A bicicleta foi atingida por trás. Foto: Felipe Aragonez

Omissão da Prefeitura resulta em morte de ciclista em São Paulo

Em 2007, a Prefeitura de São Paulo anunciou a construção de uma ciclovia no eixo da Av. Eliseu de Almeida, Zona Oeste de São Paulo. Se estivesse pronta, o ciclista atropelado por motorista e poder público irresponsáveis, ainda pedalaria por aí. Ciclistas organizam manifestação no local.

A bicicleta foi atingida por trás. Foto: Felipe Aragonez

Ciclovia deveria estar pronta desde 2010. Ciclistas organizam manifestação no local.

Manhã de terça-feira. Lauro Neri, pedreiro de 49 anos, ia para o trabalho de bicicleta, na Av. Pirajussara – continuação da Eliseu de Almeida. De repente, uma freada e um impacto. Depois disso, mais nada. Uma vida interrompida por um ataque pelas costas, de alguém com pressa demais. Lauro não chegou no trabalho, não voltou para sua esposa. Uma bicicleta a menos.

Em 2007, a Prefeitura de São Paulo anunciou a construção de uma ciclovia no eixo da Av. Eliseu de Almeida, Zona Oeste de São Paulo. A obra ficaria pronta até 2010. Se estivesse pronta, o ciclista que faleceu ali, atropelado por motorista e poder público irresponsáveis, ainda pedalaria por aí.

Demanda

Em 2010, a Ciclocidade realizou uma contagem de ciclistas na Eliseu de Almeida. Nas 14 horas em que a medição foi realizada, foram registrados 561 ciclistas.

Os leitores do Vá de Bike também comentam com frequência a ausência da ciclovia. “Não entendo como o poder público é tão incapaz de implantar algo que milhares de pessoas alguardam com muita expectativa e que está tão simples de executar”, comentou dez dias atrás o leitor Thiago Donadon.

“Queremos a Ciclovia, que é de extrema importancia”, alertava Sebastião Pereira da Silva, ainda em 2011, contando que as obras de canalização do córrego já estavam concluidas. Hoje, um canteiro central sem ciclovia percorre toda a extensão da avenida, prolongando-se pela Pirajussara.

De quem é a ciclovia?

Seguramos a publicação dessa matéria por algumas horas para tentar descobrir em que gaveta está a ciclovia que deveria estar ali, debaixo das rodas da bicicleta de Lauro. A SMT (Secretaria Municipal de Transportes) informou que a responsabilidade por ciclovias é da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e transferiu a ligação. Na CET, fomos informados que esse projeto estava nas mãos da Subprefeitura do Butantã.

Por sua vez, a Assessoria de Comunicação da Subprefeitura nos respondeu que “a questão da construção da ciclovia diz respeito à Secretaria de Infra-estrutura e Obras – SIURB”. Tentamos contato por bastante tempo no telefone que consta no site da SIURB, sem sucesso (apresentava sempre sinal de ocupado). Terminamos por desistir, para não adiar mais a publicação desse texto.

Não faltaram avisos

Além das cobranças da imprensa e de ciclistas, que chegaram a preparar um abaixo assinado, a Ciclocidade realizou uma reunião com a subprefeitura em setembro de 2010 (que, naquele momento, assumia para si a responsabilidade pela ciclovia).

Nessa reunião, os representantes da entidade ficaram sabendo que o início das obras não ocorreria antes do final de 2011, quando seria concluída a canalização do córrego Pirajussara. A Ciclocidade sugeriu então a possibilidade de uma nova proposta cicloviária, com a infraestrutura para bicicletas junto à calçada. Desse modo, a segurança dos ciclistas naquele importante e bastante utilizado eixo de deslocamento seria atendida mais rapidamente.

O corpo de Lauro atingiu o para-brisa do carro. Foto: Felipe Aragonez

Mas, pelo jeito, a imprensa, os ciclistas e a Ciclocidade não foram levadas a sério. A canalização foi concluída, mas as obras da ciclovia estão longe de começar.

As fotos mostram que a bicicleta foi atingida na roda traseira. Lauro certamente não trafegava de ré na avenida. E o corpo do ciclista bateu contra o para-brisa do veículo, indicando um provável excesso de velocidade (ou teria sido arremessado para a frente). Mas a Prefeitura de São Paulo também subscreve esse homicídio, por sua omissão em tornar a via segura para TODOS os cidadãos.

A proteção à vida não pode ter adiamento. Agora, não adianta lamentar o sangue derramado, chamando o descaso de fatalidade.

Manifestação e ghost bike

Uma manifestação está sendo organizada para a noite dessa terça-feira dia 3 de abril. Será instalada uma ghost bike no local, uma bicicleta branca em homenagem ao ciclista, para que os motoristas que passam pelo local lembrem que a pressa pode custar vidas. Mais informações no evento do Facebook.

27 comentários em “Omissão da Prefeitura resulta em morte de ciclista em São Paulo

  1. Triste realidade que vivemos em um país cheio de corrupção e descaso para com o povo,já pedalei muito nessa Av.Eliseu de Almeida quando trabalhei por anos em Pinheiros,como moro perto do portal do Morumbi,eu usei a bike por uns quatro anos para fazer esse percurso de casa-trabalho e vice-versa.Eu vi essa avenida praticamente interditada com obras em seu canteiro central,ouvi rumores sobre a construção sobre essa ciclovia tão sonhada por todos nós,mas passaram-se os anos e no final…nada de ciclovia…se esse governo prestasse um pouco de atenção no povo e menos em seus próprios umbigos,construiria a ciclovia,aproveitando o material existentes lá no local e os homens que lá trabalharam,já que causaram tantos transtornos por anos…pelo menos deveriam ter construido essa ciclovia e uma vida ou quem sabe,até mais vidas poderiam ter sido poupadas,esperamos que os nossos “queridos” governantes tomem vergonha na cara e construa uma coisa que hà anos deveria de estar lá.Até hoje pedalo por essa via,de vez em quando uso ela para ir até Pinheiros,Centro e até a nossa querida ciclofaixa aos domingos e feriados,mas agora quando passo pela ghost bike lá existente,me vem no coração um sentimento forte,uma mistura de revolta e medo.

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  2. Que Deus de muita força para a familia de Lauro, passei por está dor de perder uma pessoa( meu pai Luis Roberto Derico) que amo muito a 2 anos atrás e sei como é doloroso.
    E espero que este motoristas paguem aqui por pela vida que tiram e pela dor causada as familias.

    Até hoje eu e minha familia estamos correndo atraz de justiça …. espero que o motorista da Viação Pirajuça que atropelou meu para na Br 116 tenha pelo menos um pouco de bom carater e assum o que ele
    fez e não continue afirmando que meu pai se jogou na frente do ônibus.

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  3. Que dá raiva dá. A gente xinga pula e grita, mas no fim “é só um lado que está atacando”; o lado fisicamente mais forte. São pessoas que com alguns reais tornam-se “habilitados”, que vivem competindo pelo primeiro lugar, e que muitas vezes não terão qualquer ressentimento em atropelar um de nós, na direção de mais de 500 kg de metal a 60 km/h. Mas violência nenhuma vai resolver nada. Prende hoje, solta amanhã, depois de amanhã tá dirigindo e matando de novo. Temos direitos. mas de que valerão depois do acidente? Pedalada defensiva!!!

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  4. esse é um dos canalhas que temos dirigindo por aí a solta… e não há campanha que de jeito nestes marginais, só cadeia mesmo pois não justifica o cara ter dinheiro pra ter um carro destes e ainda assim não ter educação de transito nenhuma.

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  5. A solução é fazer esse pobre motorista inocente pedalar numa avenida cheia de gente que dirige igual a ele.
    Não prende não. Dá uma bike pre ele e solta. Na avenida.

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  6. O motorista prestou depoimento dizendo que o Lauro Neri cruzou o sinal vermelho, mas a bike foi atingida por trás. Bela perícia essa. PS: A roda traseira foi arrancada e parou a 10m do resto da bike. O Lauro mais uns 20m pra frente. A quanto estava o meliante? Devia ter sido preso em flagrante.

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