O tempo de espera para que o sinal dos pedestres abra nessa avenida em Copenhagen é de apenas 40 segundos. Há então 30 segundos para a travessia. Imagem: Cidades para Pessoas/Reprodução

A diferença entre atravessar uma rua em Copenhagen e em SP – e 5 lições para as cidades brasileiras

Veja também várias cidades que têm criado redes de ciclovias para deslocamentos cotidianos nos últimos anos. Priorizar as pessoas é tendência mundial.

O tempo de espera para que o sinal dos pedestres abra nessa avenida em Copenhagen é de apenas 40 segundos. Há então 30 segundos para a travessia. Imagem: Cidades para Pessoas/Reprodução
O tempo de espera para que o sinal dos pedestres abra nessa avenida em Copenhagen é de apenas 40 segundos. Há então 30 segundos para a travessia. Imagem: Cidades para Pessoas/Reprodução
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Um dia desses eu aguardava para atravessar a Av. Faria Lima, quando um homem com uma bengala me perguntou: “você vai atravessar?”. Eu respondi que sim e perguntei se ele precisava de ajuda. “Só de você atravessar do meu lado já ajuda”, respondeu.

Quando estávamos chegando do outro lado, entendi o pedido: o semáforo para pedestres fecha antes que ele consiga terminar a travessia. O tempo é insuficiente para que pessoas com dificuldade atravessem.

Ainda faltava uma faixa quando o sinal abriu para os carros. Tive que sinalizar para o motorista aguardar que o Sr. José concluísse a travessia.

Lembrei de um vídeo feito pela Natália Garcia, do projeto Cidades para Pessoas, que comparava o tempo de travessia em Copenhagen e em São Paulo. No final do vídeo há o seguinte texto:

“Na prefeitura de Copenhagen há um ‘Departamento de Vida Urbana, que tem como meta aumentar e melhorar as viagens feitas a pé na cidade. Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego possui um ‘Índice de Eficiência da Rua’, medido pelo número de carros que circulam pela via, e trabalha para garantir a fluidez desses veículos. Está na hora de priorizar as pessoas na administração pública.”

Esse outro vídeo sobre Copenhagen, também do Cidades para Pessoas, mostra 5 lições de Copenhagen para São Paulo (e outras grandes cidades brasileiras):

Ciclistas

O movimento para priorizar pessoas e não os veículos não ocorre só em Copenhagen: é tendência mundial. Apenas para dar alguns exemplos, Londres aderiu às “zonas 30” e reduziu em 40% o número de acidentes; Nova York construiu centenas de quilômetros de ciclovias rapidamente e valorizou o espaço público nos últimos anos; Sevilha, na Espanha, implantou 160 quilômetros de infraestrutura cicloviária em apenas um ano e meio, retirando vagas de estacionamento ou faixas de automóvel na maioria dos casos.

Com estrutura viária e cultura de tráfego automotor que lembram as nossas, a vizinha Argentina implantou 140 km de ciclovias em sua capital Buenos Aires de forma simplificada e barata, mesclando ciclofaixas sem segregação, ciclovias e uso de calçadas. Veja aqui.

Ainda na América Latina, temos outro exemplo, bastante importante: Bogotá, na Colômbia, que alargou as calçadas, priorizou o transporte público, construiu 350 km de ciclovias e reduziu o número de homicídios de 82 a cada 100 mil habitantes para 16, em 10 anos. A experiência da capital colombiana mostra que fomentar o uso da bicicleta, remodelando a cidade e incentivando o uso do espaço público, afeta positivamente a segurança.

“As calçadas e as ciclovias mostram respeito pelos cidadãos mais pobres, mostram claramente que o Estado está se preocupando, construindo igualdade e construindo legitimidade, e quando há mais legitimidade na organização social as pessoas cumprem mais as normas”, disse Enrique Peñalosa nesta entrevista a Renata Falzoni, em março de 2010:


Ou seja, priorizar as pessoas não só reduz o número de acidentes, como também promove igualdade social, diminuindo a violência na cidade. Uma cidade melhor para todos começa por valorizar o cidadão.

7 comentários em “A diferença entre atravessar uma rua em Copenhagen e em SP – e 5 lições para as cidades brasileiras

  1. Ah, olha aí outra fala fresquinha dessa menina Natália postada pela menina Sabrina: http://colunas.revistaepocasp.globo.com/nabike/2013/06/03/sao-paulo-esta-prestes-a-ter-uma-mudanca-de-paradigma-em-que-as-diferencas-passam-a-ter-voz/

    Bão, mas como sou de lua, e já tendo alguns milhares delas nas costas… Assim: cruzando a ponte da Casa Verde no finais de semana, até guardo alguma fé nesse “prestes a ter uma mudança de paradigma”. Mas durante a semana (principalmente nas horas do estouro da boiada motorizada voltando pro estábulo), minha fé, que já não é lá essas coisas, vai rapidinho pro beleléu, viro ateu convicto nessa terra de ninguém e ausente de todo qualquer deus, sem pestanejar.

    Mas é interessante pensar nesse negócio de ponte, em especial nas que cruzam as Marginais. Assim: quando os nossos urbanistas de plantão e nossos engenheiros de tráfego full-time quebrarem o paradigma-fluxo-motorizado pra essas pontes e suas alças de acesso, adaptando-as ao fluxo-não-motorizado, acho que aí sim se dará mostra de um ponto de inflexão fundamental pra quebra desse paradigma-estouro-de-boiada pro resto da cidade.

    E aí sim acho que minha conversão ao otimismo religioso dessa menina Natália será completa, inabalável durante todos os dias da semana da boiada. E com lua ou sem lua…rs.

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  2. Aqui em Bras-ilha estamos andando para trás a passos largos. A ciclofaixa de lazer de domingo e feriados, de 7h às 16h, começando no nada e levando a lugar algum, em uma via que conta com DOZE faixas de rolamento (seis em cada sentido), está em vias de ser transformada em faixa exclusiva para ônibus…

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    1. Ótimo que vão fazer uma faixa para ônibus. Péssimo que vão tirar a ciclofaixa de lazer para isso. Deveriam passá-la para a direita da via, ou pelo menos para a segunda faixa da esquerda.

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  3. Hummm… começar a suprimir os estacionamentos dos motorizados em vias públicas pra dar lugar a… hummm… Que deu uma coceirinha aqui, deu…rs. Ah, outra coisa: acho que tá na hora de fazer uma big reforma de requalificação nos calçadões do centro de Sampa, não tá? (Além de encontrar finalmente uma política de consenso público-privada para a das restantes da cidade, claro.)

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