Foto: Rachel Schein

Qual o rumo das manifestações pela Tarifa Zero?

O que esperar como resultado? De onde pode vir a solução? O que mais pode ser buscado? Veja nossa análise.

Foto: Rachel Schein
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Foto: Rachel Schein

Há dias minhas timelines do Twitter e Facebook estão praticamente monotemáticas – e não preciso explicar o porquê. Nos últimos dias, não consegui escrever nada aqui para o site. Nem revisar os textos das meninas eu consegui. Desde a quinta-feira 13, com a violência policial injustificável, as manifestações ocupavam minha cabeça com uma força que praticamente bloqueavam minha criatividade em outros aspectos.

Os protestos, inicialmente apenas contra o aumento das tarifas de transporte público, tomavam contornos cada vez mais abrangentes. Claro que o foco original é importantíssimo: cobra-se cada vez mais por um serviço que tem se tornado cada vez pior, principalmente em termos de lotação e velocidade média. Claro que o transporte de massa é a base para a solução da mobilidade nas cidades brasileiras. Claro que o Movimento Passe Livre tem todo o mérito de ter divulgado cada vez mais esses pontos e a sua proposta de solução, além de ter movimentado toda a massa de cidadãos para protestar contra o aumento. Mas, queiram ou não, gostem ou não, aceitem ou não, a questão já ficou muito maior que isso.

“Jogaram Mentos na Geração Coca-Cola”
– frase que circulava nas redes sociais
na noite de 17 de junho

Com o início da repressão pesada por parte da polícia, a briga começou a ser pelo direito de manifestação. Direito esse que aflorou em forma de desejo de mudar o país, na população que tem muito do que se queixar mas não é ouvida pelos processos políticos tradicionais, não é informada sobre como participar deles e, muitas vezes, não é levada a sério quando participa. Esse caldo quente encontrou seu ponto de fervura, catalizado pela reação dos governos, tentando proibir as manifestações para não manchar a Copa das Confederações. Agora, as pessoas saem às ruas para pedir mais transporte, mais educação, mais segurança, mais saúde. E, em alguns casos, menos Copa.

Galeria
Veja aqui nossa galeria da manifestação de São Paulo.
Será que você reconhece algum amigo nas fotos?
Até Laerte estava por lá!

Repare também nos textos dos cartazes, que mostram
que a tarifa já não era mais a única reivindicação do protesto.

Transporte público

Qual a sequência natural desses acontecimentos? A tendência é que, depois desse grito que estava sufocado, as manifestações arrefeçam um pouco. Alguma conquista haverá em relação ao transporte público: provavelmente, pequena por enquanto, talvez grande no longo prazo. Mas haverá uma mudança de percepção por parte do poder público, no sentido de que não dá mais para continuar priorizando o automóvel no planejamento das cidades.

Foto: Rachel Schein
Foto: Rachel Schein

Planilhas de custo serão analisadas, vão conseguir espremer alguma coisa, mas a mudança grande não virá agora. Pode ser necessário mudar o formato de funcionamento das empresas de ônibus. Quem sabe comecem, finalmente, a discutir a sério o pedágio urbano, que poderia financiar uma parte do transporte público e fazer cair a tarifa. Talvez se lembrem de que o IPVA também pode custear parte do transporte público, caso aumentem a parcela que fica com os municípios.

De qualquer forma, é imprescindível inverter o paradigma vigente, de que o transporte motorizado individual deve ter prioridade de circulação e planejamento. Deve-se pensar sempre primeiro no transporte de massa e nos deslocamentos ativos (pedestrianismo, bicicleta), para depois ver onde o automóvel pode se encaixar, nunca o contrário. Chega de financiar obras milionárias que atendam apenas ao automóvel, chega de estimular o uso do carro em detrimento da qualidade do transporte coletivo. É hora de reverter a situação, fazendo com que o uso do carro, que traz incontáveis prejuízos para as cidades e para o país em diversas formas, passe a financiar a mudança que precisamos na mobilidade urbana.

Porque é assim que mais nos identificamos com essas manifestações. A luta por um país melhor deve ser de todos. (Obs.: usamos algumas fotos de terceiros nessa montagem. Pedimos a compreensão dos autores para esse caso isolado)
clique para ampliar

Um passo maior

Não seria o caso de aproveitar esse momentum, essa energia, para realizarmos as mudanças que precisamos no país? Não, não falo em decapitar os reis, mas exigir, sim, que a população deixe de ser vista como estorvo ou mera fonte de votos e passe a ser reconhecida como os verdadeiros “patrões” dos políticos, que exigem que suas demandas sejam atendidas. Estes, estejam no executivo ou legislativo, devem finalmente passar a ser os “representantes do povo” que sempre se disseram.

Os gritos nas ruas são apenas a parte mais alta das vozes inconformadas da população. Já há algumas maneiras de ouvi-la, mas outras devem ser criadas e os cidadãos devem ser estimulados a questionar, exigir, fiscalizar, expor, denunciar e cobrar providências. Porque o povo parece ter cansado de sofrer em silêncio – e é melhor escutar o que ele tem a dizer.

Trânsito

Um dos saldos desse movimento talvez seja a população descobrir que pode, sim, ir às ruas. Que manifestante não é vagabundo, é alguém lutando por direitos que considera terem sido violados, por mudanças que deveriam ter vindo, pelo cumprimento de promessas propositalmente esquecidas. Um dos motes da Bicicletada, originalmente criado para representar o uso da rua nos deslocamentos, também se aplica ao que se aprende agora: “as ruas são de todos”.

Sim, manifestações atrapalham o trânsito, porque definem outra utilidade para as ruas naquele momento. E uma utilidade importantíssima: está se fazendo uso do espaço público para fazer valer a democracia, para elevar a voz do povo a um ponto em que não possa mais ser desconsiderada. Afinal, o que deve ser mais importante, chegar cedo para ver a novela ou ir às ruas mudar o país?

O Vá de Bike quer saber

Você acha válido aproveitar a movimentação popular para colocar outras causas em pauta? Ou isso seria leviano e devemos nos ater exclusivamente à questão das tarifas?

Foi em alguma das manifestações? Qual foi seu sentimento em estar ali? Conte aqui nos comentários.

44 comentários em “Qual o rumo das manifestações pela Tarifa Zero?

  1. No Metro de hoje (25/06/2013), surgiu uma nota de que Jilmar Tatto tem rabo preso ( melhor, é o rabo ) com os barões dos transportes por ônibus. Desta ma eira é possível que tenha uma agenda secreta, e que se ameaçado com certeza, irá atrapalhar a mobilidade, se sentirem ameaçados, ou atrapalhar algum esquema. É ligar um ponto ao outro, sem trocadilhos.

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    1. Que nota, Carlos? E no Metrô News mesmo? Se é, “folheando” a edição digital dele, não achei nenhuma nota, não. Então, por favor: fonte, fonte, fonte, fonte. E, quando for pra citar, cita esmiuçadinho, tá? (Porque, sério, ando meio de saco cheio dessa mania de telefone-sem-fio que se tornou padrão na internet.)

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