Pai adapta bicicleta para proporcionar a filho especial o prazer de pedalar
Rodrigo pedala até 25 km pelas ruas de Barra do Piraí/RJ, levando seu filho Biel num reboque adaptado. Dupla também participa de corridas de rua.
A relação entre o adolescente Gabriel Couto Rocha, 14 anos, com a sua bicicleta é uma das histórias mais bonitas de se contar (e de ler). Isso porque Biel, como é conhecido, é apaixonado por bike e por atividade física e seu amor ultrapassou as limitações motoras provocadas por uma paralisia cerebral.
O sonho de pedalar levou o pai do Biel, o engenheiro eletricista Rodrigo Silva Rocha, 37 anos, que também é ciclista, a pensar num modelo de bike (um triciclo especial) em que o pai pudesse proporcionar ao filho o prazer de pedalar. Nesse ano, o sonho deixou de ser projeto e Biel e Rodrigo têm se aventurado em pedais de 25 km pelas ruas de Barra do Piraí (RJ), a 150km da capital Rio de Janeiro. “Faremos percursos mais longos. O problema é que o trecho precisa ser seguro”, disse Rodrigo Rocha. Nesta entrevista, o pai de Biel conta um pouco sobre a trajetória dos dois enquanto esportistas e as boas novas que a inclusão da bicicleta em suas atividades tem lhes proporcionado.
Como surgiu a ideia de Biel se tornar um “corredor especial”?
Eu não participava de corridas de rua. Tinha ido em três, no máximo. Um dia (no fim de 2013), um amigo me chamou para participar de uma corrida em nossa cidade (Barra do Piraí, RJ). Levei Biel na cadeira (de rodas) para assistir e acabamos entrando na corrida. A adrenalina do Biel foi máxima. Ele vibrava, gritava e interagia com os demais corredores. Isso me fez enxergar uma possibilidade de interação e melhor ambiente para o Biel.
Levar ele para a bike surgiu depois que decidi que maratona era simples, que tínhamos que ir mais longe, novas adrenalinas, novos desafios. Eu pedalava com alguns amigos nos fins de semana e sei da satisfação e prazer que é sentir o vento no rosto. Nos treinos de corrida, Biel se amarrava quando íamos para treinos de longas distâncias. E eu falava aos amigos: quando for para a bike, ele vai pirar. Maiores distâncias, lugares diferentes, altas velocidades. Hoje é tudo o que ele ama.
O interesse pelo esporte surgiu dele ou você que o estimulou a se tornar um atleta especial?
Não era nosso objetivo alcançar o que estamos alcançando. Nunca pensei em ser chamado de atleta, apenas de pai. Faço por ele o que considero que todo pai deveria fazer pelo seu filho. Se ele não estivesse sobre cadeira de rodas, eu o levaria para correr ao meu lado, pedalar ao meu lado, seria seu melhor amigo, da mesma forma que somos hoje. Mas devido às condições, eu sou suas pernas e seus braços, respeitando sempre as vontades dele. Se não quer ir não vai, coisa difícil de acontecer (risos).
E por que usar a bicicleta também nesse processo? Biel gosta de bike? Como é a relação dele com a magrela?
Depois que ele experimentou a bicicleta, os treinos de corrida estão sendo atrapalhados. Ele só quer ir de bike, está amando. Diariamente, ele fica apontando para onde a bicicleta fica guardada e a minha esposa tem que levar ele para ver que ela está lá, com a promessa de andarmos no final de semana.
Quem desenhou e elaborou a bicicleta especial para Biel?
Buscamos na internet algo já existente e reprojetamos para nossas condições locais, devido ao excesso de quebra molas, irregularidades de piso, etc. Foi tudo desenhado e projetado entre eu e amigos que foram solidários ao caso. Quem quiser acompanhar as aventuras de Biel e a construção de sua bicicleta, pode nos seguir nas redes sociais, como Facebook e Instagram.
Como tem sido a experiência de “pedalar” para Biel? O que ele comenta com você e o que você sente?
Encarar a maratona (do Rio) foi apenas incluir mais um desafio para nós, porque encaramos desafios diários cuidando de um especial. Acreditei em meu potencial e na força que Biel me transmite durante as corridas. Realmente, sua presença e olhares são muito fortes. Daí surgiu nossa frase e minha tattoo: “Eu o empurro, mas é ele quem me leva”.
Biel consegue se expressar muito bem através de gestos e olhares. E o que ele transmite quando pedala é adrenalina pura, sensação de liberdade, novas experiências, novas barreiras sendo quebradas.
O que você acha que a bicicleta pode trazer de benefícios para o atleta Biel e para a pessoa Biel?
Todo esporte que faço com o Biel favorece demais em seu desenvolvimento. São novos grupos de pessoas, novas amizades, novas formas de cumprimentos entre os participantes. Esses pequenos detalhes de cumprimentar, por exemplo, favorecem e estimulam que ele repita (os movimentos).
Ele evoluiu demais com a corrida e agora com a bicicleta espero muito mais. Espero que traga isso não somente ao Biel, mas a todas as pessoas com deficiência. São novas oportunidades de viver, de se incluir na sociedade, de ter dias melhores, alegres e ir aumentando ainda mais o círculo de amigos.
Vocês participam das Olimpiadas do Rio?
Nossa participação foi conduzindo a tocha olímpica em nossa cidade, Barra do Piraí no dia 29 de julho. Foi um convite feito pela Coca-Cola, logo após a maratona do ano passado. Mas a nossa meta é fazer pelo menos um IronMan, uma das modalidades do triathlon, que inclui corrida (42km), natação (3,8km) e ciclismo (180km).
Atualmente, conseguimos uma parceria com uma consultoria mais especializada ao triathlon, mas até então meus treinos foram feitos bem do meu jeito, nada específico. Como trabalho e fico longe dele durante a semana, treino sozinho a maior parte do tempo e com ele apenas alguns finais de semana.