Ciclista em Curitiba. Foto: Aline Cavalcante

Dupla jornada faz mulheres pedalarem menos que homens, diz estudo

Estudo aponta o principal motivo para apenas 24% das bicicletas que existem nas ruas dos EUA serem conduzidas por mulheres.

Ciclista em Curitiba. Foto: Aline Cavalcante
Ciclista em Curitiba. Foto: Aline Cavalcante

Estudo realizado por pesquisadores nos Estados Unidos apontou que apenas cerca de 24% das bicicletas que existem nas ruas do país são conduzidas por mulheres

De acordo com o relatório produzido pela organização The League of American Bicyclists, existem “cinco Cs” que levam as mulheres a usarem mais a bicicleta: conforto, conveniência, produtos específicos para elas (consumer products), confiança e senso de comunidade. Na Holanda, mais da metade dos ciclistas é composta por mulheres; já nos Estados Unidos esse número chega a ser menos de um quarto. O motivo apontado para que isso ocorra não é o medo do trânsito nas ruas agitadas das grandes cidades, mas sim a desigualdade entre os modelos de família. Apesar de todo o progresso ao longo dos anos, a vida da mulher ainda está repleta de atividades domésticas, além do cuidado dos filhos, da família e da jornada de trabalho fora de casa.

Relatos apurados pelo Departamento de Pesquisas para Transporte dos Estados Unidos dão conta de que a jornada de trabalho das mulheres ainda é bastante desproporcional em relação à dos homens. Até antes da maternidade, as jornadas ainda se equivalem de maneira mais proporcional, entretanto a realidade muda quando as mulheres se tornam mães. Atividades como levar as crianças na escola, passar na lavanderia para deixar a roupa suja, fazer as compras da semana, trabalhar fora e fazer o jantar no final do dia são frequentes, o que, segundo as entrevistadas pela pesquisa americana, não combinam muito com a rotina sobre duas rodas.

Dirigir para o trabalho corresponde a apenas 16% do total de viagens que as mulheres precisam fazer ao longo do dia, segundo os dados da pesquisa desenvolvida por Kelcie Ralph e Herbie Huff junto com seus colegas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e Rutgers. O restante equivale a compras (21%), visitas de família (22%), escola/igreja (10%) e assuntos coletivos (53%), o que corresponde a uma parcela maior do que as viagens normais dos homens. Até mesmo as mães solteiras precisam dar conta de mais tarefas e fazer mais viagens usando o carro do que os pais solteiros, cerca de 40%. Lembrando que a maioria dos solteiros com filhos são mulheres (82%).

A pesquisa apontou ainda que se não houvessem tantos afazeres que dependem delas, as mulheres optariam pela bicicleta com tranquilidade. Portanto, para que mais mulheres pedalem nas ruas, os homens têm que começar a fazer sua lição de casa.

11 comentários em “Dupla jornada faz mulheres pedalarem menos que homens, diz estudo

  1. Minha esposa acha muito cansativo pedalar 20 kms para ir trabalhar todos os dias como eu faço, por isso ela usa o carro. Eu acredito que o homem gosta mais de atividades que envolvem esforço por isso eu não vejo dificuldade em trocar o carro pela bicicleta, pelo contrário, quanto mais difícil o caminho que eu for, mais compensador será para mim.

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  2. A questão é muito mais cultural do que qualquer outra coisa. Todas as tarefas citadas como empecilho para o uso da bicicleta podem ser tranquilamente realizadas de bicicleta, basta querer. Se a comparação é a Holanda, sugiro uma observada no país europeu para ver isto na prática.

    Saudações,
    Blé

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      1. Mas o que me tira o sono (e do sério), Carla, é a multiplicação de gente dando “positivo e operante” pra essa, hum, espécime de comentário, sério.

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    1. Mulheres: o que comem? Como conseguem ir à academia e fazer unha? Como suportam comentários desse tipo? Como sobrevivem?
      Assistam no globo Reporter…

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  4. Matéria muito interessante. Muitas vezes pensamos que o acesso das mulheres à mobilidade pela bicicleta é barrada pela insegurança na cidade. É uma pena ver em números o quanto não observamos mais nosso dia a dia e como tornamos esse ciclo doméstico algo principalmente feminino. Desde pequena a mulher é educada para cuidar da família, ignorar suas ambições, sonhos maiores porque fere uma sociedade que não adimite uma mulher-mãe que não cuide de sua casa, que não saiba cozinhar, que não faça o supermercado… Isso tudo é “coisa de mulher”. Infelizmente gostaria de estar errada, de estar exagerando… mas não; Sinto o preconceito e machismo todos os dias. Ando de bicicleta, metrô, trem, ônibus. Levo minha dobrável sempre. Recebo olhares diversos… curiosos, raivosos, preconceituosos… não é fácil. E sim, faço de tudo para mostrar que no selim existe não apenas uma pessoa, mas uma mulher. Dar o exemplo não é uma forma de ensinar, mas a única. Espero, ao longo de tantas pedaladas, ter conseguido servir de exemplo, ter dado àquelas que precisavam do pequeno incentivo a faísca inicial. Yes, we can? Yes, we can.
    http://youtu.be/XjJQBjWYDTs
    (Run like a girl!)

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    1. Muito bom, Juliana, mas acho que tua colocação seria “não apenas uma mulher, mas uma pessoa”.
      Acho isso porque as pessoas não tendem considerar umas às outras como pessoas, integralmente, mas apenas os seus recortes: mulher, idoso, alto, cabeludo, negro, etc. E nisso vem carregado todos os preconceitos e que você citou.

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