Os ciclistas e as escadarias do Metrô de São Paulo (e do mundo)

No Metrô de São Paulo, os ciclistas são obrigados a carregar a bicicleta nas costas por vários lances de escada. Não é permitido usar as escadas rolantes, nem os elevadores. Veja o que têm a dizer os ciclistas e o presidente do Metrô – e saiba como são as regras em outros países.

Cinco anos atrás, comemoramos com surpresa a notícia de que o Metrô de São Paulo e a CPTM passariam a permitir a entrada de bicicletas em determinados dias e horários. Logo no primeiro fim de semana, mais de 600 ciclistas utilizaram os vagões das duas companhias.

De 2007 para cá, pouca coisa mudou. Os dias e horários continuam basicamente os mesmos (veja: Metrô/CPTM). Ainda há problemas eventuais com dobráveis em qualquer horário, dependendo mais da boa vontade do funcionário do que de um regulamento claro. E, principalmente, a unânime reclamação entre os ciclistas: ter que carregar a bicicleta nas escadarias intermináveis.

O pagador de promessas

Agora, com a estação Butantã, dá para ir de Metrô até a Ciclofaixa de Lazer nos finais de semana. Resolvi aproveitar e ir com meu filho, de 9 anos. Saímos da estação Praça da Árvore (linha azul) e seguimos até a Luz para pegar a Linha Amarela. Na teoria, tudo muito bonito, mas tem um problema: eu tinha que carregar as bicicletas nas escadarias.

Infrator na esteira rolante.

Meu filho não aguenta o peso da bicicleta dele, que tem quadro de aço, e a minha é bastante pesada por causa do alforge. Mas tive que me virar para carregar as duas. Ele carregando o alforge na escada rolante e eu com uma bicicleta em cada braço, rezando pra não tropeçar na escadaria. O peso somado das duas bicicletas ficava em torno dos 30kg.

E como as estações da Linha Amarela tem escadas, hein? Na Luz já tive que descer umas três ou quatro escadarias para chegar na plataforma, mas nem imaginava o que me esperava na estação Butantã. Devem ter sido uns cinco lances bem longos.

Eu tinha que parar para descansar no final de cada trecho. Cheguei na saída do Metrô transpirando. Sem exagero: suei e me cansei bem mais carregando as bicicletas na ida e na volta do que pedalando os mais de 30km que percorremos naquele dia. No total, entre subir e descer, carreguei as duas bicicletas por mais de vinte lances de escada. VINTE. Com 30kg nas costas. E se eu desequilibrasse?

Reclamação unânime

Carregar as bicicletas nas escadas não é nada fácil. E quanto mais pesada a bicicleta, maior o sofrimento. Inúmeras vezes preferi pedalar um trecho longo, mesmo cansado, tarde da noite, para não ter que ficar carregando a bicicleta nas escadas.

O Maurício Alcântara, do projeto Coletivas, contou quantos degraus teve de subir com a bicicleta nas costas, em seu trajeto no Metrô: o equivalente a 15 andares. É pra desanimar qualquer um.

E o problema se agrava em situações como a de David Rissato Cruz, de 35 anos: “Tenho desvio de coluna. Subi a escada do metrô uma vez com a bike nas costas e fiquei 4 meses detonado. Meu tratamento de RPG regrediu praticamente 8 meses por conta desse incidente”. David precisou até se afastar da bicicleta por algum tempo depois disso, mas já voltou a pedalar para o trabalho.

Muitos ciclistas já sugeriram ao Metrô a instalação de canaletas nas laterais das escadas  (como as da passarela que dá acesso à Ciclovia Rio Pinheiros, na estação Vila Olímpia da CPTM). Mas ao Waldson Gutierres, por exemplo, a companhia respondeu que as escadas foram projetadas para dar vazão às pessoas em situação de emergência e não poderiam ter sua largura diminuída.

Pesquisando um pouco no Google é possível encontrar muitas reclamações de outros ciclistas. Teve até quem já foi obrigado a carregar a dobrável nas escadarias, mesmo dobrada. Depende do tamanho da síndrome de pequeno poder do funcionário responsável no momento em que você entra na estação.

A justificativa do Metrô para nos obrigar a carregara bicicleta nas costas é que levá-la na escada rolante é perigoso. Mas, como disse a Sabrina Duran: “É difícil acreditar que quem instituiu essa norma tenha experimentado fazer o teste entre a escada rolante e a comum para mensurar os riscos entre uma e outra. A escada comum é, sem sombra de dúvidas, a que oferece maior probabilidade de acidentes”.

Como funciona lá fora

Muitos sistemas de Metrô nos Estados Unidos permitem o uso dos elevadores. Em Washington, por exemplo, os ciclistas são proibidos de usar as escadas, sejam normais ou rolantes, sendo obrigatório o uso dos elevadores.

Em San Francisco, os ciclistas também podem usar os elevadores. As escadas rolantes são proibidas, mas essa proibição pode estar com os dias contados, já que a companhia BART (Bay Area Rapid Transit) realizou um estudo há alguns anos e concluiu que “escadas rolantes e escadarias são igualmente seguras para uso dos ciclistas”.

Madrid (Espanha) permite transportar a bicicleta em elevadores, escadas rolantes e passarelas móveis. Tudo pode, tudo funciona e todo mundo fica feliz. Países como Alemanha, Áustria e República Tcheca permitem o uso de elevadores ou possuem canaletas/rampas nas laterais das escadas, algumas com esteiras automatizadas.

Na Holanda e na Dinamarca, canaletas nas escadarias são comuns:

Em Tóquio e Kyoto, essas canaletas são automatizadas, carregando a bicicleta por você escada acima. Basta segurá-la enquanto você acompanha andando ao lado dela:

Para passar por esse túnel em Roterdam (Holanda), dezenas de milhares de ciclistas usam escadas rolantes convencionais diariamente, para subir e para descer, desde os anos 40!

Há muitas soluções para subir e descer com bicicletas nos Metrôs de todo o mundo. Mas obrigar os ciclistas a carregá-las nas costas, mesmo tendo as opções de elevadores e escadas rolantes, é algo que só se vê aqui. O ponto em comum é o uso de elevadores.

Com a palavra, o presidente

A Sabrina Duran, do blog Na Bike, entrevistou o presidente do Metrô, Sergio Avelleda. A entrevista – ótima, por sinal – segue abaixo, em vídeo.

Antes, cabe um comentário. Como Avelleda conta na entrevista, não é de hoje que ele usa a bicicleta como transporte. Em 2009, quando presidente da CPTM, ele me convidou para conhecer a Ciclovia Rio Pinheiros, que ainda não havia sido inaugurada. Conversei com ele ao longo de todo o trajeto de 14km, ambos pedalando. Junto conosco, dois ciclistas da polícia ferroviária – parte de uma equipe que faria rondas em bicicleta pela ciclovia o tempo todo, mas hoje não vejo mais por lá.

Naquela época, ele estava começando a usar a bicicleta em seus deslocamentos. Algumas vezes por semana utilizava a ciclovia em toda sua extensão. O André Pasqualini o acompanhou nas ruas diversas vezes, ajudando a estimular o hábito e passando dicas de condução segura. O cara realmente usa a bicicleta, não é papo para cativar ciclista. Mesmo que não use todos os dias, usa com frequência suficiente para saber as dificuldades e as delícias que passamos com a bicicleta por aí.

Avelleda parece disposto a resolver a questão, mas depende de pareceres técnicos que comprovem a questão da segurança para poder atuar. Espero que os responsáveis por essa pesquisa técnica percebam as soluções adotadas com sucesso em outros países e resolvam com rapidez essa situação, pela qual estamos literalmente cansados de passar.

Ajude a mudar essa situação

O que podemos fazer? O melhor caminho, nesse momento, é entrar em contato com a Ouvidoria do Metrô. Envie sua mensagem, dizendo o quanto é cansativo, dolorido e arriscado carregar a bicicleta nas escadas. Explique por que não dá para ficar carregando 15, 20, 30kg nas costas escada acima por vários andares.

Entre em contato com a ouvidoria do Metrô, registre sua queixa e dê suas sugestões para melhorar o atendimento ao usuário ciclista. A mudança que queremos ver no mundo depende cada um de nós.

Já sofreu carregando a bicicleta na escadaria do Metrô? Conta pra gente aqui nos comentários.

65 comentários em “Os ciclistas e as escadarias do Metrô de São Paulo (e do mundo)

  1. Eu concordo com o Raphael, é preciso ter onde deixar as bikes dentro do vagao sem ter de ficar brecando as mesmas, fora que empurra pra frente qdo a porta de tras abre, empurra pra tras qdo a porta da frente abre, faz malabarismo pro pessoal passar pela bike. É só trocar o modelo do ultimo vagao, nao é o trem inteiro …. 3 bikes por vagao?? Muito pouco. Se uma turma entra e lota as 3 vagas, os outros das estaçoes seguintes vai ficar esperando até quando?? Parabens pela reportagem.

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    1. Boa noite. Eu fiz um mochilão pela Europa e usei somente transporte público. Na Europa de um modo geral existe nos trens um espaço para acoplar bikes. vi um na Dinamarca, precisamente em Copenhage, que é muito interessante. Abraços.

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  2. Eu uso praticamente toda semana a bike no Metro, principalmente de sexta-feira, quando levo ela para casa em vez de deixar no bicicletário da estação Butantã. Sinto a dificuldade de carregar a bike, principalmente agora que estou com bursite no ombro. De vez em quando dou uma de contraventor e uso a escada rolante, em especial para subir.
    O ridículo é que na transferência da Linha Amarela para Linha Verde na Paulista não há opção e tem-se que utilizar as esteiras rolantes.
    Para o horário que é permitido o uso de bikes no Metrô, em especial de dia de semana, deveria ser permitido o uso dos elevadores. Eu nem ia me importar em subir alguns lances curtos de escada, mas na estação Butantã, onde entro, e na Paraíso, onde saio, minhas costas iam agradecer muito.
    Outra ideia para o Metro é a instalação de ganchos ou algum tipo de suporte num dos cantos dos vagões que são permitidos carregar a bike. Isso daria mais segurança aos outros usuários e facilitaria para os ciclistas que fazem grandes trajetos no metro.

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  3. Ciclovia da marg. Pinheiros sem saídas nas estações. Ciclofaixa de Moema cheia de buracos. Ciclorrotas sem fiscalização de velocidade dos carros. Acesso ao metrô de bicicleta em horário restrito e sem acesso as escadas rolantes. Isso não é coincidência. Não pode ser.

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  4. Ah… esqueci de falar sobre as CALHAS. Pessoalmente não sou a favor de instalação de calhas nas estações por dois motivos:
    1º – Já existem elevadores em todas as estações e eles sempre estão vazios (lógico que a preferência será sempre de idosos e deficientes físicos). Eles são pequenos, mas é só colocar a bicicleta em pé que cabe perfeitamente;
    2º – Eu já tentei utilizar a calha que existe no acesso da ciclofaixa de Pinheiros com meus alforges carregados e não consegui carregá-la com peso neles. Ainda bem que os ciclistas são solidários e um rapaz se ofereceu me ajudar e trocamos de bicicletas. Eu carreguei a bicicleta dele enquanto enquanto ele carregou a minha com os alforjes cheios.

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  5. Excelente matéria! Essa absurda proibição do uso de elevadores e escadas rolantes tem que acabar!
    Parece que o metro pensa que só atletas carregam bicicletas. Sou mulher e não consigo carregá-la por várias escadarias. Muito menos quando estou com os alforges carregados.
    Por diversas vezes desisti de pegar o metro e preferi pedalar vários quilometros só para não ter que passar pelo aborrecimento de ter que carregá-la.
    Na minha primeira vez que fui utilizar o metro, estava com cerca de 15 kilos no alforje e mais a bicicleta num total de 30 kilos. Na ida não tinha nenhum funcionário por perto da escada rolante e então subi por lá mesmo, mas na volta um funcionário me impediu de utilizar a escada rolante e o elevador. Como sou mulher acima de 40 anos (apelei para dizer que já estava na meia idade rsss!) e o funcionário era um rapaz, pedi (aliás exigi) que ele que me ajudasse e carregar a bicicleta escada acima. Isso foi na estação Santo Amaro onde não dava para ver o final da escadaria! Se ele não me ajudasse seria impossível carregá-la sem risco de cair escadaria abaixo com bicicleta e tudo mais.
    Na época mandei e-mail à Ouvidoria do Metrô e estou esperando a resposta até hoje!!!
    Como voce citou, na Alemanha e Austria os elevadores são enormes e comportam umas tres bicicletas por vez. Tudo é projetado para incentivar o cidadão a usar a bicicleta. Por aqui parece que a bicicleta ainda é vista como um empecilho … no trânsito, metro etc.

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  6. [Comentário oculto devido a baixa votação. Clique para ler.]

    Esse comentário não tem feito muito sucesso. Thumb up 3 Thumb down 9

    1. Olá Ricardo!! Estou aqui pensando com meus botões que “estrago” seria esse se os ciclistas pudessem utilizar os elevadores das estações de metrô!

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      1. Marici, achei que os ciclistas iriam trazer a educação, respeito e as regras de volta ao transito de São Paulo. Mas me decepcionei, alguns andam na calçada, na contra mão até na ciclovia Moema que foi um projeto tão festejado mas tão desrespeitado. Assim imaginei um cara com uma bicicleta de 13kg no metro. Vai com certeza haver desrespeito. O brasileiro não está acostumado a que chamem a sua atenção quando estamos fazendo algo errado ou em desacordo com as normas do local. Você já viu alguém respeitando as regras da escada rolante? E o permaneça atrás da faixa amarela? Ainda precisamos de muito respeito e educação para dividirmos os mesmos espaços. Gostaria muito que fosse diferente, assim como é na Europa e nos videos postados na matéria. Me desculpe.

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        1. Ainda não entendi que tipo de “desreipeito” um ciclista pode causar ao utilizar os elevadores ou escadas rolantes do metro. Cite um exemplo por favor. Sou mulher e usualmente carrego a bicicleta e mais 10 kilos no alforge (não tenho carro e pedalo e faço compras com a bicicleta por toda a cidade). Reparo que todas as vezes que ando no metro os elevadores estão vazios e por isso costumo usá-los na medida do possível pois algumas vezes os funcionários ao verem o quanto de peso estou carregando usam o bom senso e fazem “vista grossa”). Estou burlando as normas do metrô ? SIM!!! Normas absurdas devem ser desrespeitadas. É a aplicação da desobediência civil.(1)
          Afinal se o elevador está vazio porque não posso usá-lo? Nâo pago a passagem? Impostos? Lógico que se houvesse algum deficiente físico teria preferência (nem todo mundo é mal educado nessa terra).Na Alemanha e Austria onde estive ao pedalar pelo Donauradweg (Caminho do Danúbio de Bicicleta), nas estações que tinham elevadores todos os ciclistas os utilizavam juntamente com as mamães com aqueles enooormes carrinhos de bebes e turistas carregando suas bagagens. Fazíamos fila e entrávamos por ordem de chegada. O duro eram as estações que não tinha elevadores(geralmente em pequenas vilas). Ai tinha que carregar a bicicleta e mais uns 20 kilos da bagagem escadaria abaixo e acima (mas lá muita gente ajudava a carregar minhas coisas e se não tivesse ninguém na estação eu não correria o risco de ser roubada enquanto deixava parte da bagagem na plataforma enquanto ia voltar para pegar o resto que ficou lá embaixo (e vice versa). Ainda bem que muitas estão construindo elevadores.
          Leia mais no meu blog:
          http://pedalnodanubio.blogspot.com/2010/06/trem-um-capitulo-parte.html
          Outra coisa: se voce ler em diversos comentários vários ciclistas sofreram lesões. Voce acha isso certo????? Por acaso voce usa a bicicleta para ir ao supermercado? Experimente carregar sua bicicleta com alforges pesando 15 kilos e mais a bike pelas escadarias do metrô. Outro fator a ser considerado é que estamos falando de utilizar a bicicleta no metro aos sábados à tarde, domingos e depois das 20 h em dias úteis. Horários de movimento reduzido! Os elevadores vão estar quase sempre vazios!

          (1) A Desobediência Civil, é uma das formas de expressão do Direito de Resistência, sendo esta uma espécie de Direito de Exceção que, embora tenha cunho jurídico, não necessita de leis para garanti-lo, uma vez que se trata de um meio de garantir outros direitos básicos. Ele tem lugar quando as instituições públicas não estão cumprindo seu fiel papel e quando não existem outros remédios legais possíveis que garantam o exercício de direitos naturais, como a vida, a liberdade e a integridade física.Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Desobedi%C3%AAncia_civil

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    2. Pessoal,

      Vocês podem não gostar do que o Roquetti colocou aqui, mas se trata da realidade! No meu trajeto eu só encontro 2 ciclistas, além de mim, que andam na mão da rua e não ficam alterando entre calçada e pista de rolamento… os ciclistas (normalmente não os que acessam a internet e discutem em blogs) também precisam de educação.

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      1. Oi Laudari!
        Vou ser sincera e confessar que essas situações as vezes são necessárias.
        Por exemplo, qdo vejo pelo meu espelho retrovisor um buzão ou caminhão vindo à toda atrás de mim não penso duas vezes e subo na calçada na primeira via rebaixada que aparecer (questão de sobrevivência a exemplo da Márcia e Lorenzetti que talvez se tivessem feito isso não teriam morrido). Quando começei a pedalar sozinha em São Paulo usava muito a calçada da Av. Brasil porque tinha medo de andar com os carros. Demorava 1h e meia para sair da Aclimação e chegar na biblioteca pública que fica na Henrique Schaumann indo pela calçada da Av. Brasil e outras(hoje ando pelas ruas com os carros e demoro meia hora e raramente subo nas calçadas pois adquiri o “traquejo e as manhas” de andar no trânsito. Talvez essa pessoas que você vê andando pelas calçadas também sejam iniciantes.Só para efeito de ilustração, na Alemanha e em outras cidades da Europa que visitei a maioria das ciclovias são nas calçadas e não na rua com os carros!
        Justamente por ser muito mais perigoso compartilhar a via com os carros. Em resumo aqui é uma selva!!! Salve-se quem puder!!

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        1. Estive no Japão há um ano e lá a maioria dos trechos cicláveis são em calçadas compartilhadas. Em Osaka e nas cidades em volta há pouquíssimas ciclovias e ciclofaixas.

          Esse complexo de vira-lata de que brasileiro é pior do que o “primeiro mundo” precisa acabar. No dito “primeiro mundo” as pessoas não obedecem a lei magicamente porque são educadas, e sim porque são multadas ou presas se não obedecerem. Não há lugar no mundo que placa de trânsito “tem poder sozinha”; se ela tem poder, é porque tem uma punição por trás.

          Tenho certeza que se a maioria, ciclistas ou não, respeitar as regras de trânsito e o governo garantir meios para que isso aconteça, poderemos facilmente nos compararmos com os países desenvolvidos nesta questão.

          Quanto à vaca-fria de vencer lances de escada com a bike: acredito que as escadas rolantes, se bem conservadas, podem ser uma solução já existente. Basta travar os freios para segurar a bike e melhorar a segurança de todos.

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          1. Taí, Marici e Pedro M, passando em revista essas coisas sobre escadaria, de novo me deparo com esse assunto delicado sobre calçadas.

            E esse seu comentário, Pedro, me lembrou desse post: http://vadebike.org/2011/12/o-poder-de-uma-buzina-trim-trim/ que li dias atrás (aliás, o vídeo é divertidíssimo, e no comentário do Paulo Ciclista tem a tradução).

            Então, gente, a despeito daquele mandamento de que “calçada é o santuário do pedestre” (e também dos hereges, que a profanam), seria possível considerar aqui o uso compartilhado (mas, bem entendido, uso disciplinado e formalizado, tá?) das calçadas com os pedestres, sem desmontar da magrela?

            Quer dizer, não em todo lugar e… Por exemplo, e se se mapeasse, para essa formalização (leia-se, sinalização, e com as devidas adaptações), trechos, digamos, sensíveis à segurança do ciclista, trechos onde seria permitido esse compartilhamento com total respeito à segurança do pedestre?

            Sei que esse é um assunto super polêmico, etc. e tal. Mas pra mim não foi nada difícil perceber, no pouco tempo de uso de bike (e de matutar a respeito), que há uma certa, hum, esquizofrenia não resolvida e recorrente em torno dela, de a bike de ser tratada às vezes como veículo e às vezes não, o que parece emperrar a implantação de soluções, sejam elas pequenas ou grandes, conjunturais ou estruturais.

            Pôxa, mesmo que estejamos acostumados a nosso cantinho da cidade, aos poucos caminhos e paradas que diariamente percorremos e nos enraizamos todos os dias, não podemos nunca esquecer como Sampa é na sua totalidade, né?, uma cidade super extensa e super complexa, pra além do nosso simplificado mundinho. E pra resolver (e a pensar em resolver) os multigargalos de mobilidade desse multifacetado urbanístico, não precisaríamos atacar de multissoluções? E disciplinar o compartilhamento de calçadas (vai, começando como projeto-modelo, com uns test-tube) não faria parte delas?

            E além do mais, formalizar esse compartilhamento não contribuiria também para disseminar uma cultura de bom comportamento e correto compartilhamento para onde não seria formalizado?

            Mas, de novo, não me linchem, tá? rs. São apenas matutações de um matuto, então posso estar propondo uma pussssta duma bobagem. (Mas é que, quando meu ócio criativo encontra um objeto/sujeito de reflexão e se fixa nele… Putz, é um deus nos acuda! rs.)

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        2. Oi Cicero! Concordo com voce e acho que muitas calçadas aqui em Sampa poderiam ter ciclofaixas. Exemplo Av. Brasil que é larga e tem pouco fluxo de pedestres.

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          1. Pois é, Marici, mas… Mas não sei seria questão agora de apenas concordar ou discordar. Pouco mais de mês observando e já vi que este é um debate um tanto desvirtuado, porque cheio de dedos, birras, ruídos e… e de silêncios constrangidos? E que acabam por comprometer a seriedade desse debate? Então, estou achando que seria questão de, antes, limpar terreno e reinaugurá-lo.

            Mas lhe reinaugurar com a devida racionalização. Assim: tendo como parâmetro a experiência dos países em que é permitido esse compartilhamento, perguntar-se: mas afinal por que neles é permitido, e como é regulamentada essa permissão? Mas, neles, sempre foi assim? Ou passou a ser num determinado momento? E então por que e como veio a ser assim? E, conforme nossa variada realidade urbanística, onde colocar em prática, e onde não, o compartilhamento de calçadas?

            (Olha só, me veio ontem uma indagação “esquisita” sobre aquela esquizofrenia de que falei no comentário anterior: sim, o Código de Trânsito alçou e reforçou a bike à condição de veículo regular “de asfalto”, mas por outro lado, e simultaneamente… será que ele acabou não enfraquecendo pensar sobre sua condição fora dessas vias?)

            Enfim.

            Ah, um adendo pessoal:

            Pouco mais um mês de reaprendizado do pedalar e não peguei (e nem fiz questão de pegar), montado, uma única calçada, uma única sequer. Claro, tem que ser dado um desconto aí: neste curto período, só pedalei nas madrugadas e nos finais de semana. A não ser por “aventura”, não tenho (nem ainda tenho como ter) um dia-a-dia de bike, pois trabalho em casa e todas as minhas necessidades de locomoção, por sorte, são facilmente vencidas à pé, de ônibus e metrô.

            Ou seja… não sou parâmetro, né? Mas não quer dizer… Mas não quer dizer que um dia, um dia desses, inesperadamente, eu não vá precisar recorrer às milagrosas calçadas! rs. E não quer dizer que eu não consiga imaginar o todo dia de milhares de ciclistas que precisam recorrer, em dificuldades, a elas, né? Pôxa, por que então não “ordenar” (padronizando mentalidade e regras de) seu bom uso?

            (Hum… Pensei agora: uso ordenado da contramão…) Não, não, deixa pra lá. Por enquanto. É muita coisa pra pensar, né? rs.

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          2. Cicero, estou estudando o codigo de transito alemão porque em setembro vou levar um grupo de ciclistas para pedalar por lá e não quero fazer feio com os brazucas lá.Em abril deste ano foram elaboradas novas regras que facilitam a circulação das bicicletas pela cidade. Por exemplo em algumas ruas que são de mão única existem placas permitindo que as bicicletas circulem nas duas mãos.A impressão que eu tenho é que eles querem que as cidades sejam mais cicláveis estimulando assim seu uso.Por outro lado tem uma boa lista de infrações. Curiosidade: mesma penalização pedalar e dirigir com teor alcoolico acima de 0,8 ml no sangue. Além de multa de 800 à 1700 euros ainda pode dar até cadeia. E nao precisa se envolver em nenhum acidente.

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          3. Opa, então quando você voltar faz um relato bem bacana e… E são de agora, é, as mudanças nas regras lá? Putz, assim como o apelo a elas, as respostas do poder público são coisa tão recente, né? E em várias partes do mundo, não só aqui. Palmas então para os gestores públicos que respondem rápida e eficientemente à crescente demanda social pelo ciclável. Já para os apenas “reativos”, como nesse caso de Barretos… tomates! rs.

            Aliás, Marici, vou dar um dedinho nesse post sobre Barretos colocando lá umas coisinhas que acabei de descobri através do comentário do André: no Rio de Janeiro, Marici, há calçadas compartilhadas! E eu também não sabia que o próprio CNT dá previsão a essa possibilidade:

            Art. 59. Desde que autorizado e devidamente sinalizado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via, será permitida a circulação de bicicletas nos passeios.

            Nunca estive no Rio (a não ser en passant, por duas vezes, mas séculos atrás, então acho que não conta), mas já deu pra sacar a referência que é o Rio e a importância do trabalho do pessoal do Transporte Ativo. Olha só esse estudo deles, particularmente os itens Calçada Compartilhada e Faixa no Contrafluxo:

            http://www.ta.org.br/site/area/arquivos2/Leblon.pdf

            Inté. E… força aí nos estudos, pra fazer bonito lá! rs.

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          4. Oi Cicero! Acho que me expressei mal. As bicicletas circulam em calçadas compartilhadas em muitas ruas e avenidas há muito anos em Munique. Em ruas cujas calçadas são estreitas o ciclista pedala na rua. O que eu disse é que de abril para cá foram aprovadas novas regras para facilitar o trasito de bikes. Por exemplo nas mãos unicas (não todas, mas as que tiverem placas permitindo).

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          5. Opa(2), talvez eu é tenha me expressado mal, Marici. Eu não estava me referindo a esse ou outro regulamento, a nada em específico quando disse do recente das mudanças lá. Quis me referir a um movimento geral, a essa “ordem do dia” que está sendo, em várias latitudes, o ciclável, parabenizando onde há prontidão do poder público em atender com racionalizasse a demanda crescente por essa opção.

            No caso, palmas então por se regulamentar, onde for possível e desejável, o uso da contramão (é isso?), que nem sempre o melhor caminho pra quem vai de bike se dá pelo traçado previamente ordenado para os veículos a motor, não é mesmo?

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          6. È isso mesmo!! Vou ver se faço mais videos e tiro fotos das ciclovias de Munique e Viena para mostras para voces.
            Eu tenho esse video que filmei em Munique em 2010 mas as vezes não esta disponivel por causa dos direitos autorais da musica.
            http://www.youtube.com/audio?v=LO1y41WAfVE&video_referrer=watch
            Tem ciclofaixas nas calçadas e no final um passeios turistico de bike passando na rua com os carros (no centro não tem calçadas largas com ciclofaixas).

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          7. O link para o vídeo é esse aqui, não é? http://www.youtube.com/watch?v=LO1y41WAfVE O que você colocou estava, hum, sujo e, hum, me desencaminhou…rs.

            Mas, mesmo curtinho, deu pra observar no vídeo algo da dinâmica da convivência. Nossa, o táxi esperar os ciclistas da calçada passarem e só depois fazer a conversão me surpreendeu!

            E faz isso mesmo, Marici, quando você estiver lá, documenta, documenta à exaustão como se dá essa dinâmica em meio às soluções antigas e novas para o ciclável. É sempre legal ter um painel assim pra comparações. E um de Munique acho que seria bem interessante, já que, pelo que sei, essa é uma metrópole de “camadas”, de histórica à moderna, não é?

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  7. Como sempre, texto completo, isento e objetivo. Parabens! Eu usei a bike no Metrô só 2 vezes. Desisti. Se fossem implementadas canaletas como as que existem na passarela da Ciclovia do Pinheiros já resolveria 90% do problema. Isso é fácil e pode ser feito em algumas estações para começar e a gente opta por pedalar ou descer do metrô em uma estação que tenha este acesso. Isso resolveria talvez até mais que o elevador.

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  8. Eu nunca usei o metrô com a minha bike, mas vejo que o problema também aflinge os idosos. O elevador do metrô mal cabe 3 pessoas, então eu fico imaginando como os idosos sofrem para esperar a vez de usar o elevador. Sem contar, crianças em carrinhos, cadeirantes, etc…
    Eu acho que é uma questão cultural, porque as pessoas também acham que rampa só serve para quem usa cadeira de rodas, mas não é verdade, podem ser usadas por idosos ou por pessoas com problemas de locomoção, e claro, por bicicletas. A minha mãe, que além de ter 65 anos, tem problemas nas pernas devido a um acidente de carro sofrido há mais de 20 anos, não tem condições de descer uma escada com segurança, ela também pode tropeçar e cair. Quando temos que sair juntos, eu sempre fico na frente dela, a fim de protegê-la. Temos que pensar como um todo, e vou escrever para a ouvidora do metrô. Valeu.

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  9. Parabéns pelo post. Ao subir na estação Paulista do metro neste domingo eu quase tropecei em um degrau da infinita escadaria. Com uma mão segurei no corrimão e com a outra segurei a bike, não podia deixar a magrela deslizar uns 10 degraus e atingir outras pessoas. O custo foi um belo de um arranhão. Estive na Holanda mais precisamente em Amsterdam em dezembro e ver como a bike é o principal meio de transporte daquela cidade me deixou alucinado. Tem mais bike que carro! O transporte é completamente adaptado e existe em toda a cidade faixas específicas para a bike, e não é nem ciclofaixa. Um exemplo a ser seguido! abraços.

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  10. É só ver a foto para perceber como a calha é estreita e não atrapalha em nada o fluxo de pessoas, mesmo em situação de emergência. Mas a melhor solução é mesmo usar a rolante ou o elevador, POR QUE NÃO???

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  11. Algumas vezes fui incomodado ao embarcar nas estações de trem e metrô com a dobrável dobrada, mas graças ao trabalho de outras pessoas que tiveram o problema isso simplesmente parou de acontecer e a eles sou muito grato.

    Nessas estações que possuem inúmeros lances de escada vou com a bike dobrável na escada rolante mesmo, já o elevador não tem jeito, se paro com ela na frente me olham como se eu estivesse torturando um gatinho, mesmo que não exista uma grávida ou um deficiente em um raio de um Km.

    Quanto às bikes normais, a simples ideia de subir aquelas escadas desanima qualquer um. Se as calhas diminuem o espaço necessário nos momentos de rush, que façam calhas retráteis, não seria algo tão complexo. Será que não existem engenheiros no país para projetar e implementar essas soluções simples?

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  12. Nas 2 vezes que precisei andar na linha amarela acabei dando uma de infrator e utilizei as rolantes pra subir, mas pra descer fui no braço mesmo pois fiquei com receio de dar algo errado. Felizmente ninguém me abordou, mas provavelmente se tivesse que subir aquelas escadas iria preferir ir pedalando do que de metrô nas próximas vezes, pra mim uma estação pinheiros da vida é praticamente impossível de ir pela escada.

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  13. Excelente post! Vou da Estação Faria Lima (Linha Amarela) à Vergueiro (Linha Azul)com minha bike de aço e com cadeirinha de criança. Sei bem como é difícil e ainda perigoso tropeçar e cair com a bike escadaria abaixo.

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