Saiba como foi a Velo-City 2018, no Rio de Janeiro

Conferência internacional que reuniu mais de 1200 pessoas teve participações brasileiras importantes, mas também protestos e críticas à prefeitura

Mais de 1.200 pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, participaram da conferência internacional sobre mobilidade em bicicleta. Ao centro, de camisa escura, Zé Lobo, da Transporte Ativo. Foto: Base de Eventos

O Rio de Janeiro foi a primeira cidade da América Latina a receber uma Velo-City, a maior conferência do mundo sobre mobilidade por bicicleta. O evento internacional é referência mundial na discussão e formulação de políticas de ciclismo urbano.

Com o tema “Acesso à Vida”, a edição carioca aconteceu entre os dias 12 e 15 de junho e contou com mais de 1.200 participantes, entre inscritos e palestrantes, além de uma equipe de 300 pessoas que trabalhou para a realização do evento.

Anvita Arora (Índia) e Eduardo Cardenas (Equador), com JP Amaral e Suzana Nogueira (Brasil). Foto: Base de Eventos

Participações brasileiras

Entidades e coletivos de várias partes do Brasil mostraram ao mundo seus projetos, estudos e ações, apresentados junto às iniciativas estrangeiras. Entre eles Ciclocidade, Transporte Ativo, Ameciclo, SampaPé, Aromeiazero, ITDP, La Frida, Cebrap, Pedala ManausClube de Cicloturismo do Brasil, Labmob/UFRJ e outros (clique nos links para saber mais sobre cada participação).

Os representantes da Ciclocidade, Flavio Soares, Aline Cavalcante e Joao Lacerda. Foto: Ciclocidade

“Tivemos quatro dias de troca de experiências, onde compreendemos a influência da bicicleta na sociedade, que nos ajudarão a aprimorar o planejamento nas áreas de cicloturismo, mobilidade urbana e qualidade de vida”, avalia Marcelo Alves, presidente da Riotur. “Queremos uma cidade mais inclusiva e eficiente, e a bicicleta tem papel fundamental neste cenário que desenhamos para o Rio do futuro”.

Zé Lobo, curador e responsável pela programação da Velo-City 2018, completa: “O evento superou nossas expectativas em relação ao público presente, que participou ativamente de todas as palestras e plenárias. A Velo-City proporcionou uma grande troca de conhecimento. A partir daqui a gente pode pensar em uma nova forma de ver a bicicleta no Rio de Janeiro – e nas demais cidades brasileiras e latino americanas também”.

A Bike Parade colocou centenas de brasileiros e estrangeiros para pedalar pela cidade. Foto: Alexandre Macieira/Riotur

Bike Parade

Um dos destaques da conferência foi a Bike Parade, que reuniu centenas de ciclistas na quarta-feira (13/06), do Píer Mauá até o Monumento a Estácio de Sá, no Aterro do Flamengo, demonstrando na prática que a bicicleta é um meio de transporte viável.

Marcio Deslandes, diretor da ECF (Federação Europeia de Ciclistas), entidade realizadora da Velo-city, também saiu otimista. “Estamos todos muitos satisfeitos com o resultado da Velo-city. Para mim o ponto alto do evento foi a Bike Parade. Foi emocionante ver uma multidão pedalando nas duas principais avenidas da cidade.”

Marcio Deslandes, da ECF. Foto: Alexandre Macieira/Riotur

“Outro destaque foi a plenária Advocacy For Social Inclusion, que reuniu no mesmo palco autoridades da África lusófona, representantes do poder público de todo mundo e projetos de empreendedorismo social. O encontro representou bem o tema da conferência: acesso à vida. Foi uma oportunidade de capacitação para a sociedade civil e para os técnicos da prefeitura do Rio sobre a questão da mobilidade. Desejo que o evento deixe um grande legado para a cidade”, afirmou Deslandes.

Declaração do Rio

Durante a cerimônia de encerramento do evento, foi apresentada a Declaração do Rio sobre o Uso da Bicicleta para Mobilidade Urbana Sustentável, um dos legados da conferência Velo-city 2018. Proposta pela Prefeitura do Rio, representada pelo Embaixador Antonio Fernando Cruz de Mello, a declaração versa sobre a promoção de políticas públicas de fomento de infraestrutura e ambiente de alta qualidade que priorizem a bicicleta como um meio essencial para a mobilidade urbana sustentável.

As laranjinhas do Bike Rio estavam disponíveis para os participantes do evento. Foto: Alexandre Macieira/Riotur

A Declaração do Rio ainda estabelece um acordo de colaboração permanente para troca de informações e experiências que despertem o reconhecimento da importância da bicicleta para as cidades, com incentivos às áreas de educação, conscientização da população e melhoria da infraestrutura urbana, através de parcerias dos setores público e privado e da sociedade civil. Os signatários da Declaração do Rio foram as autoridades das cidades de Paris, Dublin, Bruxelas, Copenhagen, Nijmegen e Rio de Janeiro.

Próximas edições

A Velo-City acontece na Europa nos anos ímpares e fora dela nos anos pares. Em 2019, a conferência internacional acontecerá em Dublin, na Irlanda, voltando para a América em 2020, quando acontecerá na Cidade do México.

Foto: Alexandre Macieira/Riotur

O que é a Velo-City?

Uma conferência de planejamento cicloviário mundialmente respeitada, unindo milhares de especialistas que compartilham suas experiências sobre o uso da bicicleta como meio de transporte urbano.

A Velo-City ocorre anualmente. Nos anos ímpares, é sediada sempre em um país europeu e tem abrangência “local”, tratando geralmente apenas da Europa e com foco na região onde é organizada. Nos anos pares, é chamada de Velo-City Global e tem abrangência mundial, atraindo especialistas de todo o planeta em discussões de altíssimo nível.

Mais informações, em inglês, no site da Federação Europeia de Ciclistas.

Protesto

Foto: Ciclocidade

Nem todos ficaram satisfeitos com a conferência. Impedidos de participar devido ao alto custo do ingresso, muita gente demonstrou sua indignação em um protesto, que ocorreu de forma simultânea à Bike Parade.

Com uma faixa onde se lia “Inclusão social à venda: 1 salário min + juros”, os manifestantes questionavam o preço mínimo de U$ 270 (cerca de mil reais) para participar da Velo-City.

A Velo-City é um evento tradicionalmente caro para participar, adequado a bolsos europeus. Os preços para essa edição foram bastante reduzidos para participantes da América Latina, mas ainda assim o valor era bem superior ao que a maioria dos brasileiros pode pagar. Para os estrangeiros, o preço cobrado foi de US$ 700 a 800 (em torno de R$ 3.000) – exceto para participantes de países em desenvolvimento, que ainda assim desembolsaram US$ 400.

Prefeitura também foi alvo de críticas

Além de criticar o tema “acesso à vida”, alegando falta de inclusão social, a página do evento de protesto no Facebook questionava a falta de investimentos em infraestrutura cicloviária no Rio (“R$ 5 mil no ano de 2018 “) e obras cicloviárias interditadas e abandonadas, como a Ciclovia Tim Maia, cujos sucessivos desabamentos levaram à morte de duas pessoas.

O prefeito do Rio pedalou um “moped”, um ciclomotor que perante a legislação brasileira – e de muitos outros países – não é considerado uma bicicleta elétrica. No Brasil, veículos como esse estão sujeitos a regras semelhantes às de motocicletas para poder circular, como o uso de capacete de motociclista, habilitação, licenciamento, emplacamento e seguro obrigatório, além de não poderem circular em ciclovias (saiba mais). Foto: Alexandre Macieira/Riotur

Em entrevista à colunista Lu Lacerda, do portal iG, Raphael Pazos, criador da Comissão de Segurança do Ciclismo da Cidade do Rio (CSC-RJ), conta que nenhum trecho de ciclovia foi construído na gestão de Marcelo Crivella (PRB) e afirma que o prefeito quis cancelar o evento quando ficou sabendo dele, só não o tendo feito porque a multa seria absurda.

“O evento foi contratado na época do Paes, em 2016, e estava na pasta da Secretaria de Transporte”, relata Pazos. “Quando o governo mudou, o Crivella passou à pasta da Riotur, como se fosse um evento turístico, ou seja, pensando que geraria receita para a cidade – em hotelaria, no comércio, como vitrine. Mesmo sabendo disso, o prefeito não fez nada, não construiu vias e não conservou as existentes”.

Marcelo Crivela (dir), prometendo ciclovias em entrevista ao Vá de Bike, em 2017. Foto: Willian Cruz/Vá de Bike

Durante a edição 2017 em Nijmegen, na Holanda, o prefeito do Rio prometeu em entrevista ao Vá de Bike que a cidade estaria pronta para a Velo-City desse ano. Afirmou que “as contrapartidas de todas as obras do Rio de Janeiro” seriam utilizadas para construir novas ciclovias e tornar as existentes mais seguras, “instalando câmeras nelas”. Vê-se que foram palavras vazias, jogadas ao vento para impressionar a audiência, como infelizmente já imaginávamos desde aquela entrevista.

4 comentários em “Saiba como foi a Velo-City 2018, no Rio de Janeiro

  1. A questão, a priori, não é o valor cobrado em si, mas a situação catastrófica financeira de um país, cujos cidadãos nem dispõem do dinheiro para participarem de um evento dessa magnitude. Os organizadores do evento se esqueceram – ou não foram avisados – que a situação brasileira é diametralmente oposta ao dos ciclistas do outro lado do planeta. Quanto às promessas feitas por um político brasileiro…

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  2. Um evento de grande magnitude, porem comum preço bem salgado. É ao mesmo tempo atrair o interessado pelo assunto e ao mesmo tempo afugentar pelo alto preço.

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