Sempre há espaço para estrutura cicloviária
Por que o poder público sempre alega que vias para bicicletas serão construídas apenas ‘quando houver espaço’? Qual a dificuldade?
Por Zé Lobo
Uma conferência de planejamento cicloviário mundialmente respeitada, unindo milhares de especialistas que compartilham suas experiências sobre o uso da bicicleta como meio de transporte urbano. A Velo-City ocorre anualmente. Nos anos ímpares, é sediada sempre em um país europeu e tem abrangência "local", tratando geralmente apenas da Europa e com foco na região onde é organizada. Nos anos pares, é chamada de Velo-City Global e tem abrangência mundial, atraindo especialistas de todo o planeta em discussões de altíssimo nível. Mais informações, em inglês, no site da Federação Europeia de Ciclistas. |
Os ciclistas já sabem: existe espaço nas ruas para infraestrutura cicloviária. Afinal, estamos nas ruas e sabemos que esse espaço existe. Mas a bicicleta, embora cada vez mais falada e cogitada, ainda não é levada a sério como deveria. Se mesmo na Europa ainda é assim, imagine aqui! Por isso é muito comum ouvirmos, como resposta à busca de infraestrutura cicloviária, que não há espaço para as bicicletas no viário.
Justamente pra quem ocupa menos espaço, é mais difícil ceder, mesmo que um pouquinho. Mas perceba: nos casos de grandes eventos e de obras emergenciais ou de infraestrutura. como água, esgoto, metrôs, BRTs, o espaço sempre surge. Normalmente, ocupando uma área muito maior do que se usaria para a infraestrutura cicloviária. E, mesmo assim, a cidade não para.
O congestionamento que evapora
O congestionamento causado por diferentes intervenções, de longo período ou permanentes, tem a capacidade de evaporar. É o Traffic Evaporation (evaporação de tráfego), segundo a publicação Reclaiming the Strees for people: Chaos or quality of life? da Diretoria Geral de Meio Ambiente da Comunidade Européia:
“A experiência em muitas cidades europeias é que:
- Problemas de trânsito posteriores a intervenções são geralmente bem menos sérios que o previsto
- Após um período inicial de ajustes, parte do congestionamento que surgiu nas vizinhanças da intervenção desaparece ou “evapora”, devido às mudanças de comportamento e de rotas pelos motoristas
- Como resultado, o ambiente urbano se torna mais habitável em muitos aspectos.”
“Os motoristas procuram novas alternativas para seus deslocamentos, seja mudando o percurso ou o modo de transporte”, esclarece Phillp Loy. O gerenciamento da demanda e campanhas promocionais e de marketing podem ajudar muito neste processo de adaptação.
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Restrições a investimentos
Seguindo esta linha de pensamento, se torna claro que intervenções cicloviárias que ocupem espaço na via, logo terão os “problemas” gerados sanados e muitos outros problemas locais de deslocamento também serão solucionados pela nova infraestrutura cicloviária, resultando em um saldo positivo para a cidade.
Porém o veículo que mais deveria receber atenção é o menos atendido. Afinal grandes obras são coisas sérias, exigem engenharia, projetos, concreto, asfalto, verbas… E bicicletas? São apenas aquele brinquedo de criança de nos remete a juventude?
Um exemplo recente disso foi a liberação, por parte do Governo Federal, de R$ 50 bilhões para o setor de transportes. A bicicleta nem foi mencionada, apesar termos sido convidados para debater o assunto em Brasília. Os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro requisitaram mais de R$ 20 bi desse montante, mas zero para bicicletas. O Rio, que se intitula a Capital das Bicicletas, apresentou seu plano para gasto da verba: Metrô, BRT, VLT. Bicicletas? Ora não brinque comigo, estamos falando de coisa séria! “Embora possa não parecer assim para alguns, a bicicleta pode, de fato, ser a mais séria forma de transporte de todas”, destaca Loy.
E o consultor cicloviário conclui: “Sempre existe espaço para infraestrutura cicloviária. As restrições são políticas e não técnicas“.
Exemplos
Veja abaixo alguns exemplos de intervenções no Rio de Janeiro e a convivência com as obras (fotos de 2013):
Zé Lobo é diretor geral da Transporte Ativo e trabalha por cidades mais humanas e cicláveis desde 1992.
Na avenida Domingos de Morais em frente ao shopping Santa Cruz(ZS de SP) a obra do metro ocupa 2 faixas e já ocupou 3. E a ciclovia que devia passar ali nada de sair.
Comentário bem votado! 5 0
A Domingos tinha 9 faixas (4 Jabaquara e 5 Centro) agora todas sentido centro mais a calçada estão interditadas, metade da avenida, e mesmo assim no horários que passo nos picos da manhã e da tarde o transito flui. Creio que ficaria no limite colocar um ciclofaixa alí, bem melhor esperar a obra terminar.
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A rede globo incentiva o uso do automóvel no Rio. Quer construir um estacionamento na Floresta da Tijuca para seus diretores e funcionários graduados em um terreno de APA (Área de Preservação Ambiental) de 250 mil metros quadrados de Floresta. Ajude a impedir esse crime ambiental e urbanístico. Pelo transporte público de qualidade para todos! Vamos barrar o projeto nº 14/2001.027/2011 que tramita na prefeitura para autorizar esse crime.
https://secure.avaaz.org/po/petition/Impedir_construcao_de_estacionamento_na_Floresta_da_Tijuca
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Falando do assunto, esse vídeo chegou até mim hj, a maioria já deve ter assistido, mas ele é tão genial, mas tão genial que merece menção (em inglês): https://www.youtube.com/watch?v=pX8zZdLw7cs&feature=youtu.be
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Sama, esse talvez tenha sido um dos melhores vídeos que eu assisti tratando desse assunto. Tão claro, tão simples, realmente genial!
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Ótimas observações! Tenho visto aqui também que quando resolvem estacionar ao longo da via o trânsito rapidamente se adapta, mas se colocassem uma ciclofaixa no lugar começaria a chiadeira.
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Mas e aí, Zé, da reunião com a dona president…a não deu pra colar em nenhum interlocutor específico pra, vamos dizer, continuar enchendo o saco, martelando, buzinando no ouvido, etc.?
Normalmente, desde o mandato do Lula, esse é o papel do Gilberto Carvalho. Eu tinha uma amiga (hum, não que ela não seja mais, mas é que faz tanto, tanto tempo que não a vejo…) que participava do movimento dos moradores de rua, e ela dizia que o Gilberto era bastante acessível (pelo menos pra ouvir, né?, pra levar proposta adiante aí é outro quinhentos).
Mas aí sugiro (re)começar, em vez de com uma pauta muito geral, com uma demanda específica. Por exemplo, aproveitar a recém iniciada campanha aqui em Sampa pro compartilhamento seguro, e que os mandatários são do mesmo partido, e encher o saco e martelar e buzinar ao ouvido dele exigindo a formulação de uma campanha nacional (DENATRAN-CONTRAN) nos mesmos moldes ou mais abrangente. Que tal, hein?
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