Jovens circulam de bicicleta com a segurança da ciclovia. Sem ela, estariam em meio aos carros. Foto: Carla Moraes/Bike Zona Sul

SP: Grupo pede retirada de ciclovia e faixa de ônibus, com ajuda de vereador

Moradores, que não compareceram à audiência pública que debateu as estruturas, culpam as faixas pelo trânsito “moroso”.

Ciclovia da Av. Bosque da Saúde: com participação do vereador Aurelio Nomura, movimento trabalha para tentar retirá-la. Foto: Diego Brea/Bike Zona Sul
Ciclovia da Av. Bosque da Saúde: com participação do vereador Aurelio Nomura, movimento trabalha para tentar retirá-la. Foto: Diego Brea/Bike Zona Sul

Uma parte dos moradores da zona sul de São Paulo se organizam contra a existência de uma faixa exclusiva de ônibus e uma ciclovia recém-instaladas. A via para o transporte coletivo fica na avenida do Cursino, possui 2,8 km de extensão e beneficia pelo menos 153 mil pessoas por dia, que usam as 22 linhas municipais, de acordo com dados da Companhia de Engenharia de Trafego (CET). Mas o volume de passageiros é maior, por conta da existência de ônibus metropolitanos, gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), e que não são contabilizados nesta estimativa.

Já sobre ciclovias, tratam-se dos espaços na avenida Bosque da Saúde, que futuramente deve permitir a conexão dos ciclistas entre as avenidas Jabaquara e Professor Abraão de Morais, onde também existe o projeto de uma nova via para bicicletas. Existe ainda outra estrutura de 700 metros de extensão na rua Santa Cruz, entre a avenida Ricardo Jafet e a rua Pedrália.

Os novos espaços que democratizam as vias não são bem vistos por parte dos moradores daquela região, sob o argumento de que tornaram o “trânsito moroso”. Com ajuda do líder da bancada do PSDB na Câmara Municipal, o vereador Aurélio Nomura, o grupo organizou uma assembleia com representantes da CET para tentar retirar os espaços.

“O fluxo de trânsito moroso, considerando que a avenida do Cursino é estreita, seu fluxo de veículos intenso e as inúmeras reclamações recebidas”, dizia o texto de convocação da reunião. O evento ocorreu no dia 14 de setembro, porém, de acordo com o vereador, “ninguém da prefeitura compareceu”. O grupo deve remarcar nova audiência.

Jovens circulam de bicicleta com a segurança da ciclovia. Sem ela, estariam em meio aos carros. Foto: Carla Moraes/Bike Zona Sul
Jovens circulam de bicicleta com a segurança da ciclovia. Sem ela, estariam em meio aos carros. Foto: Carla Moraes/Bike Zona Sul

Moradores não compareceram a audiência pública

Também compareceram dois membros do grupo de ciclistas Bike Zona Sul, Carla Moraes e Thomas Wang. Em entrevista ao Vá de Bike, Thomas confirmou que os representantes da prefeitura não compareceram ao evento, mas lembrou também que nem o vereador e nem os moradores incomodados com os projetos compareceram em uma audiência feita no primeiro semestre, que discutia a implantação das pistas.

“É importante ressaltar que na reunião aberta sobre a ciclovia realizada no primeiro semestre na subprefeitura da Vila Mariana, nem o vereador Nomura, nem os membros da Associação Comercial e nem os do CONSEG compareceram. Nessa reunião foi discutido o planejamento da ciclovia. A reunião foi aberta (‘Programa CET no seu bairro’) e foi divulgada por redes sociais e faixas no bairro, sendo que alguns condomínios e comércios receberam cartas sobre a reunião”, disse o ciclista ao Vá de Bike.

Thomas ainda defendeu a permanência da estrutura. “Essa ciclovia [Bosque da Saúde] é muito importante, pois é a única ligação cicloviária entre a região do Cursino/Vila das Mercês/Sacomã com as zonas sul e oeste, fornecendo um caminho seguro para vários ciclistas que fazem esse trajeto. Eu, inclusive!”, afirmou.

De acordo com Carla Moraes, os dois representantes presentes da CET falaram por vários minutos sobre a faixa exclusiva de ônibus, mas disseram não ser as pessoas responsáveis pela ciclovia. Se dispuseram a levar o assunto para o conhecimento dos colegas, “mas nesse momento o vereador Aurélio Nomura foi ríspido e encerrou a audiência, mesmo com inúmeras inscrições de interessados a se pronunciar”, conta Carla. “Como já tínhamos pedido a palavra antes e deixado clara nossa opinião, devem ter ficado com receio de entrar no debate”, supõe a ciclista.

Precedentes favoráveis às ciclovias

Em 2011, moradores e comerciantes do bairro de Moema tentaram a retirada de duas ciclofaixas recém implantadas no bairro. A mobilização para retirada das estruturas também contou com apoio e articulação do vereador Aurélio Nomura, mas foi resolvida após alguns encontros entre ciclistas e a associação de moradores do bairro. As ciclofaixas continuam no mesmo local até hoje, já foram parcialmente repintadas e começam agora a ser interligadas ao restante da rede.

Em 2015 e neste ano, um grupo de moradores do condomínio de luxo Portal do Morumbi recorreram à Justiça para a retirada das faixas de ônibus da região da avenida Giovanni Gronchi, mas foram derrotados em mais de uma ação judicial. Em um dos casos, o juiz Luis Manuel Fonseca Pires, da 3ª Vara de Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo, quando negou mandado de segurança, afirmou em seu despacho que a via do transporte coletivo é política urbana e que a cidade pode implantá-las sem audiência pública.

Já sobre as ciclovias, também no ano passado, o Ministério Público sofreu derrotas em recursos para a paralisação da implantação da rede cicloviária na capital paulista. Em sua decisão, o desembargador Marcos Pimentel Tamassia, da 1ª Câmara de Direito Público, disse que “não há como se entender como leviana ou ilegal a opção do governo municipal pela implantação dos 400 km de ciclovias”. O mesmo desembargador entendeu que a execução do projeto não está sendo executado sem estudo.

5 comentários em “SP: Grupo pede retirada de ciclovia e faixa de ônibus, com ajuda de vereador

  1. Eu moro a 1 quadra da ciclovia da bosque da saúde, e mesmo com a ciclovia prefiro ir por uma das vias paralelas, muito menos trânsito, considero uma via perigosa por 2 cruzamentos que sempre congestionam e os motoristas param sobre a ciclovia pra aguardar e cruzar a avenida, além de ter ficado estreito para a passagem de 2 ônibus ( um descendo e outro subindo). Frequento sempre a da avenida Jabaquara, que é segregada no centro, mas a da Bosque mantenho distância.

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  2. No mês passado fui surpreendido pela existência das ciclovias citadas (Bosque da Saúde e Santa Cruz), durante anos evitei essas avenidas quando pedalava mas hoje pedalo como trabalho, usei as ciclovias e foi muito útil pois os carros e ônibus abusam da velocidade por tratar-se de vias em declive.

    As pessoas que ainda usam APENAS modais motorizados, pecam mesquinhamente por não ter vivido os demais modais, parece bobo mas hoje a maioria da população sequer anda a pé nas ruas ou possui recursos psicológicos e técnicos para conectar a via como público e para todos os vários usuários.

    Torço para todos conhecerem a cidade de outra forma, só assim as pessoas vão se colocar no lugar do próximo, as ciclovias e ciclofaixas oferece essa oportunidade e complementa a experiência compartilhada que acontece na maior parte do tempo. Aprender a conviver em sociedade (risos).

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  3. Carrocratas não tem limites mesmo. Eles se acham o dono das ruas,dos bairros e da cidade.

    Se dependessem deles, até as calçadas seriam retiradas para dar lugar a mais uma faixa de rolamento para carros.

    Me dá nojo essa mentalidade individualista e terceiro mundista.

    Ai vão para a europa e ficam maravilhados com as ciclovias, as ruas abertas para as pessoas….

    Meu medo é a partir de 1 de Janeiro do ano que vem, agora que um prefeito carrocrata do PSDB foi eleito, basta os moradores chiarem novamente….

    Dória diz que vai governar para todos….TODOS que andam de carro, como sempre foi o estilo do PSDB, obviamente.

    Afinal, ciclovias e ônibus não dão votos.

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