Raquel em Odda, na Noruega. Foto: Arquivo pessoal

Raquel Jorge: nova colaboradora do Vá de Bike narra suas pedaladas pelo mundo

Raquel já viajou o mundo e, neste momento, está pedalando pelo norte da Europa. Toda sexta-feira, contará às leitoras e leitores detalhes das suas viagens.

Raquel Jorge em Big Sur, na Califórnia. Foto: Arquivo Pessoal
Raquel Jorge em Big Sur, na Califórnia (EUA). Foto: Arquivo Pessoal

Meu pai diz que nasci com rodinhas nos pés. Desde que aprendi a andar minha vida se resume em querer viajar. Nasci em Botucatu, interior de São Paulo, mas nem sei onde fica no mapa. Com menos de um ano minha família e eu nos mudamos para a Lagoa da Conceição, em Florianópolis, e lá vivi a infância dos sonhos, onde aprendi o valor de ser livre, de andar descalça, pescar na lagoa, nadar no mar e claro, andar de bicicleta. Foram muitos tombos pela Beira Mar Norte, em uma época em que ninguém sabia o que era uma ciclovia.

Aos meus 10 anos fomos para a capital paulista. Difícil transição…. Viver em São Paulo nunca foi fácil para mim. Cheguei na cidade pela primeira vez com uma referência de vida que não cabia na metrópole. Da liberdade das ruas, árvores e do mar fui diretamente para o concreto, para o anonimato e para a hostilidade. Foi então que comecei a pedalar pra valer, estava com 15 anos, era 1989. Comecei e nunca mais parei. Foi nesse período também que iniciei minha vida de viagens. Meu primeiro trabalho foi aos 13 em uma oficina mecânica e todo o dinheiro que ganhava gastava viajando. No início para locais próximos, acampar pelas praias do litoral norte ou de Ilhabela.

Depois, aos 20 anos, me mudei para Londres, capital da Inglaterra, onde vivi por 10 anos. Nesse período pude transitar pela Europa, fosse para rever amigos, dançar, comer ou apenas caminhar pelas cidades cheias de passado.

Aos 30 anos deixei Londres e passei um ano mochilando pelo mundo. Índia, Sudeste Asiático, Estados Unidos, Américas Central e do Sul. Com 31 pousei novamente em São Paulo, trabalhei, fiz faculdade, casei. Aos 40 descasei, deixei o emprego e voltei a fazer aquilo que faço melhor e mais feliz: pedalar por aí.

Em San Pedro de Atacama, no Chile. Foto: Arquivo pessoal
Em San Pedro de Atacama, no Chile. Foto: Arquivo pessoal

De volta ao mundo conhecido

A bicicleta me devolveu para o mundo que eu conhecia. Vento no rosto, autonomia, bem estar e prazer. Quando pedalamos enxergamos os espaços de outros ângulos. A bicicleta nos aproxima da dinâmica da cidade, humaniza nosso olhar e traz uma sensação autêntica de pertencimento, onde aprendemos a dividir e cuidar. Sou ciclista há mais de 25 anos. Mudei de cidade, de país, de estado civil, mas nunca mudei o hábito de transitar em duas rodas.

Para minha sorte, andar de bicicleta e viajar é um casamento perfeito, pois em qualquer lugar do mundo você encontra uma bicicleta. Seja para alugar, pegar emprestado e às vezes até comprar. E não há forma melhor de ver o mundo. De bike você se enfia em qualquer lugar, não há burocracias ou custo com transporte. Você chega em qualquer cidade e tem autonomia para ir e vir. Não tem medo nem preguiça de se perder (aliás, se perder faz parte da diversão). E pra finalizar, mas não menos importante, é saudável e prazeroso.

A opção pela estrada

Trabalho, carreira, profissão? A formação acadêmica e, portanto, a resposta oficial seria: Administração de Empresas e Gastronomia. Mas na realidade, qualquer coisa que seja lícita, minimamente prazerosa e que, vez ou outra, me permita ir para o mundo. Tenho 4 paixões na vida, das quais não abro mão: pedalar, fotografar, viajar e Paco, meu cão (safado, mimado e absurdamente adorável).

E aí muita gente me pergunta: mas como você faz para pagar por essa vida de viagens? Eu conto: não tem patrocínio, não tem herança ou dinheiro de família. É dinheiro de trabalho suado mesmo. Mas acima de tudo, uma escolha! Não tenho casa própria, não tenho filhos e não tenho bens de valor. Mas tenho a estrada! Optei por ela, afinal, a felicidade está em lugares diferentes para pessoas diferentes. O mundo seria insuportavelmente chato se fôssemos todos iguais, com os mesmos pensamentos, ideais e sonhos.

Trabalho, trabalho, trabalho, compro imóvel e quando está tudo estável deixo o trabalho, vendo o imóvel e vou viajar.

Quando estou trabalhando e as viagens se resumem a um mês por ano me dou ao luxo de ficar em hotéis melhores e não me privo de coisas gostosas como bons vinhos, jantares, teatro, etc. Já nos períodos sem salário as viagens têm outro aspecto. Sou econômica sem ser mesquinha. Isso é importante, pois seres mesquinhos me incomodam. Fico em albergues, hospedarias ou na barraca do camping. A alimentação pode ser em qualquer boteco, conto moedinhas para pagar a conta e uso sabonetes de “amostra-grátis” para lavar roupa.

Não tenho mais idade para ser radical, todos os mundos me encantam, cada qual com suas qualidades e limitações. E a beleza é saber que consigo transitar por eles saboreando o que cada um tem a oferecer. O real luxo é ser livre. Livre de estereótipos, de preconceitos, de intolerâncias, do medo do que é diferente, e claro, livre do medo de que não vamos conseguir.

Raquel Jorge contará, aqui no Vá de Bike, detalhes de suas cicloviagens, da preparação aos desafios do caminho, comentando sobre a mobilidade em bicicleta por onde passar. Seja bem vinda! 😀

Raquel em Odda, na Noruega. Foto: Arquivo pessoal
Raquel em Odda, na Noruega. Foto: Arquivo pessoal

19 comentários em “Raquel Jorge: nova colaboradora do Vá de Bike narra suas pedaladas pelo mundo

  1. Bom dia Raquel, queria serr como você, livre, sem satisfação a dar a ninguém, desbravador, sem apegos a bens materiais e feliz com o que faz. sou casado e tenho um filho e mulher. Sou ciclista ha três anos e meio, 55 vou fazer e amo pedalar. Parabéns pra você qyueescolheu em seus ideais ser livre e feliz no que faz. Escolha sempre Deus pra ser seu companheiro a te livrar dos males desta vida.

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  2. Que show Raquel!
    Eu iniciarei agora em agosto 1-2 anos de viagem de Volta ao Mundo, começo pela Europa. Gostaria de algumas dicas: vale a pena levar barraca? (Pretendemos hospedagens gratuitas como couchsurfing e warmshowers, mas sabemos que nem sempre é possível…) É seguro pedalar na Asia?
    As suas histórias estarão só aqui ou tem algum outro canal?
    Nossa primeira rota será a Eurovelo do Mar do Norte, quem sabe nos trombamos por aí!!
    Bjsss

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    1. Olá Layla, que projeto sensacional. Então, você vai sozinha ou com alguém? Se for em duas pessoas vale a pena sim levar barraca (em dois dá para dividir o peso), pois vai te dar mais autonomia e flexibilidade. Faça a carteirinha do Camping Europe, ela funciona e facilita a vida. Na Escandinávia se você chega de bicicleta em um camping, mesmo que este esteja lotado ele é obrigado a te acolher, pois ao ciclista não se pode dizer “daqui 50km tem outro camping, ou durma no carro”. Nossa fragilidade é também nossa garantia de abrigo.

      Segue o link para fazer a carteirinha, eles mandam para qualquer endereço do mundo junto com um guia de campings. Os campings aqui são sensacionais e muito bem estruturados.

      http://www.campingkey.com/pt-pt/o-cartao/

      Pedalar na Asia é seguro, mas bom senso e estar bem informada sobre os arredores nunca é demais. E alguns lugares são mais seguros que outros. A Tailândia é mais segura que o Cambodia, por exemplo.

      Eu tenho um site com um blog: http://www.raqueljorge10.com e a página no Facebook é: Pelas Estradas da NSCR

      Beijos e muito sucesso no seu projeto.

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  3. Alô Raquel, adorei o que vc contou, é isso mesmo, a pessoa tem que aproveitar a vida no que gosta, trabalhar e curtir a vida….estou aguardando os seus relatos das estradas…Abraços e seja bem-vinda!!!

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  4. Raquel, Fico aqui só acompanhando seus posts! Adoro todos! Que viagem maravilhosa. Muito legal o estilo de vida que você optou . Quem sabe um dia seguirei seus passos. Bjo Grande!

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  5. Raquel, pessoas como Você engrandecem a raça humana. Tenho para mim que só trabalho – e o faço com prazer – para poder viajar, da forma que for. Acreditamos que isso é o único investimento racional. Obrigado por me propiciar mais um ser – Você! – em que possa admirar.

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  6. Incrível!!! Muito bom saber que ainda existem pessoas que prezam os prazeres da vida… dá-lhe Raquel!! Vou ficar na sua cola…

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