Durante a "Pedalada Pelada" de São Paulo, mensagens pelo corpo pediam o fim do assédio. Foto: Santiago Luz

Assédio a ciclistas também faz vítimas nas ruas

Conheça a história de Vivian, que foi atropelada propositalmente por um motorista que a assediava, e saiba como a sociedade ainda tolera um comportamento que influencia diretamente no direito à cidade.

Ciclista em Curitiba. Foto: Aline Cavalcante

Recebemos algum tempo atrás na lista de e-mails das Pedalinas – Coletivo Feminino de Ciclistas de São Paulo – mais um relato triste e repugnante sobre um problema que afeta muitas mulheres, tem consequências avassaladoras e que, infelizmente, não conseguimos discuti-lo com a seriedade e responsabilidade que merece:  o assédio.

Você sabia que existem pessoas (entre homens e mulheres) que têm receio de encarar a cidade (seja a pé ou de bicicleta) pelo simples medo de serem assediados? De terem seus espaços invadidos com uma piadinha, gesto e até contato físico?

Pode parecer bobagem ou exagero, mas esse assunto é sério e exige reflexão constante. E talvez seja um dos temas mais difíceis e complexos de se discutir, exatamente em função de sua aceitação e tolerância social.

Nesses alguns anos pedalando e conversando com muitas mulheres, arrisco dizer que o assédio é – de longe – uma das principais reclamações e motivos de desestímulo das meninas. A quantidade de histórias que ouvimos e recebemos na internet chega a ser desanimadora.

Leia no blog das Pedalinas alguns posts interessantes sobre o assunto,
entre eles o “vai coisa gostosa” e toda a discussão nos comentários

Atropelamento proposital

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Preconceito contra ciclistas

Pedalando nas ruas de forma segura

Documentário mostra a relação de
ciclistas com a cidade São Paulo

Escolhi hoje contar para vocês o que aconteceu com a Pedalina Vivian Souza. Ela é mãe, animada e bastante persistente por nunca ter desistido de andar de bicicleta. “Em 2010, quando eu estava pra desistir de usar a bike como meio de transporte em sampa, você disse em um dos encontros das Pedalinas que nós tínhamos que fazer a nossa parte pedalando, porque os motoristas só passariam a respeitar mais os ciclistas conforme fossem se acostumando conosco no dia-a-dia, e para isso era preciso continuar”, contou Vivian em uma das nossas trocas de e-mails.

A história a seguir é relatada com as palavras da própria Vivian que me autorizou a publicá-la na íntegra. Ela sofreu uma tentativa de assassinato, sendo atropelada propositalmente e tendo sérios ferimentos, por ter – pasmem! – reagido negativamente a um assédio na rua.

Com grifos meus:

Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2012

Vivian e sua fixa. Foto: Acervo pessoal

Olá meninas!

Há tempos tenho tido saudades dos assuntos femininos ou não, q eram muito debatidos nesta lista, na maioria das vezes eu ficava nesta lista como espectadora, mas sempre filtrando e aproveitando muito. Hj em especial procurei e-mails antigos da lista sobre uso do capacete, que roupa usar para pedalar e o olhar masculino (machista) sobre a mulher andando de bicicleta. Como algumas de vcs devem saber eu fui atropelada na 2ª feira, e o fato de ter sido atropelada me faz nessa situação uma vítima!

Tenho recebido muitas felicitações por estar viva e que bom que estou me recuperando, mas desde antes do atropelamento até agora tenho ouvido muitos comentários machistas e maldosos, o que me deixa revoltada, tenho ouvido muitas críticas em um momento no qual eu esperava mais apoio e menos julgamento. Para quem me julga, eu não sou a vítima do atropelamento e sim a culpada, isto pq não pude ouvir calada uma gracinha soltada em alto tom pelo monstro que me atropelou. Dizem que se eu saí para pedalar de shorts curto eu já deveria estar preparada para ouvir asneiras na rua, e o fato de eu ter dado uma resposta ao motorista eu estava provocando e o induzindo a fazer o q fez.

Fico indignada com homens e ate mesmo mulheres que pensam dessa forma. Há momentos que fico sem argumentos, e simplesmente deixo essas pessoas falando sozinhas, pois acho q nao valerá discutir sobre! Quer dizer então que eu não tenho a liberdade de usar a roupa que eu quiser?!? Eu estou agredindo alguém usando um shorts curto em plena primavera quase verão, onde as altas temperaturas nos convidam a usar roupas mais curtas e mais confortáveis??

Me sinto como muitas vezes li nos e-mails da lista, como um pedaço de carne pendurada no açougue…Infelizmente, vivemos todas numa sociedade que não é livre. Homens e mulheres são reféns da violência, do vício, do fanatismo, da politicagem e da exploração. Mas o fato é que as mulheres sempre sofreram e ainda sofrem bem mais que os homens. Dizem que eu nao posso dar a minha vida, a minha cara a tapa para mudar o mundo! Se alguém souber me diga o q eu posso fazer, pq eu sei que o nosso mundo machista apesar de estar bem menos machista do que já foi ainda esta bem longe de ser uma igualdade entre sexos. Eu quero um mundo mais humano, mais igual!

Vivian Souza

De vítima para culpada

Primeiramente gostaria de agradecer à Vivian por permitir compartilhar a sua história aqui no Vá de Bike. Sinta-se abraçada por todos nós. Mais uma vez vou te falar o que já disse lá em 2010: NÃO DESISTA NUNCA! Pessoas como você fazem toda diferença no mundo e não podem se calar nem intimidar jamais. Força e conte com a gente!

De todos os relatos que eu já ouvi sobre assédio, esse foi um dos que mais me chocou porque, enfim, foi realizada uma tentativa de assassinato proposital. O motivo? Ela não ter silenciado, como muitas mulheres fazem, e ter respondido a uma abordagem invasiva e desrespeitosa.

“Acho que o que mais me abalou nessa situação toda foi a crítica recebida de quem eu realmente não esperava, algumas pessoas do meu convívio virem me dizer que eu, de certo modo, provoquei o verme que me atropelou. Isso me deixou muito indignada”.

Esse tipo de ocorrência é, infelizmente, bastante comum e atinge não só as mulheres que usam bicicleta, mas também as que andam a pé e até as que dirigem – mesmo sabendo que o carro muitas vezes tem justamente o papel de isolar e dar a falsa sensação de proteção para as pessoas. As respostas que vieram na sequência do e-mail da Vivian são a prova concreta disso, praticamente  todas de meninas que já sofreram algum tipo de abordagem incômoda da qual não reagiram por medo de represália.

 

Durante a "Pedalada Pelada" de São Paulo, mensagens pelo corpo pediam o fim do assédio. Foto: Santiago Luz

Assédio ou Elogio?

Ilustração: Valdinei Calvento (Cabelo).

Sempre, SEMPRE que abordamos esse tema em qualquer roda de discussão, a conversa cai num ponto bastante delicado, normalmente questionado por homens: como diferenciar o que é assédio de uma simples paquera, elogio, contemplação ou até mesmo uma brincadeira (ainda que de mau gosto)?

Essa pergunta é bem difícil e não tem uma resposta muito clara (me ajudem a respondê-la nos comentários deste post). Particularmente, costumo responder essa questão com uma outra: o que você acharia se a mesma abordagem, palavras ou gestos fossem feitos ou ditos para alguém que você ama (sua mãe, irmã, namorada, amiga)? Como você reagiria se visse/ouvisse alguém fazendo a mesma coisa com elas? A resposta dessas perguntas parece ser um bom começo para tentar achar uma saída ao questionamento inicial.

Claro que é possível – e bastante saudável – que as pessoas interajam nas ruas. Inclusive porque essa é uma das melhores características da bicicleta, ao ‘expor’ e mostrar quem pedala sem filtros, como sendo alguém normal, de carne e osso, permitindo ver (e comentar) sobre sua roupa, postura, cor dos olhos, corte de cabelo.

Em geral, gostamos de elogios, de sermos reparados e até paquerados. Essas interações sociais humanizam as relações, criam vínculos e pacificam as ruas tão frias, hostis, impessoais e violentas das cidades, na medida em que se passa a enxergar no outro alguém como você.

Pelo direito de sermos livres. Foto: Arquivo Pessoal

A diferença entre as abordagens está justamente no tom e intenção que ela é proposta. O mesmo “bom dia” pode ter insinuações bastante distintas, assim como as suas respostas. A relação se estabelece a partir dessas “reações” que vão sendo construídas no processo, sejam elas faladas ou não. Ou seja, o limite de um acaba quando começa o do outro. Se a pessoa não se mostrar interesse no comentário, elogio, olhar, palavra e até na piada, dificilmente se estabelece alguma relação saudável a partir daí.

Mas esse tal limite e bom senso são sempre uma variável bastante pessoal, intangível e ligadas à questões histórico-culturais-educacionais, inclusive quando se fala nas atitudes das mulheres.

A postura delas diante da sociedade também é um terreno bastante complexo, visto que na mesma medida que conquistamos o direito de simplesmente fazer o que quiser com os nossos próprios corpos (usando burca ou biquíni, guardadas as devidas questões religiosas e culturais), nos tornamos também as principais responsáveis pelas atitudes dos outros sobre nós mesmas. Ou seja, se uma mulher que aparece seminua em um programa de TV, rebolando e fazendo o uso comercial do seu corpo, ela passa a ser fatalmente a responsável por tudo que acontece a partir disso, desde propostas de emprego até assédios e agressões.

Pelo direito de pedalar em paz. Foto: Acervo pessoal

Vítima ou Culpada?

No caso da Vivian, por exemplo, dizer que ela provocou a reação do seu agressor por pedalar com um short curto em pleno verão de 40 graus de um país com clima tropical é algo que beira a estupidez. O mesmo país que sabe apreciar as belezas do nu durante o carnaval, vendendo-as e sendo internacionalmente conhecido por elas, é também claramente mal resolvido com a questão do corpo. Nele, as mulheres ainda são culpadas pelo próprio estupro, porque “provocaram” a reação primata de seres incontroláveis que não sabem lidar com seus próprios hormônios.

Se existem alguns cuidados que nós, mulheres, precisamos tomar enquanto andamos na rua, é sinal de que não somos livres o suficiente para fazer as nossas vontades, por que alguém ainda tem o poder de cercear qualquer direito.

É mais ou menos o tipo de sensibilidade que precisamos ter quando vamos passar pela cracolândia ou no minhocão de madrugada: ninguém pode te impedir, mas é preciso avaliar os riscos. Só que em vez do viciado, craqueiro, “nóia” querendo dinheiro pra manter o vício, temos que lidar com pessoas invadindo nossos corpos e ouvidos, tomando para si uma liberdade que não lhe foi concedida, mas que por convenção social nos acostumamos a achar corriqueiro e comum.

Vamos discutir esse assunto?

A história da Vivian é só um dos exemplos utilizados para ilustrar os sintomas de um problema muito grave e que atinge milhares de pessoas diariamente. A intenção é continuar discutindo e trazendo para cá outros olhares sobre a mesma questão. Se você já passou por situação parecida, conte aqui nos comentários, ainda que de forma anônima.

Enquanto o assédio ainda for tratado sem seriedade entre homens e mulheres, muito menos pessoas deixarão de usufruir as ruas e o espaço público. A “segurança no trânsito” que tanto pedimos passa também pelo respeito e cuidado que temos pelo outro.

52 comentários em “Assédio a ciclistas também faz vítimas nas ruas

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  2. Muito bom o texto Aline e espero realmente que isso não aconteça de novo com a Vivian, de bicicleta, a pé, de carro ou em qualquer outro lugar. Fico feliz quando vejo mulheres pedalando na rua, pois dá uma sensação de segurança e tranquilidade bem grande. Tomara que ela continue nas suas pedaladas pois, afinal, isso aconteceu de bike, mas poderia ter sido com qualquer outro meio, em qualquer outra situação.

    Em relação ao último box azul, tente colocar nas imagens do google “qualquer objeto” e mulheres. Infelizmente, o que vai aparecer é bem parecido do que aparece com a palavra bicleta.

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  3. Fico muito feliz em ver cada vez mais veículos abordando o problema do assédio nas ruas, já que ele é sim uma forma de violência contra a mulher e precisa ser discutido. Muitas vezes já deixei de sair de bicicleta por estar muito calor e eu ter medo de sair de shorts para pedalar, o que é um absurdo, tenho tanto direito quanto um homem de poder mostrar minhas pernas.
    Pensar que o assédio é uma forma de “elogio” é um pensamento muito ingênuo e, infelizmente, muito comum. O mais triste de tudo é que para o homem perceber que não é elogio, precisa pensar como seria caso fizessem com a irmã deles ou coisa parecida, ao invés de pensar como seria se fizessem com ele. Uma coisa é um estranho chegar para você com um sorriso, pedir desculpas por estar te abordando e te falar que achou bonita (e olha que isso eu já acho invasão de espaço pessoal, mas essa é a minha opinião pessoal, não são todas as pessoas que se sentem assim), outra coisa é um homem te chamando de gostosa no meio da rua, te humilhando com as palavras dele e fazendo você sentir medo pela sua segurança. Não entendo como no mundo alguém pode achar isso um elogio, ao invés de entender o que realmente é: o reflexo de uma sociedade que trata mulheres como sub-humanos, seres que podem simplesmente ser abordado ao bel-prazer masculino e que não precisam ser respeitadas. A necessidade de me respeitar como ser humano precisa ser maior do que a de me fazer um “elogio”.

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  4. Nossa, achei muito conveniente o assunto abordado acima, pra começar, vivian, não desistA!!! PRecisamos de você, precisamos de mais mulheres pedalando!!!
    E segundo, eu acabo de voltar de um rolê na ciclovia da marginal com uma amiga, fomos as duas até jurubatuba pedalando e dois homens, com uniforme de pedal e tudo o mais, passaram por nós, mexendo e fazendo piadinha, dizendo que se quisessem no pegar, era fácil, pois eles eram fortes e mais ágeis, que lugar de mulher com shortinho era na praia, e de fato, estava com um short mais curto, poxa, tá maior sol, embora estivesse de camiseta, não queria ficar com aquela marcona na perna, que já adquiri por pedalar dentro da cidade. Ficamos assustadas, já que lá é bem vazio. Ignoramos e eles pararam, porém, fica aquela sensação. Eu tento nunca ir pedalar na marginal sozinha, pois vejo que alguns homens olham de forma desrespeitosa mesmo, com malícia. Quand cheguei em casa fiquei pensando, mas que saco né?! Sò quero pedalar, em paz… batendo papo com minha amiga, enfim… e tenh que ficar apreensiva com esse tipo de abordagem… o que fazer? Onde reclamar? COm quem? E esse assunto apareceu no facebook e pelo menos sei que não acontece só comigo e quem sabe, com mais mulheres na rua, pedalando, usando a roupa que quiser, exercendo seu direito de ir e vir, vamos conseguir nos tranquilizar com relaçaõ a isso.

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  5. Realmente é um ponto delicado . Insulto ou elogio ? respondendo uma questão . Caso fossem dirigidos “elogios” a minha esposa ou mãe , tipo “Seu irmão (eu) mais velho?” , sentiria como um elogio aos cuidados que minha esposa tem por si mesma , realmente apesar de ser mais jovem que ela , aparento ser bem mais velho. Outra coisa é “Coroa , tem uma b… muito gostosa!” , ou tocar , realmente perderia a paciência com esta grosseria. O ponto é : Existem elogios , e digo elogios , pois cantada é cafagestagem ! Afinal , se uma mulher , homem ,qualquer orientação , é bela e se faz mais bela , deseja ser notada e elogiada , nunca atacada . Por fim , o limite entre “Elogio , respeito,educação,cantada,…” as vezes é muito delicado , muitas vezes me senti constrangido para pedir livros nos ônibus , ceder lugar , elogiar um belo rosto , um cabelo, uma roupa , a maioria toma (a não ser que tenha igual interesse) a maioria das iniciativas como “potencial agressão”. No mais , espero não ter um comportamento desrespeitoso para com as companheiras , e dizer a Vivian que espero que tudo esteja bem com vc , e que o marginal venha a ser punido devidamente.

    Polêmico. O que acha? Thumb up 4 Thumb down 4

    1. O limite entre elogio e cantada é bem fácil de estabelecer: você o teceria a um homem desconhecido igualmente lindo/bem vestido sem medo de ser mal interpretado? Cederia seu lugar? Não? Então é cantada.

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  6. Vivian, sinto muito que vc tenha tido que passar por isso, tomara Deus que vc se recupere tanto fisicamente como seu psicologico que com certeza foi abalado, nao da pra engolir esse tipo de situaçao, nós podemos nao ter filha, esposa, mas uma coisa todos tem, MAE, entao e inadmissivel que esse tipo de comportamento aconteça, pior ainda sao pessoas proximas a nós que temos carinho, que ao invez de nos apoiar num momento dificil, ainda tentam nos acusar e humilhar nao nos apoiando em uma situação tao delicada quanto essa.

    Vivian, sou um simples Cidadão, mas se precisar de apoio e o que mais for, conte comigo, pq vc foi VITIMA e nao a AUTORA do problema. Abços e FIque com Deus.

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  7. Max Gehringer disse um coisa muito interessante em uma palestra que deu aqui em Santos:

    – É bem simples, não precisa de manual de conduta para empresa sobre assédio. A mulher SABE quando está sendo assedia e portanto criar mais manuais é só complicar (coisa de americano). Muito melhor é fazer uma reunião entre as mulheres para decidir o que pode do que não pode….

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  8. Olá pessoas, Parabens pelo post e por publicar a história corajosa da Vivian. O problema principal reside na absoluta falta de ética, moral e educação de vivência em comunidade. O principio fundamental da ética é trate o outro, como gostaria de ser tratado. Dei aula muitos anos e sempre tive problemas de alunos insistentemente assediarem alunas. Fiz discursos e mais discursos sobre o assunto, sem muito resultado. Uma vez, tive um aluno realmente impossível. Assediava até as meninas que eram de outra classe, de forma muito assintosa. Ameacei puní-lo, sem resultados. Um dia, um aluno, assumidamente homossexual, fez um “fio-fio” para ele, quando ele se levantou. Ele ficou tão sem graça, tão sem graça. O outro garoto então gritou de seu canto – “Viu agora, como é bom?”. Como diria o velho ditado – “Pimenta nos olhos dos outros…”. Por outro lado, um dia eu estava fotografando um evento de ciclismo aqui na cidade e uma moça vinha em minha direção e comecei a fotografá-la. Ela ficou muito brava, mas muito brava mesmo. Queria saber o que eu pretendia fazer com aquelas fotos e saiu muito nervosa. Eu não sabia, mas ela não fazia parte do evento e não sabia quem eu era e achou que se tratava de um maluco com algum fetiche por fotos. E o bobão aqui, que achava que ela participava do evento e sabia quem eu era, tirou uma foto do pé dela no pedal (a foto ficou ótima, mas nunca será publicada por falta de autorização). “Tem um louco aqui querendo fotografar meu pé” dizia ela no telefone, enquanto ia embora. Não pude exclarecer o mal-entendido. É a vida.

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      1. Queridão, o seu fiu-fiu “inofensivo” é MANIFESTAÇÃO DE PODER, ok? Não é para mexer com mulher na rua. Não é para chamar, comentar, gritar ou assobiar. É para ficar quieto, e guardar para si as opiniões sobre o corpo alheio. Qualquer manifestação masculina a respeito de corpo de mulher que anda na rua dá MEDO, até o seu fiu-fiuzinho. Vamos ser mais civilizados, tá?

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      2. Seu fi-fiu inofencivo na alemanha renderia alguns meses na cadeia, pq a regra é simples, lá temos que ser respeitosos quando nos dirigimos a alguém.

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  9. Parabens pela coragem da Vivian em não se calar diante da barbaridade e permitir que sua história fosse compartilhada. Parabens ao Vá de Bike mais uma vez por estimular uma discussão tão importante.
    Vale lembrar que, infelizmente, vivemos sim num mundo machista e covarde. Apesar de admirar a coragem da Vivian, sabemos do risco que homens, mulheres, crianças e idosos correm ao reagir a abordagens estúpidas como essa. Não queremos perder mais uma ciclista, muito menos nessas condições, por isso, todo cuidado é pouco. Não acho que ninguém deve se calar diante do absurdo, mas devemos lembrar que esse tipo de situação não se limita ao universo das ruas, do trânsito, das bikes. Esse é apenas mais um cenário onde se reproduzem os vícios sociais, o comportamento adquirido, a babaquice extrema. A solução não passa apenas por medidas sócio-educativas ou punitivas relativas ao trânsito, e sim dessas medidas aplicadas a todas as esferas públicas e sociais. Precisamos, mais do que nunca, de um comportamento exemplar por parte dos homens da nossa sociedade, e, com toda a certeza, da ação corajosa e destemida das mulheres que conseguirem reunir forças para combater, inclusive judicialmente, essa mediocridade. Nossa força sempre esteve no coletivo, só poderemos melhorar isso juntos!

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  10. A inversão de culpa é uma das idiotices mais comuns nessa sociedade doente, principalmente con o ciclista (ah, claro que você não deveria pedalar na Paulista). Uma babaquice sem tamanho.
    Ótimo texto Aline, parabéns.

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  11. Deixa eu ver se entendi: o sujeito assediou a moça, que reagiu negativamente, tenta atropela-la e ainda tem homem botando a culpa na Vivan pq estava com uma roupa mais curta? É isso mesmo? Cara é nessas horas que sinto vergonha de ser homem viu… é o comportamento mais primitivo que pode ter! E ainda a culparam por isso! Seria como se eu estivesse passeando com um Rolex, fosse assaltado e na hora de fazer o BO o policial me diz: “Ah mas também quem mandou o senhor comprar um relógio tão caro?” Pqp kra! Bicho que absurdo, mas isso é coisa de homem frustrado, alias nem pode ser chamado de homem e sim de completo imbecil! Atacar uma mulher só pq ela não aceitou seu “elogio”. E mais outra, se for pra paquerar alguém que seja de forma correta, e não chamando na base do “psiu neném” que isso é coisa de macho frustrado.

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  12. Oi, pessoal. Este é um tema que deveria ser debatido em todos os sites sobre bike, deveria até ter campanha no facebook para “educar” estes idiotas que nos assediam na rua. Vou contar um caso que aconteceu comigo, há exatamente um ano atrás: Eu estava indo com meu sobrinho de seis anos para a Lagoa da Pampulha, aqui perto de casa em BH. Era uma manhã de sol, pleno janeiro, calorão. Eu estava de short e camiseta. No caminho, parei para tirar a camiseta e ficar só de top, pois estava suando muito. Eis que surge um babaca de carro que começa a andar devagar, até parar. Ele disse alguma coisa que não ouvi enquanto tirava a camiseta. Aí eu fui arrancar com pressa e medo dele. Pus força no guidão, me desequilibrei e caí. Me machuquei um bocado. E o pior: o próprio babaca “me socorreu”. Fiquei com uma mistura de raiva, dor, vergonha, vontade de chorar. Foi horrível. E ainda tive que voltar pra casa toda esfolada com a bike empenada e o sobrinho triste. Foi a minha única queda no ano passado, no qual pedalava praticamente todo dia. Eu sofro muito assédio durante minhas pedaladas. A maioria não me incomoda, pois nem presto atenção. Mas detesto quando o veículo vem e de repente dá uma buzinada em cima de mim. Eu me assusto e quase sempre desequilibro, tentando jogar a bike para a calçada por medo de o carro me pegar. Os homens deveriam respeitar mais as mulheres e serem gentis e educados para demonstrar que estão admirando uma mulher. Buzinadas, piadas, cantadas toscas e assovios são desagradáveis e de mau gosto. Parabéns ao Vá de Bike por discutir este tema.

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  13. Sobre situações, eu já fui vítima dentro do ônibus e não estava com nenhuma roupa chamativa nem nada, mesmo porque estava voltando da faculdade. Estava sentada no banco do corredor, lendo um livro, quando um homem (de uns 50 anos) fica de pé ao meu lado… Até aí tudo bem, o onibus não tinha mais lugar, mas tb não estava lotado. Continuei lendo meu livro, quando sinto ele tentando se esfregar na minha mão. Olhei pra ver se era só paronóia feminina, se não tinha alguém atrás querendo passar, mas não. O cara tava me olhando com cara de fdp mesmo! Como sou muito bocuda, logo gritei bem alto pra TODO mundo ouvir: “Meu! Vc tá se esfregando em mim seu verme!? Vc tá tentando se esfregar em mim?!”. Daí lógico, como todo tarado, ele falou que não que era pra eu calar a boca e deixar de ser paranóica, mas vieram dois caras pra cima dele, o cobrador fez o motorista parar o onibus em plena 23 de maio e os caras jogaram esse idiota na rua.

    Outra situação, mais grotesca ainda, foi com a minha melhor amiga que estava no ponto de ônibus quando um cara passou correndo e apertou o peito dela e continuou correndo. Ela ficou completamente sem ação.

    Mas tudo isso, é pq vivemos num país onde a educação é menosprezada e o que passa na mídia, vende esse tipo de comportamento!

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  14. Como mulher e que anda de bike, digo que é extremamente desagradável ser assediada. Mas confesso que me sinto com menos medo na bike do que a pé. Acho que é porque já presenciei e fui vitima, e de bike nunca aconteceu nada mais grave a não ser “fiu fius” e outras frases.
    Fora que essa coisa de assédio não é SÓ na bike ou a pé… É no onibus, metrô, trem, até mesmo quando estamos dirigindo! Sempre tem aquele retardado (desculpe mas não achei definição melhor) que fica fazendo gracinha, soltando palavras que para nós mulheres, se tornam ofensivas…
    Esse é um dos motivos porque eu, quando estou a pé/onibus/metro uso fones de ouvido no máximo. Prefiro ignorar, mas no fundo no fundo queria esse infeliz caísse debaixo de um onibus.
    Isso só vai mudar quando houver punição, mudança na cultura e o mais importante: EDUCAÇÃO!

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