Julieta Hernández

"Minha casa é o movimento", diz o perfil de Julieta Hernández no Instagram. Imagens: @utopiamaceradaenchocolate/Reprodução

Quem era Julieta Hernández

Conheça Julieta Hernández, palhaça e cicloviajante homenageada em atos que ocorreram em 167 cidades do Brasil e do Mundo em janeiro deste ano

Os tristes eventos envolvendo Julieta Hernández impactaram bem além da rede inicial de ciclistas e artistas que acompanhavam suas buscas. Mas quem era essa mulher, que viajava sozinha de bicicleta pelo interior do Amazonas? E por que fazia isso?

Miss Jujuba, palhaça e cicloviajante

Venezuelana de 38 anos, Julieta Inés Hernández Martínez formou-se em veterinária em sua terra natal e fez estudos na área teatral. Veio para o Brasil em 2015, para estudar Teatro do Oprimido. Era reconhecida não apenas por suas habilidades artísticas, mas também por seu engajamento em iniciativas coletivas, como a Red de Payasas Venezolanas e os Palhaços Sem Fronteiras, demonstrando sua participação ativa na construção de redes de apoio.

Em 2019 iniciou sua jornada de bicicleta, apresentando-se como a palhaça Miss Jujuba em diversas comunidades de 9 estados brasileiros. Sua rota abrangia o Norte e Nordeste do país, um caminho que cruzava devagar, retornando aos poucos à sua terra natal para reencontrar a mãe.

Julieta Hernández como Miss Jujuba
“Que o medo e adultez não apague a curiosidade e a sabedoria, e que a brincadeira seja sempre nosso pão de cada dia” – Julieta Hernández. Foto: Claudio Chena (@paddy.chena)/Reprodução

Julieta Hernández, mulher e imigrante venezuelana

A imigração, aliada à sua condição de mulher e palhaça, representava uma complexa teia de desafios e responsabilidades para Julieta. Como imigrante venezuelana, ela se via como uma ponte entre culturas, combatendo a xenofobia ao oferecer uma perspectiva mais próxima e humana de seu país.

O trágico acontecimento não apenas interrompeu a jornada de uma artista comprometida com a difusão cultural, mas também destaca as vulnerabilidades enfrentadas por mulheres imigrantes que escolhem uma profissão historicamente associada ao gênero masculino.

Além de seu exemplo de atuação artística e social, Julieta Hernández deixa um um vazio irreparável nas comunidades de artistas e ciclistas, como também nas discussões sobre imigração na América Latina. “Julieta era, e sempre será, uma das maiores referências de militância artística, humana, social e interdisciplinar que nosso continente pôde contemplar”, diz a carta divulgada pelo Coletivo Julieta Presente.

Julieta Hernández
Julieta Hernández em sua passagem por Belém/PA – Foto: Joena Santos (@joenasantos)/Reprodução

Por mais segurança e liberdade para as mulheres

Essa dolorosa tragédia ressalta a importância de promover um ambiente mais seguro para as mulheres, enfatizando a necessidade de medidas eficazes contra o feminicídio. Que a justiça seja feita não apenas por Julieta, mas como um passo em direção a um futuro onde mulheres possam viver com a liberdade e a segurança que lhes deveriam ser seus direitos.

Que esse episódio sirva como um chamado à reflexão sobre a urgência em reduzir casos de violência contra as mulheres e promover uma sociedade mais justa, onde todos possam desfrutar de seus direitos fundamentais. Que o legado de Julieta Hernández inspire um compromisso coletivo na construção de um mundo melhor, marcado por mais segurança, liberdade e amor para todos.

Julieta Hernández, por ela mesma

Para conhecer melhor Julieta, assista este vídeo que compartilhamos, gravado por ela para a organização Palhaços Sem Fronteiras. A fala está transcrita logo abaixo.

Ser mulher, palhaça e imigrante venezuelana são três coisas que estão entrelaçadas. E nesse momento eu sou imigrante venezuelana, itinerante, viajando de bicicleta pelo interior dos estados nordestinos do Brasil. Que apesar de não ser o país no qual nasci é um pouco meu, sim. Porque inevitavelmente a gente como migrante acaba se permeando pela cultura e a realidade do país no qual por necessidade ou escolha a gente teve que morar.

Ser mulher, palhaça e imigrante é uma grande responsa. Porque a gente, querendo ou não, vira referência. Referência de mulher que viaja só. Referência de mulher que escolheu uma profissão que geralmente é de homem. Porque nesses lugares é difícil que chegue palhaço e, quando chega, é homem.

E ser talvez a primeira venezuelana que muitos e muitas pessoas daqui conheçam, e num momento no qual companheiros do meu país moram em situação migratória em diferentes partes, incluindo América Latina, e sofrem xenofobia… Ser venezuelana imigrante é uma grande oportunidade de poder chegar pras pessoas pra falar do meu país, do quão próximos somos, da nossa realidade. Que eles possam ter uma referência além da que a televisão dá para eles e assim fazer com que os próximos venezuelanos e venezuelanas que cheguem a eles sejam recebidos de braços abertos como eu fui.

— Julieta Hernández

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