Em protesto contra mortes no trânsito, ciclistas fazem "die in" em frente à sede do Departamento de Transportes de Londres. Foto: Stop the Killing/Divulgação

Em Londres, mortes de ciclistas geram mobilização e protestos

Após aumento das mortes de ciclistas, prefeitura de Londres resolve fiscalizar e punir quem dirige e também quem pedala. Medida gera controvérsias.

Em protesto contra mortes no trânsito, ciclistas fazem "die in" em frente à sede do Departamento de Transportes de Londres. Foto: Stop the Killing/Divulgação
Em protesto contra mortes no trânsito, ciclistas fazem “die-in” em frente à sede do Departamento de Transportes de Londres. Foto: Stop the Killing/Divulgação

A prefeitura da capital inglesa está punindo motoristas e ciclistas que não respeitam as leis de trânsito. Policiais montaram guarda em 166 cruzamentos importantes da cidade durante o período de rush e aplicaram mais de 13.800 multas durante a operação Caminho Seguro, iniciada após a morte de seis ciclistas em um período de duas semanas no mês de novembro de 2013. A operação continuará em mais cruzamentos ao longo do primeiro semestre de 2014.

Até o momento, 209 pessoas foram presas por dirigir sem habilitação, alcoolismo ao volante e direção perigosa, entre outros. A maioria das multas foi aplicada a quem dirigia falando ao celular.

Das mais de 13.800 multas, pouco mais de 4 mil foram dadas a ciclistas, principalmente por ultrapassar o farol vermelho, pedalar nas calçadas e não ter luzes de segurança. Policiais têm parado ciclistas para orientá-los a usar capacete e coletes refletivos para aumentar sua visibilidade e segurança, embora ambos não sejam obrigatórios em Londres. Esse comportamento do departamento de polícia londrino tem despertado irritação nos ciclistas, que sentem que mais uma vez a culpa pelas mortes está sendo depositada neles.

Em declaração ao jornal inglês The Guardian, o diretor-executivo do London Cycling Campaign, Ashok Sinha, disse que a operação policial foi mal pensada. “Isso está sendo concentrado na vítima e na recomendação que o veículo mais vulnerável na via use equipamentos que possuem resultados incertos na proteção significativa do usuário.”

Críticos da abordagem da ação dos policiais com os ciclistas argumentam que estatísticas federais e municipais mostram que raramente ciclistas que não respeitam as regras de trânsito são vítimas sérias – apenas em 6% dos casos há fatalidade.

Em cartaz de protesto, prefeito de Londres é questionado sobre a perigosa presença de caminhões no centro da cidade. Foto: Stop the Killing/Divulgação
Em cartaz de protesto, prefeito de Londres é questionado sobre a perigosa presença de caminhões no centro da cidade. Foto: Stop the Killing/Divulgação

Impunidade

Um levantamento realizado pelo jornal London Evening Standard mostra que apenas 1 em 10 motoristas acusados de atropelar e matar ciclistas vão para a cadeia em Londres. De acordo com dados da polícia londrina, 40 ciclistas foram mortos de 2010 a 2012 e apenas quatro motoristas foram presos.

Segundo a publicação, em sete casos os réus tiveram suas sentenças canceladas ou receberam punições leves e saíram em liberdade. Em pelo menos 24 casos, a prefeitura, o departamento de polícia de Londres e o Ministério Público decidiram não levar o processo adiante ou não apresentar queixa. Em quatro ocasiões, o motorista foi absolvido por um júri.

O levantamento foi realizado após a notícia de que a morte da pesquisadora Katharine Gilles, uma das vítimas, não vai gerar processo contra o motorista do caminhão que a atropelou. Desde 2010, 54 ciclistas foram mortos em Londres.

Protestos

O coletivo Stop Killing Cyclists (Parem de Matar Ciclistas, em tradução livre) tem realizado protestos contra o Transport for London (Departamento de Transportes de Londres). As ações têm o propósito de pressionar as autoridades a tomarem medidas para evitar mortes de ciclistas.

O primeiro deles foi um die-in (ação onde as pessoas deitam no chão, se fingindo de mortas) com cerca de 1.200 pessoas na frente do Transport for London. Também foi produzida uma série de pôsteres para mostrar como o prefeito de Londres, Boris Johnson, pouco tem feito para melhorar a segurança dos ciclistas. Um dos principais pedidos é a proibição da circulação de caminhões no centro da cidade. O prefeito reconhece que o papel dos caminhões nas mortes é bem conhecido – cerca de metade de todas as mortes envolvem veículos pesados, apesar de serem apenas 4% do tráfego.

Para tentar melhorar a segurança dos ciclistas, a London Cycling Campaign desenvolveu um projeto de um caminhão mais seguro para pedestres e ciclistas. Batizado de “Safer Urban Lorry” – (caminhão urbano mais seguro, em tradução livre), o caminhão possui boleia rebaixada e quase toda em vidro, o que dá mais visibilidade ao motorista, que foi colocado em uma posição mais baixa que o normal, eliminando a velha desculpa de não ter visto o pedestre ou ciclista.

Entidade pró-ciclista projeta caminhão urbano mais seguro para as ruas da capital inglesa
Entidade pró-ciclista projeta caminhão urbano menos ameaçador para quem pedala nas ruas. Foto:London Cycling Campaign/Divulgação

Além disso, a cabine rebaixada também encoraja o motorista a ter uma direção mais segura, pois o deixa mais próximo do chão. As barras laterais permitem que, em caso de atropelamento, aumentem as chances da vítima ser jogada para os lados e não para debaixo do veículo. O caminhão também possui câmeras 360° para cobrir os pontos cegos.

A Transport for London promete investir 1 bilhão de libras – cerca de 4 bilhões de reais – para melhorar e tornar mais segura a infraestrutura cicloviária da cidade. Atualmente, 25% do tráfego de Londres é formado por bicicletas.

4 comentários em “Em Londres, mortes de ciclistas geram mobilização e protestos

  1. Veja o que os ciclistas estão fazendo pela cidade ! Certamente, a mobilidade é um tema que deve ser discutido e resolvido em qualquer metrópole do mundo, claro, principalmente as nossas. O negócio é botar a boca no trombone, e ir solicitando, reclamando, exigindo e acompanhando as soluções adotadas para a mobilidade. Afinal, a maior parte da população do mundo, vivem em cidades ! ( http://www.oeco.org.br/convidados/27229-o-crescimento-urbano-e-o-problema-do-seculo )
    E, portanto, as pessoas da cidade tem que se informar mais, interagir mais, e ser mais pró-ativos. É como diz Rushkoff: Programe ou será programado ( http://www.rushkoff.com/ ).

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  2. Caminhões de grande porte deveriam ser proibidos no Centro de qualquer cidade! Mesmo porque a grande maioria destes, possuem vias estreitas e antigas, o que inviabiliza veículos tão grandes.

    Já quanto a proposta de um caminhão “seguro”… pra mim ficou parecendo um ônibus com caçamba! E qual montadora estaria disposta a investir neste tipo de caminhão? Esta questão já vai alem da segurança dos ciclistas. Mas tudo bem, é apenas uma proposta. Eu ainda aposto em campanhas e readequação viária para o uso de bicicletas, transporte público e pq não tb carros? Caminhão grande, somente em vias que os comportam.

    Comentário bem votado! Thumb up 6 Thumb down 1

    1. Olá Netto,

      Imaginei que os VUCs tinham este propósito, de evitar o tráfego de caminhões de grande porte. Se for este o objetivo, os VUC estão à frente.

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