Mais boas matérias na mídia tradicional
Que a mídia alternativa e colaborativa (blogs, youtube, twitter) é mais ágil e flexível que a mídia tradicional (tv, jornais, revistas), todo mundo já sabe. Principalmente quando se trata de eventos polêmicos ou manifestações populares, é muito mais fácil encontrar informações detalhadas na nova mídia. Embora alguns dos relatos que aparecem nesses momentos sejam opinativos, especulativos e parciais, isso também acontece (mais do que você imagina) na imprensa tradicional.
Quando se trata de bicicleta como meio de transporte, o habitual é ver a imprensa patinar ou divulgar informações distorcidas. É só dar uma espiada nos posts que eu publico aqui sob a tag imprensa viciada. Muitos cicloativistas acreditam que isso ocorra porque o principal patrocinador da mídia tradicional é a indústria automobilística – é só ver a porcentagem de anúncios de TV e revista que advém do automóvel e seus derivados (seguros, serviços, equipamentos e etc.). Por isso, os órgãos de imprensa seriam contidos em suas declarações, preservando a imagem do uso do automóvel para não contrariar quem paga suas contas.
Eu acredito que isso influencie sim, mas apenas em alguns casos. Acho mais que a questão seja cultural. O carro está enraizado em nossa sociedade: faz parte do ritual de passagem para a vida adulta, representa um suposto ideal de liberdade, é usado como medida de sucesso profissional e social, etc. E o marketing bombardeia os consumidores o tempo todo, para que a imagem de necessidade vital de um automóvel – e quanto mais caro, melhor – continue em nós e se propague para nossos filhos. Exatamente como era feito com o cigarro quando suas propagandas eram permitidas.
Antigamente, eram os heróis que fumavam na TV. Hoje, só os vilões. O carro é o novo cigarro e um dia será tratado da mesma forma. Há cada vez mais vozes no coro das pessoas que vêem o uso excessivo do automóvel como algo degradante.
Esse dia ainda está um pouco longe, mas timidamente a imprensa, vai percebendo o inevitável: o modelo centrado no transporte individual motorizado é insustentável, seja pela poluição, pelo congestionamento, pelas mortes no trânsito, pelo stress causado nos motoristas contumazes.
Hoje recebi pelo twitter, através do @luddista e da ONG @TransporteAtivo, duas ótimas reportagens. Uma na Revista da Folha (infelizmente restrita a assinantes), falando sobre o aluguel de bicicletas e sobre como elas podem ser uma alternativa viável para o deslocamento na cidade, dando vários exemplos de gente que a utiliza em seu dia a dia. Outra, pasmem, no Fantástico, como parte de uma série que fala sobre aquecimento global, mostrando que não basta culpar o governo, os pecuaristas, os madeireiros. Esses tantos continuam culpados, mas não sozinhos: nossas atitudes diárias têm muito impacto no planeta.
Pequenas mudanças em muitas pessoas podem ajudar bastante a cicatrizar as feridas que já causamos no planeta e que já podemos sentir.