Como fazer sistemas de bicicletas públicas darem certo?
Guia explica como colocar bikes compartilhadas na rotina das cidades com sucesso e eficiência.
Quem vê cidades como Paris, São Paulo, Montreal e Cidade do México coalhadas de bicicletas públicas, muitas vezes patrocinadas por grandes empresas, nem imagina que a ideia de bicicletas que pudessem ser usadas por qualquer morador da cidade era um plano anárquico surgido em Amsterdã, em meados dos anos 1960. O “Plano das Bicicletas Brancas” espalhou pela cidade dezenas de bicicletas brancas de uso comum, gratuitas, como uma manifestação anticarro. O que no princípio foi uma provocação da contracultura feita pelo grupo Provos, chamando a atenção para como a indústria automobilística estava determinando o uso dos espaços públicos da cidade, hoje foi absorvido como uma forma de integrar a bicicleta a outros diferentes modais de transporte de maneira eficiente e compartilhada.
Quando as bicicletas tomam as ruas, a mudança na paisagem é tão profunda que o Vélib, que roda em Paris desde 2007, virou mais um dos cartões de visita da capital francesa, tão indispensável quando a Torre Eiffel para turistas ou o metrô para os próprios parisienses. As bicicletas Vélib entraram na vida urbana e trouxeram às ruas muito mais bikes privadas. A cidade, como quase todas que apostaram em sistemas públicos de bicicletas, não tinha uma grande estrutura viária prévia – hoje é difícil pensar a cidade sem elas.
Como replicar exemplos como esse em mais cidades? Experiências que deram certo – e o que não funcionou bem – em compartilhamento de bikes é o tema de publicação que será lançada em 13 de fevereiro pelo ITDP Brasil (Instituto de Políticas em Transporte e Desenvolvimento), durante o III Fórum Mundial de Bicicleta, em Curitiba (PR). O “Guia de Planejamento de Sistemas de Bicicletas Compartilhadas” ganhou versão em português, com 152 páginas de indicadores e diretrizes de como implementar projetos. O guia poderá ser baixado diretamente do site do ITDP Brasil.
Bicicletas compartilhadas estão presentes em mais de 400 cidades em todo o mundo, segundo o ITDP. São extremamente eficazes para transportar passageiros de e para grandes polos geradores de viagens, como estações de metrô e BRT (Bus Rapid Transit), além de colaborarem para desafogar o trânsito sobretudo em percursos curtos nas regiões centrais, geralmente bastante densas e com tráfego intenso. Em Barcelona, cada bicicleta do sistema faz, em média, 10,8 viagens por dia. Para cada mil moradores da cidade espanhola, são 67,9 viagens de bike por dia. Na Cidade do México, são 5,5 viagens por dia por bike, mas 158,2 viagens por dia a cada mil habitantes.
Indicadores
A pesquisa do ITDP identificou cinco indicadores em um sistema de bicicletas compartilhadas que podem ser usados para avaliar seu desempenho:
Densidade de estações: Uma rede bem distribuída deve ter de 10 a 16 estações por quilômetro quadrado (distância máxima de 300 metros entre elas e que pode ser percorrida a pé). Isso é fundamental para aumentar a adesão ao novo sistema.
Número de bicicletas por moradores: De 10 a 30 bicicletas devem estar disponíveis para cada grupo de 1.000 moradores. Áreas muito densas ou com grande fluxo de pessoas devem possuir um número maior. A baixa disponibilidade de bicicletas pode comprometer a confiança dos usuários nas bicicletas públicas. Esse sistema deve ser tão confiável e regular como qualquer outro modo de transporte, como ônibus, metrô ou trens.
Área de cobertura: A área mínima a ser coberta deve ser de 10 quilômetros quadrados, grande o suficiente para conter um número significativo de pontos de origem e pontos de destino interessantes, e assim atrair novos usuários.
Qualidade das bicicletas: As bicicletas devem ser duráveis, atraentes e práticas de se usar (com cestinhas para carregar bolsas e/ou compras, cobre corrente e paralamas para proteger as roupas de sujeira; quadro baixo para facilitar sentar na bicicleta com qualquer tipo de roupa). O design diferenciado de peças e componentes também aumenta a segurança e desencoraja furtos.
Facilidade de uso: A retirada e devolução devem oferecer conveniência. A tecnologia é decisiva para se criar uma interface simples de usar. Exemplos dessa tecnologia são o sistema de travamento seguro e automatizado e o monitoramento em tempo real das bicicletas em uso.
Quando e onde
Evento de lançamento do “Guia de Planejamento de Sistemas de Bicicletas Compartilhadas”
Com Clarisse Linke, diretora do ITDP Brasil, e Rodrigo Vitório, especialista em bicicletas públicas da ONG Transporte Ativo
Dia 13 de fevereiro, quinta-feira, de 10h às 12h
III Fórum Mundial da Bicicleta/Reitoria da UFPR (Universidade Federal do Paraná), sala 3 – Rua XV de Novembro 1299, Curitiba
Entrada gratuita
Mais sobre o ITDP
Cidades que enfrentarem seus desafios em mobilidade urbana vão dar um salto à frente das outras, atraindo pessoas que demandam um estilo de vida saudável, e servindo de inspiração para todas as outras. Tornar o transporte mais eficiente caminha de mãos dadas com a melhoria da qualidade de vida e redução da desigualdade.
Fundado em 1985, o ITDP (da sigla em inglês para Institute for Transportation and Development Policy) é uma organização social sem fins lucrativos que promove o transporte sustentável e equitativo, concentrando esforços para reduzir as emissões de carbono, a poluição atmosférica, os acidentes de trânsito e a pobreza.
Com sede na cidade de Nova York e escritórios na Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, México e Estados Unidos, o ITDP possui uma equipe multidisciplinar de mais de 60 profissionais especialistas em planejamento urbano, engenharia de transportes e políticas públicas, dentre outras áreas.
Sua atuação é inspirada pelos oito princípios do Desenvolvimento Orientado ao Transporte (TOD, sigla em inglês para Transport Oriented Development), que estimulam uma ocupação compacta e com uso misto do solo, com distâncias curtas para trajetos a pé e próxima a estações de transporte de alta capacidade. São eles: caminhar, usar bicicletas, conectar, usar transporte público, promover mudanças, adensar, misturar e compactar.
Com alto nível de conhecimento técnico, experiência e know-how em comunicação, o ITDP tem reconhecimento internacional e sua excelência reflete-se na execução das atividades: hoje, 93% de cada dólar recebido pela instituição é utilizado diretamente em seus programas.
No Brasil desde 2002, o ITDP atua em articulação com órgãos governamentais e outras organizações da sociedade civil, utilizando conhecimento técnico acumulado através da experiência em outros países para inspirar a excelência na implementação de políticas públicas ligadas à transporte e planejamento urbano.
Basicamente sucesso depende de motivação, e, lendo literatura sobre assunto mostra os seguinter motivadores: dinheiro, amor, glória, desafio, carreira, interação social, diversão e obrigação.
Os três primeiros são óbvios, o restante, fica um pouco difícil, mas se refletir um pouco também encaixa no perfil de sucesso de um sistema. Obviamente, muitos ficam centrados no 3 primeiros.
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Mas no caso aqui, Carlos, não se trata dessas motivações, hum, genéricas, trata-se sim, e especificamente, de motivar o aumento do número de usuários, motivar sua atração. Se não há “atrativos” no deslocamento entre uma estação e outra (leia-se conforto, segurança, etc.), os outros indicadores não “indicarão” quase nada.
Só que isso dependeria de ações do poder público, já que o viário ainda não foi, hum, privatizado, né? Sabemos que CET e o BikeSampa meio que se associaram, com primeira implantando novas ciclorrotas para ligar as estações. Mas acho que essa iniciativa ainda não é o suficiente.
Primeiro porque o ordenamento para o compartilhamento viário ainda é são tímido, ele precisa ser aperfeiçoado. Vide, por exemplo, a proposta de sinalização feita pelo Ciclocidade:
http://www.ciclocidade.org.br/noticias/516-ciclocidade-apresenta-propostas-de-melhorias-para-sinalizacao-de-ciclorrotas
Segundo porque… Meu, tipo assim: o BikeSampa podia ser mais generoso, né? Já que está ganhando “espaço público” para as estações, por que não aproveita e propõe à prefeitura que ganhem um pouquinho mais dele para a instalação de paraciclos verdadeiramente públicos?
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(Putz… deixa eu ser bem raso.) Faltou um indicador, talvez a medida fundamental a fim de se averiguar se esses sistemas serão fadados ao sucesso ou ao fracasso: adequação e qualidade do viário, na locomoção entre uma estação e outra. (Putz, é mesmo… determinante para o sucesso ou o fracasso também para quem não usa esses sistemas de compartilhamento.)
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