Recife: falhas no planejamento de infraestrutura cicloviária põem em risco os cidadãos
Falta de conexão da infraestrutura cicloviária da cidade limita deslocamentos e aumenta a insegurança de quem pedala na capital pernambucana.
Com 33 km de malha cicloviária e a promessa de até o final de 2015 implementar mais 90 km, Recife possui falhas no planejamento e conexão de rotas para os ciclistas. Com inícios e fins em avenidas com grande fluxo de veículos, os percursos ciclísticos da cidade levam ao encontro dos acidentes e da insegurança.
“Pedalar pelas ruas de Recife requer destreza, habilidade e sorte, não é tão difícil sofrer um acidente”, é o que afirma o estudante universitário e ciclista Lucas Araújo, 20 anos. Lucas é morador do bairro de Casa Forte, zona norte da cidade, e lamenta não conseguir chegar às praias da capital, na zona sul, utilizando caminhos seguros como ciclovias e ciclofaixas. “Onde mais é preciso o auxílio e proteção das faixas exclusivas, não tem. É quase impossível se deslocar pelos bairros da cidade sem ver a ciclofaixa sumir na próxima esquina”, disse. Isso porque os 33 km de infraestrutura cicloviária existentes no Recife não possuem conexões entre si que garantam ao ciclista sair de um local a outro da cidade sem ter que acabar no meio de uma avenida sem área restrita ou direcionada às bicicletas.
Segundo o diretor geral da Associação Metropolitana de Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), Daniel Valença, a falta de conectividade entre as vias direcionadas aos ciclistas limita os deslocamentos e aumenta a insegurança. “As ciclofaixas existentes te levam em parte dos caminhos mas, assim que terminam, te deixam junto ao trânsito violento da cidade. Isso inibe os deslocamentos e desestimula o aparecimento de novos ciclistas. As ciclofaixas móveis mostram isso: aos domingos há uma conexão das zonas norte, oeste e sul com o centro da cidade, o que possibilita o trânsito tranquilo e seguro para diversos locais. Nos demais dias acontece que, como as ciclofaixas se interrompem, é preciso mais coragem para enfrentar o trânsito. Além disso, as rotas devem seguir os parâmetros técnicos de segurança para os ciclistas – vias com velocidade acima de 50 km/h devem possuir ciclovias, até os 40km/h, no mínimo, ciclofaixas -, se interconectarem com os centros e locais de grandes demandas, serem bidirecionais e possuirem estrutura que iniba grandes velocidades.”
Procurada pela reportagem, a coordenadora do Escritório da Bicicleta, Rosaly Almeida, da Secretaria de Turismo de Pernambuco (SETUR-PE), informou que “as ciclovias e ciclofaixas implementadas no Recife são de responsabilidade da prefeitura. Entretanto, os modais seguem o modelo do PDC (Plano Diretor Cicloviário), que permite que as vias exclusivas para ciclistas sejam implementadas com até 500 m de distância das vias que são indicadas pelo PDC.” Rosaly ainda informou que “será entregue amanhã [11/nov] ao governador Paulo Câmara o projeto conceitual do PDC, passível da aprovação ou não aprovação pelo governador.”
A reportagem também entrou em contato com a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife e com a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), mas até a publicação dessa matéria não obteve retorno.
No site do governo de Pernambuco é possível ter acesso ao arquivo PDF do Plano Diretor Cicloviário da Região Metropolitana do Recife (PDC-RMR). O projeto é uma parceria entre o governo do Estado e as prefeituras da região metropolitana de Recife, e conta com o aval de organizações sociais que debatem o tema. O plano foi lançado ano passado com o intuito de até o fim desse ano (2015) estabelecer mais 90 km de rotas cicláveis no Recife. Até agora, segundo a Ameciclo, nem 1 km foi construído ainda. O PDC elabora diretrizes para a construção de vias mais eficientes e seguras para os ciclistas, prevê a maior conectividade entre as vias, como também a integração entre as mesmas com terminais de ônibus, metrô e bicicletários.
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