CET apaga sinalização de compartilhamento da via na Avenida Paulista
Cansados de esperar por sinalização e respeito, cidadãos tentaram resolver o problema por si e pintaram sinalização na avenida. Importantíssimas para a segurança de ciclistas, as bicicletas no asfalto foram apagadas pela CET em menos de duas semanas.
Cansados de tanto esperar pela sinalização e o respeito que nunca vêm, cidadãos paulistanos tentaram resolver o problema por si e, no dia 27 de maio, pintaram sinalização de solo na Avenida Paulista (mais uma vez).
Mas essa sinalização, importantíssima para aumentar a segurança de quem usa a bicicleta nas ruas, foi apagada pela CET na noite da última quinta-feira, 9 de junho. As bicicletas no asfalto duraram menos de duas semanas. Pelo jeito, era importantíssimo tirá-las de lá.
Quem tem a obrigação de sinalizar não o faz
A sinalização das vias não é apenas competência da CET. É obrigação. Como já comentamos por aqui, o artigo 24 do Código de Trânsito Brasileiro determina que quem DEVE garantir a segurança de ciclistas é o órgão de trânsito – nesse caso, a Companhia de Engenharia de Tráfego:
Art. 24. Compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos Municípios, no âmbito de sua circunscrição:
(…)
II – planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos, de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e da segurança de ciclistas.
Não é fingindo que não se tem responsabilidade pela segurança dos ciclistas que a CET e a Prefeitura de São Paulo se eximem dela. Ao se omitirem, fazendo de conta que não possuem essa responsabilidade, passam aos motoristas a ideia de que os ciclistas usam as vias por teimosia, não por direito, e tornam-se co-responsáveis por acidentes e mortes que venham a acontecer.
Fechar os olhos não faz o problema sumir, só agravar
Sinalizar a presença de ciclistas nas ruas, indicar os melhores caminhos para as bicicletas e fazer uma campanha maciça de conscientização de motoristas, seguida de punições rígidas para quem atenta contra a vida por detrás de um volante, são caminhos para se chegar a uma convivência mais humana nas ruas.
E tornar a via segura é obrigação do órgão responsável. Não é um favor, nem uma esmola. É lei. A CET deve cuidar da segurança de todos os usuários das vias, mais do que cuidar da fluidez.
Vidas são mais importantes que tempo de viagem. A CET deve cuidar da segurança de todos, do motorista de automóvel ao ciclista, do taxista ao carroceiro, do caminhoneiro ao pedestre. O trânsito é formado por pessoas, não por carros.
Ignorar que os ciclistas existem e que têm direitos nas ruas só faz com que os maus motoristas façam exatamente o mesmo. Já passou da hora de parar com esse mau exemplo, que fortalece condutas assassinas de quem pensa que sabe dirigir.
Por que a retirada dessa sinalização coloca vidas em risco
As bicicletinhas pintadas no solo trazem maior segurança para os ciclistas que utilizam a avenida, lhes indicando a faixa mais segura para sua circulação ao mesmo tempo em que sinaliza aos motoristas que por ali circulam bicicletas.
O aumento na segurança viária se deve ao fato desse tipo de sinalização legitimar a presença dos ciclistas, estimulando o compartilhamento da avenida e reeducando os motoristas que ainda acreditam que a bicicleta não tem direito de trafegar nas ruas.
Sinalização explicitando esse direito evita as atitudes punitivas desses motoristas, que os ciclistas conhecem tão bem. Finas, fechadas e espremidas contra a calçada – ou, pior, contra os ônibus – são expedientes utilizados por esses maus motoristas, que acreditam estar “educando” os ciclistas e os ensinando a não usar as ruas. Foi uma atitude como essa que tirou a vida de Márcia Prado, nessa mesma avenida, em janeiro de 2009.
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Os ciclistas por ali não são poucos
Não é pouca gente que passa pedalando pela Avenida Paulista: uma contagem fotográfica feita pela Ciclocidade no ano passado levantou o número de 733 ciclistas passando pelo cruzamento com a Av. Brigadeiro Luís Antônio, em um período de apenas 14 horas. Não foram contados outros trechos da avenida, onde mais ciclistas passaram sem serem contados, nem as bicicletas que passaram pela avenida após as 20h.
Certamente, quase um ano depois dessa contagem, há pelo menos mil ciclistas circulando por lá diariamente. Mil cidadãos que não merecem sinalização que proteja sua vida. Nem eles, nem tantos outros mais que trafegariam por ali se sentissem segurança.
Por que a CET apagou
Segundo o funcionário da CET que apagava a sinalização, “os ciclistas não podem ‘legendar’ a rua porque isso confunde os motoristas”. Confunde como? Dissolvendo a certeza de que a rua é só para os carros? E que risco os motoristas correm com isso? O de respeitar a vida, mudando de faixa em vez de buzinar?
Melhor colocar vidas de ciclistas em risco do que deixar na dúvida um motorista que não tem certeza se deve desviar da bicicleta ou buzinar e acelerar, na esperança que ela decole e saia de seu caminho. Afinal, ao diminuir e mudar de pista ele pode impactar na fluidez. Parece que ela continua mais importante do que a vida, afinal.
Se essa sinalização é tão inadequada, por que ela não é substituída por outra, que atinja melhor o objetivo? Adequada ou não, os ciclistas que circulam por ali SABEM e SENTEM na prática que essas bicicletinhas tornam a via muito mais segura. Com elas, as buzinadas e agressões de motoristas com pressa de chegar ao próximo sinal vermelho quase desaparecem.
O incrível é pensar que pessoas que não estudaram engenharia de tráfego ou segurança de trânsito percebem o que é necessário para proteger a vida dos ciclistas em meio à boçalidade de alguns motoristas: sinalização, educação e punição. Mas os doutores parecem não perceber. Ou preferem fazer de conta que não sabem, por medo de contrariar o segmento motorizado da cidade. Que continuem matando.
Quando a gente começa a se animar com as atitudes positivas, a CET dá uma dessas. Eu estava para escrever aqui um texto elogiando a diminuição da velocidade máxima das vias, mas agora até desanimei. Lamentável.
“Sabe o que significa CET? Companhia de Engenharia de Tráfego de Veículos Automotores!” – disse um dos funcionários que apagava as bicicletinhas, demonstrando que não sabe nem o nome da companhia onde trabalha, muito menos a quem ela serve (ou deveria servir). Eu demitiria, fácil.
Isso aí é falta de tapa na cara do sujeito. Desce da bike, enfia uma meia dúzia de tapa na cara do agente da CET! Isso iria pra imprensa com uma manchete “Agente do CET é espancado por ciclistas enquanto apagava bicicletinhas do asfalto”. Manchete nem um pouco lisonjeira, concordo. Mas já daria o tom da conversa para os motoristas que insistem em jogar o carro sobre pessoas indefesas. Somos passivos demais com essas coisas…
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ontem se foi minha amiga Juliana Dias ciclista ambientalista biologa tudo de bom , vitima da intolerancia de motorista estressado , vamos reforçar a campnha quero meu 1,5 m de distancia e exigir dos governantes mais seguaranças para que posamos pedalar em paz ! meu direito de ir vir ! mais ciclovias seguras só assim vamos ter paz ! fica aqui minha lástimas ………
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A CET tem tinta para apagar as bicicletinhas na paulista, mas uma obra de recapeamento na av. washington luís (trecho de mão dupla, apertado pra caramba) está sendo feita sem sinalização e os trechos já prontos sem as faixas há 1 semana, a CET não se preocupa nem com os carros… pq não usa as tintas pra pintar a avenida… e quanto as bicicletinhas… por mim devem ser pintadas na cidade inteira… moro perto do jabaquara e na ponte em cima da bandeirantes… as bicicletinhas já estão precisando de uma nova demão. Parabéns WCruz pela sua matéria, é de grande valia para nós todos que pedalamos…
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Nem incompetente, nem conivente, profissional honesto não resiste:
LUIZ CÉLIO BOTTURA É DEMITIDO DA CET POR CRITICAR A EMPRESA.
Ex-ombudsman da CET afirma que foi demitido por criticar demais o sistema adotado pela companhia, ficou apenas 4 meses no cargo.
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Transcrevo aqui minha mensagem ao OMBUDSMAN da CET hoje.
“Eu preciso saber qual é a postura _oficial_ da CET a respeito da sinalização de solo a respeito da presença de ciclistas nas ruas.
Hoje, 13 de junho de 2011, temos notícias de mais um atropelamento fatal em São Paulo.
Simultaneamente temos conhecimento de que a CET apaga a sinalização de solo que foi implementada pelos cidadãos para sinalizar a presença de bicicletas em algumas vias em São Paulo.
Não considero razoável a atitude, que tem objetivo de desligitimar a presença das bicicletas e contribuir para situações de abuso e negligência como a que aconteceu hoje.
O que a CET tem a declarar sobre isto?
Como se posiciona a companhia em relação ao fato de pessoas estarem morrendo nas ruas e as iniciativas populares para protegê-las serem combatidas por aqueles cuja omissão é uma das causas do desastre? Ignoram os administradores da Companhia o fato de que a lei determina, por meio do código de trânsito do Brasil, que é seu dever garantir a segurança das pessoas no tráfego, incluso aqueles que trafegam de bicicleta?
Vejo a CET, como representante do poder, protegendo apenas os interesses indiretos das companhias fabricantes de carros, que procuram vender a ideia de um trânsito eficiente apenas com automotores, de preferência um para cada pessoa, como se não fosse óbvio que o trânsito em São Paulo e em qualquer outra cidade com mais de 300 mil habitantes estar se tornando inviável por causa dessa política!
Existe algum pronunciamento da CET a respeito da sinalização de solo? Existe alguém que, com a consciência tranquila, ordena o combate às iniciativas de sinalização de solo que salvariam vidas?”
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Na cidade em que moro, pelo que lembro, eles não apagaram… mas também não cuidam direito das vias. Existe desde o ano passado o Projeto de Lei nº 0194/10 que prevê a criação de ciclovias em estacionamentos mas também sugere a cobrança de 20% do valor pago por um carro. Em meu estado a bicicleta é o meio de transporte minoritário e utilizado principalmente pela população de baixa renda. O curioso é que a maioria dos estacionamentos não cobra pedágio para moto mas há um projeto de lei para cobrar de bicicletas. A impressão que fica é que o projeto foi criado para inibir o uso da bicicleta nas ruas de Fortaleza
http://mobilidadehumana.ning.com/profiles/blogs/carta-ao-vereador-salmito
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Acho que a melhor coisa é continuar botando a sinalização pra rua
Assim como o melhor é continuar “forçando” nosso espaço no transito, quanto mais pessoas de bicicleta e mais “voz” dermos mais visiveis ficamos.
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Absurdo! Ombusman da CET neles. Vamos ver se esse moço trabalha mesmo pra gente.
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Vejam na propria foto que a sinalização de ciclistas sempre volta (sinalização mais apagada embaixo da amarela). Por favor alguem coloque de volta a sinalização. Deixo meu incentivo em nome dos ciclista de Goiânia.
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Em Porto Alegre, a Fundação Thiago de Moraes Gonzada http://www.vidaurgente.org.br faz um importante trabalho pela segurança no trânsito.
Uma das suas atividades é pintar borboletas brancas no asfalto sinalizando as mortes. É claro que esta sinalização não está prevista no CBT e talvez até “confunda” motoristas, mas ninguém teve coragem de se opor a esta prática.
Talvez seja o caso de questionar se CET concordaria que se fizesse o mesmo aí, ou seja, só se “legendaria” o asfalto depois que alguém morresse.
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Revoltante!!!
Uma instituição feita para organizar e proteger o trânsito dá a preferência a determinado tipo de veículo!?!?
Intolerável e Inconstitucional!!!
Sou a favor de voltarmos lá, com bicicletada e repintarmos o que foi apago exatamente onde estavam as antigas!
Lu Lamas
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é impressionante… aqui no Rio a situação dos ciclistas tb é muito complicada… era p ser um lugar onde a bicicleta tivesse o maior valor, mas não é assim… uma pena mesmo. quero lutar contra isso e viabilizar uma cultura forte de ciclovias, bicicletas, mobilidade sustentável…
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