Pais se sentem seguros para transportar seus filhos em trailers, como esse da foto. Imagem: George Queiroz e Carol Ribas/Reprodução

Compartilhar espaço é possível, com regras claras e respeito à vida

Veja nesse vídeo como é pedalar numa cidade em que convivência e respeito são as bases para a circulação segura dos ciclistas.

Rua compartilhada entre carros, ciclistas e pedestres em Rennes, na França. Repare no limite de velocidade (em km/h). Imagem: George Queiroz e Carol Ribas/Reprodução
Rua compartilhada entre carros, ciclistas e pedestres em Rennes, na França. Repare no limite de velocidade (em km/h). Imagem: George Queiroz e Carol Ribas/Reprodução
Criança pedala sozinha em rua da cidade francesa. Imagem: George Queiroz e Carol Ribas/Reprodução
Criança pedala sozinha em rua da cidade francesa. Imagem: Reprodução

A infraestrutura cicloviária que está sendo criada em São Paulo, com o plano de 400 km de novas ciclovias, tem recebido críticas diversas, entre elas o compartilhamento de algumas (poucas, diga-se de passagem) calçadas com pedestres e a falta de uma segregação mais protetora do que os atuais tachões.

Mas será que todo esse isolamento físico para as bicicletas é realmente necessário? Ou forçar uma convivência mais próxima, tanto entre pedestres e ciclistas quanto entre ciclistas e motoristas, faz as pessoas aprenderem a conviver juntas no mesmo espaço?

O exemplo da cidade francesa

George Queiroz e Carol Ribas são brasileiros e estão atualmente em Rennes, noroeste da França. Com o lema “vivre en intelligence” (viver em harmonia), a capital da região administrativa da Bretanha foi considerada em 2012 a melhor cidade francesa para se viver de acordo com a revista L’Express. Eles nos enviaram o vídeo que você vê mais abaixo, mostrando como é pedalar na cidade francesa.

No filme percebe-se haver espaço compartilhado tanto com pedestres quanto com motoristas, ciclofaixas estreitas e em zonas de abertura de portas, bicicletas circulando na contramão e na faixa dos ônibus, carros estacionados nas ciclofaixas, pais transportando os filhos em trailers nas bicicletas e crianças e idosos pedalando sozinhos junto aos carros. Avaliando por uma perspectiva tradicional de segregação da circulação de ciclistas, esse conjunto teria muitas chances de dar errado.

Pais se sentem seguros para transportar seus filhos em trailers, como esse da foto. Imagem: George Queiroz e Carol Ribas/Reprodução
Pais se sentem seguros para transportar seus filhos em trailers, como esse da foto. Imagem: Reprodução

Mas nosso amigo George destaca que é “perfeitamente possível” fazer isso com absoluta segurança. “Não é loucura querer um sistema de transporte que inclua todos e incentive o respeito”, afirma o brasileiro. E no vídeo mesmo é possível perceber o motivo. Embora o compartilhamento seja uma constante, há bastante sinalização, tornando as regras claras. Os trechos de calçada são sinalizados, os locais onde a bicicleta pode circular na contramão possuem sinalização de solo e vertical, as faixas de ônibus têm o símbolo da bicicleta pintado no asfalto. Todos sabem qual a conduta esperada para os ciclistas, que circulam de acordo com as regras por perceber claramente que elas os protegem.

Ainda assim, quando os ciclistas precisam sair da área sinalizada, as pessoas nos carros lhes dão passagem e os protegem. Motoristas não agridem ciclistas com o tamanho de seus carros nas ruas, nem ciclistas assustam pedestres com sua velocidade nas calçadas, mesmo que um ou outro eventualmente esteja fazendo algo que saia da conduta esperada. Os cidadãos se vêem nas ruas como pessoas, que convivem juntas e devem se proteger mutuamente, não como obstáculos à suas necessidades individuais de deslocamento.

Motoristas parar e esperam a passagem de ciclistas, que precisaram desviar de obras na ciclofaixa. Imagem: George Queiroz e Carol Ribas/Reprodução
Motoristas param e esperam a passagem de ciclistas, que precisaram desviar de obras na ciclofaixa. Imagem: Reprodução

A sinalização adotada lá é bem menos incisiva que o que tem sido feito nas ruas (e calçadas) de São Paulo. Em muitos pontos está gasta ou se apresenta de forma bastante sutil, como um simples e pequeno pictograma de bicicleta. Ainda assim, o resultado é perceptível. Será que o modelo que está sendo implantado em São Paulo, mesmo estabelecendo regras de forma muito mais clara e visível, vai dar tão errado assim, como preveem (ou desejam) os críticos? Ou o direito de circulação e a importância de proteger a vida ficarão tão evidentes que o convívio se tornará natural ao longo do tempo, construindo uma nova cultura de uso das ruas? Façam suas apostas.


2 comentários em “Compartilhar espaço é possível, com regras claras e respeito à vida

  1. É o mundo civilizado do ciclismo. Na França, ao contrário do que ocorre em maior escala na Bélgica, Holanda, Alemanha e Áustria, não tem muitas ciclovias de longa distância, interligando cidades. Contudo tais ciclovias existem no plano educacional. Você pedala em estreita estradinhas rurais, compartilhadas com veículos, porém eles te dão preferência. Desta maneira, você não precisa ficar espremido na borda da estrada, pode permanecer no leito normal, pois ele só vai te ultrapassar quando tiver visão, passando na outra pista, longe do ciclista.

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  2. Ler esta matéria onde os motoristas convivem bem com ciclistas e depois ler aquela outra (Agressividade em tempos de implantação de ciclovias) me fez sentir vergonha de ser motorista. Por que um babaca se transforma tando quando entra em um carro? Tudo isso seria inveja? Pode ser, porque os ciclistas passam tranquilo pelo congestionamento enquanto eles ficam parados sem ter pra onde correr. Dai ficam revoltadinhos e estressados.

    E posso até provocar uma polêmica, mas eu acredito que nem sempre os motoristas sejam culpados por esta selvageria que acontece hoje. Boa parte também é provocada por motoqueiros! São preguiçosos para conduzir uma bike e não tem competência para guiar um carro. Dai sobra a moto. Costuram em alta velocidade entre os carros, tiram finas de ciclistas, são verdadeiros irresponsáveis! Claro que não são todos, mas quando eu estou pedalando, tenho mais receio de motoqueiro do que motorista.

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