Ciclistas treinam na "bolinha" da USP, em São Paulo. Foto: Marcos Santos - USP Imagens (cc)

Anúncio de ciclovia na USP gera receio de aumento nos conflitos

Ainda em fase de planejamento, ciclovia já divide opiniões sobre sua efetividade dentro do campus, muito utilizado para treinos de ciclismo.

Necessidade de criar pelotões para o treino de vácuo é incompatível com a estrutura de uma ciclovia. Foto: Marcos Santos - USP Imagens (cc)
Necessidade de criar pelotões para o treino de vácuo é incompatível com a estrutura de uma ciclovia. Foto: Marcos Santos/USP Imagens (cc)
Gustavo Pacheco, que treina no campus, acha positiva a construção da ciclovia na USP pois, segundo ele, a estrutura dará mais visibilidade ao ciclista. Foto: Arquivo pessoal
Gustavo Pacheco, que treina no campus, acha positiva a construção da ciclovia, mas alerta que pelotões não cabem na estrutura. Foto: Arquivo pessoal

A Universidade de São Paulo (USP), na zona oeste da capital paulista, estuda a criação de uma ciclovia no campus Butantã. Segundo a administração do local, o projeto ainda está sendo realizado em detalhes, com a elaboração de um plano cicloviário. As vias da Cidade Universitária serão avaliadas para verificar a viabilidade de implementação de acordo com as áreas. Por ainda estar em fase de planejamento, não há informações sobre traçado, custos, ou prazos de construção.

Cerca de 100 mil pessoas frequentam a maior instituição de ensino do Brasil. Ao mesmo tempo, outras milhares cortam a Cidade Universitária de carro para fugir dos congestionamentos da região. O local também é usado por atletas profissionais e amadores para treinamento de ciclismo de estrada e de pista, uma vez que não há velódromos ou espaços para treinamento na cidade.

Entre os que ali treinam, há a preocupação de, que com a construção da ciclovia, os atletas sejam obrigados a utilizar a área segregada, o que inviabilizaria qualquer tipo de treino. Estudante da USP desde 2007 e há cinco anos sempre se locomovendo de bicicleta por lá, Alexandre Otsuka, que faz mestrado em História, diz que não há necessidade de uma ciclovia no local. “Na qualidade de aluno que se locomove de bicicleta, foram poucos os desrespeitos que sofri e, de uns tempos para cá, esses poucos casos vem diminuindo.”

Já o publicitário Gustavo Pacheco avalia de maneira positiva a construção de uma ciclovia na USP. “Principalmente quando falamos da percepção que o motorista vai passar a ter sobre o ciclista. Só o fato da ciclovia existir já aumenta nossa visibilidade no campus. O lugar passa a ser ‘oficialmente’ também da bicicleta.”

Redução de velocidade

Otsuka diz que para melhorar a segurança de ciclistas e pedestres a principal medida seria a redução do limite de velocidade dentro do campus. “A avenida Professor Mello de Morais [onde está a Raia Olímpica], via por onde passam os carros que querem fugir do trânsito por dentro da USP, é um local em que os motoristas recorrentemente correm bastante, por exemplo”, diz.

A velocidade máxima dentro da USP é de 60km/h. Não há radar, tampouco fiscalização. As únicas barreiras para diminuição de velocidade são lombadas e rotatórias.

Alexandre Otsuka, que estuda na USP e se locomove de bicicleta pelo campus, teme acirramento de conflitos com motoristas que desrespeitam quem eventualmente não circula pelas ciclovias. Foto: Arquivo pessoal
Alexandre Otsuka, que estuda na USP e se locomove de bicicleta pelo campus, teme acirramento de conflitos com motoristas que desrespeitam quem eventualmente não circula pelas ciclovias.
Foto: Arquivo pessoal

Conflitos

Um dos receios que existem em quem treina nas vias da USP é que com a construção de uma ciclovia aumentem os conflitos com motoristas. “Eles vão exigir que os ciclistas e os pelotões andem nas ciclovias, e por isso se encontrarão no direito de desrespeitar aqueles que não estarão na via própria para bicicletas”, receia Otsuka. “Os ciclistas não andarão nas ciclovias e vão continuar a dividir a pista com os carros.” Agressões de motoristas a ciclistas que ali circulam não são raras, inclusive com o uso de tachinhas para furar os pneus finos de estrada.

Na USP há dois grandes pelotões que ocorrem às terças e quintas, das 5h30 às 7, e outro das 19h às 21h. De acordo com o mestrando em História, de manhã, por causa do clima agradável, é possível contar cerca de 500 bicicletas, divididas em vários pelotões.

A jornalista Thaíla Correia treina entre três e quatro vezes por semana na USP e reclama da falta de espaços apropriados para o ciclismo em São Paulo. “A USP é um quebra-galho e está cada dia mais cheia. Tem de ter uma estrutura [segregada] e acesso limitado a quem realmente vá treinar”, diz.

Para o fotógrafo e empresário Caetano Barreira faltam espaços para prática do esporte na cidade. Ele sugere que a USP feche a avenida Professor Mello Moraes toda noite e toda manhã para treinos, já que “o tráfego de veículos [motorizados] é menos intenso nesses horários.”

Pacheco explica que o ciclismo de estrada envolve o vácuo e a formação de pelotões é inerente ao esporte. “Obviamente, um pelotão não cabe na ciclovia. Se o motorista não entender este fato, acredito que teremos cada vez mais conflitos.” O publicitário sugere que se instale placas sinalizando que, apesar da ciclovia, existem atletas em treinamento no local, como ocorre no Rio de Janeiro.

Acessos à USP

Inaugurada na década de 60, a Cidade Universitária não possui estação de metrô internamente e poucas linhas de ônibus circulam pelo local, dificultando a locomoção de quem não utiliza carro. A estação de metrô mais próxima de um dos portões da USP é a Butantã, da linha 4 – Amarela.

Quando a estação estava em fase de planejamento, cogitou-se a instalação dentro da USP, porém o projeto foi rejeitado sob a alegação de “trazer insegurança para a universidade”. Situada a um quilômetro do portão um, os estudantes que a utilizam dependem de poucas linhas circulares. Há ciclorrota e ciclovia ligando a estação à universidade.

Em setembro, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) inaugurou novo trecho de ciclovia da avenida Escola Politécnica, na região do Rio Pequeno, desde a Rodovia Raposo Tavares até a Praça César Washington de Proença. Deste ponto, o ciclista segue no trecho já existente, inaugurado em junho, o que permitirá a sua locomoção desde a Raposo Tavares até o portão 2 da USP, na avenida Professor Mello Moraes. Os dois trechos somam 5,9 km. Em um futuro próximo essa ciclovia poderá se integrar a um sistema que passe dentro da USP, chegue até a Ponte Cidade Universitária e se ligue às ciclovias do Rio Pinheiros e Pedroso-Faria Lima.

Faixa de ônibus

Em dezembro começa a construção de uma faixa exclusiva de ônibus, com o propósito de agilizar a saída e entrada de coletivos, que ficam travados no congestionamento causado por outros veículos. De acordo com a prefeitura do campus, a obra deverá durar um mês. Segundo a SPTrans, circulam pelo campus 71,4 mil passageiros de ônibus por dia em nove linhas.

16 comentários em “Anúncio de ciclovia na USP gera receio de aumento nos conflitos

  1. Sou a favor da construção da ciclovia e também da reforma do velódromo, pois assim os ciclistas terão infraestrutura adequada tanto para treinos como para trânsito. O velódromo iria beneficiar os pelotões e a ciclovia befeciaria pelotões e ciclistas avulsos (treinando ou apenas se deslocando). É só lutar para que motociclistas não usem a ciclovia como “atalho” ou atalho.

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    1. Concordo em partes. Se for esperar o povo ter educação para implantar ciclovias, não teremos ciclovias nunca.

      Nada impede que se faça boas campanhas de educação e civilidade sem ter que esperar as pessoas terem educação para só então implantar as ciclovias….

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    2. Aí é que está, André: a boa infraestrutura traz o bom comportamento.

      Eu concordo que não dá pra ficar esperando cair educação do céu… e é por isso que ficar reclamando da falta de educação das pessoas e esperar que elas mudem por conta própria não ajuda em nada. Campanha de conscientização nenhuma no mundo é capaz de mudar a cabeça das pessoas nessa escala. É como o colega de cima falou: não dá pra esperar o povo ter educação para implantar ciclovias.

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  3. Podemos relacionar com o projeto da Ciclopassarela que liga a USP a Villa-Lobos, pois como disse Raquel Rolnik, é um projeto solto ( http://raquelrolnik.wordpress.com/2012/12/12/ciclopassarela-ligando-a-usp-ao-villa-lobos-mais-um-projeto-solto/ ), vai ver que estão querendo justificar esse projeto. Como também estamos falando em ciclopassarela, acho que a USP pode dar apoio aos acessos a universidade, como a ponte Universitária que não tem acesso seguro pela ponte. Usar a passagem de pedestres como acesso, como muitos fazem não é legal ( em vários sentidos ). O melhor é fazer passagem em colaboração com a CPTM ou EMAE, ou com a prefeitura, para acessos aos portões, porque muita gente usa a USP como passagem.

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  4. Exemplos de avenidas que podem ter ciclovias no canteiro central para os que usam a bici como meio de transporte (o pessoal do treino poderia continuar usando a rua, se for mais conveniente):

    1) Av da Universidade, da portaria principal (portão 1) até a Av Lineu Prestes (CEPEUSP).
    2) Av Lineu Prestes, do CEPEUSP até o Hospital Universitário.
    3) Av Prof Luciano Gualberto, do início até o fim (IPT).
    4) Av Prof Melo Morais (raia olímpica), do início ao fim.

    Além disso, deveriam ser feitas conexões passando pela praça do relógio e também ente a Luciano Gualberto e a Rua do Matão, entre outras.

    Minha sugestão é que a a pavimentação das ciclovias seja uma simples camada de asfalto. Não é necessário fazer aquelas pavimentações de concreto vermelho que parecem ser feitas para suportar o peso de um caminhão…

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  5. Sou ciclista e cruzo a USP como parte do trajeto para ir ao trabalho. Eu acho que não são necessárias ciclovias ou ciclofaixas na USP, talvez apenas em alguns pontos específicos, como portões ou outros pontos perigosos. No caso de fazerem, acho que poderiam ser feitas nos canteiros centrais.

    Algumas medidas que acho interessantes: redução da velocidade máxima para 50km/h; proibição de estacionamento em um dos lados de algumas avenidas; melhoria do transporte público dentro do campus; sinalização viária voltada para ciclista e pequenas obras como travessias etc; bicicletários em alguns pontos, como no portãozinho da CPTM; educativas para motoristas, ciclistas e pedestres; mais faixas de pedestres; Melhorias das calçadas para que os pedestres não tenham andar ou correr na rua; permitir o acesso à USP aos sábados à tarde e aos domingos, visto que não é possível cruzar seguramente da P2 à P1 por fora da USP (alguns acabam indo pela marginal), talvez apenas para este trajeto; talvez também a proibição do tráfego de veículos motorizados que utilizem a USP apenas como passagem.

    Sou contra treinar ciclismo na USP, acho que é um local totalmente inadequado. Treinamento sem pelotão até acho aceitável. Pelotões não são compatíveis com o compartilhamento da via e respeito às leis e ao próximo. Por exemplo, o art 247 do CTB diz que bicicletas devem andar em fila única, no pelotão isto não acontece. Andar em fila única serve para que a via possa ser compartilhada e para que os motoristas possam manter distância lateral. Outro exemplo, digamos que fecha um semáforo para travessia de pedestres, o pelotão vai parar? Normalmente nem bicicletas sozinhas param, imagina um pelotão com toda sua inércia.

    A ciclovia do rio pinheiros, embora não seja totalmente adequada, é um local muito mais adequado do que a USP para treinar ciclismo, ainda mais com pelotão, e fica ao lado da USP.

    Algo que teria mais resultado e é muito mais barato é que todos, motorista, ciclistas e pedestres, fossem mais cidadãos e respeitassem o espaço do próximo. Por exemplo, os ciclistas poderiam não pedalar nas vias de pedestres ou na contra-mão, os pedestres poderia não andar na rua e os motoristas poderia respeitar as faixas de pedestres e manter velocidade e distância seguras com relação aos ciclistas.

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  6. E, tem o problema do velódromo, que foi construído por causa do Panaamericano no período da ditadura militar, porém não foi usado porque desistiram. Poderia ser usado, mesmo que não atenda às condições de prova atual, para treinos e iniciação desde que faça reforma. Ou então, que demolissem e criassem um espaço exclusivo para bicicletas, seja qual modalidade for.

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  7. Não acho necessário criar faixas para as bicis nas ruas e avenidas do campus. Mas duas coisas podem ser feitas: 1) diminuição da velocidade dos carros, como outros já mencionaram e 2) construir ciclovias em alguns canteiros centrais e também em atalhos conectando ruas e avenidas (por exemplo, a travessia da praça do relógio poderia ter uma ciclovia).

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    1. Exemplos de avenidas que podem ter ciclovias no canteiro central para os que usam a bici como meio de transporte (o pessoal do treino poderia continuar usando a rua, se for mais conveniente):

      1) Av da Universidade, da portaria principal (portão 1) até a Av Lineu Prestes (CEPEUSP).
      2) Av Lineu Prestes, do CEPEUSP até o Hospital Universitário.
      3) Av Prof Luciano Gualberto, do início até o fim (IPT).
      4) Av Prof Melo Morais (raia olímpica), do início ao fim.

      Além disso, deveriam ser feitas conexões passando pela praça do relógio e também ente a Luciano Gualberto e a Rua do Matão, erre outras.

      Minha sugestão é que a a pavimentação das ciclovias seja uma simples camada de asfalto. Não é necessário fazer aquelas pavimentações de corneto vermelho que parecem ser feitas para suportar o peso de um caminhão…

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  8. O conflito é criado quando o projeto e a implantação da ciclovia não é adequado. Fazer ciclovia, nos moldes que estamos vendo na cidade, a de via dupla, pintado apenas e com alguns tachões, certamente é um modelo totalmente equivocado. Se a USP decidir por um outro modelo, que gere menos conflito, tem tudo para ter sucessonas vias de grande movimento. Como a USP tem uma faculdade de arquitetura e urbanismo, a FAU, então é um bom teste para colocar as melhores práticas aprendida nesta instituição. Provavelmente, podem ter estudado com o pessoal que entende bem de ciclovias, talvez os holandeses possam para que a ciclovia na USP seja uma boa referência urbanística.

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  9. A única saída racional para a convivência entre todos é baixar a velocidade e fiscalizar. O Campus é para aprendizado, conhecimento, treinamento. Não é pra cortar caminho de motoristas apressados.

    Se a velocidade no Campus for reduzida e fiscalizada não precisa de ciclovia nenhuma e garanto que sairia mais barato.

    Se a velocidade for reduzida, o apressadinho não vai se sentir atraído por suas vias.

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  10. Não conheço o campus da USP, mas já deixo o aviso, longo, abaixo.

    Acredito que os grupos de treino são parte importante no planejamento da estrutura, pois continuarão dividindo o asfalto com os motorizados. Atletas não devem nunca treinar numa ciclovia.
    A ciclovia deve atender à demanda por transporte (e lazer) na região e é importante que a USP esteja se preocupando com isso. A redução de velocidade e de atração dos motorizados às vias do campus, além de sinalização e campanhas, vai garantir a segurança da galera que treina por lá.

    ——
    Em BH, na Lagoa da Pampulha, os grupos de treino além de não contribuir com a discussão sobre a ciclovia (que já existia, 11km no passeio, e estava incompleta) iniciaram uma guerra midiática e política contra a construção da ciclovia com 7km no nivel do asfalto segregada por blocos de concreto. Custaram a participar de algumas discussões com o poder público e até hoje promovem campanhas terroristas sobre a ciclovia, baseando-se apenas nos acidentes que já ocorreram entre ciclistas, como argumento para defender a retirada da estrutura (ou a conversão em ciclofaixa de sentido único, detalhe, por 18km), e não a sua melhoria.

    A ciclovia saiu, porém a Prefeitura de BH e a BHTrans, como de costume, não fizeram a ciclovia de forma segura (estreita, desnivelada e com trechos perigosos compartilhados com pedestres), não diminuiu a velocidade motorizada na orla, não realizou campanhas educativas e não sinalizou os 18km informando que os atletas devem treinar na rua, e ser respeitados pelos motoristas.

    Mesmo com todos os problemas, a ciclovia tornou evidente que há uma enorme demanda por estrutura cicloviária na região, pois diariamente se vê muitas pessoas pedalando (nos dois sentidos da orla) e nos fins de semana há uma enorme necessidade de se limitar o acesso motorizado à orla, abrindo espaços para quem pedala ou caminha.

    Essa situação já tem 2 anos, e a PBH/BHTrans tem sido bastante intransigentes sobre a questão. Insistem que o que “foi feito errado será corrigido”, mas não abre a discussão sobre quando e como será feito.

    Algumas informações e histórico aqui:http://bhemciclo.org/tag/pampulha/

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  11. Cara, a ideia é horrível, a USP é um dos pouquíssimos pontos de treino em SP, tem subidas, retas, é um local ótimo. Certamente a ciclovia não serve para um pelotão de 20 ciclistas a 40 km/h, é quase impossível numa faixa dividida para duas mãos. O ideal mesmo seria a diminuição de velocidade em todo campus para 40 km/h e implantação de radares, isso sim traria segurança para todos que circulam no campus, tanto atletas como a galera que usa bike como transporte.

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    1. Ciclistas inesperientes não anda junto com os carros, só com ciclovias….bem ou mal, é um risco. Por isso as ciclovias são necessárias. No mundo inteiro foi assim…

      Polêmico. O que acha? Thumb up 5 Thumb down 3

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