecemos perigo ao policial que está ali na “contenção” e ainda o lembramos de que ele tem mãe, mulher e filhos, e que, no fundo, também estamos lutando por ele. Que estamos do mesmo lado. E é isso que temos que mostrar. E palavras como “carrocracia” (tipo, aristocratas snobes do carro), motorizados, etc… nos separam dos motoristas. Nos colocam em outra tribo.
Campanhas públicas focadas no problema (AIDS mata) tendem a ser menos efetivas do que as que apresentam a solução (Use Camisinha) e acho que isso é valido pra gente também. Por isso, deixe de lado o “largue o carro” e fique só com o “Vá de Bike”.
Temos que conquistar a mente e coração do motorista. Temos que cortejá-lo. Seduzi-lo. Fazer com que ele traia o carro. Fazer com que ele pule a cerca e pra isso não precisamos xingar a “esposa/marido” dele. Falar mal da rotina? Talvez, mas acho que a bike tem benefícios demais pra que a gente faça uma campanha focada nos problemas do concorrente.
Leia também |
---|
Por que ir de bicicleta |
Abordagem positiva |
Conversa com um motorista que passou perto demais |
Kiko Morente é formado em Publicidade, mora em São Paulo e, apesar de ter carro, tem cada vez mais dado preferência para outros modais, principalmente a bicicleta. Obrigado, Kiko!
Envie sua colaboração
Quer ver seu texto no Vá de Bike? Envie sua colaboração para contato@vadebike.org, para que possamos avaliá-la. Os melhores textos serão publicados aqui na seção Espaço do Leitor.
Bom texto, boa articulação. É basicamente o sentido dos meus pensamentos sobre o assunto. E acrescento que as preocupações do ciclista não é somente sobre a bicicleta, é sobre mobilidade, e, desta maneira inclui, os pedestres, skatistas, pessoas que andam de patins, os cadeirantes, os que tem dificuldade de locomoção, idosos, crianças, … também por extensão para outras formas de locomoção como carros, motociclistas, ônibus, trem, metrô, … porque de forma ou de outra acabamos interagindo e convivendo com mesmo espaço. Por esta razão, que reitero o uso dos canais de solicitação, reclamação e elogio públicos, como o SAC, 1188, 156, etc … pois afinal estamos solicitando a integração da bicicleta na nossa sociedade.
0 0
Esqueci de mencionar outra coisa: também estamos defendendo a liberdade de expressão, por optar por outro meio de transporte que não o carro, ônibus, etc … existe meio mais eloquente de demonstrar a sua preferência e suas necessidades ?
0 0
Excelente texto. Ajuda muito a pensar.
Como o autor é publicitário, então cabe uma colocação sobre os profissionais da mídia: cabem a eles a responsabilidade de criar culturas, hábitos, estimular, etc … Afinal, não é pela comunicação que chegamos aonde estamos ? Seja em boa ou má.
Claro, cabe o posicionamento ético e atitude que influenciam e informam as pessoas. Não é à toa que regimes totalitários essa é a parte da sociedade em que colocam mordaça ou tomam controle.
0 0
E certamente que pedalar pelado não vai atrair mais pessoas para a causa de nós ciclistas urbanos!
2 5
como assim?
Discordo completamente.
Eu só passei a utilizar bicicleta como meio de transporte depois que vi alguns ciclistas pelados. Parece que algumas pessoas acham isso mais gratificante do que ficar completamente vestido dentro de um carro.
Comentário bem votado! 6 0
Muito legal o site, gostaria de deixar uma sugestão, mas nãos ei se aqui é o canal correto.
Como sugerir a prefeitura que utilize o canteiro das obras do monotrilho da Vila Prudente x Cid. Tiradentes como ciclofaixa?
Era um bom momento de se pensar já que as obras estão aceleradas e espaço físico tem pra isso, a Avenida Anhaia Mello ia ter um percurso enorme e tendo a estação vila prudente de metrô, seria mais que perfeito.
0 0
Anderson, já existe essa proposta, veja aqui: http://vadebike.org/2012/08/ciclovia-monotrilho-zona-leste-linha-2-verde/
1 0
Obrigado Willian, muito boa a noticia, bom saber
1 0
É importante observar que tem gente olhando … o grande problema é todos saberem que está sendo feito algo e como anda, para não cair no problema apontado pelo Arturo Alcorta no artigo “Pelo menos fez algo. “. e não haver trabalho duplicado, creio que este site atende a este propósito.
0 0
é isso aí, quanto mais inclusão, mais estaremos perto do milagre dos pães e peixes
3 0
Segue esta frase:
“Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão.”
0 0
Excelente texto. Concordo plenamente e procuro fazer tudo aquilo que está descrito. Infelizmente ainda “não pulei esta cerca” num único dia da semana mas já consigo rodar de bike por Salvador às segundas, terças, quintas e sextas. Parabéns!
3 0
O que penso é o seguinte, um movimento contrário nunca gera bons frutos, infelizmente o “progresso” nos trouxe até esse momento em que o carro é A alternativa de todos, ou no mínimo é o que todos almejam, seja pelo conforto ou pelo status. Fora que ele se tornou uma coisa meio automática, no sentido de que quando alguém quer ir à algum lugar, já logo pega o carro (salvo quem não se dispõe dessa alternativa), sem nem pensar.
Agora o cicloativista ficar militando ou querendo doutrinar alguém à usar a bike, nunca vai dar resultado, temos que, acima de tudo, respeitar pra sermos respeitados, simplesmente isso. Ganhando respeito, automaticamente novos ciclistas aparecerão, e num futuro, nosso espaço será garantido. Um confronto direto só cria mais inimizades e se uma vez o motorista chegou a pensar em pedalar, logo se torna um inimigo pq o ciclista faltou com o respeito ou veio dizer que ele é isso ou aquilo.
Já melhorou muito essa relação com os ciclistas de uns anos pra cá, mas muita gente ainda tem a mentalidade de que a rua é exclusivamente dos carros (não motos, não onibus, nem etc).
É uma questão de cultura mesmo.
1 0
Gente desculpe minha ignorância para a seguinte pergunta:existe ou já existiu alguma campanha na tv (eu não assisto)INCENTIVANDO O USO DA BIKE? ou só quando ha grandes manifestações dos ciclistas ,que a mesma divulga?
estou me inteirando do assunto pois aderi a bike,estou bem feliz ,só tenho receio de alguns ignorantes motorizados…
2 0
Lili, não me lembro de nenhuma campanha na TV sobre o assunto, apenas algumas boas matérias nos telejornais e programas de variedades.
1 0
Antes do World Bike Tour a Globo exibiu umas vinhetas que mostrava um ciclista indo pro trabalho, outra indo passear e mais alguns que não lembro o que faziam.
2 0
Ainda estamos presos na discussão da viabilidade da bicicleta! Temos que sair dessa pauta que nos engessou e começar a trabalhar em cima do desejo! A bicicleta como objeto de desejo e seu estilo de vida como algo a ser perseguido!
Comentário bem votado! 4 0
Muito boa a abordagem do Kiko, concordo plenamente.
Só gostaria de adicionar uma pitada do que também aprendi no mundo da comunicação. Sou formado em comunicação social e tenho pós-graduação em comunicação com o mercado, mas se fosse apenas um ser humano curioso e atento, também chegaria a conclusão abaixo.
Tudo que o Kiko falou serve como uma luva, ao invés de falarmos mal dos carros e de tudo que os cerca (o que certamente atinge seus proprietários), falemos da bicicleta. Mas veja que hoje em dia as propagandas de carros estão falando menos das propriedadeds deste (como ar condicionado, motor x, y ou z, tantas portas, etc,) e mais do estilo de vida de quem possui aquela máquina. Os carros se tornaram objetos de desejo, e grandes marcas se tornaram grandes marcas por possuírem um “estilo”, que o carro empresta ao seu dono, e assim que ele acha que é visto nas ruas, e acaba sendo.
O que eu gostaria de sugerir é que, ao invés de falarmos tanto da bicicleta (dos seu benefícios, que ela não polui, que faz bem a saúde, que evita o trânsito, etc e tal), sejamos mais sensíveis, sutis e inteligentes. Vamos falar do estilo de vida dos ciclistas, ou daqueles que usam a bicicleta no dia a dia.
Quem não se lembra da propaganda de carro com o motorista num conversível tomando vento na cara? Isso não existe em SP. Mas na bicicleta sim! Belas imagens das bicicletadas, ou de encontros de ciclistas, com gente de diferentes idades, gêneros, cores, etc seriam perfeitas. Aquela cena da galera num pic-nic dominical, num parque, com a bicicleta de canto, gera uma mensagem instântanea na cabeça de quem a vê. O ser humano tem memória imagética. Temos que trabalhar estas imagens. Os carros sempre foram associados ao poder, sexo, etc. Que tal descobrirmos a que podemos associar a bicicleta e trabalhar em cima disso?
3 0
KKK Paulo eu não me sinto não , se vc visse o tanto de ladeiras que eu tenho de enfrentar é barra !!!! Procuro ir trabalhar o máximo possivel de bike, mas chega uma hora que as pernas e as costas de tanta ladeira para subir pesa, é aqulea velha história, para descer todo santo ajuda, agora para subir…kkkkk.
Se o trajeto da minha casa ao trampo fosse todo plano, o meu carro ia ficar mofando na garagem, como eu queria que a topografia de São Paulo fosse como NY, tudo reto todas as ruas e avenidas se cruzando, ai sim seria perfeito, mas aqui o que mais tem é ladeira, morro e asfalto ruim, por isso Moutain Bike é tão usada no meio urbano, mas sempre que dá vou de bike, e todo fim de semana pedalo meus vários kilometros de diversão, o carro só uso mesmo quando bate o esgotamento ou quando chove muito.
As vezes somos obrigados pelas circunstancias a pular a cerca, mas o mais importante seja do lado da cerca que etivermos no momento, o mais importante é saber respeitar o espaço e os direitos dos outros veiculos seja qual for e principalmente o pedestre ! Bom pedal !
0 0
Me sinto pulando a cerca quando acabo indo de carro para o trabalho e não de bike…
Comentário bem votado! 4 0
Desculpem dei enter aqui no teclado sem querer…KKKK…Continuando, por este motivo não critico quem devido o trabalho ou a distancia não faz uso da bike como meio de transporte, mas muita gente hoje usa como meio de lazer e exercicio, isto realmente aumentou muito nos ultimos anos. Para tentar convencer os outros do uso da bike com mais frequencia, não precisa ser Xiita e nem Radical, aliás atitudes ofensivas ou de força, fazem o efeito oposto, as pessoas acabam pegando mais raiva ainda, existem N maneiras de se expressar ou até mesmo reivindicar sem ser Mala,o mais importante é que o aumento do uso da bicicleta esta aumentando.
Além disto temos que entender que assim como tem motorista educado tem o mal educado e o mesmo vale para o pedestre e para o ciclista, eu mesmo sendo ciclista e motorista e pedestre, quase fui atropelado por uma Speed, já vi muito cilcista fazendo besteira, hoje mesmo pedalando na Ciclovia da Radial Leste me passa um Ciclista bem ao lado da ciclovia no meio do transito, Pô o sujeito tem uma Ciclovia inteirinha a disposição dele mas não fica lá do lado de fora no meio do transito VIOLENTO da Radial Leste, empacando os carros correndo o risco de ser atropelado estupidamente , ai os motoristas passam chingando e sujeitoa quer ter razão, quer retrucar, menos né !!! Acho que muitas atitutedes de alguns Ciclistas se é que merecem ser chamados assim, deveriam ser revistas antes de criticar os outros meios de transporte ou pessoas. Bom pedal a todos !
0 0
Não sou contra o ativismo seja ele para qual for a finalidade, não só sobre bicicletas mas no todo, claro que todo mundo tem o direito de reinvindicar seus direitos, protestar concientemente, agora a partir do momento que a coisa descamba para o esculacho e para a desordem, prejudicando o direito dos outros também, ai sou totalmente contra sinto muito !
Este negócio de ser chato com respeito as escolhas dos outros também é um absurdo, eu ando de bike todo final de semana e de vez em quando mesclo alguns dias vou trabalhar de bike outros de carro, porque não vou todos os dias de bike, simples porque no trajeto que faço enfrento várias e várias ladeiras tanto na ida quanto na volta sem ter outra rota alternativa, chega uma hora que o pedal pesa no corpo, ai sou obrigado a tirar o carro da garagem para diversificar um pouco. Por estes motivos não critico quem
0 0
Até que enfim alguem disse mais ou menos o que penso !!
Chega a ser ridículo, o comportamemto de alguns na bicicletada de sexta aqui em sp !!!
Brigam e xingam os motoristas mais afoitos, criando um clima totalmente desnecessario.
Cara é só ocupar a rua ! Explique os beneficios e utilidades da bike, ou inves de xingar !
Comentário bem votado! 9 0