Em reunião com prefeito, ciclistas dão sugestões sobre segurança para quem pedala em SP
Redução de velocidade nas vias foi um dos pontos mais importantes da reunião. Prefeito e secretários agendaram novo encontro para novembro desse ano.
Na tarde de 7 de agosto, cerca de 30 ciclistas, representantes de Ciclocidade, Vá de Bike, CicloBr, Bike é Legal e outros, além do vereador Nabil Bonduki (PT) e dos secretários municipais Jilmar Tatto (Transportes), Fernando de Mello Franco (Desenvolvimento Urbano) e Chico Macena (Secretário de Governo), participaram da reunião convocada pelo prefeito Fernando Haddad (PT) para falar sobre as novas ciclovias que estão sendo implantadas na cidade desde junho de 2014.
Desde o começo da nova política pública de mobilidade, que procura criar uma cidade mais amigável aos pedestres e ciclistas, o prefeito vem sofrendo críticas da grande imprensa, porta-voz da classe média paulistana. “Nós estamos tomando medidas necessárias para a cidade se repaginar. As cidades que não dão ‘reset’ a cada período acabam morrendo”, disse Haddad, iniciando a reunião. “Daqui pro final do ano que vem vai rolar muita crítica, mesmo a gente acertando. O que eu quero é errar menos. Toda política pública padece de imprecisões que estão na origem de qualquer processo transformador”, justificou o prefeito.
A bicicleta e a diminuição da violência
Segundo pesquisas realizadas entre 2009 e 2012, o trânsito e a falta de segurança na cidade são os principais motivos de insatisfação do paulistano. Em estudo da Rede Nossa SP em parceria com o Ibope, os entrevistados deram nota 3,9 (em escala de 1 a 10) para a mobilidade na metrópole.
Ainda de acordo com o estudo, em 2012, 56% dos 1512 entrevistados queriam deixar a cidade; 91% dos entrevistados disseram se sentir pouco ou nada seguros. Na questão “medo de sair à noite”, o percentual dos que disseram ter receio dobrou de 2011 para 2012, chegando a 41%. A maioria (71%) disse ter medo de “violência em geral”, e 63% afirmaram temer serem vítimas de “roubos e assaltos”.
Para encaminhar, de alguma forma, a questão da violência urbana, Fernando Haddad afirmou durante a reunião que quer conectar as ciclovias com as praças wi-fi e iluminá-las para a segurança de pedestres e ciclistas.
Um exemplo recente da diminuição da violência através da transformação da cidade foi Bogotá, capital da Colômbia. O então prefeito Enrique Peñalosa sofreu as mesmas críticas quando começou a priorizar o transporte público, ampliar as calçadas e construir ciclovias, mas depois de 10 anos verificou-se a diminuição da violência na cidade: de 82 homicídios para 100.000 habitantes, o número diminuiu para 16.
“As calçadas e as ciclofaixas mostram respeito ao cidadão mais pobre, mostram claramente que o Estado está preocupando em construir igualdade e legitimidade. E quando há mais legitimidade e mais organização, as pessoas cumprem mais as normas”, disse Peñalosa em entrevista a Renata Falzoni.
O fato é que a nova política de mobilidade ajuda tanto a resolver uma questão quanto a outra. “Quanto mais bicicletas nas ruas, mais as ruas ficam ocupadas e mais seguras elas são”, ressaltou a jornalista Aline Cavalcante durante a reunião. E mais bicicletas nas ruas melhora o trânsito também para quem quer continuar dirigindo.
Durante palestra realizada na Câmara dos Vereadores de São Paulo no ano passado, a secretária de Transportes de Nova York, Janette Sadik-Khan disse que o trânsito não pode ser uma guerra, mas sim um ballet. “Uma rua completa deve ter espaço para pessoas, bicicletas, carros e ônibus. E quanto mais opções de transportes você dá para os cidadãos, mais equilibrada fica a sua cidade”, afirmou a especialista. Na ocasião, a secretária elogiou o trabalho da prefeitura em relação aos corredores de ônibus.
Redução da velocidade
Uma outra questão levantada durante a reunião foi a redução da velocidade. Ciclistas mostraram a importância dessa medida tomada por várias cidades no mundo. Em Nova York, por exemplo, foi feita uma pesquisa que constatou que a maioria dos cidadãos não sabiam qual era a velocidade permitida nas vias. O estudo resultou numa campanha mostrando por que determinou-se a velocidade 30 mph (ou 48km/h) na cidade. “É 30 por uma boa razão”, diz a campanha. “Num atropelamento a 40 mph (64km/h), as chances de alguém morrer são de 70%. A 30 mph (48 km/h) as chances de sobrevivência são de 80%. Por isso é 30”. Paris e Londres também foram lembradas como exemplos de cidades em que houve redução de velocidade.
Veja a campanha simples e eficaz feita em Nova York: aqui, aqui e aqui.
A ilustração ao lado, parte do estudo feito pela Transportation Alternatives, mostra claramente a probabilidade de sobrevivência com a diminuição da velocidade. A meta da organização é chegar a 10% de deslocamentos feitos por bicicleta na cidade. Clique aqui para baixar o pdf integral do estudo.
Outra informação importante citada durante a reunião foi a redução da velocidade máxima como responsável por aumento da velocidade média. “Isso porque você diminui os pontos de gargalo. Quando o carro anda numa velocidade menor, na hora em que ele chega no ponto de gargalo, já ‘desengargalou'”, esclareceu o jornalista Willian Cruz, do Vá de Bike. “Esse é um dos conceitos do traffic calming”, explicou.
O secretário Jilmar Tatto informou que em algumas avenidas a velocidade já foi reduzida de 60km/h para 50km/h.
O que foi definido
O encontro entre ciclistas, prefeito e secretários terminou com a proposição de um novo encontro, previsto para novembro desse ano. “Neste começo é importante nos encontrarmos com mais frequência”, sugeriu o prefeito.
Os ciclistas também fizeram sugestões à administração municipal:
– redução de velocidade nas vias;
– criação de comitê de acompanhamento para a implantação de ciclovias;
– realização de pesquisa origem-destino de bicicleta;
– realização de uma nova campanha de comunicação que promova o uso da bicicleta;
– diálogo com a SPTrans para o possível compartilhamento entre ônibus e bicicletas;
– implantação de bicicletários e paraciclos para complementar a estrutura de ciclovias;
– atenção especial a pontes e viadutos.
Em todas as questões levantadas, a prefeitura se mostrou aberta a discussões. Alguns assuntos, inclusive, já estão em andamento, como a campanha de comunicação.
“Isso não é uma disputa entre partidos. É a diferença entre o passado e o futuro. Eu apoio a ciclovia como uma causa da cidade. Assim como reabrir um cinema na segunda esquina mais importante da cidade não é uma questão partidária, é uma celebração”, concluiu o prefeito.
Existe algum mapa que mostre onde serão instalados esses 400kms?
Valeu
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http://www.cetsp.com.br/media/316505/sp%20400km_v2s.pdf
Na penultima pagina tem um mapa de relance, mas nao da pra saber exatamente quais as vias..
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Ótima intervenção. Nossa participação deve ser incisiva neste momento. Só um reparo com relação à um comentário, eu não me considero classe média (não que isso seja uma desvantagem intelectual) e muitos dos que pedalam comigo utilizam sua bike como forma de ir ao trabalho, inclusive em obras de construção civil. Vamos lutar pela mobilidade ciclistica!
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Perfeito. Acho que a bicicleta é um meio de transporte absolutamente sem fronteiras, que está se expandindo maravilhosamente nos últimos anos. Qualquer um pode usá-la como meio de transporte, independente de idade, classe social, etc. Ainda que a maioria daqueles que ignoram os bens que a bicicleta traz pra cada indivíduo e pra sociedade como um todo sejam da classe média, não quer dizer que toda a classe média seja assim.
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Na esteira do comentário do Cícero, eu tenho pensado bastante em duas questões que eu gostaria de sugerir que fossem abordadas nessas reuniões com prefeitura e CET (se é que já não foram). Primeiro, a questão dos tachões e balizadores. São uma solução barata e rápida, e se o projeto de 400 km é possível, em parte é por conta dessa ser uma escolha altamente viável. Mas eu estive pensando se não seria válido analisar caso a caso e, em situações onde a incidência de motorizados invadindo a ciclovia seja potencialmente alta, pensar em utilizar algo como um meio-fio. Não precisa ser um muro, que é muito mais caro e pode ser perigoso em ciclovias estreitas, um meio fio é razoavelmente barato, rápido e tem um incrível efeito de desestímulo ao uso indevido por motorizados. Pode ser até que o preço mais alto do meio-fio seja compensado com uma economia posterior na fiscalização depois que a rede estiver pronta. Outra coisa que tem me martelado a cabeça são as ciclovias como a da Vila Mariana, construída sobre um declive. Me preocupa pensar que uma faixa tão estreita de asfalto seja usada para quem desce sendo que tem outros subindo, ainda mais com curvas no meio do caminho. Acaba sendo bem alto o risco de acidentes, e acidentes sérios. Não seria mais seguro utilizar uma rua para subir e outra para descer? Por exemplo, a Calixto da Mota em um sentido e a Padre Machado em outro, ou a própria Vergueiro? No caso da Vergueiro, o traçado ficaria bem orgânico e passaria em frente ao metrô Santos Imigrantes (ah, como eu gostaria de uma ciclovia na rua Saioá), mas eu também não sei qual é exatamente o projeto da CET, então aí eu já não vou ficar dando pitaco!
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Bacana, bacana. Aliás, essas reuniões deveriam ser periódicas, porque, no mínimo, os ajustes (finos e “grossos”) do planejamento à execuções do sistema cicloviário necessitam ser também periódicas, não necessitam?
Aliás(2), deixa eu aproveitar aqui e sugerir aos representantes dos ciclistas (tô falando de você também, viu, Willian? rs.) que se institua um desconto de algum imposto municipal (IPTU, ISS, sei lá) a comerciantes, prestadores de serviços ou quetais que instalarem paraciclos diante dos respectivos estabelecimentos. Não seria um incentivo, hum, legal?
Porque é o seguinte (agora um “causo” meu, de hoje mesmo, fresquinho): comecei fazer um curso lá no Centro Cultural b_arco, lá em Pinheiros (Pinheiros, hein, vejam só, Pinheiros!), e já tem um mês antes de começá-lo que ando sugerindo e argumentando sobre essa instalação. E desde lá… nada. Só: “ah, vamos ver, ah, quem sabe, ah, porque depende disso, ah, porque depende daquilo…”, etc.
E hoje, no meu primeiro dia de curso, vi que eu não ser um ciclista “isolado”, três pintaram ali, no mesmo horário! E ficou tudo naquele improviso, né? “Ah, será que pode guardar aí dentro?” “Ah, mas só hoje viu? Outro dia só no poste, mas não se preocupem, a redondeza é segura…”, etc. e tal. Pior: descobri que é freqüente a, hum, freqüência de ciclistas e… e apenas o improviso da coisa, o tal do jeitinho.
Em suma: um desconto como in$entivo seria interessante pra acabar com o blablablá e dar motivação real pra se instalar de vez os paraciclos, não seria?
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Cara Rachel Schein,
Parabéns pelo belo texto, mas por favor não confunda o escopo do site. Membro da classe média, como acho que muitos os leitores assíduos do Vá-de-bike o são, estamos aqui para nos informar sobre a evolução da ciclo-mobilidade na cidade, e não para participar de picuinhas partidárias.
No mais, bravo por todas essas iniciativas e pela participação ativa do vá de bike nessas discussões para melhorar ainda mais os projetos da prefeitura!
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