Para dono de loja de automóveis, ciclovias são “uma agressão a quem trabalha”
Afirmação foi feita a Jilmar Tatto, por comerciante inconformado com retirada de vagas de estacionamento. Mas afinal, qual a agressão? Decidimos esclarecer.
Do Estadão, publicado na internet na sexta-feira, 18 de julho de 2014, em matéria intitulada “Comerciante bate boca com secretário em inauguração de ciclovia” (íntegra aqui). O fato ocorreu durante inauguração de novo trecho da ciclovia do centro de São Paulo.
Na entrega do trecho, Tatto chegou a discutir com um comerciante que reclamava da retirada de vagas na rua para estacionamento. “Existe uma agressão a quem trabalha”, reclamou Sebastião Juarez de Menezes, de 64 anos, proprietário de uma loja de veículos no cruzamento das ruas Helvétia e Guaianases.
Menezes questionou o secretário sobre a falta de diálogo. Recebeu como resposta o aviso de que todas as avenidas terão, em tese, ciclovias. “Está comunicado.”
O dono da loja de carros reclamou da transformação do espaço em ciclovia. Talvez por falta de entendimento, talvez por acreditar que o espaço público viário era uma extensão da sua loja, talvez por considerar que a promoção da bicicleta seja ruim para suas vendas de automóveis. Mas podemos afirmar, com boa dose de certeza, que há bastante preconceito contra ciclistas nessa afirmação.
A começar por dizer que “existe uma agressão a quem trabalha“. Pois então quem anda de bicicleta é tudo vagabundo? Poxa, Seu Juarez… quem anda de bicicleta também trabalha! E além do mais, também tem muita gente ociosa andando de carro pra lá e pra cá, certamente em quantidade (e arriscaria dizer em proporção) maior do que quem está de bicicleta. Tem gente até que nunca trabalhou nem pra pagar o tal do carro, veja você!
Essa afirmação transmite ainda uma visão extremamente utilitarista das ruas, muito comum a quem tem como ofício dirigir o dia todo: as vias seriam feitas “para quem trabalha”, para serem usadas a trabalho. Quem está passeando atrapalha os outros. Sob essa ótica, quem está de férias deve se trancar dentro de casa, né, Seu Juarez? Porque se sair às ruas para o que quer que seja, estará atrapalhando quem está a trabalho, que nessa teoria ultrapassada (sem trocadilhos aqui), teria maior direito a usar o espaço público. Ruas, portanto, não seriam feitas para brincar, para passear, para namorar, para viver… somente para dirigir. E a trabalho!
O comerciante – que vale repetir: é dono de uma loja de automóveis (a qual, segundo o Google Street View, comercializa táxis no endereço apontado pela matéria) – disse que existe uma agressão a quem trabalha. Existe sim, seu Juarez, uma agressão forte, violenta, a quem trabalha e usa a bicicleta para chegar ao seu emprego. E isso ocorre em vários aspectos, até mesmo no discurso de algumas pessoas. Um discurso que tem sua parcela de responsabilidade por ameaças e tentativas conscientes de lesão corporal por parte de motoristas intransigentes, que constantemente matam, mutilam e deixam sequelas em corpos, almas e famílias de outros cidadãos, que cometeram o único crime de usar uma bicicleta para se locomover.
Esse discurso e essas atitudes impedem que mais pessoas usem a bicicleta, assustando e afastando das ruas cidadãos que também trabalham. Ou que não trabalham, mas ainda assim têm o mesmo direito à cidade do que quem usa as ruas para ganhar seu dinheiro honestamente a bordo de um carro branco. Ou o mesmo direito à cidade de quem critica os ciclistas por “atrapalharem” nas ruas, mas ainda assim reclama quando se cria uma área segregada para sua circulação. E o mesmo direito à cidade, aliás, de quem coloca uma placa irregular na calçada para alavancar suas vendas… Essa cidade é mesmo cheia de agressões, né, Seu Juarez?
Desejo-lhe sucesso nos negócios, Seu Juarez. De verdade. Lembre-se que quem abandona o carro para usar a bicicleta passa a usar mais o táxi do que quando dirigia – ou seja, a bicicleta ajuda a aquecer o mercado que consome a mercadoria que o senhor vende! E é bom o senhor se acostumar, porque os tempos são de mudança. Século XXI, Seu Juareeez!!
Atenção: sem ofender ou fazer bullying com o senhor de idade, hein? Ele tem direito de expressar a opinião dele, assim como temos direito de expressar a nossa neste espaço.
Expresse sua opinião aqui nos comentários! Mas esforce-se para manter o nível, ok? 😉
é o tal do egoismo ,de querer só ver seu lado ,todos temos direitos e deveres. e a falta de mais conhecimento e cultura e educação de alguns que vejo que sempre vai ter esse conflito de ideias quando o assunto for bicicletas .mobilidade sustentavél.a rua é de todos .
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Algumas pessoas precisam entender e a começarem a aceitar que as ruas são públicas e não podem mais ser utilizadas como estacionamento privativo.
Daqui pra frente a tendência é cada vez mais começar a brotar ciclovias pela cidade.
Infelizmente vamos nos deparar muito com cidadãos que tem o mesmo pensamento que o do Sr. Juarez.
Outro dia me deparei com um senhor esbravejando que ao invés de terem feito uma ciclovia no meio da Av. Eliseu de Almeida, que tivessem construido mais duas faixas, na avenida.
Lamentável.
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Moro na região central, mas bem longe da loja do Sr. Juarez, desde que me mudei pra cá, não possuo carro ou moto, utilizo ônibus e muitas vezes táxis, que aliás fica muito mais barato que andar de carro. Esse senhor só está indignado por perder um pedaço da rua, que deve utilizar como extensão da sua própria loja. Se reformasse seu estabelecimento, oferecendo vagas para os clientes, com certeza teria um diferencial sobre as demais lojas.
O automóvel, antes um simbolo de status, deve, em alguns anos, se tornar um simbolo de falta de inteligência.
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Televendas, e-commerce, entrega por motoboy… existem tantas soluções para a “falta de vagas” para os precisos clientes, o negócio fica até mais seguro para o Sr. Juarez. As grandes cidades estão mudando e o transito tende a ser mais democrático. Quem opta pelo carro também tem de arcar com as conseqüências, assim como quem usa transporte publico, bike, etc… Afinal, todos pagam impostos.
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Seu Fernando, não seria mais fácil se alguns dos lojistas que vendem (ou lucram) pouco transformarem seus locais de comércio em estacionamentos para carros, motos e bikes?
Um conhecido no bairro onde moro fez isso e não se arrependeu, a procura por vaga foi tanta que ele já comprou outro prédio pra por abaixo e transformar num outro estacionamento, agora com lava-rápido!
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” Naquele emaranhado de ruas estreitas povoadas por prédios antigos, onde os clientes vão estacionar para visitar as lojas? Num bicicletário? Creio que nem isso caiba naquele espaço!”
Será que os clientes só irão aparecer se tiver espaço pra carro?Quem tem carro SÓ PODE IR PRA RUA DE CARRO?Existe uma hierarquização dos transportes disseminada na cabeça das pessoas na qual o carro está no topo,então deixar o carro em casa e ir de outro jeito é como “descer de status” e “cair de patamar”.
É exatamente essa cultura que põe o veículo a motor e aquele que é motorizado como prioritário que a preparação do espaço público para todas as demandas de todo tipo(pedestres,ciclistas,cadeirantes,usuários do transporte coletivo do transporte particular)está tentando superar.Automóvel deve ter o seu lugar,só não deve ter prioridade…Criar uma cidade multimodal e não somente motorizada é democratizar o espaço público(que pertence a todo mundo e a cada um por igual).
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De certa forma Sr. Juarez é uma “vítima” do seu próprio tempo.
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Sr. Sebastião Juarez de Menezes,
Nós ciclistas também te amamos!
Dilson Corrêa da Silva, trabalhador, 62 anos!
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Concordo com o Bruno acima, não devemos perdem tempo com ele e com os interesses dele sobre seus negócios lucrativos, que gananciosamente atropelam o direito dos outros.
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Ops..estava comentando o comentário do Bruno – http://goo.gl/Xf2QZl
Desculpem o erro
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Ufa! 🙂
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A rapaziada do autoentusiastas esperneia tanto que se o fizesse sobre um selim com os pés em pedais iria longe!!!
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vi essa página do autoentusiastas e não consegui acreditar!
Será que eles não percebem que mais gente andando de bicicleta também é benéfico pra eles???
De qualquer forma, tal como com o seu Sebastião, existem opiniões que agora estão se chocando mais que nunca.
Creio que a discussão entre carro x bicicleta será intensa por um tempo que começa agora.
Mas isso tem um lado excelente, afinal de contas, foi assim na Holanda décadas atrás.
Independente do “lado”, não existe normalidade em engarrafamentos dignos de entrar no Guinness. São Paulo precisava irremediavelmente reduzir o espaço dos carros. Torço muito para que essas medidas tenham sucesso, para que aqui em Porto Alegre a prefeitura veja o quanto nos negligencia.
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Conheço essa região, eles colocam uns caras nas esquinas das ruas perguntando se vc quer vender seu carro. Pagam a vista e comprar qualquer carro, com ou sem multas, dividas etc. Um comercio um tanto suspeito por assim dizer. A ciclovia ali realmente não vai ajuda-los porque é muita gente circulando e vendo todo esse comercio. Além disso pra conseguir abordar os motoristas eles precisam que ele consigam parar.
Na verdade nessa região central tem vários pontos que ficarão incomodados com ciclovias justamente porque inibe certas coisas…
Vamos como a prefeitura vai fazer quando vierem mexer em areas de comercio forte e organizado como na av Jabaquara. Vai ser complicado…
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O fato é que muitas vezes quem faz mais barulho é a minoria (esses carrocratas empedernidos, por ex), sempre partindo de posturas individualistas, neste caso um individualismo exarcebado pela cultura do automóvel e de uma sociedade selvagem onde o único valor é o de passar à frente do outro pelo acúmulo de capital e símbolos de status. O que está em jogo aqui, além de um conceito de cidade, é a noção de sociedade como um todo. É preciso deixar claro que a grande maioria, a quem realmente interessa uma sociedade mais equilibrada e pacífica, não deve ouvir calada essas vociferações da minoria esperneante. Se não será aplicado o princípio do “quem não chora, não mama – jus esperneandi”. A comunidade ciclista deve se unir cada vez mais, para garantir a durabilidade e a expansão dos ganhos promovidos por esta prefeitura. O nosso objetivo é que não haja uma “comunidade ciclista”, mas que a bicicleta seja vista cada vez mais como um elemento normal e cotidiano – mesmo óbvio – das nossas cidades. Vai depender de trabalho e atuação constantes. Conversando com um ciclista de Nova Iorque há alguns anos, ele relatou como a reação dos carrófilos aumentou quando a diretora do departamento de tráfego resolveu implantar as ciclovias – querem vender a idéia de que estão “em guerra” contra os ciclistas. Me lembro de ter pensado, “nossa, nem chegamos a esse ponto ainda”! Então, com as ciclovias, estamos chegando agora a esse estado em que querem declarar guerra a mudanças. Aí vem chumbo grosso, força a todos, e ao prefeito em especial! Abraços
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Ótimo texto, sensacional aliá-lo ao direito à cidade e não somente ao direito às ruas, mas à cidade com todas suas nuanças e belezas, as quais, muitas vezes, somente os ciclistas conseguem contemplar.
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Estou aguardando ansiosamente os 400 km de ciclovias prometidas pela prefeitura. Mas todos nós ciclistas sabemos que haverá muuuuitas reclamações por parte dos motoristas dizendo que o trânsito “piorou”. Lembrem-se das faixas exclusivas para onibus.
E haverá muitas reclamações dos comerciantes que acham que a rua em frente ao seu estabelecimentos são vagas privativas de estacionamento de suas lojas. Até eles perceberem que podem instalar paraciclos em frente as lojas e seus clientes começarem a se locomover de bicicleta.
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Deveria mostrar a matéria em que uns dos maiores empresario de carro utiliza so bicicleta.para trabslhar e fechar negocios.
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Ora, eu não perderia tanto tempo com o Sr. Juarez. Ele lembra muito aquele motorista que fica atrás da bicicleta buzinando ou forçando passagem, para acelerar e chegar logo no próximo farol vermelho ou ali onde o trânsito já parou de novo. São as pessoas sem disposição de pelo menos tentar pensar diferente. Donos da verdade absoluta.
Por falar em disposição e perda de tempo, olha que pitoresco esse artigo que eu encontrei sobre as novas ciclovias de São Paulo. Diz aí se não é divertido, especialmente os próprios leitores do blog criticando a irracionalidade dos argumentos?
http://goo.gl/Xf2QZl
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Credo Bruno, tive o desprazer de conhecer o tal blog e foi realmente um tempo perdido em noticia ruim(abordagem totalmente distorcida) com comentários amedrontadores …
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Deixei lá o seguinte comentário (vamos ver se o autor do blog aprova):
“Todos os tipos de transporte precisam ter espaço na cidade, para que cada um possa escolher a forma que prefere se deslocar. O carro pode ser uma ferramente de locomoção fantástica, mas também tem suas desvantagens. A principal delas é que a maioria das pessoas que usa o carro usa sozinha (a média é 1,2 pessoas por carro). Ou seja, acaba ocupando uma área grande da via pública só para si. Enquanto que num ônibus vão 60 pessoas em uma área que seria ocupada por 3 carros, ou seja, umas 4 pessoas em média.
Como apenas um quarto dos deslocamentos feitos em SP são feitos por carro, e como o carro acaba ocupando um espaço per capta muito grande, é justo reservar um espaço para outras formas de deslocamento: faixas e corredores exclusivos de ônibus nada mais são do que uma melhoria do transporte público, uma maneira de equilibrar um pouco o uso das vias, que estão tomadas pelos carros.
As ciclovias também são isso, uma maneira de equilibrar um pouco o uso desse espaço. Bicicletas ocupam uma área muito pequena e não congestionam (algo bloqueia o caminho? Basta descer da bicicleta e ir pela calçada até passar o obstáculo, e continuar normalmente depois dele. As bicicletas não ficam paradas, “presas” no trânsito pois tem essa flexibilidade). Os ciclistas também tem direito a um espaço nas vias públicas, mesmo sendo minoria (e o espaço reservado para eles também será menor. Uma ciclovia de duas mãos ocupa o espaço de apenas uma faixa de carros, é só uma pequena parte do espaço). Além da questão do espaço, existe a questão da segurança: é mais seguro para a pessoa que usa a bicicleta ir por uma ciclovia.
E claro que o carro tem que ter um espaço também. Só não pode tomar conta de quase todo e espaço público, como é hoje.
Abraços!”
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“E antes que alguém me encha o saco, sou pedestre durante toda a semana, e só na semana passada quase fui atropelado duas vezes por bicicletas. Uma vez foi na calçada e na outra por um ciclista que estava “treinando”, que ainda me xingou por atravessar na frente dele. PS: eu estava na faixa de pedestres com sinal aberto para mim.”
http://www.autoentusiastas.com.br/2014/10/a-bocalidade-das-ciclofaixas/
Vale a pena ler este e outros artigos para entender que: autoentusiastas não são contra bicicletas, um dos blogueiros pedala muitos quilômetros semanalmente, ninguém lá é contra CICLOVIAS, por exemplo, entre outras coisas. Irracionais são as pessoas que se imbuem de uma ideologia e não analisam as questões friamente, os prós e contras de medidas e quais seriam as soluções verdadeiras.
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Mas isso não tira o mérito nem a necessidade de um sistema cicloviário, aí entra educação, é isso que o autoentusiastas, a sociedade e os ciclistas de verdade deveriam lutar.
Esses site só destila ódio e preconceito ao invés de usar bom senso e coerência, basta ver o teor dos artigos, cultiva uma ideia errada de que o espaço da cidade não é de todos e é um crime muda-lo para tornar o espaço mais humano, nem que seja só um pouquinho, é sempre o “meu espaço, o espaço do meu carro”, dá uma angustia ler o que a maioria escreve sobre esse assunto, é tudo pessoal demais.
A prefeitura tem o dever e o direito de fazer aquilo que achar mais correto para a cidade, e se necessário brigar por isso contra outros interesses.
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