Foto: Arquivo pessoal

Planos e improviso: o início de uma viagem de bike pelo mundo

Para onde? Quando? O que levar? Como planejar e ao mesmo tempo estar preparada para imprevistos? Raquel conta o início de sua viagem e dá dicas para começar.

Como se preparar para uma viagem de bike por lugares desconhecidos? Na foto, cenário gelado encontrado por Raquel Jorge na Noruega. Foto: Arquivo pessoal
Como se preparar para uma viagem de bike por lugares desconhecidos? Na foto, cenário gelado encontrado por Raquel Jorge na Noruega. Foto: Arquivo pessoal

Tudo começou em 1 de maio, feriado no Brasil: acordei e fui pedalar. Já era fim de tarde quando voltei para casa. Fui xeretar as novidades no Facebook e me deparei com a matéria de uma revista cujo título era “Pedalar é preciso – 15 roteiros de viagens para se fazer de bike”. Li todas as possibilidades e me apaixonei pela Rota do Mar do Norte. Eram 6.200km de ciclorrota passando por Noruega, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Bélgica, Inglaterra e Escócia.

Decidi encarar a viagem com aquele frio na barriga, dividida entre a ideia de que conseguiria fazer isso e a insegurança de que estava sendo muito pretensiosa. Só havia um jeito de dissipar as dúvidas. O segredo foi me concentrar nas coisas práticas, começando pela famosa “to do list”, que ao invés de diminuir conforme eu ia resolvendo as coisas, só aumentava. Todo dia lembrava de algo a mais que precisava fazer, resolver, providenciar ou decidir. Não era só o ir. Havia também o que ficaria para trás. Meu apê, meu cão, minha sequóia que ainda estava na semente.

Vendi meu apartamento há alguns meses (estou morando em um alugado). E dinheiro na conta para quem tem febre de estrada é como dizer: por quê não?!

Muitas dúvidas. Levar barraca ou arriscar ter sempre um abrigo pra dormir? Usar GPS ou ir no bom e velho esquema mapa de papel? Alforjes dianteiros ou só traseiros? Cabelo curto ou cabelo comprido? E se não tinha certeza perguntava pra quem sabia. Amigos experientes estenderam as mãos e dividiram seu conhecimento. E graças ao Fabio Samori, da Aro 27, ao querido Rodrigo Vicentim, ao Branco Bike, ao Thomas Stets, da Alemanha, (que já fez esta viagem e respondeu aos meus emails com informações valiosas), ao divertido e sábio Ricardo Santos, à amiga e parceira Adriana Marmo por estar sempre do meu lado…. graças à generosidade destas pessoas queridas, a viagem foi tomando forma.

Foto: Arquivo pessoal
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Preparativos para a viagem

Ter um plano de viagem é fundamental. Obter informações, ler o relato de outros viajantes, fazer um cronograma, levantar custos e entender a burocracia de cada país. Tudo isso evita surpresas desagradáveis e desperdício de um tempo que é precioso. Nunca fui boa em nada disso. Meu planejamento se resumiu ao mínimo necessário para poder partir: a passagem, hospedagem para a primeira noite e uma ideia genérica de onde queria começar e para onde pretendia ir. Nunca gostei de ficar engessada a uma planilha de Excel. É no improviso e na necessidade que as coisas mais incríveis acontecem. Além disso, já viajei o bastante para saber que não há melhor lugar para obter informações do que no próprio lugar.

Mudei de ideia algumas vezes. Ia começar pelo norte da Escócia, mas decidi fazer o oposto e começar em Bergen, na Noruega. Mas ir à Noruega e não percorrer a Atlantic Ocean Road seria um sacrilégio para qualquer ciclista que ama a estrada. Com isso acrescentei 764km à rota.

Marquei o voo para 30 de maio. De São Paulo para Londres seguido de outro voo para Bergen, na Noruega, onde pegaria um trem para Trondheim (se for viajar de trem, é necessário reservar o espaço para a bike com antecedência. O custo é aproximadamente metade do valor de um passageiro).

Os preparativos finais incluíram um check up no dentista, aulas de mecânica e revisão da bike com algumas alterações: pneus novos com fitas antifuro, paralamas nas duas rodas (o que provou ser extremamente útil), retrovisor (que eu nunca usei) e suporte para a Go Pro. O GPS que comprei online não chegou a tempo e acabei embarcando sem ele.

Peso total da bagagem: 13 kilos. Roupas, shampoo, escova de dentes e afins, kit de primeiros socorros (que incluiu antibiótico, Zovirax e Nebacetin). Laptop, câmeras fotográficas, adaptadores e cabos – muitos cabos!

Os meninos da Aro 27 me ajudaram a embalar a bike e a Adriana me levou ao aeroporto. Despachei duas caixas: em uma a bicicleta, na outra os dois alforjes com o top case e o capacete. Embarquei apenas com minha mochila. A galera da British Airways foi ótima, conseguiram despachar tudo direto para Bergen, o que facilitou a escala em Londres.

Noite de sol

Pousei em Bergen no início da noite, noite com sol e ar gelado. O nervoso só amenizou quando vi minhas caixas vindo pela esteira de pacotes especiais. Um funcionário querido do aeroporto me deu uma moeda para pegar um carrinho. Moeda furada no meio, que desde então vem pendurada no meu pescoço, ao lado de Nossa Senhora! Consegui um taxista que topou levar a mim e minhas caixas para o hotel. Foi o primeiro e o último taxi que eu pegaria, pois quase tive que vender um rim para pagar a corrida.

Cheguei no hotel: simples e funcional. Subi com as caixas. Sentei na cama e pensei: agora não tem jeito. Vou ter que fazer essa bagaça!

Raquel Jorge fez uma cicloviagem de 6.200 km pela Europa, contornando o Mar do Norte e passando por Noruega, Suécia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Bélgica e Inglaterra. E ela conta os detalhes aqui no Vá de Bike, da preparação aos desafios do caminho, com dicas para quem tem vontade de ganhar o mundo e informações sobre a mobilidade nos locais onde passou. Veja o que ela publicou por aqui.

Foto: Arquivo pessoal
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9 comentários em “Planos e improviso: o início de uma viagem de bike pelo mundo

  1. Raquel, já virei seu fã em 2 posts!

    Sou ciclista urbano há anos e sonho em fazer uma cicloviagem. Estou querendo começar aos poucos pelo interior de SP, seguir até um estado vizinho e depois alçar voos mais longos.

    Tenho dois grandes objetivos para minha vida ciclistica:

    A primeira é pedalar de São Paulo à Santiago do Chile (de preferencia pelo sul para evitar subir as cordilheiras na passagem Mendoza – Santiago.

    A segunda seria uma cicloviagem pela Europa, passando obrigatoriamente por Dinamarca, Holanda e Inglaterra.

    Estou juntando dinheiro para ano que vem voltar à Escandinávia e Bretanha, lendo seu artigo me acendeu a fagulha do “Leve sua bike, jovem padawan”. Agora terei que me planejar para seguir tuas pedaladas, ou talvez fazer o caminho inverso. 😛

    Toda a sorte do mundo nessa empreitada e aproveite cada centimetro dessa viagem 😉

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  2. Que aventura deve ser completar essa viagem Raquel. Você tem ideia geral de quanto custa +- uma cicloviagem dessa? Logico que tem muitas variaveis pra mudar o valor. Mas no geral seria quanto?

    Boa viagem!

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    1. Olá Pedro, sim há muitas variáveis e depende do tipo de viagem que você quer fazer. Estou viajando pelos países mais caros do mundo e na alta estação. Mas o percurso que escolhi só é viável no verão (comecei no norte da Noruega, no fim da primavera, e ainda assim peguei neve). Sem contar a passagem que me trouxe até aqui, tenho gasto em média 100 dólares por dia. (Quando planejei a viagem o dólar ainda não havia explodido). Mas dá para ser mais barato, caso você opte por acampar. Espero ter ajudado. Bjs

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  3. Parabéns RAQUEL! LINDA SUA AVENTURA. Que Deus ilumine suas pedaladas para que possa alcançar seus objetivos. Também já pratiquei o Cicloturismo e sei o quando é prazeroso o êxito da vitória.

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  4. Raquel, você está impossível! Nossa, quanta ousadia e coragem! Eu nunca vi uma coisa assim. Pois fique sabendo que acompanharemos os seus relatos e estamos torcendo para que você realize esta sua empreitada. Boa sorte e até mais.

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