São Paulo já teve campanha na TV pedindo respeito ao ciclista – assista os 3 vídeos
Em 2013, a prefeitura veiculou uma campanha sobre respeito a quem pedala nas ruas, com cenas gravadas com quem realmente usa a bicicleta. Assista!
Pouca gente lembra, mas a cidade de São Paulo já teve uma campanha na TV aberta pedindo que os motoristas respeitassem e protegessem os ciclistas que circulam nas ruas. Veiculada em 2013, a ação ocorreu um ano antes do plano de 400 km de ciclovias, que espalhou estrutura cicloviária por toda a cidade. Além da televisão, foram utilizadas inserções em rádio (spots e informações nos boletins dos helicópteros), internet, TVs internas de ônibus e metrô, pontos de ônibus e relógios de rua.
A ação foi resultado direto de uma reunião de ciclistas com o então prefeito, Fernando Haddad, em março de 2013, conseguida após manifestações populares em reação a atropelamentos de ciclistas. Depois disso, ocorreram reuniões com a agência responsável, para que as propostas pudessem ser avaliadas, aprovadas e discutidas pelos ciclistas. Alternadamente, participaram dessas reuniões: Willian Cruz (Vá de Bike), Renata Falzoni (Bike é Legal), Thiago Benicchio (Ciclocidade), Raphael Monteiro (Bike Anjo) e Jéssica Martinelli (Ciclocidade).
Informações importantes são passadas nos filmes, tanto de forma textual como nas imagens. Os ciclistas são mostrados como cidadãos comuns fazendo deslocamentos simples, não atletas em treinamento. As imagens deixam claro que as pessoas que usam a bicicleta são como as pessoas que dirigem: têm filhos, se deslocam para o trabalho, muitos até mesmo deixando o carro para optar pela bicicleta, como mostra uma das cenas. Assista os vídeos no final da página.
Com o recente aumento de 75% nas mortes de ciclistas na cidade, não estaria na hora de outra campanha?
Atores
Os filmes foram gravados nas ruas da cidade em junho daquele ano, com pessoas que utilizavam diariamente a bicicleta e possuíam prática nas situações reais de uso (saiba mais). Aline Cavalcante, colaboradora do Vá de Bike, foi uma delas. “Decidi ir porque pela primeira vez fomos ouvidos em todo o processo, desde a conversa com o prefeito ate a criação do roteiro e cenas de rua”, contou à época.
Outros nomes conhecidos da cena cicloativista paulistana participaram do comercial, como Roberson Miguel e Silvia Ballan, que levava sua filha Nina na cadeirinha. Todos aceitaram participar de forma ativa da campanha justamente pelo tom que seria adotado – e também como forma de garantir que a mensagem seria a mais adequada possível, dentro das limitações existentes.
Mude de faixa para ultrapassar
Um ponto de destaque é que os ciclistas do filme claramente ocupam a faixa de rolamento. Foi um avanço enorme mostrar isso como sendo o posicionamento adequado da bicicleta na rua, em uma comunicação oficial da Prefeitura. Ocupar a faixa é o comportamento mais seguro, mas por ser pouco aceito pelos motoristas é importantíssimo que seja evidenciado e lastreado por órgãos públicos.
Uma das cenas mostra o ciclista no meio da faixa, com setas indicando que, para respeitar a distância lateral, torna-se necessário que o motorista utilize outra faixa. O texto fala sobre a distância necessária e também sobre reduzir a velocidade para ultrapassar, outro ponto importante.
Na presença de faixa exclusiva de ônibus, o ciclista é mostrado na segunda faixa. Mas em outra cena um ônibus ultrapassa adequadamente um ciclista que está na direita, utilizando a faixa adjacente. Com isso, duas situações são exibidas e reconhecidas como válidas: o ciclista na direita, mesmo em vias com ônibus, e a utilização da segunda faixa, deixando a faixa direita para os coletivos.
Recomendações para os ciclistas
Há também informações destinadas aos ciclistas. Além das cenas que mostram a faixa sendo ocupada ao trafegar, há uma ciclista atravessando na faixa de pedestres desmontada da bicicleta e também parando no sinal fechado, numa bike box (espaço reservado a bicicletas antes da faixa de pedestres).
É feita a recomendação para utilizar “os acessórios de segurança” (entende-se o uso de capacete). Um ciclista aparece sinalizando a mudança de faixa e todos trafegam no mesmo sentido dos carros. Ninguém utiliza a calçada nem a contramão nos vídeos. Nenhum ciclista fura o sinal.
O que se mostra nas peças é o comportamento esperado, tanto de motoristas quanto de ciclistas.
O filme encerra com uma ótima frase: “a rua é de todos e tem espaço para todo mundo, é só saber compartilhar”.
Capacete
Embora sua efetividade para a segurança do ciclista seja até menor do que sinalizar, andar na mão correta, ocupar a faixa e usar luzes na bicicleta, muitos criticaram a presença de pessoas pedalando sem capacete no vídeo. Mas a campanha reflete o que se vê nas ruas e sabemos que a maioria das pessoas que pedalam na cidade não utiliza esse acessório, que não constitui equipamento obrigatório. E esses ciclistas também precisavam ser percebidos e respeitados pelo público-alvo da campanha.
Desde as discussões iniciais o Vá de Bike se posicionou favorável a mostrar pessoas com e sem o casco, aproximando-se da realidade das ruas. Mostrar apenas ciclistas com capacete poderia causar um efeito colateral bastante danoso, passando a ideia equivocada de que apenas os que utilizam esse acessório merecem o respeito dos motoristas. Apesar disso, os textos da campanha recomendam o uso dos “equipamentos de segurança”, subentendendo-se o capacete.
Alguns ciclistas chegaram a comentar que seria mais proveitoso estimular o uso de iluminação na bicicleta do que o capacete, com o que concordamos: é muito mais importante evitar uma situação de risco do que apenas se preparar para sobreviver a ela. E, nesse sentido, as luzes piscantes são importantíssimas.
Vídeos
Originalmente foram 4 vídeos veiculados, mas um deles – que mostrava ao motorista que ele deve aguardar pacientemente atrás do ciclista até poder ultrapassar – não está mais online. Se você tiver uma cópia aí guardada, entre em contato!
Se todos respeitassem os ciclistas seria bom para todos.Até o próprio governo não respeita
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