Notícias bizarras e algumas reflexões

Navegando por aí, uma notícia puxou outra, que puxou outra, que puxou outra… Relacionei aqui algumas bem bizarras, com comentários em cada uma. Todas foram retiradas do site da BBC.

Australiano é multado por tentar dirigir 550km de ré

O carro quebrou e ele resolveu fazer a viagem de ré. “Parado à velocidade de pouco mais de 56 km/h, ele disse à polícia que chegou a atingir 80 km/h, mas teve de reduzir a velocidade porque estava ziguezagueando na pista.”

Homem cego é condenado à prisão por dirigir na Grã-Bretanha

Além de cego, ele “tem apenas três dedos na mão direita, sofre de tremores nas pernas e é parcialmente surdo”. Um motorista perfeito!

Mas o mais bizarro não é isso, tem mais: “ele também foi proibido de dirigir por três anos e recebeu ordens de passar por uma prova de direção prolongada”. Proibido de dirigir por três anos?? E depois, pode?

E não acaba por aí! O tal do motorista cego ainda *negou* a acusação de direção perigosa. Pois é, perigoso sou eu com a minha bicicleta…

Motorista explode ponte onde sofreu com trânsito

Pela manchete, dá impressão que ele foi lá na surdina e explodiu a ponte. Na verdade não foi isso: iam demolir a ponte e convidaram o cara a disparar a carga explosiva.

De qualquer modo, o texto dessa notícia ilustra bem a visão distorcida que a gente acaba tendo das coisas por acostumar com os carros como sendo parte da vida, algo inevitável e que supostamente não se pode mudar: “Além de passar três horas por dia parado no trânsito, basicamente por causa da ponte, o congestionamento quase custou sua vida. A ambulância que o transportou ao hospital após um sério acidente de carro ficou presa no trânsito e ele quase morreu.”

Do pequeno trecho citado acima, dá para perceber três dessas distorções:
1) Ele passava três horas por dia parado no congestionamento “por causa da ponte”. Não seria por causa do excesso de carros nas ruas?
2) A ambulância ficou presa num congestionamento na ponte. Novamente, a culpa é da ponte, não do excesso de carros…
3) O acidente que ele sofreu para precisar da ambulância não foi por culpa da ponte. O que quase lhe custou a vida foi o acidente com o carro, não a ponte!

O motorista se sentiu aliviado ao explodir a ponte, mas continuará sendo motorista. E a ponte foi destruída para dar lugar a outra, “mais alta, duas vezes mais larga, que deve acabar com os imensos congestionamentos”. Como vão acabar com os congestionamentos se a cada dia entram em circulação mais e mais carros? Aumenta-se a ponte e daqui a poucos anos ela começa a congestionar de novo… Ou resolve-se o problema na ponte e outro ponto mais adiante começa a congestionar, porque o fluxo que passa pela ponte aumentou… É como aumentar a dose de analgésico de alguém que sente muita dor e achar que isso curou a enfermidade, só porque a dor passou.

Motorista irado explode câmera para escapar de multa

“De acordo com fontes entrevistadas pelo Times, Moore já tinha muitos pontos na carteira e, preocupado com a possibilidade de vê-la cassada, o que poderia lhe custar também o emprego, decidiu acabar com o flagrante.”

A culpa, claro, era da câmera. O motorista tinha o direito de circular em alta velocidade, de forma tão reincidente a ponto de perder a carteira.

O pior dessa notícia é saber que os ataques a câmeras de trânsito são prática tão comum que na Grã-Bretanha, em apenas um ano, houve um prejuízo de mais de 3 milhões de reais com esse tipo de delito. São pessoas que acreditam que têm o direito de andar na velocidade em que quiserem e que as multas não passam de um artifício para tirar dinheiro delas, honestos cidadãos. Talvez elas devessem assistir a esses videos aqui.

Burro passa 3 dias preso por causa de acidente de trânsito na Colômbia

“A polícia prendeu o animal, apelidado de Pacho, após um motociclista ter se chocado contra ele numa estrada de Arauca, nordeste do país.”

Só posso acreditar que prenderam o burro errado. Note a visão equivocada de que o mundo é dos veículos motorizados: a culpa do acidente é do burro de quatro patas! Prendam o animal, ele é perigoso para carros e motos! E se o acidente tivesse acontecido com uma criança, prenderiam-na também, por ameaçar a circulação dos veículos?

Jumentos da Namíbia vão “brilhar no escuro”

“Os jumentos da Namíbia e de outros países africanos freqüentemente circulam pelas estradas de asfalto à noite, e estima-se que as colisões envolvendo automóveis e os animais chegue a 25% do total de acidentes de trânsito”

Esses jumentos são um perigo! Por causa deles, vão ter até que colocar sinalização nos outros jumentos!

Trânsito aumenta chance de infarto, diz estudo

Essa notícia nem é tão bizarra assim, na verdade faz muito sentido. A pesquisa diz que “pessoas que enfrentam congestionamentos de trânsito têm três vezes mais chance de sofrer um ataque cardíaco” e que “quase um em cada 12 casos estão ligados com o trânsito”. Depois estranham quando eu digo que prefiro ir de bicicleta.

Europeus desenvolvem carro futurista para reduzir o trânsito

É um carro que tem três rodas e apenas um metro de largura. Dizem que vai resolver os problemas de trânsito, só porque ocupa um pouco menos de espaço.

“O aumento do trânsito em nossas cidades significa que vamos ter que encontrar uma maneira de fazer nossos veículos menores”. Não! Tá tudo errado! Será que eu é que sou o maluco? Não é muito mais eficiente transportar dezenas de pessoas em um ônibus ou centenas em um tram, metrô ou trem? O uso do espaço fica muito mais racionalizado!

E mesmo que esse carro fosse a solução, ele só resolveria o problema se TODOS adotassem o carrinho menor, com reestruturação total das vias de tráfego para terem pistas mais estreitas e, com isso, em maior número. Senão, você tem um carro menor, mas que não passa onde uma moto passa, o que não ajuda em absolutamente nada…

Menção honrosa para o que consideram o ponto fraco do carro: “Apesar dessas vantagens, o Clever chega apenas à velocidade máxima de 80 km/h”. Caramba, esse pessoal é otimista mesmo! Já estão achando que, numa cidade que tenha trânsito ruim a ponto de precisarem do tal carro, vai dar pra atingir essa velocidade?

Leitores opinam sobre como reduzir mortes no trânsito

Passei nervoso lendo as opiniões. Teve desde gente achando que as autoridades de trânsito devem “educar” e não punir (como se a educação não devesse, ao menos em tese, ter sido ser dada ao obter a habilitação), até gente achando que “uma solução é impossível”.

Algumas poucas opiniões se salvam, como uma que sugeria simplesmente “fazer carros com menos velocidade”. Mas a melhor mesmo foi a do colega Denir, que encontrei lá no final da página quando já havia quase desistido de encontrar alguma coisa realmente relevante. Entre outras coisas, ele ressalta a importância de priorizar o ser humano e não o carro, uma mudança de paradigma que se torna cada vez mais necessária:

“Para diminuir as mortes no trânsito, aqui nas cidades brasileiras, devemos seguir o bom exemplo de Londres: estabelecer políticas públicas para diminuição do número de automóveis nas ruas. Pedágios, zonas de baixa velocidade, multas e muita fiscalização para restringir os automóveis. Ao mesmo tempo, dar prioridade ao ser humano e sua qualidade de vida, com bons transportes públicos, calçadas amplas e ciclovias. A língua inglesa tem uma expressão que pode justificar esta violência no trânsito ‘road rage’!”

Mais de 1 milhão morrem no trânsito por ano, diz OMS

“Em 2020, os ferimentos de trânsito vão ultrapassar o HIV e a tuberculose e ficar em terceiro lugar como causa prevenível de morte e incapacitação em todo o mundo.” – Tony Blair, primeiro-ministro da Grã-Bretanha.

A notícia está aí; a reflexão fica por sua conta, caro leitor. Para ajudar a refletir, saiba que no Brasil morrem mais de 30 mil por ano (sem contar quem fica ferido, às vezes irremediavelmente).

Postes dobráveis evitam mortes em ruas britânicas

Segundo a matéria, essa é “uma medida que tenta reduzir o número de mortos em acidentes automobilísticos no país”.

O próximo passo lógico seria fazer pedestres dobráveis.

5 comentários em “Notícias bizarras e algumas reflexões

  1. A propósito: outro dia li, não sei onde, que tinham feito uma pesquisa com motorista paulistanos que diziam que uma das soluções para o trânsito era restringir ainda mais a circulação de caminhões… Em última instância, os motoristas estavam propondo que se fechasse o comérico… Não tão bizarra quanto as que você achou, mas resolvi adicionar.

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  2. Cara, eu quase cai da cadeira de rir da notícia dos postes dobráveis… acho que realmente estamos loucos de andar de bike. Vou vender a minha em comprar uma perna de pau elástica!

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  3. Absurdos.

    Qdo li alguns artigos do Código Nacional de Trânsito, através do “+vá de bike+”, me espantei (já infecctado pela cultura do carro) ao ver que se dá prioridade aos ciclistas e pedestres e não aos carros.

    Bom, acho que “serviu” para me revoltar mais…

    E lendo estas “notícias bizarras”, mas especificamente, a dos Leitores que opinam pra ajudar a resolver o problema com atropelamentos e congestionamentos, tive uma idéia (que acredito ser) boa, apesar de achar que não é original e que não tenha sido praticada por força política ou de algum grupo forte financeiramente.

    Simples: pensei em inserir uma “lombada” , mas não redonda e sim reta, com chanfros na entrada e na saída. Deveria estar “embaixo” de cada faixa de pedestres.

    Assim, transfere-se, efetivamente, a “obrigatoriedade” de parar aos carros e não aos pedestres, imposta pelos motoristas. Sendo reta, todos podem caminhar por cima sem haver desnível na calçada. Até mesmo as cadeiras de rodas passariam sem dificuldade.

    Dessa forma, a simbologia que as listras representam farão sentido junto da placa de “pare”.

    stanley calderelli

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