Depósito onde as bicicletas apreendidas foram guardadas têm modelos simples em sua maioria. Imagem: Veja SP/Internet/Reprodução

Delegacia de São Paulo apreende bicicletas de quem não possui nota fiscal

Delegacia da região central de São Paulo realiza apreensões usando aparência e linguajar como critério.

Depósito onde as bicicletas apreendidas foram guardadas têm modelos simples em sua maioria. Imagem: Veja SP/Internet/Reprodução
Depósito onde as bicicletas apreendidas foram guardadas têm modelos simples em sua maioria. Imagem: VejaSP/Internet/Reprodução

Você costuma andar com a nota fiscal de sua bicicleta no bolso? Não? Pois a ausência do documento pode custar a apreensão de sua bicicleta, caso você esteja circulando pela área de abrangência do 3º Distrito Policial de Campos Elíseos, na região central de São Paulo, e tenha, na visão do delegado titular, “cara de presidiário” ou “tatuagem de cadeia”.

Essa foi a medida polêmica adotada pela delegacia para coibir ocorrências de roubo de bicicletas e celulares. Há pouco mais de um mês, mais de 20 bicicletas já foram apreendidas das mãos de ciclistas que não apresentavam o “dress code” correto para escapar das mãos dos investigadores. O delegado Arariboia Tavares também afirmou, em matéria da revista Veja São Paulo Online, veiculada na segunda 10/03, que outros sinais que tornam a pessoa suspeita é ter “dentição podre” ou ser “desocupada”.

Informado o critério, que ignora a chamada presunção da inocência (termo jurídico que significa que a pessoa é inocente até que provem o contrário, no caso de não haver flagrante), o sujeito que teve sua magrela apreendida pelas autoridades precisa comprovar que não roubou o veículo. Para isso precisa apresentar a nota fiscal, fotos ou outros indícios de que a compra da bicicleta foi dentro da lei. Já quem teve sua bicicleta roubada pode comparecer à delegacia, apresentando a nota fiscal da bicicleta roubada e também fotos ou uma descrição que bata com o veículo subtraído.

Com a medida, a corporação pretende coibir o furto e roubo de bicicletas e também de celulares, os quais o delegado afirma serem cometidos por assaltantes em bicicletas. Em suas investigações, que contam com dois outros investigadores encarregados da tarefa, a polícia também utiliza o site www.bicicletasroubadas.com.br, iniciativa da sociedade civil que reúne, em um banco de dados, informações de usuários que tiveram suas bikes levadas. Dentre as bikes apreendidas, há modelos de marcas visadas como Giant e Specialized.

Prevenção ou preconceito?

Apesar de não prender os suspeitos, o critério de abordagem do delegado dá margem a injustiças, pois carrega em si o mesmo componente de preconceito estético e racial que têm motivado linchamentos e prisões indevidas recentemente.

Um dos problemas que ajudam a alimentar o mercado de bicicletas roubadas é a receptação. Para um comerciante, mesmo que de produtos usados, é mais grave não possuir documentos que comprovem a procedência da bicicleta, mesmo para vendedores online. Dessa maneira, é muito comum ver em sites de classificados ou lojas de artigos de segunda mão bicicletas e peças vendidas a preços muito inferiores aos de mercado – e uma investigação séria começaria pela averiguação dessas diversas situações.

49 comentários em “Delegacia de São Paulo apreende bicicletas de quem não possui nota fiscal

  1. Pessoal,sou atleta montei minha bike comprando peça por peça e como já estar montada em um valor que não vem ao caso,e não tenho nota fiscal e acho que muitas pessoas não tem também,como fica? teria algum site pra as pessoas fazer um registro ou nota fiscal da bike? Acho que desse jeito ao invés de presos vai ter bicicletas

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  2. A solução é fazer como os automóveis; documento no nome do proprietário, e se vender, transferir para o nome do comprador.

    Burocracia? Sim, mas se não houvessem ladrões e fossem todos honestos, não haveria necessidade disto. Infelizmente, os honestos pagam pelos desonestos.

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  3. sobre o assunto das bicicletas sem documentação, desejo saber o seguinte:

    quem possui uma bicicleta antiga sem documento(nota fiscal) pois este mesmo já se perdeu no tempo; como proceder para conseguir uma nova documentação que prove que a bicicleta lhe pertence? há meios de registrar em nome do proprietario ou tirar alguma nova documentação nesse sentido? onde?

    Polêmico. O que acha? Thumb up 3 Thumb down 6

    1. Isso vai muito do humor do policial e da cara do ciclista… querendo ou não ele vai desconfiar se a pessoa estiver usando roupas simples e uma bike de 5 mil reais. Aí sim vai te parar e pedir nota fiscal. Infelizmente o estereótipo conta…

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  4. acho que tudo é uma questão de mostrar força; estou fazendo ( para mim não está fazendo é nada) por que então não fica na usp ou mas ruas e avenidas onde são feitos os roubos. Tenho bike a mais de 30 anos vão tirar de mim só por que sou estranho ? cara de delinquente ? acho que deveria sim rever tudo isso; uma vergonha pois não é assim que se resolve as coisas. A bike para muitos é tudo transporte ,lazer,etc….
    Sr delegado vai arrumar o que fazer. Prende o cara ( se for preciso)a bike não tem nada a ver; mais lixo ocupando lugar na delegacia, uma bike velha surrada o cara não vai ir buscar . Depois vai dar trabalho para desocupar o lugar.

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  5. Isso não vai coibir o roubo de bikes. Ninguém rouba uma 29er e sai por ai como se fosse sua. O cara desmonta, passa pra frente, vende pra alguma loja, ele não é burro de andar com uma bike roubada pro dono reconhecer depois. Se o delegado quer mesmo fazer algo de útil, deveria consultar o número de série dos quadros em sites como o bike registrada e ver se a merda é mesmo roubada, se bater, apreende.

    O que mais me indigna neste país é que nossas autoridades tem ideias com base no que “eles pensam que funcionam”, mas ninguém pesquisa sobre o assunto pra buscar ideias que deram certo de verdade. O povo alienado.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 6 Thumb down 3

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