Foto: Willian Cruz

Projeto de Ciclovia de BH foi descartado por influência de vereadores

Vereadores Sérgio Fernando (PV) e Joel Gomes Moreira Filho (PTC) se mobilizaram em campanha anti-ciclovia.

Foto: Willian Cruz
Foto: Willian Cruz

Como contrapartida da expansão de um shopping no bairro Anchieta, em Belo Horizonte, era prevista a construção de uma ciclovia com 2 quilômetros de extensão, incluindo a avenida Francisco Deslandes, que ofereceria maior segurança aos ciclistas, além de atrair mais pessoas ao meio de transporte.

A medida já é usada em outras capitais. Em São Paulo, por exemplo, a construção de duas linhas de monotrilho prevê a construção de ciclovias por debaixo da linha. Também na capital paulista, a compensação de grandes polos geradores de tráfego, como o caso de um empreendimento na bairro da Barra Funda, exigiu a construção de uma via para ciclistas em avenida da região.

Entretanto, em Belo Horizonte, após a votação da proposta na Câmara dos Vereadores, a construção da via para bicicletas foi vetada, sob o pretexto de que parte dos moradores do bairro não estava satisfeita com uma eventual redução de vagas de estacionamento e pelo estreitamento da via. A Operação Urbana Simplificada (OUS) manteve os outros investimentos na região, que devem custar R$ 2,7 milhões. A ciclovia custaria em torno de R$ 485,7 mil, bancado pela iniciativa privada.

A retirada do projeto da ciclofaixa não foi bem recebida por aqueles que seriam os maiores beneficiados com a obra, e que são um dos elos mais frágeis no trânsito: os ciclistas. Em conversa com Gabriel Castro, do coletivo BH em Ciclo, o cicloativista conta que a região é extremamente adensada de moradias, e que faltam opções de transporte.

“A ciclovia seria implantada em um bairro com ruas muito estreitas e que têm recebido construções de prédios residenciais enormes. Não há mais espaço para tanta gente se locomover de carro por lá. Levar outro meio de mobilidade é interessante porque a ciclovia faria ligação direta com uma das principais ciclovias de BH, que leva a região central facilmente”, afirma Gabriel ao Vá de Bike.

Segundo o ciclista, a ciclovia poderia ser usada, além do transporte, no lazer da população. “As opções de lazer do bairro não são muitas e em BH tem se visto várias e várias famílias passeando de bicicleta nos fins de semana”, conta Gabriel.

Campanha contra ciclovia

De acordo com o ciclista, os vereadores Sérgio Fernando (PV) e Joel Gomes Moreira Filho (PTC) se mobilizaram contra o projeto, e organizaram reuniões no bairro Anchieta com moradores e comerciantes, expondo o lado contrário à politica de mobilidade ativa. Joel Moreira Filho é morador do bairro Anchieta e criou a página Anchieta Alerta, como parte da campanha anti-ciclovia. Existem relatos até de folhetos contra o projeto.

“Em nenhum momento, Joel apresentou estudos ou qualquer reportagem para provar suas justificativas contra a ciclovia. Recebeu apoio de alguns moradores, que chegaram a justificar sua posição contrária alegando que “essa ciclovia vai aumentar o número de atropelamentos de idosos no bairro”.

Gabriel ainda conta que o vereador criou uma enquete em seu site, e que nela, 64% dos votos eram a favor da ciclovia. “Mas ele fechou a reunião que presidiu falando que o resultado era o contrário”, conta o ciclista.

Transporte ativo supera uso de automóveis

A capital de Minas Gerais, assim como toda região metropolitana, necessita de políticas públicas para a segurança de quem pedala. De acordo com a Pesquisa Origem e Destino, realizada pela Secretaria de Estado Extraordinária de Gestão Metropolitana (Segem), a bicicleta representava em 2012 uma média de quase 130 mil viagens diárias, principalmente para chegar aos locais de trabalho (35,3%) ou instituições de ensino. Só na capital foram 28.248 deslocamentos.

Com números relativos, o estudo mostra que deslocamentos a pé ou de bicicleta responderam por 37,7% das viagens realizadas naquele ano na Grande BH, mais que os 31,4% de transporte coletivo e os 30,8% de transporte individual motorizado, como carros e motos. Comparando 2002 com 2012, o transporte ativo cresceu 171%, índice maior que os 121% de aumento dos coletivos.

Em contrapartida, o número de acidentes de trânsito envolvendo ciclistas aumentaram 35% de janeiro a agosto de 2015 em Belo Horizonte, segundo dados do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

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