Hortas urbanas humanizam e politizam a cidade de São Paulo
São Paulo já conta com pelo menos cinco hortas urbanas comunitárias. A primeira surgiu em 2012, na avenida Paulista: um verdadeiro respiro num dos lugares mais impermeáveis da cidade.
Em 12 de outubro de 2012, um grupo de pessoas surgiu na avenida Paulista com enxadas, pás, algumas mudas de plantas e muita disposição. Ali, em um canteiro localizado na Praça do Ciclista – bem onde a Paulista toca a Consolação – nascia a primeira horta comunitária da cidade de São Paulo, batizada de Horta do Ciclista.
O primeiro mutirão foi de limpeza. Segundo Claudia Visoni, voluntária dos Hortelões Urbanos, o canteiro da praça estava degradado. Lá foram encontrados cacos de vidro, seringas usadas, lixo e outros descartes.
Hoje o cenário é outro: graças a essa iniciativa, agora é possível colher tomate, alface, milho, couve, manjericão e salsinha, entre outros alimentos, e a população pode se beneficiar do que quiser – embora muita gente ainda não saiba que ali, bem no coração da avenida Paulista, existe uma horta.
Desafios
Manter a horta viva em meio a tudo o que aconteceu na avenida ao longo de 2013 parecia um grande desafio. Já na virada de 2012 para 2013, a Paulista recebeu mais de dois milhões de pessoas para a festa de ano novo. Depois, no início de junho, mais um milhão passou e dançou por ali durante a Parada Gay. Ainda em meados daquele mês, a avenida foi palco da maioria das manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô. A horta, no entanto, não sofreu qualquer prejuízo.
Isso pode ser explicado porque, segundo estudos internacionais, as pessoas não “depredam” comida. “Por mais problemas que a pessoa tenha, ela não pisa numa comida, isso está dentro do ser humano”, justifica Claudia, do Hortelões Urbanos.
Assista abaixo a entrevista com Claudia Visoni e imagens do primeiro aniversário da horta:
Outras hortas em São Paulo
Depois da Horta do Ciclista, novos mutirões foram feitos e a Vila Beatriz, na zona oeste da cidade, ganhou a Horta das Corujas. A horta fica na Praça das Corujas, que até 2010 era um lugar abandonado. Depois de investimento feito pela prefeitura para corrigir problemas de drenagem, a praça foi transformada em um espaço de convivência para moradores do bairro, que acaba recebendo também visitantes de outras regiões da cidade, atraídos pela beleza do lugar.
O Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro, também ganhou uma horta no seu telhado verde. Vila Pompeia, Vila Anglo, Parque Ipê e o campus do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE USP) também contam com hortas urbanas.
A importância das hortas comunitárias
Além de mudar visualmente o espaço urbano, as hortas trazem mais segurança à cidade. “Uma horta comunitária demanda muito trabalho, muita frequência, e as pessoas que vão cuidar vão num astral de cuidado, do bem, então muda a energia do lugar”, garante Claudia Visoni.
Elas também trazem um senso de coletividade e cidadania. Segundo Ariel Kogan, que participou do primeiro plantio da Horta do Ciclista, sua manutenção é feita de maneira colaborativa e um há um mutirão uma vez por mês. Além disso, quem planta nem sempre é quem cuida, e quem cuida nem sempre é quem colhe. Ariel, por exemplo, ainda não consumiu nenhum produto da horta. O que não é o caso, contudo, de uma senhora que passava ao lado da plantação num sábado à tarde e resolveu colher manjericão. “Vou pegar porque está muito bonito”, disse a senhora. “Pode pegar porque é tudo nosso”, respondeu a fotógrafa e ciclista Poline Lys, que passava pelo local no momento e registrou a colheita espontânea.
Participando de qualquer maneira, as pessoas se engajam numa causa comum e começam a se sentir “donos” da própria cidade. Assim como pedalar, plantar na cidade também transforma espaços e cidadãos.
Comer é um ato político
“A maior colheita das hortas urbanas é a mobilização social”, afirmou Fernanda Danelon, dos Hortelões Urbanos, durante debate na segunda Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, realizada em outubro de 2013.
Plantar em praças públicas também é bom para a economia dos próprios cidadãos. Para Fernanda, a revolução começa na nossa própria cozinha. “Segundo dados do IBGE, você gasta de 20% a 30% do seu salário em comida (…), e o que você compra, você está dando dinheiro para o fabricante, então tem uma questão política mesmo aí. Comer pode e deve ser um ato político”, ela afirma (confira a fala de Fernanda a partir de 1:59 deste vídeo).
O filme “Deus salve o verde” (em italiano), exibido durante a Mostra Ecofalante, apresenta histórias de hortas comunitárias pelo mundo. Um interessante registro para quem se interessa pelo tema.
Sou fascinado por estas iniciativas e me pergunto..
Precisa ter uma ONG para fazer isso?
Porque sempre esbarramos na questao burocratica de usar espaços ditos publicos e corremos o risco de ter todo um trabalhod esfeito a mando de alguma prefeitura…por nao ser uma ONG ou nao ter legalidade…
Espaços depredados, que existem milhares na cidade, na minha inclusive..
Como proceder, qual o melhor caminho?
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É uma iniciativa fantástica e louvável. Ainda bem que existem coisas deste tipo para contrapor (e muito bem, diga-se de passagem) os absurdos que vemos diariamente por ai (leia-se carnaval desvairado, funk ostentação, iletrados políticos, etc.)
Parabéns à estas pessoas que lutam para tornar o mundo um lugar melhor.
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