Pedalada Pelada – O que a mídia não mostrou

A imprensa só viu (ou só mostrou) parte do que aconteceu nesse sábado. Vejam abaixo algumas distorções, alguns acertos, várias fotos e alguns vídeos.

Atualizado em 19/03/09, após saber pelo CicloBR que um dos grupos passou por dentro do Parque do Ibirapuera, o que fez o Estadão pensar que a manifestação terminou ali (provavelmente porque o carro da reportagem não pode entrar no Parque e acharam mais fácil dizer que acabou e pronto).

 

Onde erraram

O que publicaramO que eu vi acontecer
“Os manifestantes saíram da praça do ciclista na Avenida Paulista e deveriam ir até o fim da avenida e voltar pelo mesmo caminho, mas seguiram caminho contrário e dispersaram não retornando como previsto.”  

Terra

A manifestação foi até o final da Paulista e de lá tomou outro rumo. Sinceramente não entendi esse “não retornando como previsto” – previsto por quem? Não havia caminho pré-definido, nenhum “roteiro” foi divulgado por ninguém e a massa foi tomando rumo no calor do momento. Muitos eram os gritos de “vamos por ali”, “não, vamos por lá”, “vamos virar nessa rua”. No final da Paulista, os ciclistas resolveram ir até o Monumento às Bandeiras e cada um fez seu caminho. De lá, a manifestação continuou. Depois de passar pelas avenidas Brasil, Rebouças, Faria Lima, Europa e Augusta, a massa voltou à Praça do Ciclista, por volta das 16h30, permanecendo na praça por cerca de uma hora, totalizando mais de três horas de manifestação.
ficaram sem roupa apenas para posar para os fotógrafos que estavam no local” 

“Após a sessão de fotos (…) os manifestantes se vestiram e prosseguiram seminus

Segundo os organizadores, o objetivo da pedalada é chamar a atenção para a “falta de respeito” com os ciclistas na cidade. ”

Folha Online

Não foi bem para isso que ficaram sem roupa. Tanto que tiraram as roupas bem antes dos fotógrafos, cinegrafistas e repórteres chegarem ao local

Os ciclistas prosseguiram seminus sim, mas logo adiante, em meio à massa, muita gente voltou a tirar a roupa, como mostram algumas das fotos deste post (mais abaixo).

Não há “organizadores”. Queria saber quais “organizadores” deram esse depoimento para a Folha… Há um movimento sem líderes que resolve coletivamente realizar algumas ações, essas ações são divulgadas até mesmo pela própria imprensa e quem quiser aparece no dia e local indicados. Durante a Pedalada Pelada teve até votação no meio do caminho para decidir se a massa deveria voltar à Praça do Ciclista a partir daquele ponto ou se deveria tomar outro rumo! Houve momentos em que alguém gritou “por ali” e todo mundo seguiu; em outros, alguém gritou “por aqui” e todo mundo passou reto. Se houvesse organizadores, líderes, guias ou o que quer que seja, o caminho estaria definido e ponto.

Como na Bicicletada, todos tinham voz ativa, todos eram participantes. O World Naked Bike Ride acontece em dezenas de cidades no mundo e não há uma “organização central”, um comitê, um board ou coisa que o valha. A data está ali, cada manifestação tem suas peculiaridades de acordo com a cultura e leis locais e quem quiser que participe… Quem é o organizador do Natal? Quem é o organizador do Dia dos Namorados, do Dia Sem Carro, do Ano Novo, da Critical Mass ou do Dia dos Pais?

Duzentos ciclistas chamaram a atenção para o perigo de andar de bicicleta em São Paulo. Eles pretendiam pedalar na Avenida Paulista sem roupa, mas tiveram que protestar em outro local.”  

“Eles ganharam a simpatia de quem estava a pé, mas deixaram o trânsito bastante complicado nas principais avenidas da Zona Oeste (…) Para os motoristas, não foi naaada divertido.”

Globo, quem mais? (em vídeo)

Não foram duzentos ciclistas. Quem estava lá sabe que foram no mínimo 500 (e há quem acredite ter visto 800). 

E CLARO que a Globo ia falar que andar de bicicleta em São Paulo é um perigo. Não era esse o objetivo da manifestação, como outros órgãos de imprensa, um pouco menos preocupados com os anunciantes da indústria automobilística, comunicaram.

Os ciclistas não “tiveram” que protestar em outro local. Optaram por fazê-lo. Decidiram sair da Paulista. Por mais que uma manifestação de ciclistas tenha sido um sucesso, a Globo sempre dá um jeito de mostrá-la como derrota.

“Ganharam a simpatia de quem estava a pé”, mas “complicaram o trânsito”. Em outras palavras, o que a Globo diz é que quem estava a pé achou legal, mas os motoristas é que importam. É céus, eles tiveram que usar a rua do lado! Qual teria sido o índice de congestionamento daquela tarde de sábado? E vamos imaginar que aqueles 500 ciclistas estivessem em 400 carros: tente colocar 400 carros na R. Augusta e você descobrirá que eles não cabem lá.

Aliás, na mesma R. Augusta, um caminhão de bombeiros precisava passar. Com a agilidade e a maleabilidade que só uma massa de bicicletas consegue ter, abriu-se espaço para o carro de bombeiros como se Moisés abrisse o Mar Vermelho. Se em vez de 500 bicicletas subindo calmamente a R. Augusta os bombeiros tivessem encontrado 50 carros, teriam demorado muito, mas MUITO mais para passar por eles. Quem atrapalha o trânsito mesmo?

Todos os dias, quando saio do trabalho, encontro milhares de carros parados na minha frente, ocupando toda a rua e atrapalhando meu trânsito. Na próxima vez, vou ligar para a Globo para avisar.

Não sei porque ainda dou atenção para a Globo e para a Veja…

“Segundo a PM, cerca de 150 pessoas participaram do evento, que começou por volta do meio-dia, no cruzamento da Av. Paulista com a Rua da Consolação, região central da cidade. Às 14 horas o grupo saiu em conjunto pela pista sentido Paraíso, de onde pedalou até o Parque do Ibirapuera.” 

Apenas nos momentos finais da pedalada, já na Monumento às Bandeiras (e mais longe do público), no Ibirapuera, alguns ciclistas se aventuraram a ficar completamente sem roupa.”

Estadão

De onde tiraram tanta bobagem pra escrever nessa matéria? Quem estava lá, ou mesmo quem viu a massa passar, sabe que eram muito mais que 150 ciclistas

O cruzamento em questão tem nome: Praça do Ciclista.

As pessoas que participaram do evento não pedalaram “até o Parque do Ibirapuera”. Ninguém entrou no Parque Um dos grupos até passou por dentro do Parque, mas a manifestação não parou por ali: as pessoas foram até o monumento, ficaram ali por algum tempo, depois saíram pela Av. Brasil e ainda pedalaram pelas ruas da cidade por mais de uma hora, levando a manifestação às avenidas Rebouças, Faria Lima, Europa e Rua Augusta.

Os momentos finais da pedalada não foram no Monumento às Bandeiras. Pelo que pude acompanhar, naquele momento a manifestação ainda estava na metade. E dali em diante, havia muitos nus em meio à massa (veja fotos mais abaixo).

“Os manifestantes se concentraram entre as 12h e 14h na Avenida Paulista, altura da Rua da Consolação.” 

“Por volta das 16h, um grupo de cerca de 100 ciclistas subia a Avenida Europa, na região dos Jardins, em direção à Avenida Paulista.”

” ‘Aqui não é Sambódromo. Não estamos no carnaval. Se alguém mostrar o bumbum, pode se detido’, disse [o Major da PM José Antônio Senaubar]”

G1

O espaço citado se chama Praça do Ciclista. Apesar de ser o único veículo comentando a passagem pela Avenida Europa, erraram feio no número. Quem estava lá sabe que havia muito mais ciclistas que isso. Por mais que parte dos manifestantes tivesse se dispersado pelo caminho, ainda restavam ali pelo menos uns 400. Tanto que a R. Augusta ficou tomada de ponta a ponta, quem estava ainda lá no trecho plano do final conseguia ver ciclistas já lá no topo, chegando na Paulista. Tinha MUITA gente. 

Sobre a declaração do Major, gostaria de entender em que lugar do art. 233 está a exceção que permite mostrar o “bumbum” apenas no carnaval. Essa exceção na lei provavelmente permite também um close de baixo para cima em uma bunda rebolando de forma sensual, em rede nacional, pois isso não é ato obsceno. Talvez por ter um fiozinho cobrindo a divisão entre as nádegas?

Pra mim, obsceno é isso aqui.

 

Onde acertaram

“… [manifestação] cujo objetivo é chamar atenção para a poluição provocada pelos veículos e a falta de estrutura para a locomoção de bicicletas nas grandes cidades. O grupo luta pelo respeito do espaço de 1,5 m entre carros e bicicletas.” – TerraAcertaram nos objetivos da manifestação e, surpreendentemente, lembraram do 1,5m. Ótimo, é difícil ver essa informação na imprensa.
“[o evento] terminou por volta das 17h30” – Folha OnlineSim, foi por volta desse horário que as pessoas que tinham voltado à Praça do Ciclista se dispersaram.
Último Segundo – com vídeoEssa matéria acertou em quase tudo, principalmente no tom, mas sou suspeito pra falar… 🙂
“Os manifestantes saíram da praça do ciclista na Avenida Paulista” – TerraUau, acertaram o nome do lugar! É difícil ver a imprensa tradicional dar o nome certo daquele espaço. Praça do Ciclista é seu nome oficial e já faz alguns anos. Só falta a Sub-Prefeitura da Sé colocar a placa!
“Segundo a PM, porém, não houve registro de incidentes, nem de prisões.” – EstadãoCorreto, não houve incidentes e muito menos prisões. A PM estava na marcação dos ciclistas para impedir que tirassem a roupa, mas não houve agressões, nem discussões acaloradas. Um ou outro motorista tentou furar a massa com o carro, sem se preocupar muito com a integridade das centenas de pessoas que lá estvam, mas as situações que presenciei foram todas muito bem contornadas pelos ciclistas, com sorrisos, brincadeiras ou mesmo explicações mais sérias mas sem irritação, desarmando o espírito agressivo dos motoristas. 

Pode parecer bobagem confirmar que essa declaração corresponde à realidade, mas já houve manifestações onde a imprensa divulgou dezenas de prisões quando na realidade não havia ocorrido nenhuma.

“O objetivo do protesto é chamar a atenção para o espaço reservado aos ciclistas no trânsito de São Paulo, além de tentar incentivar os paulistanos a usar um meio alternativo para se locomover.” – G1Diferente da reportagem veiculada na TV do mesmo grupo, o G1 conseguiu explicar um pouco melhor o objetivo da manifestação.

 

Compare com a mídia

Aproveitando a idéia (e alguns posts) do twitter do luddista, relaciono aqui algumas outras fontes além da mídia “oficial”, para você comparar com o que andam enfiando goela abaixo das pessoas na internet, tv e jornais:

Nus Pela Terra 

Feliz Cidade Feliz

Blog de Ecologia Urbana

CicloBR

Different Thinker

 

Fotos

Abelha ou lombada? Praça do Ciclista Praça do Ciclista Praça do Ciclista Topless triplo A manifestação, com a Paulista ao fundo Sua pressa vale uma vida? Lá vem a massa! Saiu do banho e veio pra avenida Muita gente na Paulista Nádegas a declarar William Wallace, lutando pela liberdade das bicicletas Obsceno? Aos poucos, os manifestantes iam se despindo Teve quem optasse pela alegoria Chegando no Monumento às Bandeiras No Monumento às Bandeiras Quem falou que ninguém tirou a roupa? Descendo a Rebouças Descendo a Rebouças Av. Europa, a maior concentração de lojas de carros importados da cidade. Tem um pelado bem no meio da foto. WNBR 2009 - De volta à Praça do Ciclista  De volta à Praça do Ciclista De volta à Praça do Ciclista De volta à Praça do Ciclista, bicicletas ao ar Até a frutaria que não aceita clientes sem camisa abriu uma exceção nesse dia (veja o cartaz à direita da foto)

 

Videos

12 comentários em “Pedalada Pelada – O que a mídia não mostrou

  1. Eio quis dizer goste e tambem poasaria sem ropa
    Is e muito bom nos semos da natureza poriso
    Que

    Oinportante e esta com saude o resto e resto

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    1. André, creio que éramos azedos porque só levávamos porrada (literalmente, inclusive), não éramos levados a sério, éramos taxados de loucos e só faltavam dizer que vivíamos em outro planeta. Ação e reação. Hoje ainda tem quem pense assim, mas são cada vez menos.

      Ou porque, nesse meio tempo, descobrimos que paz e amor traz melhor resultado! 🙂

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  2. @JP Amaral: eu fotografei uma pessoa com a frase “a mídia mente” nas costas. Na próxima WNBR, pode deixar que não vou esquecer de pintar “a gente mente por aqui” embaixo de um símbolo esférico de metal polido com um buraco retangular multicolorido e outra esfera polida no meio.

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  3. Willian, acho que é de um Ombudsman como você que as nossas redaçãoes precisam, hein?!
    O que me parece é que temos uma mídia sensacionalista e preguiçosa. Se tivessem bons repórteres, eles estariam lá de bicicleta e acompanhariam a massa até o fim – aí, creio eu, as coisas fariam mais sentindo e eles não ficariam distorcendo as coisas só porque resolveram nos esperar na Praça do Ciclista, achando que voltaríamos dalí a 10 minutos para eles terminarem a apuração superficial deles.

    Detesto esse olhar de fora, mas muuuuito de fora. Que de tão distante, não consegue enxergar é nada. Vira tudo dedução e nada de apuração!

    Gostei muito desse seu post! Um verdadeiro “olhar de dentro”!

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  4. Muito bom post! Farei o link no blog do Ecologia Urbana.
    É esse tipo de distorções que devem sempre ser passados para a população.
    Queria ter feito a seguinte frase no meu corpo mas não tinha mais espaço:
    “(Símbolo da Globo) Sorria,
    Você está sendo manipulado!”

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  5. Uhuuu!
    Que bom! Chegaram as informações confiáveis sobre o WNBR! Eu não tava acreditando no que dizia a imprensa; tava quase desanimado (se não vos conhecesse!).

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