Julieta Hernández - Lençóis Maranhenses

Julieta Hernández nos Lençóis Maranhenses, em 2022. Foto: @utopiamaceradaenchocolate/Reprodução

Julieta Hernández: destino da viagem era mais que voltar para casa

Leia e ouça Julieta Hernández dando uma aula sobre a essência e a alma de viajar em uma bicicleta e de viver na estrada de forma nômade e itinerante

As imagens e vídeos da cicloviajante, imigrante, palhaça e bonequeira Julieta Hernández são incríveis. Mas os textos postados com eles em suas publicações do Instagram são um tratado sobre a essência e a alma de cicloviajar e de viver de forma nômade, itinerante.

Alegrias e dificuldades surgem sucessivas e infindáveis, maravilhosas cada qual a seu modo, trazendo paixões e sentimentos que serão eternos. Emoções, pessoas e cenários que, muitas vezes, fazem o caminho ser mais marcante que a chegada.

O texto abaixo, narrado por ela mesma nesse vídeo montado por uma amiga, deixa bem claro por que o melhor cicloturismo é aquele feito sem pressa.

Julieta Hernández - Lençóis Maranhenses
Foto: @utopiamaceradaenchocolate/Reprodução

Por que Julieta Hernández viajava de bicicleta

Para quem me pergunta: e aí, qual é o destino da sua viagem? Eu responderia: o meu destino realmente está prestes a me alcançar. Está por ir, por vir, por me achar, por se perder…

O meu lugar de chegada dessa viagem é a Venezuela, sim. Venezuela é um de meus destinos. Mas tem também outro, outros, vários. Inumeráveis, invisíveis, pequenos, grandes, surpreendentes, paisagem, bicho, mato, gente.

Cheiro de manga-rosa, com cheiro de mar no meu pé descalço. Uma nuvem, uma música, uma ideia. O frio da chuva abençoando o ano que começa e as gargalhadas a três pelas ruas desertas.

O barro na mão modelando bolas de chocolate e o cansaço no pé depois de uma corrida de pegar bandeira. O abraço da mestra acalentando meu peito e o sorriso humilde do mestre recebendo serenata. A sombra fina de uma árvore à beira de estrada. Lorraine, Heitor, Davi, Tatiane, Alan pitbull e Soso. Beiju com côco, manoé, pamonha, passarinho…

O meu destino está a pouco mais de 30 quilômetros, daqui um passo de distância ou um segundo de tempo, sei lá. Meu destino é também aqui e agora. Impossível, insólito, vertiginoso, em espanhol, em português, em portunhol, fascinante, único, tímido. Preenchido de incertezas, afagos, afetos, choros, paixões, solidões, dúvidas.

Meu destino é no colo da minha mãe. Mas também é, às vezes, em outros colos. Quem sabe, às vezes, eu ser colo de alguém é também o meu destino?

Por isso, quando alguém me pergunta: e aí, qual é o destino da sua viagem? Eu me encolho de ombros, dou uma inspiração profunda… E sorrindo respondo: Venezuela. Porque talvez ninguém esteja preparado para imaginar que é possível caber tanta palavra dentro de um destino.

— Julieta Hernández

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