Carros estacionados sobre ciclofaixa na Vila Prudente. Foto: Willian Cruz

Carro na ciclovia? Em São Paulo, ligar para a CET funciona

Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostram que denunciar à CET traz resultado, com uma taxa de atendimento que nos surpreendeu

Táxi parado sobre ciclofaixa faz ciclista se arriscar em meio aos carros com uma criança na cadeirinha. Foto: José Renato Bergo/Clicados na Ciclovia

Pode não parecer, mas ligar para o órgão de trânsito para reclamar de um carro estacionado na ciclovia funciona, pelo menos na cidade de São Paulo. É o que mostram os dados obtidos com exclusividade pelo Vá de Bike junto à CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), através da Lei de Acesso à Informação.

Um carro parado numa ciclovia ou ciclofaixa pode não parecer nada, afinal é sempre “só por um minutinho”. Mas além de uma tremenda falta de respeito, esse comportamento coloca diretamente em risco a vida de quem circula de bicicleta, obrigando a pessoa a adentrar a via, muitas vezes no contrafluxo, numa situação onde os motoristas não esperam (e não aceitam) encontrar um ciclista à sua frente, já que existe naquele local um espaço segregado destinado às bicicletas.

O Vá de Bike sempre incentivou os ciclistas a acionarem o órgão de trânsito local nesses casos (na cidade de São Paulo, isso pode ser feito pelo telefone 156). E os números que obtivemos comprovam que, cada vez mais, essa ação tem dado resultado.

Atualização: Em 2019, o atendimento da CET foi incorporado à central da Prefeitura. A ligação, que antes era feita para o número 1188, agora deve ser feita para o telefone 156.

Alta taxa de atendimento

Dos 321 chamados realizados em 2017, 310 (96,6%) foram atendidos – uma taxa considerável. E que, para sermos sinceros, nos surpreendeu, pois sempre que ligávamos para a CET ficávamos na dúvida se o chamado seria levado a sério ou ignorado. E certamente essa dúvida não era só nossa.

A proporção de chamados não atendidos foi pequena, o que nos surpreendeu positivamente.

Uma informação importante é que essas “solicitações de fiscalização”, como define a CET, não foram realizadas todas pelo telefone: podem ter sido feitas diretamente a um agente que passava na rua, por exemplo. A companhia cita outros métodos, como site e “solicitações via processo”, mas como se referem a situações pontuais, é pouco provável que tenham sido feitas por meios mais lentos que um telefonema ou um contato direto com um agente próximo ao local.

O órgão de trânsito paulistano não listou os motivos que levam ao não atendimento de uma parcela das solicitações. Mas esclareceu que, das 310 solicitações atendidas, 51 (16,5%) foram marcadas como “não procede”, pois não foi mais constatada a irregularidade no momento da chegada do agente de trânsito. Não sabemos quantas das demais foram convertidas em multa ou terminaram com o motorista saindo rapidamente ao avistar a viatura se aproximando. Pensamos em refinar com as informações abertas sobre autuações, mas não haveria como saber se cada autuação resultou de uma solicitação de fiscalização ou de ação ativa de um agente de trânsito.

Mais resultado em 2017

Não apenas os chamados aumentaram em 9,2% de 2016 para 2017, mas a proporção de solicitações atendidas também subiu, passando de 85,7% para 96,6%.

Como solicitamos apenas esses dois anos e não a série histórica, não é possível avaliar se há uma tendência contínua de melhora ou se foi um salto dado em determinado momento. O que os dados mês a mês mostram é aumento perceptível na proporção de atendimentos a partir de outubro de 2016 (veja tabela no final da matéria). Em nossa opinião, isso pode significar uma mudança de procedimento, de orientação ou mesmo uma sensibilização das equipes internas ou dos agentes, mas não uma melhora gerada pela mudança na administração municipal, que ocorreu apenas três meses depois. De qualquer modo, é uma melhora muito bem vinda.

Taxa de atendimento começou a subir em outubro de 2016.

Denuncie

Viu um carro na ciclovia, na ciclofaixa, em cima da calçada ou da faixa de pedestres? Avise o órgão de trânsito. Na cidade de São Paulo, isso é feito pelo telefone 156. Se a situação é recorrente, deve-se registrar a reclamação pelo Portal 156 ou pelo aplicativo, para que a CET agende fiscalização nos dias e horários indicados. É possível até mandar foto. Saiba mais.

Outras cidades

Cada cidade tem seu órgão ou departamento responsável pelo trânsito. Pode até ser que ainda não se preocupem tanto com os ciclistas e os pedestres, mas a mudança tem que partir de nós. Isso não pode continuar sendo considerado “normal”.

Se ninguém reclamar, o órgão público continua fazendo vista grossa, ou justifica dizendo que ninguém se importa, que faz parte da cultura local, que é só um pequeno incômodo. Mas mesmo que a prefeitura não se mexa, continue reclamando sempre que acontecer e incentive outras pessoas a defenderem também seus direitos. Espalhe a informação, mostre que o órgão de trânsito não atua, denuncie a jornais, publique na internet. Exponha a omissão da prefeitura. Faça uma campanha mostrando que o desrespeito é comum e que a administração municipal nada faz, sendo portanto conivente com o desrespeito às leis e à vida de quem caminha ou pedala. Pressão popular funciona e uma hora o poder público da sua cidade acorda.

Dados completos mês a mês

Seguem abaixo os dados completos dos atendimentos conforme recebidos pela redação do Vá de Bike, com os anos de 2016 e 2017.

Conforme explicamos mais acima, os números listados como “não procede” correspondem a chamados que foram atendidos, mas nos quais a irregularidade não foi mais constatada no momento da chegada do agente de trânsito.

É possível perceber que a quantidade de chamados caiu bastante no último semestre de 2017, o que pode significar tanto um possível aumento no respeito às áreas segregadas (o que achamos pouco provável) quanto talvez um descrédito na eficiência do serviço por parte da população. Os números mostram que acionar a fiscalização dá resultado, portanto devemos usar ainda mais esse recurso.

Viu um carro na ciclovia? Encoste a bicicleta e ligue na hora para o 156.

Fonte: CET

11 comentários em “Carro na ciclovia? Em São Paulo, ligar para a CET funciona

    1. Tinha. Creio que seria a própria CET, e incorre no mesmo problema de carro passando no local, e parando rapidinho. Contudo, foi suspensa essa multa de ciclista pedalando em cima da calçada, e toda a legislação que poderiam multar o ciclista e pedestres. Além disto a CET no 1188 mudou, pois não tem aquele menu inicial, apenas a mensagem que está ligando para CET e aguarde na linha.

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  1. Aproveitando a discussão, creio que em vias onde tem ciclofaixa ocorrem com mais frequência quando a ciclovia ocupa praticamente uma faixa de rolamento, ou seja, tem largura maior que a de um carro, assim fica tranquilo para o motorista parar na ciclofaixa sem atrapalhar os veículos de outra faixa. Se a ciclofaixa for menor que a largura de um carro, o motorista ficará com receio de parar na ciclovia, pois além de atrapalhar a faixa ao lado, pois parte do carro estará saliente e poderá ocasionar acidente; além disto também ficará difícil para o veículo transitar na faixa das bicicletas, pois poderá colidir com o carro ao lado. Para as bicicletas, não será problema, tem espaço suficiente para manobrarem. Com isto, ficará evidente que o motorista estará cometendo infração de transito.

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    1. Faço a comuta diária todos os dias de bicicleta, depois de muitos testes e refinamentos acabo por fazer o percurso quase inteiramente em ciclovias. Pouco do trajeto dispõe de ciclovias apertadas, e onde tem, elas tem aqueles pinos com intervalos de 5 a 10 metros. As ciclovias apertadas no trajeto só ficam em vias de alta velocidade também (onde os carros quase sempre transitam a 50 km/h). Em todas as ciclovias que não tem os pinos há abuso por parte dos motoristas, mesmo com as tartarugas. Já sofri duas enventualidades onde um carro invadiu a ciclovia e fez contato com a minha bicicleta (por sorte sem me machucar). Em ambas as situações os motoristas não haviam reconhecido a presença da ciclovia.

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  2. Funciona principalmente pela placa “Expressamente Proibido Estacionar” que é representado por um “E” com um “X” por cima. Será muito importante quando fizerem o “ASFALTO NOVO” e apagarem a ciclofaixa. Se tiver essa placa, mais a de ciclovia ( símbolo de bicicleta ), é quase certo. Só vai ser difícil enquadrar quando o carro estiver parada por um tempinho. Contudo, se for frequente e muitos motoristas param nesse local, é só ligar antecipadamente para enquadrar estes motoristas.

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    1. Numa avenida do meu bairro que passou por “ASFALTO NOVO” após um mês alguma insistência no SP156 as faixas foram refeitas. Além do CET (1188) é importante usar o 156 e também o SP156 ( que é na internet, acho esse mais prático, ao invés de telefone que tem que esperar e ter paciência com o atendente ).

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    1. É educação, tanto dos ciclistas e motoristas, e também pedestres, ou seja, respeito por coisa pública é algo raro no dia-a-dia deste país.

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