Foto: Fabio Nazareth

Prefeito de São Paulo afirma que ciclovias são conquista da sociedade e agradece cicloativismo (com vídeo)

“Tenho certeza que nosso governo sem a atividade desses coletivos [cicloativistas e de direito à cidade] seria completamente diferente do que foi”, afirmou.

Bicicultura - Cerimônia de Abertura
Cerimônia de Abertura do Bicicultura. Foto: Fabio Nazareth

Na quinta-feira, 26 de maio, teve início o Bicicultura 2016, maior encontro nacional de ciclistas do país, que prossegue até o domingo, 29. A cerimônia de abertura teve participação do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que falou sobre ciclovias, ruas abertas, redução de velocidade e assuntos relacionados. Fizemos abaixo uma seleção de trechos que consideramos relevantes, seguidos do vídeo completo da cerimônia.

"Isso pra mim foi uma descoberta que talvez eu levasse 20 anos se não fosse o cicloativismo". Foto: Fabio Nazareth
“Isso para mim foi uma descoberta que talvez eu levasse 20 anos se não fosse o cicloativismo”. Foto: Fabio Nazareth

Conquista do cicloativismo

“A bicicleta virou um símbolo de urbanidade, que dialoga com muitas outras pautas. (…) Ela dialoga com um imaginário de apropriação do espaço público, com cidade para todos, com direito à cidade, de uma forma que talvez nenhum outro símbolo consiga dialogar. E isso para mim foi uma descoberta que talvez eu levasse 20 anos se não fosse o cicloativismo, se não fossem os coletivos voltados para a cidade.”

“Se a sociedade não está mobilizada para fazer com que aquela agenda se firme, se imponha, por mais boa vontade que o executivo tenha, que o governante tenha, aquilo vai levar mais que o mandato. Como o mandato é de quatro anos, e se tem uma alternância no poder, são outros quatro anos para que um outro descubra aquilo que a sociedade organizada já descobriu. Então a sociedade que se organiza, que pauta o governo público, que faz o conjunto que nos faz refletir sobre um tema, ela é fundamental numa democracia. Tenho certeza que o nosso mesmo governo sem a atividade desses coletivos seria um governo completamente diferente do que foi. Se nós temos algum mérito foi de tentar interagir, foi de tentar buscar conhecer, foi de reconhecer a nossa ignorância diante da complexidade de governar uma metrópole do tamanho de São Paulo. Foi buscar na experiência internacional exemplos do que a gente podia fazer no curto prazo que impactaria na qualidade de vida e mais do que na qualidade de vida imediata, impactaria o imaginário das pessoas para buscar novas utopias na cidade.”

Haddad ainda afirmou que as mudanças promovidas pela gestão na cidade, especialmente em relação a ciclovias e ruas abertas, não deveriam ser objeto de uma disputa política. “A pior coisa que pode acontecer é você associar um programa de segurança das pessoas, de democratização do viário, de apropriação do espaço público a uma força política. É errado isso. Daqui dez anos a cidade vai estar mudada e vão falar ‘foi o Haddad que começou’, mas não foi o Haddad que começou, foram vocês que começaram, foi a sociedade que começou e isso não tem que estar identificado com partido, com religião, com nada disso. o próximo prefeito, seja quem for, tem que fazer mais e não menos que o último prefeito.”

Cerimônia foi marcada por protesto. Cartazes tinham dizeres como "Temer jamais" e "+ bicicleta, + cultura, golpe não". Foto: Fabio Nazareth
Cerimônia foi marcada por protesto. Cartazes tinham dizeres como “Temer jamais” e “mais bicicleta, mais cultura, golpe não”. Foto: Fabio Nazareth

Problemas das ciclovias

Sobre problemas de execução na implantação das ciclovias, o prefeito afirmou que “a alternativa de não ter problemas de execução é não fazer, sobretudo quando não envolve grandes somas de recursos”. Também questionou que em muitos casos a mesma pessoa que “questiona o tamanho do estado, o aumento de impostos, que é a favor do estado mínimo” se queixa de que as ciclovias estão sendo feitas “só com uma lata de tinta”. “Ele deveria estar aplaudindo, não estamos pedindo nada pra ele”, brincou.

Redução de velocidade

“A redução de velocidade é uma recomendação da Organização Mundial da Saúde, não foi inventado. A OMS é um braço da ONU. Preserva vidas, preserva a integridade física das pessoas.” Também comparou a estatística de mortes no trânsito da capital paulista com o resto do mundo. “Hoje São Paulo tem 8 mortes por 100 mil habitantes. A Europa tem 9, as Américas todas têm 15. O Brasil tem 24. Morrem 24 pessoas por 100 mil habitantes por ano.”

Mortes de ciclistas

“Entre 2014 e 2015 aumentou em 66% o número de ciclistas na cidade. O número de mortes também deveria ter aumentado, se aumentou o número de ciclistas, mas caiu 34%, no mesmo período.” E isso são números absolutos: levando em consideração esse aumento no uso da bicicleta, proporcionalmente as mortes de ciclistas caíram 60%, como mostramos aqui no Vá de Bike.

“A gente deveria celebrar isso. Porque nós estamos cuidando da saúde das pessoas, estamos poluindo menos o ar e as pessoas que usam a bicicleta vão depender menos do SUS, porque vão viver bem.”

Dinheiro de multas

Haddad e secretários da gestão são alvos de ação do Ministério Público do Estado de São Paulo, pelo uso do dinheiro arrecadado com multas para manter a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), pagando salários de funcionários públicos e outros custos fixos, e por utilizar parte do montante para a implantação de ciclovias e para a construção de terminais de ônibus. Ao comentar sobre o caso, o prefeito ironizou:  “Nesse país, você ser preso por fazer terminal de ônibus? Vai ser uma honra, no meu caso.”

Vídeo

Assista a cerimônia completa


5 comentários em “Prefeito de São Paulo afirma que ciclovias são conquista da sociedade e agradece cicloativismo (com vídeo)

  1. As ciclovias, com o planejamento atual, realmente estão melhorando a questão do trânsito na cidade. Na minha região, por exemplo, as faixas vermelhas pintadas ocupam mais espaço que as faixas de rolamento de carros e ônibus (estes últimos obrigatoriamente precisam, constantemente, entrar na ciclovia para desviar do fluxo contrário de ônibus e caminhões, apesar disso não ser um grande perigo, pois não existem ciclistas nessa ciclovia), além do que, agora não existe uma rua para se estacionar nas proximidades. Ajudou o trânsito porque agora ninguém pode visitar as centenas (quase milhares de famílias dos condomínios próximos) de carro, mesmo aos finais de semana. A alternativa agora é que eles venham de bike (infelizmente, meus pais e avós não sabem pedalar).

    Sou a favor das ciclovias e das ciclofaixas, uso minha bicicleta como lazer e elas ajudam muito nesse sentido, mas pintar faixas vermelhas segmentadas e aleatórias para alcançar a meta não me parece a solução.

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    1. aham claudia….senta lá…

      A sua solução é fazer ciclovias em locais onde não atrapalhem os carros….fora das grandes avenidas, em trajetos isolados, ruas paralelas, dando um monte de voltas, como aquela ciclovia da adutora rio claro. É a velha mentalidade carrocrata….

      Existem outros meios de transporte além do carro, como o trem, metrô, onibus, taxi e agora o Uber.

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      1. Vejo poucas alternativas com mínima qualidade para o cidadão, além do táxi e do Uber e, sinceramente, ciclovias isoladas e passando por locais perigosos não me parecem ajudar em nada qualquer outro meio de transporte.

        A área a que me refiro não é servida por metrô, os ônibus além de sucateados, passam lotados e com intervalos irregulares e sofrem com o trânsito. Agora, temos uma ciclovia (que até onde consigo entender, trata-se de um transporte individual assim como o carro e aloca o espaço público para tal, independente de ter outras vantagens) só que praticamente ninguém a usa, até porque ela passa por um local extramente perigoso e não conecta nada com nada, tomando espaço tanto de carros quanto de ônibus. Então qual a vantagem desse e tantos outros trechos de ciclovia pintados com o mesmo “planejamento”? A coisa é tão mal feita que a ciclovia foi pintada, mas a faixa que divide os sentidos da rua continua no mesmo local, deixando um dos sentidos com, aproximadamente, um metro de largura para carros e ônibus.

        Se a população como um todo, mas principalmente os moradores do local, são os maiores beneficiários, por que não consultá-los antes ou pelo menos demonstrar o que vai melhorar? Transformou-se um espaço útil e coletivo de transporte (que anteriormente era utilizado para ônibus, carros, motos e carroças de catadores de lixo) em uma faixa exclusiva, dedicada ao único transporte que não era e continua não sendo utilizado na região, esse é meu ponto.

        Comentário bem votado! Thumb up 7 Thumb down 1

  2. [Comentário oculto devido a baixa votação. Clique para ler.]

    Esse comentário não tem feito muito sucesso. Thumb up 3 Thumb down 12

    1. Acredito que a gente deve votar em pessoas e propostas, independente de partido…se for escolher candidado por causa de partido, não iremos votar em mais ninguém então.

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