20 realidades da Noruega – e 11 dicas para pedalar por lá
Raquel Jorge passou 30 dias pedalando pela Noruega. Saiba o que ela viu e descobriu pelo caminho – com um vídeo simpático que resume o sentimento que ficou. 😉
são cheias de ciclovias”
Na Noruega, as cidades são cheias de ciclovias. Para qualquer lugar que você queira ir há uma opção segura para quem pedala. Se você quiser cortar caminho também pode, bicicletas são permitidas em quaisquer vias – com exceção das highways, quando há sempre uma opção de percurso, seja por ciclovia ou por uma estrada secundária. Em alguns lugares a ciclovia simplesmente acaba e você precisa, invariavelmente, ir pra pista, mas sempre é uma estrada em que é permitido pedalar. É visível que eles estão correndo para interligar todas as vias, passei por inúmeras estradas em obras direcionadas a unificar as ciclovias do país (algo que a Dinamarca já fez).
A rota 1 (trecho norueguês da North Sea Cycle Route) começa em Bergen e segue para o sul. Como eu comecei em Trondheim, 754 km ao norte de Bergen, encontrei algumas dificuldades no caminho. Relevo extremamente acentuado e muitos túneis, onde bicicletas e pedestres são proibidos de trafegar, e neste caso não há opção: você precisa sentar na estrada e esperar um ônibus passar para te levar para o outro lado. Qualquer bike entra em qualquer ônibus, quando não tem bagageiro você pode acomodá-la dentro do ônibus e todos os motoristas que encontrei foram gentis e solícitos – alguns nem cobraram, considerando que era apenas para a travessia do túnel.
As surpresas do respeito no trânsito
Resolvi começar em Trondheim porque há um ano sonho com a Atlantic Ocean Road. Difícil descrever esta estrada que, com pouco mais de 8 km, superou todas as minhas expectativas.
Estou tão habituada a pedalar pelas ruas e avenidas de São Paulo que passei um mês agradecendo todos os motoristas que me deram passagem. Eles me olhavam com uma cara de “ué”, sem entender minha alegria. Eu vi como uma gentileza, mas para eles não é uma gentileza. É o comum.
E as ultrapassagens na estrada? Queria mandar beijos para todos que me ultrapassaram. Parecia vídeo do CET, mostrando como se faz: primeiro dá pisca, diminui a velocidade, muda de faixa, passa com segurança, pisca de novo e volta pra faixa. Os caminhões, então, nem se fala. Sabem do perigo do vácuo e passaram por mim bem devagar, com a maior distância permitida pela pista – todos, sem exceção!
pelas ruas e avenidas de São Paulo
que passei um mês agradecendo
todos os motoristas que me deram passagem”
No mês que passei no país ouvi 3 buzinas. Em dois casos eram amigos se cumprimentando. No terceiro (em Oslo), um senhor não viu o farol abrir e o carro de trás o alertou. Para mim nunca buzinaram, e olha que atravanquei a vida de muita gente subindo as estradinhas sem acostamento indo para Odda.
Esta é uma cidade que merece um parágrafo. Com uma formação geográfica inacreditável, Odda, além de ser uma cidade tranquila e bela, é também o ponto de partida para quem pretende ir a Trolltunga (também conhecida como a Língua do Troll). Um hiking de 12 horas e 22km (ida e volta), em que você caminha sobre um metro de neve para chegar em um dos pontos mais belos do país. Acima das nuvens, de onde você avista um fiorde de águas azuis emoldurado pelas montanhas nevadas. Foi um dia especial e o primeiro em que não pedalei.
De Bergen até a fronteira com a Suécia foi só alegria. A rota é muito bem sinalizada, segura, incrivelmente bela e, se havia um túnel, havia uma passarela ao lado para quem viaja de bicicleta. Mesmo quando a estrada vira uma fazenda ou você se vê atravessando o quintal de alguém, confie! As “plaquinhas” da rota 1 nunca te deixam na mão. Passei pelos mais remotos vilarejos, muita pesca, muito peixe, muitas pontes e muitas flores.
No caminho, outra cidade importante: Stavanger. Uma delícia de lugar, cheio de vida e com excelentes opções para quem gosta de peixes e frutos do mar. Passei dois dias lá para poder fazer o hiking até Preikestolen (Pedra do Púlpito). É um dos lugares mais visitados da Noruega, simplesmente de tirar o fôlego… literalmente, pois é piramba que não acaba mais para chegar lá! Fui sem bike; meu segundo (e último) dia sem pedalar. O tempo melhorou, ainda frio, mas com, dias de sol e céu incrivelmente azul. E Oslo, ai ai ai… foi um espetáculo à parte!
Sozinha na estrada
Estar na estrada sozinha é um desafio por si só, onde o exercício de pensar na logística é constante: para onde ir, onde ficar, qual distância percorrer, custo, previsão do tempo, do vento, manutenção da bike, lavar roupa (todo dia), estar bem alimentada, hidratada, checar os mapas, calcular, ter conexão para poder planejar o dia seguinte… (eu acordo sem saber onde vou dormir).
Tudo isso somado ao cansaço físico às vezes desanima. A manhã de chuva torrencial que dá preguiça, o frio, a fome, a dor nos joelhos, o medo… e você só tem a si mesmo para encontrar a motivação que precisa para seguir em frente. Mas tudo isso compensa quando você chega no fim do dia com aquela sensação de realização, de conquista – é a mais plena felicidade. O corpo pode estar cansado, mas a alma está sorrindo!
Foi apenas um mês, mas valeu uma vida. Obrigada Noruega, por me receber, me acolher e por dividir sua beleza e sabedoria. Acima de tudo, por me ensinar que tudo isso é possível!
20 realidades norueguesas
1 A água da torneira é potável
2 O coletivo sempre tem prioridade sobre o individual
3 Se pode, pode. Se não pode, não insista
4 Chove mais do que deveria ser permitido por lei
5 Os peixes e frutos do mar são SENSACIONAIS!
6 Todo mundo é lindo até os 60
7 Ninguém fala alto
8 Pedalar é seguro
9 Norueguês é impossível de entender
10 Cada curva do caminho é uma pintura
11 Qualidade de vida não inclui ostentação
12 É um país de pontes, túneis, balsas e cachoeiras
13 Todo boteco tem vinho (muito importante)
14 Os prédios não têm térreo. O térreo já é o primeiro andar
15 Bike e pedestre não entram em túneis
16 As mulheres têm uma habilidade para fazer tranças (de todos os tipos) que é invejável
17 Eles adoram pizza e nachos, mas são incapazes de fazer algum que preste
18 Quem tem carro não ta com nada. Negócio aqui é ter barco e bicicleta!
19 O tempo muda a cada 5 minutos
20 “Brygga” (cais) é sempre o lugar mais legal da cidade
Dicas para pedalar por lá
1 Os pontos de informação ao turista estão por toda parte, são excelentes e te dão bons mapas de graça – é sempre o primeiro lugar em que paro quando chego em uma nova cidade.
2 Confie nas pessoas. Se está com alguma dúvida, pergunte para quem mora na região, eles sabem mais do que qualquer site. Pare e pergunte quantas vezes achar necessário.
3 Sempre verifique o quarto/chalé antes de partir, principalmente as tomadas. Não há nada mais desesperador do que descobrir que o carregador da sua câmera está a 50km de distância.
4 Leve sempre um saco plástico com você (desses de supermercado mesmo), pois ele pode servir como lixo ou para colocar roupa molhada.
5 Coloque os impermeáveis por último no alforje (mesmo que esteja o maior sol). O tempo muda constantemente e se começar a chover fica fácil para pegar.
6 Durante o pedal, se algo está te incomodando e você pode resolver (frio, calor, sede, distribuir melhor o peso, levantar o selim), pare e resolva. Algo que te incomoda um pouco agora vai te incomodar muito daqui 15 quilômetros.
7 Mesmo quando algo der defeito, tenha calma. Busque soluções com tranquilidade. A pressa é inimiga de tudo que é bom!
8 Se você não sabe se algo “pode ou não pode” ou tem dúvida sobre como se comportar, observe os nativos. Eles são os melhores professores e vão mostrar como é que faz.
9 Tenha sempre algum dinheiro com você. Alguns lugares só aceitam cartão e outros só aceitam dinheiro. Em alguns banheiros públicos você precisa pagar para usar. Custa entre 5 e 10 coroas (moedas)
10 Quando estiver em uma cidade com mais estrutura, verifique se a bike precisa de algum cuidado. Mecânicos são raros em cidades pequenas, e nada funciona aos finais de semana. Em lugar nenhum.
11 Leve sempre algo para comer quando for pegar estrada, mesmo que a distância seja curta. Quando não conhecemos o caminho, distância e tempo não podem ser associados. Às vezes 20km podem ser mais difíceis do que 60km. Ter energéticos, uma maçã ou um chocolate é sempre bom.
Raquel Jorge fez uma cicloviagem de 6.200 km pela Europa, contornando o Mar do Norte e passando por Noruega, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Bélgica e Inglaterra. E ela conta os detalhes aqui no Vá de Bike, da preparação aos desafios do caminho, com dicas para quem tem vontade de ganhar o mundo e informações sobre a mobilidade nos locais onde passou. Veja o que ela publicou por aqui.
Que ótima matéria!!! Amei as dancinhas nos locais de parada!!! Parabéns!!!
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Olá Raquel,
Você teria alguma dica sobre o aluguel de bike na Noruega?
Na sua viagem, você alugou a bike?
Obrigada!!
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Raquel, que coisa linda ver voce dançar na Noruega.
Em 2016 passei um mês na Noruega explorando o caminho pelos fiordes entre Oslo-Bergen-Trondheim.
Eu, a bicicleta, o fogão, a tenda de campismo e as minhas roupas.
Tantas saudades.
Tenciono voltar em 2018 para percorrer as ilhas Lofoten e tentar chegar ao cabo norte.
Que o tempo seja meu amigo tal como os Noruegueses se mostraram para mim.
Que país!!!
Fique bem e sempre a curtir.
Pode ver meus videos no meu canal Youtube basta procurar por Noruega – Luis Cardoso
Comentário bem votado! 4 0
Olá Raquel
Parabéns pela conquista, espetacular, gostaria de algumas dicas, quero fazer um pedal na Lapônia em vista da aurora boreal, me assusta saber que o tempo pode mudar a cada 5 minutos , tem alguma dica , quero sair do norte da Finlândia até o extremo da Noruega
P.r.marcondes@hotmail.com
Parabens
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Ola Raquel
Que bela aventura tem feito e muito obrigado por compartilhar tudo isso em detalhes isso nos inspira a lutarmos pelas
mesmas condições.
Somos um país extremamente lindo porém a exploração sempre fica limitada por falta de mobilidade adequada e acessível a todos, seja qual for o seu meio preferido; o benefício é de igual para todos (ciclistas, pedestres e veículos) basta as autoridades entenderem tal caso não o façam, penso que nós pessoas que buscamos qualidade de vida deveríamos exigir.
Mais uma vez parabéns, tudo isso nos inspira.
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olha o que é um país de 1º mundo não se ve nem um lixo no chão uma cidade limpa, ainda um sonho pra nós.
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Estou morando na Noruega há uns meses, e é tudo verdade! Ålesund, a cidade onde moro, é pequena e não tem ciclovias. mas é como se não precisasse. Tanto pedestres quanto carros respeitam ciclistas e vice-versa. Também ouvi pouquíssimas buzinadas, coisa de duas ou três, e em 4 meses! é muita beleza. Você passou por aqui, Raquel? boa sorte!
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Olá Raquel,
Parabéns pela aventura.
Achei seu vídeo genial. Belas paisagens, trilha sonora legal e sua dancinha um charme.
Boa viagem.
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olas, queria saber sem tem campings por essas rotas? obrigado.
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Olá Marcelo, tem sim, vários campings ao longo da estrada. Há também alguns B&B, não são hotéis, são casas de famílias que oferecem quarto, banheiro e café da manhã. Os mapas direcionados para quem viaja de bicicleta mostram onde há campings, serviços de oficina e locais para comer. Estes mapas são fáceis de ser encontrados nos pontos de informação ao turista de cada região. Espero ter ajudado. bjs
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obrigado! boa viagem!
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Raquel, eu nunca vi nem ouvi coisa igual. Você tá que aproveita, né! Eu sinceramente quero que você conclua com êxito a sua viagem, retorne ao Brasil e coloque bastante juízo nas pessoas que você encontrar por aqui. Lindo, lindo, lindo o que você mostrou.
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Obrigada Paulo, é inspirador ler comentários como o seu! 😉 abs
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Dançar, dançar …nunca parar!
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